Título: Por Acidente Autora: Claudia Modell Sinopse: Um grave acidente traz mais do que dor física. Traição, duvida e desencontros vão se seguir, e a confiança adquirida com esforço pode desmoronar em apenas um segundo, por acidente. E-mail: claudia@subsolo.org Categoria: Drama Homepage: http://subsolo.org Disclaimer: Os personagens dessa história foram criados por Chris Carter, 1013 e Fox Company. Por acidente Mulder podia sentir a presença de Scully. A escuridão do prédio e o silêncio eram preocupantes. Mas ele contava com seus instintos e com sua parceira. Scully tinha dito que era melhor esperar pelo reforço policial, mas Mulder não queria perder a oportunidade de pegar Brian Dantel, um assassino frio que já havia iludido a polícia e o FBI por mais de um ano. Ele sabia que se não o pegassem agora, só teriam noticias dele no ano seguinte, e não seriam boas noticias. A informação de que ele estaria no prédio abandonado viera de uma ex-namorada de Dantel, que havia percebido que seu namorado não era exatamente normal, ainda em tempo de se afastar dele. Mas para sorte do FBI ele não tinha se afastado dela. Continuou tentando entrar em contato com ela, e quando finalmente Janice começou a se sentir ameaçada, ela procurou a polícia e contou tudo sobre Dantel. Agora lá estavam Mulder e Scully, dentro de um prédio abandonado, e às escuras, procurando um dos mais esquivos assassinos que eles já haviam encontrado. Mulder sentiu um frio na barriga ao se dar conta de que realmente eles estavam se expondo demais. Mas agora era tarde. Um leve barulho foi ouvido pelos dois, e vinha do andar de cima. Mulder foi na frente e sentiu que Scully o seguia. O chão estava sujo de terra, e a medida que eles subiam as escadas faziam mais barulho do que desejavam. Mulder chegou ao andar de onde tinha vindo o barulho e apontou a arma para a escuridão. Ele sabia que ao mesmo tempo que ele mesmo estava em desvantagem na escuridão, Dantel também estava. Então o jogo era justo, mas isso não o fez se sentir melhor. Mulder ouviu Scully chegando no andar onde ele estava. Mulder daria tudo para somente fazer um sinal para sua parceira seguir para a direita enquanto ele seguia para a esquerda. De qualquer forma foi o que ele fez, e aparentemente Scully seguiu para a direita. O silêncio de repente foi cortado pelas sirenes. O tão esperado reforço havia chegado. Mulder respirou com alívio e seguiu pelo corredor. As portas estavam trancadas ou obstruídas, ele não sabia dizer ao certo, mas a última porta estava entreaberta. Mulder se colocou ao lado dela e, com a arma em punho, empurrou a porta com a perna. Nada, nem mesmo um barulho. Ele resolveu entrar, mas com bastante cuidado. Um rato passou correndo na frente dele, e isso lhe causou um sobressalto. Mas ele não disparou a arma. Seus olhos já estavam se acostumando com o escuro, ou talvez o quarto fosse mais iluminado que o corredor, devido a janela. Não havia ninguém no quarto, isso era certo. E agora que pensava nisso, Mulder percebeu que não havia outros barulhos, como aqueles de vozes, um megafone, ou a sirene dos carros da polícia. Talvez ele tivesse se enganado, e a sirene que tinha ouvido era sim de um carro de polícia mas não o reforço que haviam pedido. Ele saiu do quarto e voltou ao corredor. Não sabia se Scully tinha entrado em algum quarto, ou subido um andar. "Scully.." Mulder sussurrou, incerto se ela iria escutar, ou se Dantel iria ouvi-lo e disparar contra ele. Mas não houve qualquer resposta. Ele prosseguiu em direção ao final do corredor, do lado para onde havia ido Scully. Ela estava daquele lado, ele tinha certeza. Ela não iria para outro andar sem esperar por ele. Mas o que Mulder não sabia é que Scully também havia pensado que as sirenes eram do reforço policial, e havia descido para se encontrar com os policiais. Assim que percebeu que não eram eles, Scully subiu novamente para o primeiro andar, com a mesma cautela de antes. Ele ouviu o arrastar de pés vindo da escada e se abaixou aguardando o momento para prender Dantel. A adrenalina dele estava a mil. Ele nunca havia ficado tão nervoso em uma operação assim. Seu nervosismo o fez agir precipitadamente. A rotina é sempre dar voz de prisão, e caso o suspeito resista, atirar, mas em último caso. Mulder inverteu todas as regras. Antes mesmo que o suspeito se rendesse Mulder atirou, e ouviu o baque do corpo no chão. Ele correu na direção do corpo, pronto para algemar Dantel. Mas havia algo muito errado com Dantel. Não, Mulder percebeu com terror, que na verdade havia algo errado com Scully. Ela estava no chão, no local onde deveria estar Dantel. Ele havia atirado nela. