Título: Mixed Autora: Claudia Modell E-mail: cmodell@hotmail.com Homepage: http://fanfic.123spider.com Categoria: Drama/UST/RST/M&S Married/Sk&Sc Romance/Angst Rating: NC17 Sumário: Categoria estranha não é? Eu ia tentar explicar, dar um sumário, mas acho que isso só vai confundir vocês. Então tenham em mente que nessa fic vocês vão encontrar Scully casada com o Mulder, cenas de sexo, Skinner se insinuando para a ruiva, gente que estava morta voltando, e muitas outras cenas estranhíssimas. Leiam! Notas: Como essa fic está ficando muito grande, decidi dividi-la em capítulos. Esse é o primeiro capítulo (provavelmente serão três), subdivido em partes. Notas 2: Eu não resisto a ter duas notas na mesma fic!! O título inicial dessa fic era, na verdade eram O Portal e Olhos Vazios. Eram duas fics separadas, com vidas próprias, que eu acabei pegando e misturando uma com a outra, e agora ela ficou Mixed. O título também é apropriado porque a história em si trata dessa mistura de fatos, na vida da Scully. Notas 3: Prá que me contentar com só duas notas??? Essa fic é ScullyCentric, ou seja, Dona Ruiva (como eu chamo secretamente) é o centro da história. Ela é que sofre dessa vez. Eu decidi deixar o Mulder descansar, ele andava fazendo reclamações na Sociedade de Proteção aos Poucos Direitos de Fox Mulder. Feedback: Digamos assim: eu só vou conseguir escrever os próximos capítulos se tiver certeza que as pessoas gostaram do primeiro. Agora eu ando assim, parei de implorar, passei a ameaçar:D Título: Mixed Capítulo I - Parte 1 Autora: Claudia Modell E-mail: cmodell@hotmail.com Homepage: http://fanfic.123spider.com Categoria: Drama/UST/RST/M&S Married/Sk&Sc Romance/Angst Rating: NC17 Notas e sumário contidas no Prólogo. Mixed by Claudia Modell O tiro ainda ecoava em seus ouvidos como um cantor de ópera que se esforça em manter a nota mais alta o maior tempo possível. Ao mesmo tempo, Mulder ainda sentia em seu corpo os efeitos dos disparos. Ele não havia sido atingido. No entanto, era como se tivesse sido. Quando as balas acertaram sua parceira ele não pôde fazer nada, a não ser servir de apoio contra sua queda. As vibrações das balas cortando o corpo dela eram sentidas por ele. Estranhamente, havia ouvido o leve gemido que ela emitira, mesmo em meio a tantos gritos e tiros. De onde haviam vindo as balas, ele não sabia. Quem eram os alvos daquela violência, não lhe interessava. Naquele momento, tudo o que lhe importava era saber se Scully estava viva e se continuaria assim. Não se lembrava de alguém ter chamada uma ambulância. Não se recordava de ter entrado no veículo e de ter seguido até o hospital, sempre segurando a mão ensangüentada de sua parceira. Lembrava-se, vagamente, de ter respondido a algumas perguntas feitas por algum desconhecido, talvez uma enfermeira. Agora, horas depois, seu corpo ainda tremia, seu coração palpitava com uma força assustadora. E o barulho dos tiros ainda lhe atormentava os ouvidos. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Tudo estava escuro à sua volta. Não era a total escuridão, mas sim aquela branda, onde as sombras não conseguem se formar, onde as cores são indefinidas, tendendo, todas elas para o cinza e suas gradações. Os sons que ela ouvia contrastavam com a meia escuridão. Vozes alegres e outras nem tanto, ecoavam por todos os lados, transformando o local em um reverberar infindável, onde tudo podia ser ouvido, mas nada entendido. Ela não estava com medo. Não haviam desconhecidos ali. Muitos lhe sorriam e alguém, que ela não soube precisar quem era, lhe segurava a mão, conduzindo-a para a beira do rio. Ela gostava do rio, das pequenas ondas que se formavam, do som que jamais se calava. O movimento das águas do rio a hipnotizavam. Ela se sentou, sorrindo, observando a corrente que levava folhas e gravetos, e às vezes algum tronco mais pesado. Um barco se aproximou. Era bastante robusto e todo seu corpo era entalhado com inscrições que ela não podia sequer definir. No fundo do barco estava um homem, o Remador. Sua face impassível a assustou. Seu rosto era escuro, e, apesar da escuridão que dominava o ambiente ela podia ver os olhos azuis do dele, que brilhavam como diamantes. Alguém, talvez a mesma indistinta pessoa que a conduzira até ali, se aproximou. Tocou seu rosto de forma suave e lhe indicou o barco, dizendo, sem pronunciar uma única palavra, que ela devia entrar e se deitar. Por alguma razão, ela obedeceu. Entrou no barco e se deitou, sentindo-se confortável e segura dentro da embarcação. Podia ver o céu, que perdia sua tonalidade azul escura e começava a ficar negro. Não via qualquer estrela e isso a assustou. Antes que pudesse dizer algo a respeito, o barco começou a se mover. A pesada embarcação não parecia encontrar resistência em sua trajetória e ela se sentiu aliviada por isso. Após alguns instantes, o Remador mudou a posição do barco, fazendo com que ela visse para onde estavam seguindo. O fato de não poder ver mais a margem de onde havia partido a deixou um tanto agitada. Tentou questionar o Remador a propósito, mas ele continuava em seu silêncio. E, então, ela finalmente viu para onde estavam indo. Um enorme portão de aço se alçava à sua frente, preparando-se para a chegada dos viajantes. A escuridão que emanava por detrás do portal lançou-a em um pânico absoluto. Nesse momento, pronta para ultrapassar o imenso portal, ela se deu conta do que estava ocorrendo. A morte a estava levando rumo ao nada, ou ao inferno. Qualquer uma das opções pareciam a ela inaceitáveis. Assim que a embarcação passou pelo portal e finalmente parou, ela desceu correndo, tentando fugir de seu destino. Corria em desespero, gritando que não era sua hora. Não sabia para onde corria. À sua frente havia uma enorme caverna, a água escorria pelas rochas e o chão estava repleto de pequenas urnas e lápides. Morta?? Não! Ela não podia estar morta. Ela sentia seu coração bater acelerado pelo medo, sua pulsação aumentava fazendo com que sua cabeça latejasse de dor. Sentia um gosto amargo na boca, e mal conseguia engolir. Nenhum morto sentiria o que ela estava sentindo. Nenhum morto jamais sentiria as dores que os cortes produzidos pelas rocha causavam a seus pés. A morte a havia deixado escapar, era o que ela repetia a si mesma, a todo instante. Ninguém a perseguia enquanto corria sem rumo. A um certo ponto, exausta, ela se sentou e tentou imaginar uma via de fuga apropriada. Jamais seria capaz de voltar ao portão. Ele era pesado demais e o Remador poderia estar lá, somente aguardando seu retorno. Sua única saída era continuar indo em frente. Ainda haviam muitas lápides e urnas à sua frente. Aquilo, talvez, indicasse que outros haviam chegado até onde ela estava. E haviam sucumbido. Mas ela não pereceria. Levantou-se, enxugando o suor e as lágrimas que molhavam seu rosto indiscriminadamente e continuou sua trajetória na escuridão. Por muitas vezes, ela tropeçou, ferindo também suas mãos e braços. As lápides começavam a escassear e, após algum tempo, ela não viu nenhuma outra lápide ou urna. Em compensação, o chão havia se transformado em um tapete de agulhas que não somente feriam seus pés mas, também, permaneciam fincadas na frágil carne. A dor que ela sentia era tão grande que era praticamente inimaginável. Era uma única sensação. Uma pressão que percorria seu corpo de um extremo a outro, fazendo com que seu corpo inteiro experimentasse cada segundo da extrema agonia. O suor agora molhava seu corpo inteiro e ela sentia o gosto metálico do sangue em sua boca. Por momentos, achava que seu suor era sangue. As lágrimas pareciam ter desaparecido, seus olhos estavam secos e ela mal conseguia mantê-los abertos. Sentia-se como se estivesse com muito sono, mas não havia como dormir. Não havia como descansar seu corpo ferido sem padecer, sem se tornar a última lápide da caverna. E ela continuou. Não mais gemia. Sequer tinha forças para isso. De alguma forma, já não sentia mais dor. Ela agora era a própria dor. A dor, para ela, havia perdido seu significado, como se aquela terrível sensação sempre estivesse estado ali. A escuridão era tão densa que ela já não conseguia vislumbrar nada a sua frente. Por vezes, se deparava com uma parede e achava que havia chegado ao fim da caverna, mas bastava se virar e seguir tateando o nada, para não encontrar mais resistência. Esses pequenos momentos lhe davam grandes esperanças. Esperanças de, enfim, acabar com aquele pesadelo. Quando menos esperava, suas preces foram atendidas. Os espinhos haviam desaparecido e o chão estava macio, como que coberto de algodão. As paredes da caverna agora eram visíveis e mostravam um brilho indescritível. Ela se deixou guiar pela luz refletida nas paredes e, enfim, se deparou com o portal, novamente. Mas não era o mesmo portal. Este parecia menos consistente, como se fosse feito de isopor e pintado com uma cor metálica. Ela se aproximou e tocou a superfície do portal, que se desfez ao seu toque. À sua frente estava o rio, mas, dessa vez, parecia mais tranqüilo, suas águas mais azuis. O barco surgiu, guiado pelo Remador. O rosto dele era tranqüilo e ela até mesmo notou um sorriso que se formava lentamente. Ela se aproximou do barco e entrou, não esperando pelo convite. Deitou-se na embarcação e aguardou que o Remador tomasse o rumo da margem. E ele assim o fez. Em instantes, eles estavam do lado oposto ao portal. Ela desceu do barco, esperando encontrar as pessoas que lá estavam antes, mas não havia ninguém. O grande campo verde estava vazio. Não havia sequer uma árvore. No meio do campo, porém, havia o que lhe parecera um bloco de pedra. Ela se aproximou e olhou surpresa para a lápide, cuja inscrição dizia: "Aqui jaz Dana Katherine Mulder, amada filha, esposa e mãe, que escolheu atravessar o portal eterno, mas deixa saudades." Fim da Parte 1 Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Título: Mixed Capítulo I - Parte 2 Autora: Claudia Modell E-mail: cmodell@hotmail.com Homepage: http://fanfic.123spider.com Categoria: Drama/UST/RST/M&S Married/Sk&Sc Romance/Angst Rating: NC17 Notas e sumário contidas no Prólogo. Mulder acordou com uma dor de cabeça que parecia querer destrui-lo. O toque do telefone o irritou. Não eram nem dez horas da manhã. Quem diabos poderia ser? Era melhor que ele atendesse logo aquela porcaria, antes que sua cabeça explodisse com o som irritante. _ Alô! _ Mulder? Que bom que você está em casa. Eu sei que é estranho mas eu... _ Quem é? _ Sou eu. Scully! Eu tive um pesadelo, muito estranho. Foi terrível. Ainda sinto dores pelo corpo todo. _ Dana, você não tem nada o que fazer? Eu estava dormindo e você me acorda prá contar seu pesadelo? Ligue prá sua mãe! Antes que ela pudesse se queixar de qualquer outra coisa, Mulder desligou o telefone, desconectando-o da tomada. Essa era boa. Estavam separados havia um ano, e ela insistia em ligar para ele nas horas mais estranhas. E dessa vez havia sido realmente estranho. Ela sempre ligava para reclamar de algo, pedindo que ele desse um pouco de atenção para a filha, Emily, ou dizer que a menina precisava de algo. Mas ligar para contar um pesadelo era algo que ela jamais fizera. Mulder decidiu não pensar mais nisso. Tinha um dia terrível pela frente. Atender seus pacientes malucos e dar uma palestra. E, tudo isso, no meio da maior ressaca de sua vida. Ainda bem que Dana havia deixado Emily com seus pais, mesmo sendo hoje seu dia de visita. Isso sim seria o início de um dia infernal. Claro que ele a pegaria mais tarde, ficaria alguns minutos com a menina e depois teria seu merecido descanso. Decidiu que, por enquanto, um banho e algumas aspirinas resolveriam seus problemas e em minutos já havia esquecido que ela havia ligado. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Porque ele havia sido tão grosseiro? Tudo bem que não era normal que ela ligasse para Mulder contando coisas tão íntimas como seus sonhos, mas não custava ouvi-la. Scully estava realmente nervosa por causa do pesadelo. A sensação de angústia causada pela estranha viagem, o fato de ter visto uma lápide com seu nome, tudo isso a deixara com os nervos a flor da pele. Ela ainda não conseguia se livrar da estranha sensação do pesadelo, quase como se ainda estivesse dentro dele. Era melhor se levantar, tomar um banho e fazer alguma coisa de seu dia de folga. Meia hora depois, após ter tomado o banho mais relaxante que poderia esperar, resolveu ligar pra sua mãe. O pesadelo e sua sensação de angústia haviam desaparecido, levados pela água quente do banho, junto com sua tensão. Estava pronta para começar o dia. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Skinner chegou ao hospital o mais rápido que pôde. Não lhe haviam dito muito, somente que um de seus agentes estava ferido. Não sabia qual, nem a gravidade dos ferimentos. Ao ver Mulder, sentado na sala de espera, coberto de sangue e com uma expressão perdida, Skinner teve a resposta para suas perguntas. _ Agente Mulder, como ela está? Demorou alguns segundos para que Mulder entendesse, primeiro quem estava perguntando, segundo o que lhe estava sendo perguntado. _ Eu não sei. Eles não dizem nada! Nada!! Mulder havia saído de um estado de total apatia para entrar em um estado de fúria. _ Calma, eu vou tentar descobrir, espere aqui. Por alguma razão, desconhecida até mesmo para ele, Mulder decidiu deixar tudo nas mãos de seu chefe. Apenas o observou se afastando e indo falar algo com uma das enfermeiras. Queria correr até lá e ver por si só o que estava havendo, mas tinha medo do que ouviria. Skinner voltou minutos depois, com um ar tranqüilo que acalmou Mulder. _ Ela está bem, Mulder. Recebeu dois tiros, um no braço e outro atingiu o tórax, mas parece que a bala ficou entre as costelas, e não atingiu o coração. _ Eles podiam ter dito isso antes. Posso vê-la? Meia hora depois, Mulder e Skinner puderam ver como Scully estava. Ela ainda dormia, sob os efeitos dos sedativos, mas Mulder ficou aliviado ao ver que ela estava respirando por conta própria, sem ajuda de aparelhos. Sentou-se ao lado dela, e sequer percebeu Skinner falando com ele. _ Mulder, vá para casa. Tome um banho. Acho que ela não vai gostar de vê-lo nesse estado. Ele não respondeu. Apenas ficou olhando para ela, quase como se cuidasse para que ela não parasse de respirar. _ Me ouviu? _ Eu não vou sair daqui. _ É uma ordem, vá para casa. Eu fico aqui. O tom de voz de seu chefe havia dado resultados. Mulder se levantou, relutantemente, e saiu, não sem antes segurar a mão de Scully e lhe dizer algo que Skinner não conseguiu ouvir. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Menos de quarenta minutos depois, ele estava de volta. Seu corpo doía pela tensão pela qual havia passado. E, estranhamente, ele sentia muito sono. Mas não quis se deitar. Precisava ver Scully, acordada e bem. Chegou ao hospital e foi diretamente para o quarto onde ela estava. Ela estava acordada e Skinner estava conversando com ela. Mulder se aproximou, sorrindo. _ Oi, parceira. Você me deu um susto, sabia? Ela apenas o olhou, sem nada responder. Isso deixou Mulder preocupado. _ O que houve? Sente alguma coisa? _ Não. _ Tem certeza? Não está sentindo dores? _ Não. Mulder sentia que havia algo muito errado, mas não conseguia distinguir o que era. Talvez fosse ele próprio que estava cansado e precisava dormir. Mas não queria deixá-la, de forma alguma. _ Eu vou ficar aqui, Ok? _ Ok. Mulder não esperava que ela concordasse. Afinal, ela sempre insistia para que ele fosse para casa, descansar. Dessa vez ela queria que ele ficasse. Skinner foi embora, em seguida. Mulder sentou-se na cadeira ao lado da cama enquanto examinava o rosto de sua parceira. Ela parecia distante, com uma expressão calma, relaxada. Não parecia preocupada com sua condição física. De fato, sequer perguntara sobre seus ferimentos. Na verdade, não perguntava ou falava nada. Mulder decidiu quebrar o silêncio. _ Você quer que eu ligue para sua mãe? _ Claro. _ Eu só vou dizer que você se feriu levemente e já está bem, certo? _ Sim. Mulder tentou ligar para a Sra. Scully, mas a secretária eletrônica anunciou que ela havia viajado. _ Ela está viajando. _ Eu sei. _ Você sabia? Porque não me disse? _ Você não perguntou. _ Scully, tem certeza que está tudo bem? _ Tenho. Ela continuava com a mesma expressão calma no rosto, e isso já começava a irritá-lo. _ Eu vou para casa, se não se importa. _ Ok. _ Amanhã venho te ver. _ Até amanhã. Mulder se segurou para não perguntar, mais uma vez, como ela estava. Ao chegar em casa, e deitar-se na cama, Mulder finalmente sentiu o peso de toda a tensão do dia. Antes que pudesse trocar de roupa, caiu em um sono cheio de imagens, sons e Scully. xxxxxxxxxxxxxxxxxx Os dois estavam subindo uma escada, a mesma que havia sido palco do tiroteio daquela manhã. Mas haviam diversas coisas diferentes naquele cenário. As pessoas não tinham rosto. Subiam e desciam as escadas, sem parar. O único som que Mulder conseguia distinguir era o dos sapatos que batiam no mármore gasto. Scully subia a escada rapidamente, e Mulder tentava alcançar seu ritmo. Mas ela estava sempre a sua frente. E, então, os barulhos dos sapatos aumentaram de intensidade. Em breve, já não eram mais saltos de sapatos, mas tiros. O céu se tornou escuro, e o barulho ensurdecedor. Scully continuava a subir as escadas. Mulder correu para alcançá-la e, diferente do que havia ocorrido na realidade, ela não foi atingida. Se virou para ele, sem qualquer expressão no rosto, e murmurou algo. Seus olhos eram estranhos, vazios. Ela se virou, novamente, e continuou sua escalada. Em seguida, todos os sons cessaram. O céu se tornou totalmente negro. A única luz existente parecia surgir dos degraus. Scully se virou, novamente, com os mesmos olhos vazios, e murmurou. _ Eu preciso ir embora. Fim da parte 2 xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Mulder acordou suado e com um gosto estranho na boca. Com uma sensação de que havia perdido sua amiga e parceira. Mas ela estava bem, ele sabia. Olhou para o relógio e viu que havia dormido a noite toda. Seu corpo parecia ainda cansado, no entanto. Mesmo assim, resolveu ir ao hospital e constatar, dessa vez à luz de um novo dia, que sua parceira estava bem. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Margareth Scully pretendia fazer a maior reunião de família que ela tinha conhecimento. Era tão difícil manter todos unidos e quase impossível ter uma ocasião em que toda sua família estivesse na mesma cidade, ao mesmo tempo. Quando a ocasião surgiu, Maggie a agarrou com unhas e dentes, fazendo com que cada um de seus quatro filhos comparecesse e levassem seus respectivos consortes e filhos. Bem, para Bill, Melissa e Charlie isso serial fácil. Mas para Dana talvez não fosse tão simples. Aquele marido dela não prestava para nada, estava sempre bebendo. Maggie não sabia como ele podia ser psicólogo e dar conselhos às pessoas. A única coisa boa que fizera foi decidir se separar dela. Com sorte o divórcio sairia em breve e sua filha encontraria um homem decente. De qualquer forma, mesmo que ele não fosse à reunião, Maggie fazia questão que os pais dele e sua irmã comparecessem. Samantha era um doce de pessoa, o oposto total de seu antipático irmão. Maggie estava tão entretida que não ouviu o telefone tocar. Seu marido, no entanto, atendeu à ligação. _ Pois não? Um breve silêncio se seguiu. _ Eu gostaria de falar com a Sra. Scully, mas acho que liguei para o número errado. _ Não. Ela está aqui. Um momento. Maggie!! Telefone prá você! Maggie largou o que estava fazendo e pegou o telefone. _ Alô? _ Mamãe? _ Dana, querida. Porque não falou com seu pai? De repente, o telefone ficou mudo. Maggie não sabia o que estava acontecendo. Talvez sua filha estivesse com algum problema. Tentou ligar para ela, mas ninguém atendeu. _ Bill, talvez seja melhor você ir ver se Dana está bem. Ela parecia estranha ao telefone. _ Era ela? Bem que eu pensei que fosse. Porque ela não falou comigo? _ Eu não sei, mas ela também não falou comigo. Vá ver, por favor. _ Claro. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Scully tremia incontrolavelmente. O que estava acontecendo? Quem era aquele homem na casa de sua mãe? Ela dissera que era seu pai, mas ele havia morrido. Porque então aquela voz lhe soava tão familiar? Já havia se deparado com a primeira coisa estranha naquela manhã. Mulder jamais era grosseiro com ela. E agora isso. Seria tudo aquilo uma brincadeira de mau gosto? Era melhor não especular muito, ainda estava abalada pelo pesadelo que tivera, talvez isso a estivesse impedindo de pensar claramente. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Ao chegar ao quarto de Scully, Mulder foi avisado por uma enfermeira que ela já havia tido alta e que havia ido para casa. De todas as coisas estranhas, essa parecia ser a maior. Porque Scully faria isso? Não poderia ter esperado por ele? Talvez o culpasse pelo que tinha ocorrido. Ele não se sentia, de forma alguma, culpado. Não sabia, sequer, de onde vieram os tiros. Como poderia ter prevenido aquilo? Se ela achava que ele tinha qualquer culpa, era bom que conversassem. Mulder seguiu para a casa dela, esperando vê-la bem, mas o que viu o assustou mais do que acalmou. Scully abriu a porta para ele, mas sem lhe dar atenção. _ Scully, porque não esperou que eu a pegasse no hospital? _ Me deram alta. _ Eu sei, mas você podia ter esperado. _ Desculpe, da próxima vez eu espero. Se a frase pretendia ser irônica, Mulder não soube dizer. Ela havia dito aquilo com absurda naturalidade. _ Eu espero que não haja uma próxima vez, Scully. Me diga uma coisa, acha que sou culpado? _ De que? _ Do que aconteceu. De você ter levado os tiros. _ Você atirou em mim? _ Não. Mas podia ter impedido. _ Duvido. _ Então porque está agindo assim, Scully? _ Como? _ Você parece distante, diferente. _ Estou cansada. _ Quer que eu vá embora? _ Quero. Ele não esperava ouvir aquela resposta, mas se ela dissera aquilo era porque, realmente, queria que ele se fosse. Talvez, de fato, fosse o melhor para ambos. Eles descansariam e retornariam à rotina. Mulder se despediu, deixando Scully, mas levando consigo uma estranha sensação, que ele sequer podia definir qual era. xxxxxxxxxxxxxxxxxxx Dois dias se passaram e foram suficientes para colocar os pensamentos de Mulder em uma nova perspectiva. Havia se angustiado por nada, agora se dizia. Ela estava bem, talvez estressada pelos acontecimentos, mas bem. Enquanto dirigia para o trabalho, Mulder se confortava, dizendo-se que tudo voltaria ao normal, que Scully estaria esperando por ele no escritório. Talvez houvesse um estranho caso para investigarem, pensou. Ao chegar no escritório, Mulder correu para vasculhar os arquivos, em busca de um caso antigo que ele tivesse deixado para depois e que agora serviria para colocar as coisas nos eixos. Scully ainda não havia chegado, mas não estava atrasada. Ele é que havia chegado mais cedo para colocar seus planos em andamento. Quando ela chegou, pontual como sempre, a única coisa que parecia diferente era a tipóia que imobilizava o braço ferido. _ Bom dia, parceira. Se sente melhor? _ Claro. _ Tenho um ótimo caso para trabalharmos. _ Ótimo. _ Não quer saber o que é? _ Diga. _ Lembra-se de um homem que nos procurou há uns dois meses, dizendo que havia visto um alienígena matar o cachorro dele? _ Lembro. _ Pois bem, achei que seria melhor a gente dar mais atenção ao caso. O que acha? Nem precisamos viajar. _ Ok. _ Scully, tem certeza que está tudo bem? _ Tenho. _ Se você não quiser investigar esse caso, tudo bem. Você, talvez, ainda precise de repouso. Ela nada respondeu. Na verdade, ela havia respondido somente com poucas palavras a tudo o que ele dissera. Isso o estava irritando. Se ela não o culpava pelo tiroteio, porque o tratava daquela forma? _ Scully, acho melhor você tirar uma licença. Uns dois dias iriam te fazer bem. _ Tem razão. _ Tenho? Mulder estava, realmente, surpreso. Não esperava que ela aceitasse ficar em casa. Ela não havia parado de trabalhar nem mesmo quando seu pai, ou sua irmão haviam morrido. _ Claro. _ Eu acho que você não parece bem. _ Eu estou bem. _ Talvez você devesse consultar a psicóloga do Bureau. Em casos de ferimentos em serviço é sempre recomendável. _ Vou sim. Aquilo havia sido a gota d'água. Scully jamais concordaria com aquela sugestão. Mulder se sentia obrigado a ir mais fundo, a tentar fazê-la demonstrar algum sentimento, qualquer que fosse. _ Para dizer a verdade, Scully, acho melhor você se afastar por mais tempo. _ Ok. _ Quanto tempo você precisa? _ Não sei. _ Duas semanas? _ Ok. _ Vou falar com Skinner, então. Vou dizer a ele que você não se sente bem para voltar a trabalhar. Que não se sente segura. Ele vai entender. O que acha? _ Ótimo. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx _ Ela quer o que? Skinner havia reagido exatamente como Mulder esperaria. Scully aceitando tanto tempo de repouso era algo verdadeiramente inusitado. _ Eu também achei estranho. _ Vou dar a licença de qualquer forma. Vamos deixá-la descansar. Mas fique de olho nela. _ Pode deixar. Mulder se sentia conspirando contra sua parceira, mas seria para o próprio bem dela. De qualquer forma, aqueles dias a mais de licença poderiam ser suficientes para fazê-la voltar a ser o que era antes. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Scully ainda estava pensando sobre as estranhas conversas ao telefone que tivera naquela manhã. Primeiro, Mulder e depois seu pai. Só ao pensar nisso se arrepiava. Lembrou-se de quando ouvira a voz de Melissa ao telefone, certa vez. Ela ainda podia jurar que a voz era de sua irmã morta e em face dos acontecimentos que se seguiram, a descoberta de sua filha, e em seguida a morte da criança, a faziam acreditar que havia se tratado de Melissa, de fato. Esses pensamentos a estavam deixando cada vez mais angustiada. Como era sábado ela decidiu que era uma boa idéia arrumar um pouco sua casa. Isso a distrairia. Mas ao entrar no quarto de hóspedes, Scully teve a certeza de que havia algo muito errado. O quarto, antes apenas um quarto de hóspedes, havia se transformado em um aposento para alguma criança. Bichos de pelúcia e bonecas estavam por toda parte, os móveis eram diferentes e o papel de parede tinha balões e ursinhos. Aquilo não poderia ter sido feito sem que ela notasse. Ela precisava falar com Mulder. Ele, com certeza, saberia o que estava acontecendo. Já ia ligar quando a campanhia tocou. Talvez fosse ele mesmo, pedindo desculpas pelo modo como a tratara anteriormente. Scully estava preparada para ter um pequeno acerto de contas com Mulder, mas, certamente, não estava preparada para ver seu pai a sua frente. _ Dana, você está bem? Parece pálida. Ela não conseguia responder. Mal conseguia pensar, na verdade. De todas as coisas estranhas que ela havia presenciado, essa era a mais inacreditável. _ Quem...Quem é você? A única explicação era que ele seria um clone, talvez envolvido em uma conspiração para tentar enlouquecê-la. Se era isso, eles estavam conseguindo. _ Dana, acho melhor você se sentar. Quer um copo d'água? _ Eu só quero saber quem mandou você aqui!!! _ Sua mãe. Ela estava preocupada. Não sabia que você ficaria zangada. Quer que eu vá embora? Scully não sabia o que dizer. Deixar seu pai ir embora seria inconcebível, afinal ela precisava saber mais a respeito, saber o que havia acontecido. Mas, e se ele fosse um clone? Ela já começava a pensar como Mulder. De qualquer forma, o melhor era que ela tivesse tempo para investigar o que estava ocorrendo. _ Não. Ou melhor, sim. Eu tenho umas coisas para resolver. _ Ok, meu bem, eu vou embora. Mas ligue prá sua mãe, ela está preocupada. _ Eu ligo. Quando ele foi embora, Scully fechou a porta e se sentou no chão. Ainda tremia. Fechou os olhos e respirou fundo. Talvez o pesadelo tivesse acabado, talvez ela ainda estivesse dormindo. Forçou-se a acordar, mas pelo jeito já estava bem acordada. Decidiu ir até o FBI, falar com Skinner. Ele, com certeza, esclareceria o que estava acontecendo. Antes de sair, no entanto, procurou por sua arma e distintivo, mas, por mais que procurasse, não conseguiu encontrar. Definitivamente, ela precisava falar com Skinner. Vinte minutos depois, ao chegar ao prédio do FBI, teve que se identificar na portaria, já que não levava seu distintivo. Por alguma razão, foi extremamente difícil conseguir falar com seu chefe. Mas Scully já não estava mais surpresa com nada. A secretária do Diretor Assistente não era a mesma do dia anterior, mas, pelo menos, Skinner estava lá. Scully esperou por meia hora, antes que a porta do gabinete de seu chefe se abrisse. Ela se levantou rapidamente, indo em direção à porta, mas se deteve ao ver a expressão confusa que ele mostrou. _ Pois não? Queria falar comigo? _ Sim, senhor. Eu tentei falar com Mulder, mas ele.... _ Desculpe, não quer entrar? Scully entrou no escritório, que parecia ser exatamente igual ao do dia anterior, mas mesmo assim ela tinha a impressão que nada se encaixava. E então, ela percebeu o que estava errado. Era Skinner. Ele parecia relaxado e até sorriu para ela diversas vezes. Mas, ao mesmo tempo, ele parecia estar desconfortável, como se não a conhecesse. De qualquer forma, Scully se sentou e se preparou para relatar o que estava acontecendo, mas Skinner se adiantou. _ Primeiramente, pode me dizer o seu nome? A pergunta a desconcertou, mas não a surpreendeu. Mesmo sem saber exatamente o que estava ocorrendo, ela percebia que nada era igual ao dia anterior. Nesse estranho mundo seu pai não havia morrido e Skinner não a conhecia. Talvez ela sequer fosse agente do FBI. _ Dana Scully. Eu...Bom, eu não sei como explicar, mas até ontem eu era agente do FBI e o senhor era meu chefe. Não se lembra disso, não é? _ Não, sinto muito. _ E quanto a Mulder? _ Nunca ouvi esse nome. Acho que você está um pouco confusa, precisa de ajuda? Skinner não sabia se estava diante de uma louca ou se era apenas uma mulher buscando atenção. Apesar de ter essas desconfianças, Skinner não queria tratá-la mal. _ Esse Mulder, é seu marido? _ Não. Nós trabalhamos juntos. _ E o que aconteceu? _ Eu tentei falar com ele de manhã, mas ele foi grosseiro. Ele nunca é grosseiro. Não comigo, pelo menos. Escute, eu não sei o que está havendo. Eu vou procurar por ele. Sinto muito tê-lo incomodado. _ Sra. Scully, se precisar de ajuda, me ligue. Aqui está meu número. Scully pegou o pedaço de papel, mas já sabia o número do telefone. Skinner não estava fingindo, ela tinha certeza. De alguma forma, ela havia sido jogada nesse estranho mundo e as pessoas que ela conhecia não eram mais as mesmas. Talvez algumas decisões que ela havia tomado no seu próprio mundo não tivessem sido tomadas neste. Scully já estava contemplando a existência de dimensões paralelas. Bem, qualquer explicação, mesmo que absurda, era melhor que nenhuma. De qualquer forma, a maneira correta de lidar com tudo isso era usar a lógica. Ela não entrara para o FBI, portanto deveria ser médica. Mas como havia conhecido Mulder? E quem era a criança que dormia no quarto de hóspedes? Se seu pai estava vivo, então porque Melissa não poderia estar? Scully queria ter todas as respostas, mas sabia que não poderia fazer perguntas erradas como: A propósito, Melissa está viva? Teria que falar com sua mãe e tentar manter uma aparência normal quando se deparasse com seu pai, novamente. Mas antes ela pretendia refrescar suas idéias. Um passeio pela cidade, apesar de parecer uma loucura naquela situação, poderia ser um boa coisa a ser feita. Ela teria tempo e calma para organizar suas idéias, pelo menos. A cidade parecia a mesma. Não eram as estruturas externas que a preocupavam. Eram seus habitantes que, nesse momento, eram completamente diferentes do que haviam sido antes. Mas não era com os habitantes de Washington em geral que ela tinha que se preocupar, mas sim com aqueles que ela conhecia. Da forma como as coisas estavam, ela passaria por louca, antes que descobrisse tudo o que era diferente entre os dois mundos. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx O prazo dado à Scully se passou sem que Mulder fosse à casa dela. O máximo que fez foi dar alguns telefonemas, somente para mostrar que estava por perto caso ela precisasse de algo. Não queria sufocá-la com atenção demasiada, mas também não queria parecer desinteressado. Após aquele período, no entanto, Mulder sentia como se devesse procurá-la, mesmo que ela não gostasse da idéia. Scully abriu a porta, sonolenta. Os cabelos estavam desalinhados e ela vestia um camisão. Mulder jamais a havia visto daquela forma, aparentemente tão despreocupada com sua aparência. Era claro que ela estava em depressão. Via-se não somente por sua aparência descuidada, mas, também, pela expressão em seu rosto. Parecia sem vida, sem alegria. Seus olhos pareciam fixar o vazio. _ Scully, você está bem? Pronta para voltar ao trabalho? _ Agora? _ Não. É tarde. Amanhã cedo. O que acha? _ Ótimo. _ Senti sua falta por lá. Ela nada respondeu. Suas respostas pareciam sempre evasivas, sem sentimento. Mulder, de fato, se sentia como se estivesse falando com as paredes. _ Ligou para sua mãe? _ Não. _ Pensei que fosse ligar. _ Esqueci. _ Quer que eu ligue? Somente para ela saber que está tudo bem. _ Sim. _ E, quem sabe, ela possa vir te visitar. Quer isso? _ Claro. Mulder estava cansado daquele quase monólogo. Decidiu deixar aquela situação estranhamente desconfortável para o dia seguinte, quando ela voltaria ao trabalho. Resolveu, também, deixar a mãe de Scully fora daquilo tudo. No dia seguinte, quando Scully entrou no escritório, ele teve, primeiro a esperança que tudo estava bem, para, em seguida, ver suas esperanças se esvaírem. Ela estava bem arrumada, dessa vez. Mas seu rosto continuava inexpressível. Nem triste ou alegre. Apenas sem expressão alguma. Mulder tinha a impressão de que, se ele caísse morto naquele momento, ela não mostraria qualquer sentimento. Quase como se seu subconsciente quisesse testar sua teoria, mas não a tão elevado extremo, Mulder fez um movimento errado ao se levantar da cadeira. Tropeçou desajeitadamente em uma das pernas da mesa, caindo pesadamente ao chão. De onde estava, Mulder dirigiu seu olhar para o rosto de sua parceira. O que viu fez seu coração se encolher. Não havia qualquer expressão ali. No mínimo, ela teria achado engraçada a queda, ou até se preocupado se ele havia se ferido. Mas nem mesmo a surpresa, o susto, fizeram surgir qualquer expressão naquele rosto. De lá do chão, Mulder se sentiu como se visse uma fotografia desfocada. Uma foto mal tirada, que não deixava ver a pessoa que ela realmente era. A partir daquele dia e pelos meses que se seguiram, Mulder passou a tentar resgatá-la, trazê-la de volta ao mundo tridimensional. Tocava em assuntos delicados, como a morte de seu pai ou de Emily. Tentava irritá-la, deixando-a fora de algum caso. Contava algo engraçado, esperando que ela risse. Exagerava qualquer ferimento, buscando algum conforto. Mas nada acontecia. Dois meses já haviam se passado, e ela continuava do mesmo jeito. Todos em volta deles pareciam notar a mudança, mas preferiam dar explicações tolas para aquilo. Sua própria mãe havia encerrado a questão, dizendo que certa vez Dana tivera a mesma coisa, quando a avó falecera. A única coisa a ser feita, segundo ela, era deixá-la se adaptar e não forçá-la de forma alguma. Era fácil para ela dizer isso. Margareth Scully não tinha que lidar com aquela fotografia desfocada todos os dias. Era ele que se sentia trabalhando com um fantasma. Aos poucos, deixou de considerá-la a pessoa que havia sido. Suas tentativas de buscar qualquer emoção nela, se transformaram em tentativas de irritá-la, tão somente. Mesmo quando a reação a tais tentativas foram em vão, Mulder continuava, já sem qualquer esperança. O que tentava, agora, era tirá-la de perto dele. Não queria estar a seu lado, trabalhar com ela. Queria que ela desaparecesse. Mas ela não parecia entender a deixa, e continuava, dia após dia, ao lado dele, sem esboçar qualquer reação aos seus ataques. Entretanto, mesmo que ela não parecesse se importar com aquilo, quem estava ao redor deles se importava. Skinner fôra o primeiro a se irritar com Mulder. Era um dia normal, e uma reunião estava em curso. Mulder e sua parceira haviam sido chamados à reunião, por alguma razão. O Diretor Assistente Skinner, apesar de não estar propriamente no comando da reunião, sentia-se à vontade para questionar seus agentes à respeito dos casos em que vinham trabalhando. _ Agente Mulder, trouxe as notas do último caso? _ Não. Scully, você trouxe? _ Não. _ Então vá buscar. O que está esperando? Antes que qualquer uma das pessoas presentes pudesse manifestar seu desagrado pelo modo com que Mulder se dirigira a sua parceira, esta se levantou e deixou a sala, indo, provavelmente, buscar as anotações. Skinner, no entanto, não deixou escapar a chance. Chamou Mulder em particular e pediu explicações. _ Quer que eu explique o que? _ Não tinha o direito de falar com ela daquele modo. _ Senhor, a Scully que nós conhecemos teria me fuzilado por falar daquele jeito. Essa marionete nem se importa. _ Do que é que você está falando, Mulder? Ela está com problemas, está em depressão, sabe disso. _ Não, eu não sei. Nem você. Não tem idéia do que é trabalhar com ela. _ O que eu sei é que ela precisa de ajuda, e você não está ajudando em nada. _ Ela não precisa de ajuda. Ela sequer existe! _ Como é? _ Ela morreu. Não vê? De alguma forma ela morreu naquele tiroteio, mas eles a trouxeram de volta, só o corpo. _ Ela sequer correu risco de vida aquele dia. Ela voltou ao trabalho dois dias depois, Mulder! Isso é a coisa mais ridícula que eu já ouvi, mesmo vindo de você. _ Eu vou provar. _ Não. Você vai sentar ali, vai responder às perguntas que forem dirigidas a você e não vai abrir a boca prá falar com ela. Antes que Mulder pudesse responder, Scully entrou na sala, carregando alguns papéis e sentou-se. Mulder voltou a seu lugar, assim como Skinner, que mantinha seus olhos fixos no agente, dizendo, com seu olhar o que aconteceria caso ele não obedecesse. O restante da reunião seguiu daquela forma. Tensa para todos, menos para Scully. Ela respondia às perguntas de forma correta, pouco dirigindo seu olhar a seu parceiro. Skinner tentava observá-la, sem ser ostensivo. O que via fazia com que se arrepiasse. De fato, era como se ela fosse um fantasma. A todo momento as palavras de Mulder retornavam. Na verdade, ele não acreditava no que Mulder dissera, ou não na forma como dissera. Ele acreditava, sim, que um grande trauma podia causar aquela reação. Vira soldados na guerra que, após alguma batalha, pareciam ter morrido, mas persistiam em arrastar seus corpos para sempre. Dos olhos daqueles homens não emanava qualquer sentimento. Skinner estremeceu ao relembrar tudo aquilo. Jamais havia procurado pela lembrança de algum daqueles mortos vivos, por assim dizer. Talvez fosse, exatamente, o que devesse fazer. A reunião terminou sem maiores perturbações. Enquanto todos se retiravam, Skinner tentava planejar seus próprios passos. No silêncio de sua sala relembrou os momentos terríveis da guerra da qual fizera parte. Eram recordações difíceis e algumas impossíveis de serem resgatadas. Sua mente havia tratado de esconder os fatos, nomes, mortes, tão bem que agora ele se sentia como se estivesse passando por tudo aquilo de novo. As memórias ressurgiam como flashes. Rostos, frases, gritos, sangue. E olhos vazios. Quando finalmente os viu, Skinner não teve dificuldade em lembrar do rosto de Scully. Era a mesma expressão sem vida. Mulder tinha razão em achar que ela havia morrido. Era a impressão que se tinha ao ver sua face com aqueles olhos. Mas ela não estava morta. Skinner sabia que ela se escondia, se protegia em sua própria mente, em algum lugar que ninguém poderia alcançá-la, onde tudo era bem mais tranqüilo do que a realidade. Trazê-la de volta era a única coisa que importava e também a única coisa que ele não tinha idéia de como resolver. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxx O breve passeio que fizera servira para deixar Scully ainda mais confusa do que antes. Tudo, exatamente tudo, parecia ser igual ao que era antes. As construções eram as mesmas, as pessoas que ela conhecia pareciam estar nos mesmos lugares, ocupando as mesmas posições. Somente ela parecia não se encaixar naquele mundo. Ninguém a conhecia, exceto seus pais e Mulder. Mesmo assim, essas pessoas a conheciam de uma outra forma. Nesse mundo ela não havia passado pelos traumas de que se lembrava. Não havia perdido sua irmã para a conspiração que ela e Mulder investigavam. Seu pai não havia morrido. Ela tentou não pensar de que modo ela poderia ter agido para que ele não tivesse morrido. Teria sua decisão de entrar para o FBI causado, de alguma forma, um stress tão grande para seu pai que enfim tenha ocasionado sua morte prematura? Aparentemente, a resposta era sim. Isso a fazia se sentir ainda pior. E a aterrorizava descobrir quais outros danos aquela simples decisão havia causado, ou impedido. Lembrou-se do quarto de criança que agora fazia parte de seu apartamento. Obviamente, a criança, uma menina com certeza, era sua filha. Scully não sabia se teria forças de se encontrar com ela. Não saberia o que dizer, ou como agir. E onde estaria essa criança, afinal? Provavelmente com o pai, quem quer que fosse. Teria que descobrir isso, de qualquer forma. Mesmo que não estivesse consciente da maternidade, ela guardava dentro de si os instintos de mãe. Decidiu voltar para sua casa e, com calma, tentar descobrir o que precisava. Ligaria para sua mãe e até para Mulder, se necessário. A lembrança de Mulder ao telefone a fazia repensar essa decisão. Não seria nada agradável lidar com aquele Fox Mulder. Ao chegar em casa ligou imediatamente para sua mãe. Ela parecia preocupada. _ Dana, que bom que você ligou. Seu pai disse que você não estava bem. Não foi Mulder que te deixou assim, não é? _ Não. Eu liguei prá ele, na verdade. _ Meu bem, já disse prá você não fazer isso. Deixe só o seu advogado falar com ele. Aquele homem não vale nada. Nem se preocupou em vir buscar Emily hoje. Não que eu me importe, afinal hoje é o nosso almoço. _ Quem? Que almoço? _ Dana, esqueceu? _ Desculpe. _ É hoje, querida. Seus irmãos virão. Até Melissa disse que vem. _ Melissa? Isso respondia à grande pergunta sobre sua irmã. _ Prá você ver. Ela largou, por alguns dias, é claro, aquele faculdade estranha onde ela dá aula. Imagine alguém pagar para ter aulas de parapsicologia. Scully resolveu mudar de assunto. Era informação demais e não exatamente a que ela precisava. Parecia que naqueles poucos minutos ela havia descoberto que fôra casada com Mulder, tinha uma filha, sua irmã estava viva, e sabe-se lá que outras coisas sua mãe não lhe contaria. O que ela precisava saber era como sair desse estranho mundo. _ Mãe, eu tentei falar com Mulder hoje de manhã. _ Sim, você disse. E o que houve? _ Ele foi grosseiro. _ E o que há de novo nisso? Devia estar bêbado. Vá por mim, não fale mais com ele. _ Mas eu preciso. _ O que houve? Precisa de alguma coisa para Emily? _ Não, não é isso. Preciso discutir algo com ele. _ Bem, ele vem buscar Emily depois do almoço. Hoje é o dia de visitas dele. Mas provavelmente só vai aparecer de noite, ficar dois minutos com a menina e ir embora. Sabe como ele é. _ Sei. Não, ela não sabia. Não tinha a menor idéia de quem fosse Mulder. De todas as coisas que pareciam mudadas, aquela raiva de sua mãe em relação a ele era a mais desconcertante. Isso sem contar o fato dela, aparentemente, ter sido casada com ele e até ter tido uma filha. De qualquer forma, o ideal agora era fazer como sua mãe disse. Ir ao tal almoço e esperar que Mulder aparecesse para ver Emily. Ao pensar nisso, Scully se perguntou se estaria preparada para ver- se frente a frente com três fantasmas da sua vida. Se despediu de sua mãe, prometendo que chegaria logo. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx O telefone tocou por algum tempo, antes que Scully finalmente atendesse. Skinner já estava quase desistindo de falar com ela. _ Scully? É o Skinner. Espero não estar atrapalhando. _ Não. _ Podemos conversar? _ Sim. _ Posso passar aí? _ Claro. Mulder estava com razão de se irritar com aquele comportamento. Ele próprio tinha vontade de gritar com ela, de obrigá-la a falar normalmente. Mas, ao contrário de Mulder, Skinner pretendia ser mais paciente. Enquanto dirigia, pensava no que dizer, para que ela tivesse alguma reação, qualquer que fosse. Ao chegar, não ficou surpreso em ver, no rosto dela, a mesma falta de expressão que ela vinha mostrando há tanto tempo. _ Scully, acho que precisamos muito conversar. Podemos? _ Sim. Mesmo que ela não tenha oferecido uma cadeira para ele, Skinner se adiantou e se acomodou no sofá. Scully permanecia impassível diante dele. _ Porque está agindo assim? Do que está se escondendo? _ Nada. _ Mulder anda zangado com você. Notou? _ Sim. _ Gosta disso? Gosta de vê-lo irritado com você? _ Não sei. _ Você está com problemas, sabe disso. Mas se esconder dentro de si mesma não vai ajudar. Scully continuava a fitá-lo, sem nada dizer. _ Scully? _ Sim? _ Você quer ajuda? _ Claro. _ Então me diga. _ O que? _ Me diga porque você quer ajuda. Novamente o silêncio. Parecia que ela respondia somente a perguntas objetivas. Qualquer sentimento era afastado. Mas porque fazia isso? E o que ele poderia dizer para arrancar dela qualquer emoção? Pelo jeito, Mulder já havia tentado de tudo, sem sucesso. _ Scully, eu vou embora. Não posso te ajudar. Você não quer ajuda. Skinner se levantou e se aproximou dela. Seus olhos se encontraram. Os dela fixavam o vazio, os dele procuravam por ela no vazio de sua mente. Em seguida, ele a tocou com delicadeza, e ainda assim ela sequer piscou. Decidiu ir um pouco mais longe, fazer algo que Scully não permitiria. Abaixou seu rosto lentamente, até que seus lábios se encontraram. Scully não se moveu. Ele achou que deveria ser mais ousado. Com seus lábios fez com que ela abrisse a boca e permitisse um beijo mais profundo. Quem visse a cena diria que ela não havia reagido. Mas ele notou algo. O movimento, talvez instintivo, quem sabe, da língua dela se encontrando com a dele. A respiração se tornara mais profunda e curta. O corpo dela, de encontro ao seu, mandava sinais que ele gostaria de interpretar de outra forma. Mas, agora, somente poderia imaginar que ela ainda estava respondendo, automaticamente, a uma pergunta. Pergunta que, dessa vez, havia sido feita através de um beijo. E a resposta, por mais agradável que fosse, não era a que ele esperaria. Skinner se afastou bruscamente. Não havia ido ali para aquilo. Queria trazê-la de volta, ajudá-la e não se aproveitar daquele momento de fraqueza. Ao se afastar, Skinner percebeu algo que o chocou, mais do que o alegrou. Ela estava, ainda, com os olhos fechados. Mas somente por alguns segundos. Abriu os olhos e encarou Skinner, sem nada dizer. _ Eu sinto muito, Scully. _ Ok. _ Não. Nada está ok. _ Vai me ajudar? A pergunta o desconcertou totalmente. Não esperava que ela disse aquilo. O estranho era que ela parecia, ainda, estar distante, a pergunta sem emoção. Mas, ao mesmo tempo, era um pedido de ajuda, vindo de algum lugar distante, onde ela se encontrava. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Scully já estava se preparando para sair de casa, e ir ao tal almoço quando a campanhia tocou. A essa altura, ela estava temerosa em abrir a porta. Já tinha aberto a porta para seu pai, e se fosse Melissa? Bem, não adiantava especular. Ao abrir teve uma surpresa. Era Skinner. O que ele poderia querer? E como achara seu endereço? Bem, na verdade isso provavelmente havia sido muito fácil. Nesse mundo ela era uma cidadã comum, cujo nome e endereço estavam no catálogo telefônico. _ Senhor, bom dia. _ Bom dia, novamente. Desculpe incomodá-la, mas é que eu estive pensando. _ Não quer entrar? _ Claro, obrigado. Bem, eu estive pensando no que você disse, sobre seu marido e você terem entrado no FBI. Pode falar a respeito? _ Pode parecer estranho, na verdade parece mais uma loucura, mas em outro mundo eu e Mulder não fomos casados e somos agentes do FBI, sob sua supervisão. _ Eu entendo. Bom, na verdade eu não entendo muito. Mas depois que você saiu eu resolvi verificar algumas coisas e descobri algo interessante. _ Diga. _ Seu marido, esse Mulder, é Fox Mulder, não é? _ Sim, é. _ Ele, de fato, trabalha para o FBI. _ Mesmo? _ Parece surpresa. Foi você mesma que disse isso. _ Sim, desculpe. Continue. _ Ele não é um agente, no entanto. Ele é consultor. Formado em psicologia. É um ótimo profissional. Quanto a você, talvez não se lembre, mas chegou a fazer testes para entrar no FBI. Mudou de idéia e trabalha como pediatra agora. Me sinto estranho dizendo seu passado a você mesma. _ Nesse momento, saber meu passado é o mais importante para mim. Acredite. Continue, por favor. _ Vocês se casaram, a cerca de sete anos, tiveram uma filha, Emily, que tem cinco anos. E se separaram há um ano. Pelo que descobri não houve briga pela custódia. _ Não? _ Surpresa? _ Sim, bastante. Mulder lutaria pela filha, no meu mundo. Ao menos eu acho que sim. _ Já dei bastante informações, que tal agora você me ajudar, explicando o que está acontecendo? _ Sem parecer louca? Vou tentar. Acordei hoje de manhã após um pesadelo terrível. Liguei para Mulder e ele já não era mais ele. Depois descobri que meu pai e minha irmã estão vivos. No meu mundo eles haviam morrido. Eu pareço louca, não é? _ Não sei como eu sou no seu mundo, mas nesse eu sou bastante aberto a extremas possibilidades. Scully não pôde deixar de não acreditar nele ao ver o sorriso que ele lhe oferecia. _ Na verdade, eu não saberia dizer. O senhor não é uma pessoa muito aberta. Lá, quero dizer. _ Nem mesmo aqui, na verdade. É que me sinto a vontade com você. _ Estranho, porque não é assim lá? _ Não sei dizer. _ Bem, vai me ajudar? Skinner não tinha idéia de como ajudá-la. Por mais que tentasse aceitar aquela estranha estória que ela lhe contara, ele ainda procurava explicações mais prováveis, incluindo a possível perturbação mental daquela mulher. _ Certo, Sra. Scully.... _ Me chame de Dana ou Scully, por favor. _ Ok, Dana, então. Acho que você deveria ter uma conversa com esse Mulder. _ E vou dizer o que? _ Diga o que acabou de me contar. _ Acha que ele vai acreditar? _ Não sei. Mas é melhor tentar. _ Certo. Scully estava receosa. Não, ela estava apavorada com a perspectiva de falar com Mulder. O tom de voz dele ao telefone a deixara preocupada com o que seria um encontro direto com ele. De repente, lembrou-se de outro encontro ao qual devia comparecer. O almoço de família marcado para aquele dia. Já eram quase três horas da tarde e o almoço já devia ter terminado, mas, conhecendo sua mãe, Scully tinha a certeza de que os convidados ainda estariam todos lá. Ela não tinha outra opção senão ir ao encontro familiar, mesmo atrasada. Quando chegou à casa de sua mãe, notou que haviam alguns carros na porta. Pelos seus cálculos todos seus irmãos estavam presentes. Ainda receosa, entrou timidamente na sala de estar. Bill foi o primeiro a vê-la. Sorrindo, foi ao seu encontro. _ Dana! Você perdeu o melhor almoço de todos os tempos. _ Eu sinto muito, Bill. Tive que resolver uns problemas. _ O que houve? Não foi aquele idiota do Mulder, não é? Algumas coisas não mudaram de forma alguma, como ela pôde perceber. _ Não. Outras coisas. Mas deixa prá lá. Scully se afastou de Bill e foi ao encontro de Charlie. Parecia mais bonito do que ela se lembrava. Na verdade, ver seu irmão mais novo era sempre uma surpresa para ela. Ele estava sempre viajando e era raro vê-lo com toda a família. Por enquanto, tudo parecia estar indo bem. Seu pai e Melissa não estavam na sala. Isso a deixou aliviada e lhe deu tempo para se preparar quando eles aparecessem. Mas ela não estava preparada para o que viria a seguir. Seu pai surgiu, descendo as escadas, trazendo pela mão Emily. Não era somente o nome que era igual ao de sua filhinha morta, mas o mesmo rosto, cabelo e sorriso. _ Dana, querida. Se sente melhor? _ Oi, mamãe! _ Oi, Emily. Foi o máximo que conseguiu dizer sem demonstrar a surpresa que estava experimentando. _ Dana, isso é hora de chegar? O que aconteceu? Era sua mãe que vinha da cozinha sorrindo, apesar do tom de reprovação contido em suas palavras. A seu lado estava Melissa. Scully tentava, ao máximo conter as lágrimas. Por mais que tivesse se preparado, estava sendo complicado para ela lidar com aquelas três pessoas, antes perdidas. _ Dana, se sente bem? _ Sim, Melissa. Desculpe o atraso. Scully abraçou a irmã com força, com medo que ela deixasse de existir. _ Ei, você não parece bem. O que aconteceu? _ Nada sério. Mulder ainda não chegou, não é? Scully dirigiu a pergunta a sua mãe. Por alguma razão, se sentia estranha conversando com Melissa ou com seu pai. _ Não. E ainda bem. Samantha e a mãe foram embora há alguns minutos. Seria terrível se eles se encontrassem. _ Samantha estava aqui? _ Claro. Aquela moça passou por tantos problemas, e eu gosto muito dela. Samantha estava viva. Essa era ótima também. Significava que nem tudo de ruim fôra causado pela sua decisão de entrar no FBI, mas também pelo fato de Mulder ter precisado procurar pela irmã a vida toda. Quanto aos problemas de Samantha, apesar de curiosa, Scully resolveu não perguntar. Skinner conseguiria as informações de que ela precisava. Scully tentou manter uma conversa normal com todos, mas se sentia como uma impostora. Uma hora depois, ainda se sentindo como uma estranha, o telefone tocou. _ Você quer o que? Esqueça. Você tem que vir até aqui pegar a menina. Scully percebeu que a mãe estava falando com Mulder. Com um sinal pediu o telefone para ela. _ Mulder? Sou eu. _ Quer dizer prá sua mãe que eu quero ver minha filha e que não posso ir aí agora? _ Eu preciso falar com você. É muito importante. Você pega ela amanhã, certo? _ Amanhã é domingo. Eu tenho que ir a um jogo. _ Ok, Mulder, qualquer dia que você escolher. _ Certo. O que você quer falar? Se for prá aumentar a pensão, vou avisando que não ando tão bem quanto seus pais acham. _ Não é isso. Onde você está? _ Em casa. _ Eu vou aí, ok? _ Ok, mas não demora. Eu tenho outros planos. Scully desligou e se despediu de todos. Sua mãe não estava gostando nada daquilo. _ Dana, eu não queria que você fosse se encontrar com ele. _ Eu preciso. Depois te ligo. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxx Skinner não tinha idéia do que fazer para ajudar Scully. O ideal seria que a levassem para uma ajuda mais especializada. Mas ele temia que o modo com que Scully estava reagindo acabasse determinando sua internação. O simples fato dela não estar agindo como louca, não significava que ela estivesse dentro dos padrões de normalidade. Por mais que Skinner pensasse em maneiras de ajudá-la, ele sabia que sozinho nada poderia fazer. Teria que falar com Mulder, pelo menos. Tendo sido parceiro dela por tantos anos, Mulder era o mais qualificado no momento. O que Skinner não esperava era a má vontade do agente, ainda mais quando dizia respeito a sua parceira e amiga. _ Eu não sei o que fazer, só isso! _ Eu sei, Mulder. Eu concordo que é uma questão difícil, mas ela precisa de ajuda. Você não pode ficar de braços cruzados enquanto ela está assim. _ Eu já disse o que acho. Ela morreu. _ Como pode dizer isso? Como pode desistir dela com tanta facilidade? _ Está enganado, Skinner. Não está sendo nada fácil. Acha que eu não queria ela de volta como antes? Mas não há ninguém dentro daquele corpo. Ela se foi. _ Prá onde, Mulder? _ Eu não sei. Prá onde as pessoas vão quando morrem, seja lá onde for isso. _ Você nem ao menos sabe o que está dizendo. Simplesmente desistiu dela. Acho que ela merece mais do que isso, principalmente de você. Ela perdeu muitas coisas por sua causa, por causa do trabalho que você tanto ama. Se não fosse isso, ela não teria perdido a irmã, a filha. Talvez estivesse em um emprego mais gratificante e seria mais feliz. Mulder ficou em silêncio. Skinner não dissera nada de novo para ele. Ele sempre se sentira culpado por tudo pelo qual ela passara. Skinner estava certo. Ele não podia desistir dela tão facilmente. _ Ok, tem razão. O que vamos fazer? _ Não tenho certeza, sinceramente. Eu já tinha desistido quando ela algo que me fez voltar atrás. Ela me pediu ajuda. _ Ela não estava respondendo a uma pergunta? Porque se perguntar se ela quer ajuda, ela dirá que sim. Se perguntar se ela quer se jogar de cima de um prédio, ela também dirá que sim. _ Não, Mulder. Eu não perguntei. Ela simplesmente pediu ajuda. _ Já é alguma coisa. Comigo ela não disse nada. _ Talvez fosse melhor você conversar com ela. Mas com calma, certo? _ Eu vou, mas não sei o que dizer. _ Diga o que quiser, mas não seja agressivo. Ela não precisa ser mandada embora para mais longe de onde já está. Mulder seguiu o conselho de seu chefe. Foi à casa de sua parceira e tentou ser compreensível e paciente. _ Skinner disse que conversou com você. _ Foi. _ Quer conversar comigo? _ Quero. Era a resposta que ele esperava, mas não do modo que queria. _ Onde você está, Scully? Mulder fez a pergunta, olhando-a nos olhos. Esperando encontrar um resquício dela, lá dentro. _ Aqui. _ Não, onde está a Scully que eu conheço? _ Não sei. _ Skinner disse que você pediu ajuda a ele. _ Pedi? _ Ele disse que sim. Não lembra? _ Não. _ Não deve ter sido você, então. Ela não pareceu entender a ironia. _ Scully, lembra quando Skinner veio falar com você? _ Lembro. _ Lembra do que ele disse? _ Sim. _ O que ele disse? _ Perguntou se eu via que você estava zangado comigo. _ E você disse o que? _ Que eu notei. _ Bem, já é um começo. Sabe porque eu estou zangado? _ Não. _ É porque eu não consigo te alcançar. Eu não sei onde você está. Me sinto incapaz de te achar. Onde você está? _ Aqui. Oh, Deus, tudo de novo. Essa conversa não teria fim. _ Onde ela está? _ Quem? _ Dana Scully. _ Não sei. _ Não tem idéia? _ Não. _ Ela não deixou um recado quando saiu? A essa altura, já irritado, Mulder não se importava de ser mordaz. O que não esperava era a resposta que veio a seguir. _ Ela atravessou o portal. _ Que portal? _ Um portal de aço. Havia um rio, e ela entrou no barco, então atravessou o portal. Aquela sim havia sido uma boa resposta. Mulder estava, agora, mais confiante. _ Ok, ela atravessou o portal e você ficou aqui. Sabe porque? _ Não. _ Ela vai voltar? _ Ela precisa descobrir. _ O que? _ Que ela morreu. _ Morreu? Isso significava que, de alguma forma, Mulder estava certo? Que Scully havia morrido e que sua alma havia atravessado o tal portal? Isso fazia sentido, apesar de inaceitável. _ Sim. _ Então ela não vai voltar? _ Vai. _ Mas se ela morreu, como ela vai voltar? _ Quando ela descobrir que morreu. Novamente, um círculo vicioso. Mas, ao menos, ele já havia conseguido algumas respostas. Mas ainda havia mais uma pergunta a ser feita. _ Skinner disse que você pediu ajuda. Mas foi ela, não foi? _ Eu não sei. Eu não ouvi. _ Porque não ouviu? _ Ela voltou, foi muito rápido. _ Como ela conseguiu? Foi algo que Skinner disse que a fez voltar? _ Não. Ele me beijou. Ah, isso era ótimo. Skinner resolvera dar uma de príncipe encantado que beija a bela adormecida para quebrar a maldição. Apesar disso irritar Mulder, havia de alguma forma funcionado. De qualquer forma, teria que conversar com Skinner depois a respeito de seus métodos de interrogatório. Agora o que precisava era descobrir tudo o que essa Scully pudesse saber a respeito do portal. _ Scully, pode me dizer mais sobre o portal? _ Claro. Em seguida, ela relatou o que se lembrava a respeito do rio, do remador e do portal, que agora separava a verdadeira Scully de seu mundo. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Ao chegar ao apartamento de Mulder, Scully não teve nenhuma surpresa. Tudo parecia bagunçado, como sempre fôra. _ Diga logo, Dana. O que quer? _ Lembra que te liguei de manhã e te contei do meu pesadelo? _ Lembro. Mas se não tiver sido um sonho erótico, me poupe, certo? _ É importante. Me escute. _ Vá em frente. Mulder se afastou e se sentou no sofá, adotando uma atitude de zombaria, como uma criança muito fingindo estar atenta. Scully o ignorou e continuou. _ Foi um sonho terrível, eu... _ Eu estava nele? _ Não. _ Bem, então de acordo com sua mãe, não deve ter sido tão terrível. _ Vai me ouvir? Continuando, eu sonhei que subia em um barco, havia um homem estranho que remava... _ Ah, Anubis. _ O que? _ Anubis, o deus com cabeça de lobo, que leva as almas para o além em seu barco. _ Ele não tinha cabeça de lobo. Eu entrei nesse barco. Nós seguimos até um enorme portal. Nós atravessamos o portal, e eu fugi. Essa foi a parte terrível. Haviam agulhas no chão. Depois eu passei por um segundo portal, encontrei uma lápide com meu nome, que dizia que eu havia sido uma boa filha, esposa e mãe. Então eu acordei, te liguei, e tudo havia mudado. _ Como assim? _ Antes de atravessar o portal eu não era casada com você, meu pai e minha irmã haviam morrido. A Emily não era nossa filha. Ah, e nós trabalhamos no FBI, juntos. _ Nossa, que sonho! _ Não, você não entendeu. Isso não era sonho. A parte do rio, do portal é que era o sonho. _ Sei. Sei. Ok, Dana, diga logo o que você quer. Ir pro Egito e levar Emily com você? _ Não! Porque não acredita em mim, Mulder? _ Porque tudo isso é estranho demais. _ No meu mundo você não só acreditaria como já teria uma teoria para tudo isso. _ Pelo jeito, no seu mundo eu era mais interessante. Ele pareceu magoado e Scully se arrependeu de como havia dito aquilo. _ Desculpe. Não quis dizer isso. O que eu preciso é da sua ajuda. _ Ok, me fale mais sobre seu sonho. À medida que Scully relatava seu sonho a Mulder, mais e mais ela sentia como se estivesse falando com um estranho. Ele a fixava atentamente, mas havia algo em seu olhar que era quase predatório. Quando, enfim, ela terminou seu relato, ele manteve o mesmo olhar estranho sobre ela. _ Mulder, você ouviu o que eu disse? _ Claro, eu posso até interpretar o seu sonho. _ Ah, pode? _ Sim. Na verdade, Dana, você sente falta de mim e gostaria de voltar aos velhos tempos. _ Não! Você não entendeu nada! Mulder, eu nem conheço você. Não desse jeito. _ E eu que pensei que tivesse me apresentado da forma correta. Que tal começarmos tudo de novo? À medida que Mulder falava, mais se aproximava dela, e seu olhar mostrava, claramente, suas intenções. De repente, Scully sentiu as mãos fortes dele que seguravam seus pulsos. Com apenas um passo adiante, ele a impediu de se mover. Scully olhou para a face do homem a sua frente. Os mesmos traços, a mesma voz, os mesmos trejeitos. O verde brilhante dos olhos era exatamente o mesmo, porém não era o seu Mulder que tinha diante de si. Jamais poderia ser. O Mulder que conhecia jamais a olharia com aquele misto de paixão e desprezo, não a seguraria com esta força, não destilaria veneno com estes olhos. E no entanto... sentia-se desfalecer somente por sentir os dedos deste homem ao redor dos seus pulsos, segurando-a com força. Seu olhar pousou sobre os lábios dele. Queria senti-los tanto quanto já desejara sentir a boca do parceiro sobre a sua. Talvez até mais. O que havia neste Mulder que a instigava tanto? Seria o seu jeito rude, mas que acobertava um desejo que ela sabia ainda existir dentro deste homem que um dia já possuíra o seu corpo? Ou melhor, de seu duplo? Ou seria a possibilidade de entregar-se a Mulder sem precisar pensar nas conseqüências, no que isso afetaria o seu trabalho, a amizade que cultivaram e todo o resto? Ou talvez fosse simplesmente o brilho zombeteiro e cínico dos olhos verdes, nada mais. Fosse qual fosse o motivo, não cederia. Jamais. O exterior poderia ser o mesmo, mas o interior...definitivamente não era ele. Mulder não tentou racionalizar o que estava sentindo. Scully o atraía, isso era tudo. Ela sempre o atraíra, desde que a conhecera, com seu corpo pequeno e delicado, os olhos muito azuis e honestos, a pele alva coroada pelo brilho avermelhado dos cabelos. A desejara desde o primeiro instante e não desistiu até possuí-la. O final do casamento pode ter sido um inferno, mas seu corpo ainda respondia ao dela, o que não deixava de ser curioso, visto que nos últimos meses o simples som da voz da esposa já servia para irritá-lo. Mas ela estava diferente. A esposa, por mais que infernizasse sua vida com as cobranças ininterruptas, os sermões desaprovadores e as regras que estabelecera em sua vidinha medíocre, vibrava com o contato de sua pele. Sim, ele conhecia Dana muito bem, sabia como amolecer o gênio forte da ex-esposa, como quebrar a determinação da mulher em manter-se afastada dele, mesmo que tenha sido ele a dar um basta no casamento há muito tempo deteriorado. No entanto, a reação de Scully agora era inusitada. Ela o desejava sim, mas não da forma doce e culpada da ex-esposa. A mulher que tinha diante de si o queria com ardor, como se a possibilidade de tê-lo fosse desconhecida para ela. E mesmo assim mantinha-se altiva, segura de si, de pé em seu pedestal. Olhou nos fundos dos olhos azuis de Scully, esperando uma reação. Como ela não tomou nenhuma atitude, não pronunciou palavra alguma, permanecendo com o olhar fixo e a respiração pesada, ele irritou-se ainda mais e puxou a mulher para junto de seu corpo, mantendo as mãos bem presas em seu peito. Os lábios estavam muito próximos, a respiração de ambos no mesmo ritmo. A situação era irracional, Scully sabia, mas não deixava de ser prazerosa...ou quase. Os pulsos, seguros cada vez com uma força maior, doíam muito. Ela queria livrar-se das mãos de Mulder, mas podia enxergar nos olhos dele o prazer em maltratá-la. Ele se divertia ao diminuí-la, ao mantê-la submissa, nem que fosse por força física. Tentou afastar-se e livrar-se do domínio de Mulder, mas ele a puxou para ainda mais perto, os olhos não desviando-se dos seus. _ Sabe que resistir é tolice, Dana. Eu sei como dobrá-la. _ Você está doido se pensa que farei isso com você, Mulder. Eu não sou sua esposa. Nunca fui e não irei me tornar agora apenas para agradá-lo. O sorriso dele foi mortal, impregnado de um desprezo que ela nunca vira no parceiro. _ Esta é sua nova tática? Espera realmente que eu acredite nesta história fantástica? Ou é apenas mais um dos seus joguinhos? O olhar dela foi feroz e as palavras que proferiu foram despejadas com raiva. _ Você me dá nojo! Nem bem terminara a frase, sentiu