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxx Mulder tremia intensamente. Por alguns segundos ficou totalmente sem ação. Por incrível que pareça ele só conseguia pensar que ela não o perdoaria. O fato dela estar sangrando até a morte parecia algo secundário para ele. Não que ele não se importasse com ela, mas aparentemente ele se importava mais com o que ela iria pensar do que com o fato de que talvez ela não vivesse para isso. Finalmente, após o que parecia uma eternidade, Mulder a pegou nos braços e desceu para a segurança do carro. Ele não podia esperar pela ambulância. Sua única chance era chegar ao hospital o mais rapidamente possível. Uma vez dentro do carro, Mulder pode perceber a extensão do ferimento. A bala havia atingido o tórax dela, e muito provavelmente estava perto do coração. Grande tiro pra quem atirou no escuro, ele pensou, recriminando a si mesmo. A corrida para o hospital violou todas as leis de transito. Mulder não parava de pensar que não conseguiria chegar a tempo até lá. Mas finalmente chegou. Assim, que estacionou o carro gritou para alguns atendentes que estava na porta e eles levaram Scully em uma maca. Mulder tentava responder a todas as perguntas da enfermeira, sobre a identidade da vitima, idade, tipo sangüíneo. Mas ele não tinha certeza se estava dando as informações ou não. A impressão que ele tinha era que de sua boca só saiam desculpas. Ele nunca havia se sentido tão inútil, tão estúpido. E tão culpado. A culpa era algo que ele conhecia muito bem, mas sempre havia sido uma culpa subjetiva. Ele não havia diretamente causado tanto mal a alguém que ele tinha que proteger. Dessa vez ele não tinha se omitido de alguma forma, nem havia gritado palavras ásperas. Dessa vez ele tinha baleado sua parceira, e não havia desculpa para isso. Mulder não iria agüentar ficar ali, esperando que lhe dissessem que ela havia morrido. Mas antes de sair, ele teve o bom senso de ligar para Skinner, e dizer que Scully havia sido baleada. "Mulder, o estado dela é grave?" "Não sei, senhor, ela foi levada para a cirurgia." "Estou a caminho do hospital." "Senhor, vou conversar a respeito mais tarde, quero passar no meu apartamento e trocar de roupa." Skinner sempre se surpreendia com Mulder, mas dessa vez a surpresa foi maior. Afinal era difícil tirar Mulder do hospital quando Scully estava ferida. E ainda mais em um caso como esse, em que ela estava gravemente ferida. Mas Skinner imaginou que provavelmente Mulder estaria sujo de sangue, e o sangue de sua parceira. Era compreensível que ele quisesse se limpar. Mulder queria realmente se limpar, mas não somente do sangue dela. A culpa estava acabando com ele. Suas mãos tremiam, e sua cabeça doía. Somente a lembrança de sua parceira ensangüentada o fazia tremer. Mulder queria se esconder, queria desaparecer. Ele não estava disposto a contar a ninguém o que havia acontecido. Não conseguia imaginar a si mesmo comunicando para a mãe dela que ele havia feito aquilo. Ou a qualquer outra pessoa. Ele entrou no apartamento e nem ao menos acendeu as luzes. O cheiro do sangue parecia estar maior, e a sensação do sangue secando em suas mãos era horrível. Ele correu para o banheiro e vomitou, mesmo não tendo comido nada há horas. Um banho, era a única coisa que ele precisava. Ele não podia pensar no que fazer sem antes se livrar do sangue. O sangue dela. Se Dantel tivesse atirado nela, Mulder estaria nesse momento perseguindo ele por toda a cidade, e ninguém seria capaz de impedi-lo. Mas isso não havia acontecido, e ele não tinha idéia do que fazer. Ele tomou um banho e jogou fora as roupas sujas de sangue. Sua cabeça doía, e a única coisa que ele queria fazer era dormir, e muito. Ele sabia que isso era um sinal de choque. Mas não podia impedir o que sentia. Ele só tinha a esperança que no dia seguinte tudo estaria resolvido. Scully estaria bem, e ele iria até o hospital para ficar ao lado dela. Mas ele não conseguia imaginar a si mesmo ao lado dela, dizendo que ele era o culpado, ou pior, mentindo para ela. Ele não conseguiria mentir dessa forma. Com esses pensamentos Mulder adormeceu. A noite foi entrecortada de sustos. Ele acordava de repente, ao ouvir um barulho lá fora, e se lembrava do que havia acontecido. A cada vez que isso acontecia a sensação de frio no estômago vinha com força total. Ao acordar de manha, Mulder se sentia nauseado. A adrenalina tinha sido demais. E ele não havia se alimentado por bastante tempo. Sua cabeça latejava mais do que antes, se e que isso era possível. E a cada passo que ele dava tudo rodava. Ele teve que voltar para a cama por duas vezes, para recuperar o equilíbrio. O som do telefone tocando fez com que seu coração disparasse mais uma vez. Mas dessa vez o som não era somente um dos ruídos da vizinhança. Esse toque de telefone guardava consigo um significado sinistro. Podia ser Skinner dizendo que ela havia morrido. Podia ser Skinner dizendo que ela estava bem e que havia dito quem havia atirado. Qualquer das hipóteses o aterrorizava. Ele resolveu não atender. Não queria saber de nada. Sem saber já sofria, saber iria mata-lo. Ele ignorou o telefone, que tocou muitas vezes e por muito tempo. Ele ignorou o telefone assim como havia ignorado as regras que lhe foram ensinadas na academia. E como havia ignorado sua parceira durante a noite toda. Mulder ficou ali mesmo, sentado em seu sofá, ignorando o telefone. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxx Skinner tentou ligar para Mulder durante algum tempo. Queria lhe dizer que a operação tinha ido bem. A bala havia atravessado o corpo dela, mas Scully iria se recuperar. Skinner ligou para Margareth Scully, que chegou alguns minutos depois. Ela não deixou de perguntar por Mulder. Era uma pergunta sem resposta. Mulder nunca havia deixado Scully no hospital, a não ser, é claro, que estivesse atras de quem fizera aquilo. Ele apostava que era exatamente isso o que havia ocorrido. A essa hora Mulder devia estar percorrendo a cidade em busca de uma pista que levasse a Dantel. Scully já estava no quarto e os efeitos da anestesia estavam passando. Skinner queria conversar com ela sobre o que havia ocorrido e lhe assegurar que o FBI estava com esforços concentrados para pegar Dantel. "Onde está Mulder?" A pergunta feita quase como um sussurro, não surpreendeu Skinner. Mas ele não sabia o que responder. "Ele foi até a casa dele para trocar de roupa. Não se preocupe. Como se sente?" "Com sono." "Scully, nos vamos pegar quem fez isso, ok?" Ela não respondeu. Tinha voltado a dormir. Skinner fez um aceno para a mãe dela e saiu da sala. Iria tentar ligar para Mulder novamente, ou ir até o apartamento dele. Não obteve resposta quando tentou ligar. Ao chegar ao apartamento, Skinner bateu na porta e não esperava na verdade resposta. Foi com surpresa que ele viu a porta ser aberta. Mulder parecia que não havia dormido. Havia trocado de roupa, pelo menos. "Ela morreu, não é?" "Não Mulder. Ao contrario, ela está muito bem. Até perguntou por você." "Ótimo. Fico aliviado." Mulder não mentia. O alívio que sentiu fez com que sua dor de cabeça diminuísse sensivelmente. Mas ainda havia a questão sobre como encara-la. Ele não encontrava ânimo para dizer a ela o que havia acontecido. E ao mesmo tempo não tinha forças de fingir. Mulder sabia que bastaria olhar para ela e a mentira cairia por terra. Ele não iria deixar isso acontecer. "Pegaram Dantel?" "Não, mas temos muitas equipes trabalhando nisso." A única coisa que Mulder queria perguntar nesse momento era se haviam feito o exame na bala, mas era uma pergunta arriscada. Enquanto levava Scully para o hospital, ele teve a impressão de que a bala havia atravessado o corpo dela. Mas mesmo assim a bala tinha que estar em algum lugar. Ele se arrependeu de ter passado a noite no apartamento. Uma visita ao prédio onde tudo tinha acontecido poderia ter sido útil. Ele poderia ter encontrado a bala, e escondido essa única prova contra ele. Bom, quase, havia Dantel também. Ele era conhecido por retalhar suas vitimas. Ele gostava da aproximação. Armas de fogo nunca foram o forte dele. Dificilmente encontrariam qualquer arma com ele, a não ser sua faca. Dantel poderia alegar isso para se defender. Dizer que ele não tinha arma alguma. Mas Mulder sabia que ninguém acreditaria nele. Skinner estava preocupado com Mulder. Ele parecia indiferente a tudo que lhe era dito. Talvez o choque tivesse sido grande demais. "Mulder, se quiser posso levar você até o hospital." "Não, obrigado. Na verdade, eu queria comer alguma coisa, e mais tarde eu vou lá." Não era bem o que Skinner esperava que ele dissesse, mas iria respeitar sua decisão. Era difícil de entender as reações de Fox Mulder, as vezes. Skinner sabia que mais tarde Mulder iria até o hospital. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxx Mulder não foi ao hospital, nem nesse dia, nem nos dias seguintes. Na verdade ele sequer foi trabalhar. Ficou no apartamento durante dias. Não bebia, não via televisão, não dormia. Ficava apenas sentado, tentando modificar na sua mente o que tinha acontecido. Scully subia as escadas e ele a via. Scully subia as escadas e Mulder anunciava que era um agente. Scully subia as escadas e era abduzida por alienígenas. Scully subia as escadas e Mulder tinha um ataque cardíaco. Não importava o que acontecia após ela subir as escadas, desde que o final fosse diferente. Ele conseguia ficar nesse jogo por horas. E muitas vezes ele se convencia que o final era realmente diferente. Mas a sensação durava poucos segundos. Em busca dessa sensação ele passou dias e dias. E seu telefone tocava, e batiam a sua porta. E ao mesmo tempo em sua mente o mesmo filme era produzido por diretores diferentes, era escrito por escritores menos cruéis, era ditado por um destino menos trágico. Claro que o fato dela estar viva era uma atenuante para sua culpa, mas ao mesmo tempo era somente como uma faca ferindo mais e mais. Mulder não tinha coragem de estar face a face com Scully, então, em meio a seus delírios, ele decidiu que não deixaria que ela ficasse magoada com o que acontecera. E a solução veio de repente. Ele a deixaria aos poucos. Isso iria magoa-la, mas ao final, se algum dia ela descobrisse a verdade, ela já não se importaria. Com essa decisão em mente, Mulder tomou um banho e se vestiu. Iria trabalhar normalmente e quando ela voltasse ao trabalho ele a ignoraria. Isso causaria mais dor a ele do que ele podia imaginar, mas ele já estava se acostumando a dor, já estava se anestesiando. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxx Scully já havia se recuperado completamente do ferimento. Mas a magoa de não ter visto Mulder um só dia no hospital ainda não havia passado. Skinner lhe havia dito que achava que Mulder estava em depressão. Mas ela não podia entender o porque, já que ela havia se recuperado tão bem. A sala deles estava vazia no primeiro dia do retorno dela. Ela ainda cogitou em ligar para Mulder, mas por uma estranha razão não teve vontade de faze-lo. Era melhor esperar por ele, e ter uma conversa face a face. Mas Mulder não apareceu por dois dias. Scully já estava se acostumando com o silêncio e a calma do escritório, quando Mulder apareceu. "Ei parceiro! Pensei que você tivesse se demitido." Scully tentou ser jovial e não deixar transparecer a magoa que sentia. "Ola, vejo que está melhor" "Senti sua falta Mulder." "Sinto muito, não gosto de hospitais." Mulder disse isso sem olhar para ela. Ele sentia um nó na garganta. Não era fácil magoa-la deliberadamente. Somente agora ele tinha descoberto isso. "Mulder, você podia ter ligado." "Tinha muitas coisas pra fazer." Ainda sem se virar, Mulder recolheu alguns arquivos e foi se sentar. "Skinner disse que você não vem trabalhar a semanas." "Isso quer dizer que vão cortar meu salário?" Scully estava se sentindo mal com aquela conversa. Não parecia Mulder na frente dela. Era uma outra pessoa. Um homem frio, que ela não conhecia de forma alguma. Ela não pode mais suportar aquela indiferença. Decidiu que iria fazer qualquer outra coisa em outro lugar, menos estar ali com Mulder. Ela sabia que mais tarde falaria com ele, e com certeza ele lhe diria o quanto se sentia mal, mas nesse momento ela não estava disposta a participar desse jogo de culpa ao qual Mulder estava tão acostumado. Scully foi conversar com Skinner, que, talvez, pudesse lhe dar uma idéia do que passava na mente de Mulder. Skinner estava conversando com sua secretaria quando Scully chegou. "Agente Scully, estava agora mesmo pedindo que a chamassem, e ao Agente Mulder." "Ele está no escritório." "Kim ira chama-lo. Enquanto isso, por favor, entre." "Pode me adiantar sobre o que deseja nos falar?" "Sim, como já deve saber temos a bala que a atingiu. E essa noite Dantel foi pego. Mas ele não tinha qualquer arma para que nos possamos fazer uma comparação." "Então, somente porque ele se livrou da arma ele vai escapar dessa?" Scully ainda não podia se acostumar as voltas que a justiça dava. Muitas vezes o nome justiça sequer podia ser aplicado. Ela estava zangada, e demonstrava isso claramente. Quando Mulder entrou na sala de Skinner e a viu, aparentemente tão zangada, não deixou de pensar que talvez ela já soubesse de tudo. Ela mal olhou para ele. "Aconteceu alguma coisa Scully?" "Sim, pegaram Dantel, mas ele se livrou da arma, e não há como condena-lo por tentativa de assassinato." "Mas ele cometeu os outros crimes, pode ser condenado por isso." "Agente Mulder, não há meio de liga-lo aos outros crimes. A namorada dele está morta. Morreu em um acidente de carro." Quando Skinner disse isso, Mulder sentiu sua raiva aumentar. Dantel não podia sair impune pelas mortes que tinha causado. "Senhor, eu testemunhei Dantel disparar contra Scully. Eu estava lá." "Mulder, era muito escuro. Você não poderia jurar isso em um tribunal." Em outra ocasião Scully estaria certíssima, mas nesse momento Mulder já havia ultrapassado todo o bom senso. Ele devia ter contado a verdade desde o inicio. Voltar atras era impossível. A única coisa a fazer era seguir com a mentira, e fazer justiça a seu modo. Dantel não era um pobre inocente, ele havia matado muitas pessoas e Mulder tinha convicção disso. O que Mulder ou qualquer dos presentes não sabia era que Dantel tinha um alibi para o dia do disparo. E era um alibi mais do que inatacável. Quando, mais tarde, na sala de interrogatórios, Dantel alegou que havia sido preso por desordem naquele dia, Mulder começou a sentir seu mundo desmoronar. A mentira que ele havia contado com tanta convicção estava se dissolvendo e Scully percebeu isso. Era visível no rosto dela. Ela deixou a sala de interrogatório sem ao menos se dirigir a ele. Mulder a seguiu pelo corredor. "Scully!" Ela não se virou. "Scully, espera! Droga!" "O que Mulder? Você vai tentar me explicar porque mentiu dizendo que viu Dantel?" "Ok, Scully, não era Dantel, mas estava escuro, eu não sabia." "Mulder, você tentou acusar esse homem por algo que ele não fez." Deus, se ela estava zangada por isso, então ela ficaria furiosa se soubesse a verdade. Ele não poderia nunca contar, agora tomava realmente consciência disso. "Scully, ele não é nenhum inocente, e naquele momento parecia ser ele! Eu pensei que fosse ele, serio!" "Mulder, estava tão escuro, você não poderia ter visto nada, eu estava lá, lembra?" "Mas eu vi." Dizendo isso Mulder se afastou. Já estava ficando cansado de tentar manter sua mentira, e agora tinha que lutar contra a moralidade de Dana Scully, que parecia ver o mundo em preto e branco, sem perceber as nuanças. Scully não tinha idéia do que ele vinha passando e defender Dantel era a única coisa de que ele precisava. Mulder já estava começando a achar fácil se afastar dela. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxx Dana Scully não conseguia imaginar como diabos Mulder podia ter enxergado qualquer coisa na escuridão que envolvia o prédio, naquela noite. Era impossível. Ela tinha certeza. Mas havia uma pergunta que ele se fazia desde que Mulder havia dito isso. Se ele havia visto alguém, que ele achava que era Dantel, então ele a teria visto também, ele podia ter gritado, dado voz de prisão a Dantel, ou a quem quer que fosse. Mas ela não ouviu Mulder naquela noite. Ele estava mentindo, ela tinha certeza. Ela tinha a impressão que talvez Mulder tivesse visto alguém, mas não havia reagido a tempo, e provavelmente se sentia culpado. Ou talvez ele somente tenha visto alguém após o disparo, o que era mais provável. Scully resolveu não pensar nisso pelo momento. Ele estava agindo de forma estranha, e ficar recriminando ele parecia somente piorar a situação. O melhor a fazer era deixa-lo quieto e esperar ele melhorar. Mas ele não melhorou. Ao contrario, seu humor foi ficando cada vez pior. Scully já estava até se acostumando as explosões dele, que era dirigidas a todos seus colegas, e inclusive a Skinner. Com Scully ele quase não falava mais. E muitas vezes a deixava falando sozinha. O que ela não sabia é que quando isso acontecia era porque ele queria somente desaparecer, ir para um local escuro e se esconder pra sempre. Ele daria tudo pra ter sua vida de volta. Mas não conseguia nem mesmo se lembrar de algum dia que tivesse tido paz. Mulder tinha consciência que devia conversar com alguém, tinha que desabafar. Mas ele obedecia a sua própria meta, não confiar em ninguém. Era uma segunda feira quando a frágil estrutura, sobre a qual se baseava sua vida, começou a desmoronar. Por uma razão que mais tarde Mulder não conseguiria explicar a si mesmo, ele saiu da sala e deixou não somente seu paletó, mas também sua arma. Ele sabia que não podia se separar da arma nem por poucos segundos. Ela era a chave de tudo o que havia ocorrido, e mesmo sabendo que Scully não a pegaria, já que não lhe passava pela cabeça que ele havia atirado, ainda assim ele não ousava se separar da arma. Mas uma cadeia de coincidências se formou, e o destino tomou conta de todos os acontecimentos que se seguiram. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxx Mulder saiu da sala somente por alguns instantes, ou assim ele achava que seria. Ele ainda ouviu seu nome ser chamado por um colega, mas decidiu que não lhe daria ouvidos. Ele tinha recebido uma informação de que teria havido uma outra morte e que Dantel podia ser o culpado. E mais, que Dantel poderia estar em uma casa, no subúrbio. Colocar aquele homem na cadeia era o único objetivo de Mulder, e ele não deixaria escapar qualquer informação. Ele correu para a garagem e ainda se deu conta de que estava sem sua arma, mas tinha uma arma de reserva. E, disse a si mesmo, ninguém pegaria sua arma. Mas se Mulder tivesse parado para ouvir o que seu colega tinha a lhe dizer, saberia que o laboratório de balística estava realizando testes nas armas. O jovem agente foi até a sala de Mulder e encontrou Scully lá. Ele lhe pediu sua arma e a arma de Mulder, e Scully não teve porque negar, já que este era um procedimento normal. Ela sabia que dentro de algumas horas teria as armas de volta. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxx O técnico de laboratório, Jason Davidson, queria mostrar que trabalhava bem. Estava orgulhoso de seu trabalho no FBI e tinha estudado a fundo balística. Essa oportunidade de verificar as armas de todos os agentes era única. Isso ele havia pensado há uma semana atras, mas agora, após examinar 1.609 armas ele já estava cansado. Ele pegou a arma de Mulder e atirou com ela contra o galão de água. Esse exame servia não somente para verificar se a arma havia sido disparada e comparar as balas, mas também indicava defeitos na mira, e no cano. Qualquer curvatura, por menor que fosse, faria com que o tiro não fosse perfeito. Mas os exames nas balas indicariam o defeito com clareza. Jason recolheu a bala da arma de Mulder e a fotografou. Após ampliar a foto ele notou que a arma não tinha qualquer defeito, mas tinha riscos demais. Talvez não fosse uma arma bastante utilizada. Raramente Jason havia visto uma arma com tantos riscos. Não que isso indicasse qualquer coisa de anormal, era somente curioso. E foi por causa de sua curiosidade que Jason resolveu analisar aquela bala em relação a outras que haviam sido fotografadas no banco de dados. De fato, ela era bem diferente das outras. Quando Jason já estava cansado dessa distração, e já ia partir para o exame de outra arma, ele notou que o computador anunciava a relação entre aquela bala e uma outra. Ele chegou mais perto do monitor e se surpreendeu com o que viu. A segunda bala era a mesma que havia atingido um agente do FBI. Dana Scully. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxx Jason ligou para a Agente Scully. Era o melhor a fazer, ele tinha certeza. "Scully" "Agente Scully, meu nome é Jason Davidson, eu trabalho no laboratório de balística. Existe um problema com a arma do seu parceiro. Poderia vir até aqui?" Scully foi a contragosto. Qualquer que fosse o problema com a arma de Mulder, era ele mesmo que teria que resolver. "Sou a Agente Scully. Qual é o problema?" "Boa tarde. Eu estive examinando as armas, como sabe, e por acaso notei uma similaridade entre as estrias da arma do Agente Mulder e as estrias de uma bala, encontrada na cena de um crime." Scully não acreditava que a tivessem chamado somente para anunciar que Mulder havia disparado a arma. Ele era um agente do FBI, e era normal que ele atirasse. "Agente Scully, a bala encontrada é a mesma que atingiu a senhora." Essa revelação quase fez Scully cair. Era impossível. Claro que isso explicaria o estranho comportamento de Mulder. Mas porque ele não contou a ela? Era obvio que tinha sido um acidente. Ele nunca a machucaria de propósito. Mas ele havia mentido pra ela. Havia tentado culpar outra pessoa pelo crime. Scully tentou entrar em contato com Mulder, mas descobriu que ele havia saído deixando seu celular, assim como havia feito com a arma. Horas se passaram e Scully desistiu de esperar por ele. Falaria com ele no dia seguinte, ou iria na casa dele a noite. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxx Após deixar o prédio do FBI Mulder se dirigiu a casa onde supostamente estaria Brian Dantel. Mulder não tinha um plano, estava agindo somente por impulso. Bateu a porta e, sem que realmente esperasse uma resposta, se viu frente a frente com ele. Com o homem que havia matado pelo menos seis pessoas da forma mais horrível que poderia ser concebida. Mulder se lembrou que não tinha sua arma, somente após fazer uma coisa realmente estúpida. Ele se identificou como agente do FBI. Claro que ele tinha uma arma de reserva, no tornozelo, mas Dantel não lhe deu tempo de pega-la. Ele avançou para cima de Mulder e os dois começaram a brigar. Dantel era um homem bastante forte e mais alto que Mulder. E Mulder sentiu isso rapidamente. Ele foi facilmente dominado pelo assassino. Não lhe restava qualquer esperança. Dantel o amarrou e Mulder pode notar que ele tinha uma faca. Onde diabos ele tinha conseguido aquela faca? Mulder não se lembrava de ter visto o homem com uma faca, quando a porta foi aberta. Não importava. O fato era que Mulder não tinha escapatória. Scully não tinha idéia de onde ele poderia estar, e do jeito que ele vinha se comportando dificilmente ela se importaria de não vê-lo por algum tempo. "Então, Agente, veio me prender?" Ele ria, satisfeito com a situação. E Mulder percebeu pela expressão do rosto dele, que sua quota de homicídios ia ser estourada esse ano. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxx Scully já havia esperado tempo demais. Sua irritação tinha aumentado e Mulder havia desaparecido. Ligar para o apartamento não adiantou nada. Ela perguntou a Skinner se ele sabia onde estava Mulder. Novamente não obteve sucesso. Mas o que a deixou mesmo preocupada foi o telefonema que recebeu no fim da tarde. Era um homem perguntando por Mulder. Scully lhe disse que não sabia onde ele estava, e perguntou se ele queria deixar algum recado. O homem ficou em silêncio por algum tempo. E, quando enfim falou, somente conseguiu preocupar ainda mais Scully. Ele lhe disse que havia ligado para Mulder dizendo onde estaria Dantel. Ela pegou o endereço e pediu uma equipe de apoio. Mulder poderia já estar morto a essa hora. Mas ele não estava morto, apesar de ter desejado isso horas atras. Quando Dantel o amarrou e se aproximou com a faca, Mulder tinha certeza de que sua hora havia chegado. Entretanto, ele não se deixaria matar com facilidade. A faca estava quase tocando seu pescoço quando Mulder levantou a perna, atingindo Dantel. Não foi um golpe forte, mas foi o suficiente para desequilibra-lo. Ao cair, Dantel soltou a faca e Mulder não teve dificuldade em pega-la. E foi apontando a faca para ele que Mulder se levantou aos poucos, ainda com as mãos amarradas. A desvantagem ainda era evidente. Mesmo segurando uma faca Mulder, não se sentia com controle da situação. E Dantel sabia disso. Assim, Mulder continuou apontando a faca para ele, e seguiu em direção a porta, andando de costas. Dantel o seguia, como um animal que segue sua presa. Mulder estava suando. E por causa disso ele mal conseguia segurar a faca. Mais alguns passos e ele sentiu as costas contra a porta. Era o ponto final. Dantel continuou andando, mesmo Mulder tendo parado. Em seguida Dantel fez uma coisa realmente inesperada. Ele se jogou contra Mulder, talvez com esperança de recuperar a faca. Mas Mulder apontou a faca para frente e a última coisa que sentiu foi o peso de Dantel sobre ele. Quando conseguiu se livrar do peso do assassino, Mulder notou que não havia mais porque lutar. Ele estava morto. Ele soltou-se da corda que prendia seus pulsos e já ia ligar para a polícia quando notou um detalhe que o deixou aterrorizado. Ele estava na casa de Dantel, e não tinha qualquer ordem judicial para estar lá. Claro que havia sido legitima defesa, mas seria um trabalho terrível convencer qualquer tribunal disso. Para a justiça Dantel era um homem inocente, nada jamais havia sido provado contra ele. E, pra piorar a situação, havia Scully, que sabia que ele havia mentido, tentando incriminar Dantel. Mulder ficou ali, olhando para o corpo dele, não sabendo o que fazer. Então tomou outra decisão errada. Pegou a faca e a lavou com cuidado. Tentou tirar todas as impressões digitais da casa. E foi embora pela porta dos fundos. Claro que era uma coisa muito idiota para se fazer, mas não havia outra saída. Passar horas tentando explicar o que estava fazendo lá parecia mais complicado do que passar horas tentando explicar porque havia escondido as provas. Ele foi direto para seu apartamento, e se lhe perguntassem diria que tinha estado lá o dia todo. Só esperava que acreditassem nele. Scully não acreditaria, com certeza. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxx Quando Scully chegou a casa de Dantel, esperava encontrar Mulder lá, como refém com certeza. A equipe de atiradores se posicionou e outros agentes foram para os fundos da casa. Enfim, arrombaram a porta. Encontrar Dantel morto não era exatamente o que Scully esperava. Ainda mais porque ela achava que Mulder estaria lá. Mas ele não estava, e não havia qualquer sinal de que ele estivesse. Scully sabia que Mulder nunca deixaria a cena de um crime sem comunicar as autoridades. Dai ela deduziu que ele não havia ido para lá. Onde ele estava? Ela não sabia. Mas talvez fosse uma boa idéia passar na casa dele, para, no mínimo, comunicar a morte de Dantel. Mulder se sobressaltou com a batida na porta. Não queria responder. Sabia que era Scully, e tinha certeza de que ela já havia matado a charada. Não precisou atender a porta, no entanto. Scully tinha a chave. "Mulder, queria que você soubesse que Dantel está morto." "Huh, até que enfim boas noticias." Mulder continuou sentado no sofá, com o controle remoto nas mãos e um nó na garganta. Seu coração parecia que ia saltar pela boca. E sua boca tinha um estranho gosto metálico. Ele pensava que conhecia o gosto do medo, mas somente agora se dava conta de que havia sentido medo por poucos instantes, muitas vezes. Dessa vez era diferente. O medo havia tomado conta de seu corpo no momento que ele percebeu que havia atirado em Scully. O medo havia se entranhado de tal forma que agora ele sentia seu gosto no fundo da garganta. Ele estava vivendo com a sensação de frio no estômago a tanto tempo que achou que morreria caso não sentisse isso mais. Scully se aproximou dele. Seu olhar era triste. Ela parecia desapontada. Ele podia adivinhar o porque. Ela havia descoberto tudo. A mente de Mulder fez diversas conexões e ele pode chegar a conclusão de que ela realmente sabia. Ele havia deixado a arma no escritório. Por algum motivo ela examinou a arma. Ele havia seguido uma pista sobre Dantel, e ele estava morto. Era tudo muito simples, não havia necessidade de uma mente brilhante para chegar a conclusão que ele havia atirado nela, culpado Dantel, e em seguida o tinha matado. E Scully tinha uma mente brilhante. "Scully, eu posso explicar." "Não, Mulder, você não pode. Você nunca quis explicar, então acho que agora você não tem mais o direito." Mulder ouviu essas palavras e sentiu como se uma faca entrasse em seu peito. Ela não o perdoaria mesmo. Nunca. Ela não tinha a mínima idéia do inferno que ele vinha passando. Ele explodiu, toda a tensão acumulada por semanas vindo a tona. Nada que o pudesse deter, nem mesmo o bom senso, a amizade, ou o carinho que sentia por ela. "Quem você acha que é, Scully??? Você se acha perfeita e quer que todo mundo siga seu padrão de perfeição!!!" Os gritos de Mulder pegaram Scully de surpresa. Ele já havia dirigido palavras ásperas a ela, mas isso sempre a magoava. Ela se afastou instintivamente, mas isso somente fez com que Mulder ficasse mais furioso. "Esta com medo de mim agora?? Acha que eu vou atirar em você novamente? Ou acha que eu vou matar você como matei Dantel?" Scully sabia que Mulder havia atirado nela, mas não tinha idéia de que ele tinha sido responsável pela morte de Dantel. "Mulder, você o matou?" "SIM! Eu fui até a casa dele e o matei, com a mesma arma que ele matou todas as vitimas nesses últimos anos. Satisfeita agora? Ou ainda acha que ele é um pobre coitado que merece julgamento justo?" A medida que Mulder gritava mais ele se aproximava dela. E quanto mais ele se aproximava mais ela se afastava em direção a porta. Até que não havia mais para onde ir. Ele estava empurrando ela contra a parede, e não havia como ela fugir. Ela se sentiu mal ao perceber que estava com medo dele. Era a primeira vez que tinha realmente medo dele. "E quer saber o que mais Scully? Eu sabia que era você que estava subindo as escadas. Eu atirei porque eu quis." As lágrimas vieram aos olhos dela sem que ela pudesse controlar. Ela tinha certeza que ele não estava dizendo a verdade. O que doía realmente era ver ele usando essas palavras somente com o intuito de feri-la. "Ok, Mulder, eu sinto muito que você tenha falhado. Não devia ter me levado para o hospital, se queria que eu morresse." "Não! Eu não queria que você morresse. Eu queria somente que você ficasse quieta naquele hospital por algum tempo, assim eu poderia trabalhar sem ter a Sra. Perfeição no meu pé." "Porque isso Mulder? Pelo que eu saiba você sempre trabalha do seu modo, eu nunca consigo dissuadi-lo de fazer o que quer." Mulder ainda estava sentindo o gosto na boca, estava ficando nauseado pelo gosto. E havia o cheiro de suor, ou era o cheiro de medo. Medo seu ou dela, ele não podia saber. No fundo de sua mente ele se dizia para deixa-la ir. Para não faze-la sofrer. Mas ao mesmo tempo ele queria trocar o gosto estranho na boca, a sensação de medo por qualquer outra sensação. Raiva parecia uma boa troca. Mas Scully não sentia a raiva que poderia acalmar seu medo. Ela estava cada vez mais apavorada. Ver Mulder naquele estado, gritando com ela, ameaçando- a fisicamente, era algo que ela nunca havia sequer imaginado. Ela tinha consciência de que tinha que deixar aquele apartamento, o mais rápido possível. E ela tentou. Empurrou Mulder, mas o máximo que conseguiu foi ser empurrada contra a parede. O corpo dele se transformando em uma barreira, em algo contra o qual ela tinha que lutar. Ela empurrou com mais força e conseguiu se livrar dele, mas não chegou até a porta. Sentiu seu pulso ser segurado com força. Ela tentou se desvencilhar, mas o que conseguiu foi ter seu braço torcido, o que lhe causou uma dor alucinante. "Mulder!!! Você está me machucando!" "Nos ainda temos muito o que conversar, você não vai sair daqui agora." Ele se sentia cada vez mais ameaçado. Era estranho, já que Scully era a pessoa em quem ele mais confiava. Mas ele a conhecia bem demais. Ela iria entrega-lo pelo homicídio de Dantel, e com certeza pela tentativa de homicídio contra ela. "Nos não temos mais o que conversar. Você está saindo da linha aqui. Não percebe que está me ameaçando fisicamente Mulder? Esta me machucando. Isso não é conversar, você só está mostrando quem é o mais forte. Fazendo exatamente como..." Ela não completou a frase. Mulder a atingiu com um golpe no rosto que seria capaz de derruba-la. Mas ela não caiu porque ele ainda a segurava pelo pulso. Por causa disso Scully gritou, não somente pelo tapa no rosto, mas pelo pulso que doía mais e mais. "Mulder, por favor! Me solte!" Ele a soltou e a viu cair no chão. E vê-la ali no chão, chorando, e ferida, fez com que Mulder voltasse aquela noite no prédio abandonado. Ele se ajoelhou junto a ela, e cobriu o rosto com as mãos. Nada conseguiria faze-lo parar de chorar. Ele não sentia mais medo. E nem raiva. Somente vergonha. Por não ter confiado nela e contado a verdade sobre o tiro. Por não ter confiado nela e dito como Dantel morrera. E enfim por tê- la agredido daquela forma. "Scully, desculpe." Era apenas um sussurro, uma prece dita já sabendo que não seria respondida. "Não." Scully se levantou e saiu do apartamento. Ela não iria dizer nada sobre a morte de Dantel nem mesmo sobre o tiro que recebera, mas não queria mais trabalhar com Mulder. Ela não se sentiria bem trabalhando na mesa em frente a do homem que a havia agredido. Ela saiu do prédio e foi em direção ao carro. Queria chegar até o carro antes de começar a chorar. Ela queria poder controlar isso, mas não conseguiu. As lágrimas desciam e ela soluçava. Entrou em seu carro, e mais tarde não entendeu como havia conseguido dirigir até sua casa. Mulder ficou horas na mesma posição, dizendo as mesmas palavras, implorando que ele houvesse ouvido errado. Em seus pensamentos Scully o perdoava. Mas como antes, a sensação não durava mais do que poucos segundos. Mulder tentou ligar mais tarde, mas a mensagem que recebeu era que o telefone havia sido desativado. Ele foi até o apartamento dela. Do lado de fora uma placa anunciava o aluguel. Ela tinha ido embora. Ele nem ao menos precisava perguntar a Skinner. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxx Já haviam se passado seis meses desde a última vez que Scully havia visto Mulder. Ela não sentia raiva dele. Não mais. E provavelmente já o havia perdoado, seja pelas palavras ásperas, seja pela agressão física. Mas ela também tinha consciência de que a parceria dos dois havia acabado. Confiança era algo a ser conquistado, mas devia ser mantido com igual esforço. Mulder também sabia disso, e por entender isso, ele não havia tentado entrar em contato com ela. Ele era grato a ela, por ter quebrado seu próprio código de justiça e não ter denunciado Mulder, quanto a morte de Dantel. Mas ele se manteve afastado não somente por causa disso, mas porque não queria magoa-la mais. Já tinha feito estrago demais. Agora, seis meses depois, ele não podia ver a si mesmo como o homem que havia atirado na própria parceira, matado um suspeito e escondido as provas. E o pior, o homem que havia agredido Scully. Ficar afastado era a melhor coisa a fazer. Mas Scully começava a achar que fugir do problema não levaria a nada. Ele ainda era o mesmo homem que tinha salvado a vida dela inúmeras vezes. O mesmo homem gentil que a havia acalmado tantas vezes quando o perigo esteve próximo dela. A mesma pessoa que esteve a seu lado nos momentos difíceis de sua doença. Ela não podia simplesmente ignorar tudo isso. Era uma equação desigual. Quando o telefone tocou, Mulder não quis atender. Não devia ser nada de interessante, nem importante. Mas o toque do telefone era insistente, e Mulder não queria ficar ouvindo aquilo o dia todo. Iria atender e despachar quem quer que fosse. Era Scully e ele não podia mais pensar, respirar, falar. "Mulder, você está ai?" "Sim, Scully, você está bem?" "Estou. Lembra da última coisa que me disse Mulder?" "Lembro. Te pedi desculpas." "Quer tentar de novo?" Mulder mal podia respirar. Estava com os olhos cheios de lágrima e o coração cheio de esperança novamente. "Eu não quero te pedir desculpas Scully. Quero te pedir perdão." "Mulder, eu perdôo você." "Scully, me responde, porque você mudou de idéia?" "Pelo mesmo motivo que você me pediu perdão, Mulder." Sem dizer mais nada, ela desligou o telefone. E Mulder sorriu para si mesmo. Já não se sentia oprimido e a culpa estava desaparecendo. Ele respirou profundamente e se preparou para a volta dela. Jurou para si mesmo que não deixaria que nada ameaçasse os dois novamente, nem mesmo por acidente. Fim