sua cabeça sendo puxada para trás, a mão esquerda de Mulder segurando seus cabelos com força. A fragrância masculina que emanava da pele dele a estava inebriando, mas estava decidida a não ceder. Não seria justo com ela e nem com Mulder. _ Não é o que o seu corpo está me dizendo. A voz dele, sussurrada em seu ouvido, era sexy e provocante. Imediatamente Scully sentiu todo o seu corpo tremer e seu sangue agitar-se. Mulder começou a sussurrar em seu ouvido. Não sabia a quê ele fazia referência, com certeza era algo particular entre ele e a esposa, mas o tom morno de sua voz a estava enlouquecendo. Queria colocar de lado a razão e dar lugar ao prazer, saciando um desejo há muito reprimido. A pressão em seus pulsos diminuiu e a mão dele em seus cabelos tornou-se quase gentil. Seus joelhos enfraqueceram, sua respiração estava quase ofegante. A mão foi deslizando para a nuca, massageando- a sensualmente. Quando ele liberou seus braços e começou a mordiscar o lóbulo de sua orelha, inconscientemente ela aproximou seu corpo ao de Mulder, sentindo que a excitação dele era tão grande quanto a dela. E só então deu-se conta de que se quisesse parar teria que ser agora. Respirou fundo e afastou-se bruscamente do corpo quente e aconchegante de Mulder, olhando para os olhos verdes escurecidos pelo desejo. Deus, o queria tanto que chegava a doer, mas não poderia se curvar a sua vontade pura e simplesmente. Segundo sabia, este Mulder arruinara a vida de seu duplo, demonstrava ser um homem arrogante e apesar de ter sido ele quem deliberadamente acabou com o casamento, parecia pensar que a ex- mulher lhe pertencia, como um objeto do qual poderia usar e descartar segundo sua única e exclusiva vontade. _ Mulder pare. Não foi para isso que eu vim aqui. Eu quero sua ajuda para descobrir o que me aconteceu e como reverter isso. Não quero ir para a cama com você. Scully procurou distanciar-se o máximo possível do homem com a aparência tão conhecida para ela. Já haviam discutido e ela acabara nas mãos dele. Agora que conseguira livrar-se, não pretendia retornar para os braços de Fox Mulder. Ele a observou de longe, parada com sua altivez característica do outro lado da sala. Ela sempre tivera o dom de irritá-lo, mesmo antes de casarem. Por que agora seria diferente? Só que, já que ela viera procurá-lo, mesmo ele tendo sido bem claro que a queria longe de sua casa, teria que agüentar as conseqüências de seu ato. _ Acontece, Dana querida, que EU quero e isto é suficiente. Scully arregalou os olhos diante do tom debochado e autoritário de Mulder. Ele parecia determinado a possuí-la, todo o corpo demonstrando que faria o que fosse preciso para alcançar seu objetivo. Seria ele assim tão diferente do Mulder que conhecia? A medida que ele se aproximava, ela retrocedia, com pequenos passos. Mas não queria deixá-lo perceber que sentia-se assustada e... excitada com a situação. Em nenhum momento seus grandes olhos azuis desviaram-se dos olhos verdes e arrogantes de Mulder. Ele se aproximava determinado e seguro de si, mas ela não se daria por vencida. Não era a mulher assustada que tinha que implorar para o ex-marido pagar a pensão da filha, reclamando de seu excesso de bebida. Era uma agente do FBI treinada e acostumada a lidar com os mais variados tipos de problemas e pessoas. Não se curvaria diante de Mulder. Mesmo que todo o seu corpo clamasse por isso, não o faria. Ele no entanto, estava disposto a tudo para conseguir o que queria. O corpo pequeno e delicado de Scully era agradável de olhar e de sentir. Ela podia ser terrivelmente inconveniente com todas as cobranças, perturbando seu sossego nas horas mais impróprias e mesmo desta vez, com esta história ridícula de existir um duplo seu, mas não podia negar que era extremamente sexy. Teria o que queria, sabia disso e ela não teria como impedi-lo. Quando se viu contra a parede, Scully não pôde deixar de pensar no ridículo da situação. Sempre havia uma parede para colocar termo nas fugas, mas jamais pensara que ela cairia neste mesmo erro. Olhou ao redor pensando em alternativas. Não queria começar outra luta com Mulder, mas ele não estava lhe dando muita escolha. Continuava avançando com seu olhar firme e determinado. _ É melhor parar, Mulder. _ Por que? Vai atirar em mim, senhora 'agente do FBI'? _ Já fiz isso uma vez, não hesitaria em fazer novamente. Mulder fechou o semblante, parecendo extremamente contrariado. _ Acho bom cooperar, Dana. Não tenho o dia todo para desperdiçar com você. _ Ora, o que pensa que... A frase de Scully foi sufocada pelo beijo repentino de Mulder. Ela se viu atônita, demorando alguns segundos para reagir, e quando pensou em fazê-lo, ele a impediu pressionando o corpo contra o dela. _ Dèja vu, Dana. Você sempre resiste, mas sabe que no fim eu venço. Os olhos dela faiscaram de raiva, mas não pôde respondê-lo a altura já que precisou se preocupar em impedir que ele continuasse a passear com as mãos em seu corpo. _ Mulder, pare. Eu não quero. Ele não fez caso dos protestos irritados da agente. Continuou com sua exploração ao corpo pequeno e macio enquanto beijava o pescoço delicado de Scully. As mãos subiram, acariciando os seios bem feitos, o colo alvo, até que seus dedos pousaram na delicada correntinha de ouro. Pegou com cuidado a jóia entre os dedos e olhou interrogativamente para Scully. _ Nunca a vi usando. Pensei que a tivesse perdido. Ela negou com um gesto, aproveitando-se da parada para tentar escapar dos braços que a mantinham presa à parede. Porém Mulder foi mais rápido e a empurrou novamente, fazendo com que a agente batesse a cabeça e desse um pequeno gemido de dor. Os olhos de Scully abriram-se espantados. Sabia que não era o seu Mulder, mas não esperava ser tratada desta forma. Sua cabeça doía terrivelmente, mas quando abriu os lábios em um gemido involuntário, sua boca foi novamente coberta pelos lábios cheios de Mulder. Não foi um beijo suave, chegando até mesmo a machucá-la. Tentou fechar a boca e impedir que a língua ávida de Mulder penetrasse dentro de si, mas ele era insistente e novamente a segurou pelos cabelos, forçando-a a abrir os lábios para que pudesse explorá-la. Mesmo tentando protestar, Scully saiba que seria em vão. Mulder não dava ouvidos às suas negativas, como se quisesse provar que ali quem mandava era ele. Ainda com o corpo encostado à parede, a agente tentou livrar-se da pressão do corpo masculino sobre si, mas notou que seus movimentos apenas serviam para excitá-lo ainda mais. Mulder separou-se momentaneamente dos lábios delicados de Scully e olhou no azul dos olhos da esposa. Ela estava assustada, temerosa, enraivecida, mas mesmo assim ele conseguia reconhecer a excitação da mulher a sua frente. Ela vinha tentando com todas as suas forças resistir ao clamor de seu corpo, mas para ele era inegável que o queria. E estava com raiva por isso. Pois bem, jogar era o que ela queria, então jogar é o que faria. Afastou-se bruscamente dela, fazendo com que Scully se sentisse nua e desamparada colada à parede do jeito que estava. Mulder deu as costas a agente que o encarava abismada. Caminhou alguns passos e estacou em meio a sala. Era loucura o que estava fazendo. Estavam separados, ele não precisava mais dela. Tinha o seu trabalho, suas "amiga", e uma excelente vida como um novo solteiro. Por que agora tivera essa recaída pela ex-esposa? Maldita hora em que ela aparecera em seu apartamento, linda como no primeiro dia que a vira, tratando-o como um amigo, e não com os impropérios que acostumara-se a ouvir de Dana. E para ele pouco importava a história fantástica que ela inventara. Ele podia atender os tipos mais estranhos todos os dias e ter a mente aberta às possibilidades mais extravagantes, mas ainda não estava louco. No entanto, os delírios da ex-esposa serviram para instigar-lhe, perceber que Dana não era apenas a filhinha do papai, sempre certinha e perfeita. Ela também era capaz de suas loucuras. Isto o agradou. E a forma como discutiram...chegava a ser erótica. Fazia muito tempo que brigavam apenas por causa de Emily, das pensões e dos supostos vexames que ele a fazia passar. Foi maravilhoso discutir algo diferente. Duas cabeças diferentes mas que se completavam. Como no início. Levou a mão rosto, irritado. Que diabos! Ela estava ali, não estava? Viera atrás dele, não importavam os motivos, então...o melhor era dar a Dana o que ela viera buscar. Tomando uma decisão, virou-se e dirigiu-se com passos duros à agente. Não dando tempo de dela pensar, segurou as duas mãos da mulher nas costas e a beijou com ardor. Não estava sendo delicado , não queria delicadeza. Queria livrar-se desse desejo que o consumia desde que ela voltara para ele tão mudada. Scully ainda tentou protestar, mas Mulder foi mais forte que ela, beijando-a ininterruptamente, impedindo-a até mesmo de respirar. As mãos presas às costas não podiam reagir, mas com suas pernas procurava afastar o corpo masculino. Ele não parou um único minuto, beijando seus lábios, seu pescoço, seu colo...até faze-la entregar-se ao desejo que também a estava corroendo. A agente não soube precisar o momento em que desistiu de lutar, dando-se por vencida. Tudo o que sabia é que rendera-se a Mulder e aos seus beijos furiosos. Soltando suas mãos, passou os braços em volta do corpo de Mulder, puxando-o para mais perto. Nem por um instante ele interrompeu seus beijos, as mãos percorrendo ansiosas pelo corpo vestido de Scully. Até que o simples contato de seus lábios tornou- se insuficiente para ele. Afastando-se apenas o suficiente para olhá-la nos olhos, Mulder rasgou a camiseta leve que Scully vestia, livrando-se igualmente rápido da lingerie. Baixou seus olhos para o peito da agente, que num movimento sensual, subia e descia a medida que respirava. Tocou os seios alvos e perfeitos, cobrindo-os com sua mão, para então beijar o pescoço de Scully sem deixar de brincar com os seios macios. Deslizou sua língua pelo colo feminino, chegando aos seis túmidos, onde deliciou-se fazendo-a gemer de prazer. Scully já não mais pensava. Tudo o que queria era Mulder, senti-lo dentro de si, o seu cheiro impregnado ao dela, as mãos a explorá-la. Com a mesma fúria demonstrada por Mulder, despira as roupas masculinas, mal conseguindo provar do gosto salgado do suor que cobria o corpo bem desenhado de Mulder. Ao ver-se nu, Mulder arrancou o restante da roupa de Scully, massageando suas coxas, beijando seu ventre, provocando-a. Quando cansou-se de brincar com o corpo da mulher, não parou para pensar se ela estaria pronta. Ele a queria agora. Ele a teria. Tomou-a nos braços e, de pé a encostara na parede , penetrando-a com fúria, seu corpo sofrendo espasmos de prazer. Scully surpreendeu-se com a ferocidade de Mulder, mas o desejava com tamanho fervor, que o momento que ele arremetera contra ela, lhe parecera uma benção. Quando sentiu que estava chegando ao clímax, Scully agarrou-se com mais força ao parceiro, fazendo-o gemer. O momento chegou como uma explosão para ambos. Scully satisfeita por ele ter vencido sua resistência, Mulder surpreso com a atitude completamente diferente de Scully. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxx Deitada no chão frio, nua e exausta, Scully demorou alguns instantes para se dar conta do que havia feito. Sentia-se culpada e culpava Mulder, ao mesmo tempo. Não este Mulder, mas o seu parceiro. Haviam trabalhado lado a lado durante anos, enfrentando os mais diversos desafios e tudo isso em meio a uma enorme tensão sexual. E então, de repente, bastou este Mulder, um tanto arrogante demais para seu gosto, chegar e tomar posse dela. Seria ela que impedia qualquer relacionamento em seu mundo? Teria ela a necessidade de ser dominada, e já que seu parceiro não tomava qualquer iniciativa ela mantinha distância? Mesmo tendo ultrapassado essa barreira, neste mundo, Scully não sabia se ousaria fazê-lo em seu mundo. De qualquer forma, para descobrir isso ela teria que, primeiro, sair deste estranho mundo em que se meteu. E, aparentemente, este Mulder não iria ajudá-la. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Mulder escutou o que aquela mulher, tão parecida com sua parceira, mas ao mesmo tempo tão diferente, lhe contou com a máxima atenção. Não estava sendo fácil para ele aceitar aquilo tudo. O que significaria aquele sonho? Que ela havia sofrido um colapso nervoso e havia procurado um lugar seguro em sua própria mente ou que a verdadeira Scully havia ido para uma outra dimensão, deixando essa mulher em seu lugar? O lado científico dele dizia que a primeira hipótese era a correta, mas suas crenças o obrigavam a aceitar a segunda opção. Mas, e se ele estivesse errado, e sua crença no extraordinário, na paranormalidade, acabasse por prejudicá-la ainda mais? Ela precisava de sua ajuda e ele não podia se permitir usar suas teorias absurdas para explicar o comportamento dela. Mulder, então, decidiu que o melhor a fazer era procurar ajuda profissional para ela. Sabia que Skinner se oporia a isso, portanto resolveu avisá-lo somente quando tudo estivesse arrumado. Sem muito alarde, levou-a a um hospital psiquiátrico, onde um de seus ex-professores, Dr. Logan, era o diretor. Sabendo que a deixava em boas mãos, Mulder foi se encontrar com Skinner. Ao entrar na sala de seu chefe, este parecia ansioso. _ E então, Mulder. Conversou com ela? _ Sim, e tinha razão. Foi bobagem minha ter pensado que ela estava morta. _ Ótimo. E o que você acha disso tudo, agora? _ Eu não sei. Eu tenho uma outra teoria. _ Ok, diga. _ Acho que a nossa Scully foi mandada para uma outra dimensão, e essa mulher é um duplo dela. _ O que? _ Calma, apesar de eu achar isso eu não pretendo prejudicá-la ainda mais. _ Isso é bom. O que pretende fazer, então? _ Já fiz. Mulder disse isso em voz baixa, mas Skinner ouviu bastante bem. _ Fez o que? _ Um dos meus ex-professores é diretor de um hospital. _ Que tipo de hospital? Por alguma razão, Skinner já sabia a resposta. _ Um hospital psiquiátrico. _ Você não tinha o direito, Mulder! Você nem é parte da família! Entende isso? _ Eu sou parceiro dela! _ Eu pensei que fosse amigo, também. _ Eu sou, e é por isso que eu achei melhor que ela fosse prá lá! _ Não, você só quis se livrar dela. Se alguém não é do jeito que você quer, você se livra da pessoa, não é? _ Sabe que não é isso, Skinner! Por favor, não pode entender? Eu não sei mais o que fazer! _ Você disse que tinha outra teoria. _ Que você achou absurda! _ Qualquer teoria é melhor do que a saída que você encontrou. _ O que você quer que eu faça?? Que eu saia viajando de dimensão em dimensão perguntando se alguém a viu? Escute, Skinner, eu até posso levar em conta essa minha teoria, mas não posso deixar de tentar ajudá-la de outra forma. _ Não confia em você mesmo, Mulder? _ Você confia? Acha que eu estou certo? Que ela está em outra dimensão? _ Eu não sei o que pensar, mas garanto que não vou descartar nenhuma hipótese. _ Ok, então vamos juntos procurar uma resposta, mas enquanto isso, ela recebe ajuda, certo? _ Não. As respostas estão com ela, Mulder. Se nós a deixarmos lá, talvez ela jamais possa nos ajudar. Talvez tirem isso dela. Mulder não tinha, de fato, pensado nisso. Ultimamente ele não vinha pensando direito a respeito de nada. Skinner estava certo. Scully era a única pessoa capaz de dar qualquer resposta. xxxxxxxxxxxxxxxxxxx Scully não percebeu o sono e a noite chegando. Não notou, tampouco, a saída de Mulder do apartamento. Quando acordou, já parcialmente refeita das emoções que havia vivido com aquele homem tão parecido e ao mesmo tempo tão diferente de seu parceiro, já era quase de manhã. Não sabia como mas agora ela estava deitada na cama dele, coberta por um lençol e ainda nua sob este. Queria tanto acreditar que tudo o que havia acontecido no dia anterior havia sido somente um sonho, mas seu corpo não lhe permitia tal fantasia. Ainda sentia sobre sua pele a pressão da boca, das mãos, de todo o corpo dele sobre o seu. Fechando os olhos ela podia, praticamente, reviver cada momento, cada beijo, todos os toques que invadiram seu corpo e agora dominavam sua alma. Todas aquelas emoções tentavam se sobrepor a qualquer razão. Enquanto ela se recriminava por ter se deixado dominar por ele, seu corpo lamentava sua ausência. Enquanto ela repetia a si mesma que aquele não era seu parceiro, seu corpo lhe informava que ele era o detentor dos direitos de posse sobre ela. Por mais que ela quisesse voltar ao seu próprio mundo, no seu íntimo havia uma voz que lhe gritava para que ficasse lá. E essa mesma voz buscava usar a razão para convencê-la. Neste mundo, ela não corria riscos, tinha sua família completa ao seu lado, tinha Mulder, ou uma parte dele. Para que voltar para um mundo de dor, tristezas e angústias? Claro que ela sabia que não havia felicidade completa e que este mundo não era perfeito, mas tivera uma segunda chance e podia lutar para fazer deste mundo aquilo que o outro deveria ter sido. Havia algo, no entanto, que ainda a perturbava. Se ela estava aqui, quem estaria em seu lugar? Haveria uma outra Dana Scully ao lado de seu parceiro? Provavelmente sim. Talvez a Scully deste mundo, ex-esposa de Fox Mulder, médica e mãe de uma criança adorável, agora estivesse lá, no seu lugar. Se assim fosse, Scully se compadecia de seu duplo. Afinal aquela mulher estaria se vendo em uma situação complicada, devendo trabalhar ao lado do homem que, provavelmente, odiava, seria uma agente do FBI sem qualquer qualificação e descobriria que sua filha havia morrido tempos atrás. Pensando nisso, Scully sentiu pena dela. Pena de si mesma, na verdade. Mas não havia nada que pudesse fazer a respeito no momento. Ainda estava perdida nesses pensamentos quando ouviu a porta do quarto sendo aberta. Era Mulder. Aquele estranho Mulder. _ Ah, já acordou. _ Onde você estava? _ Hoje é domingo, fui correr um pouco. _ Devia ter me acordado. Eu preciso ir embora. _ Porque, Dana? Emily ficou com a sua mãe. Ela me ligou, a propósito. Lá pelas onze da noite. Você estava dormindo e eu não quis te acordar. _ Deveria. _ Com certeza. Ela até queria chamar a polícia. Nem sei como ela não chamou. Ela não gosta mesmo de mim. _ Porque? _ Porque o que? _ Porque ela não gosta de você? _ Como assim, Dana? Você está brincando, não é? _ Não, não estou. Eu já disse o que aconteceu comigo, você não quer acreditar. _ Ah, aquele papo de outra dimensão. _ Acreditando ou não, você podia me contar o que anda acontecendo por aqui. Mulder suspirou ruidosamente. Mas decidiu fazer o que ela pedia. _ Ok, por onde quer começar? _ Minha mãe. Porque ela te odeia tanto? _ Ela acha que eu não presto, que o desaparecimento da Samantha foi culpa minha, e milhões de outras coisas. _ Como assim, o desaparecimento da Samantha? _ Dana, isso é muito esquisito. Você estava lá quando aconteceu aquilo tudo. Você viu tudo! _ Por favor, Mulder, me conte! Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Após ter tido aquela conversa com Skinner, Mulder decidiu ir ao hospital o mais rápido possível. Ainda não entendia porque havia tomado aquela decisão absurda. Scully precisava dele, mais do que nunca. Não seria trancando-a em algum hospital que ele a ajudaria. Ao chegar, dirigiu-se ao balcão de atendimento. _ Boa noite. Eu preciso falar com o Dr. Logan. _ Desculpe, senhor, mas o Dr. Logan não está. _ Escute, eu sou amigo dele. Preciso tirar alguém desse hospital. _ O senhor é parente do paciente? _ Não. Eu sou parceiro dela. Nós trabalhamos juntos. _ Então o senhor vai precisar de uma autorização médica. _ Não, você não entendeu. Eu a trouxe para cá. _ Senhor, eu entendi. Não importa que o senhor a tenha trazido, ainda assim ela só pode sair com alta médica ou com uma decisão judicial. Só o Dr. Logan pode dar as altas neste hospital. _ E onde ele está? _ Eu não posso responder a essa pergunta, senhor. _ Olhe, está vendo isso aqui? É uma identidade do FBI. Eu sou um agente federal e essa paciente é minha parceira!! _ Sendo um agente da lei o senhor entende melhor do que ninguém os procedimentos legais. Mulder decidiu se acalmar um pouco, antes de continuar aquela discussão. _ Ok, quando o Dr. Logan está de volta? _ Amanhã. A partir das nove horas. _ Então eu volto amanhã. Mulder deixou o hospital, relutantemente. Não se sentia bem deixando Scully lá. Como havia feito a estupidez de mandá-la para aquele lugar, ele não sabia. Mas, naquele momento, não havia nada que pudesse fazer. A noite passou lentamente para ele. Tinha visões dela sofrendo naquele lugar, sendo amarrada à cama, tomando remédios que a deixariam dopada por dias. Quando, enfim, o dia seguinte chegou, Mulder foi até o hospital. Não queria se arriscar a falar com a enfermeira ao telefone. Assim que chegou ao hospital percebeu que não teria corrido risco de um segundo embate com aquela enfermeira. Uma outra jovem estava em seu lugar. _ Bom dia. Eu preciso falar com o Dr. Logan, por favor. Mulder tentava ser o mais simpático e delicado possível com ela. Havia comprado a antipatia da enfermeira do dia anterior, ao ser agressivo com ela. Não cometeria o mesmo erro duas vezes. _ Bom dia, senhor. Infelizmente, o Dr. Logan deixou o cargo de diretor deste hospital. A comunicação foi feita hoje cedo. _ Desculpe, não entendi. Até ontem a noite ele trabalhava aqui. _ Ele se afastou por motivos de saúde. Parece que ele vinha tendo problemas e ontem se sentiu mal. _ Ok, quem ficou no lugar dele? _ O diretor interino é o Dr. Maxwell, mas ele não está. _ Onde posso encontrá-lo? _ Eu não sei dizer, senhor. _ Escute, eu trouxe uma amiga para esse hospital, mas eu quero que ela saia daqui. _ Somente com alta médica, senhor. Se aquela mulher disse senhor mais uma vez, Mulder não se responsabilizaria por seus atos. Tentou se acalmar, mais uma vez. _ Ela não estava doente. _ E porque ela foi internada? _ Foi a meu pedido. Somente para ela ser examinada pelo Dr. Logan. Ela só passou um dia aqui. Eu quero que ela saia. _ Ela assinou um documento de auto internação? _ Não sei, acho que não. _ Se ela assinou, então basta que ela peça para sair. _ Pode verificar se existe esse documento? Mulder deu o nome de sua parceira para a enfermeira. A jovem estava disposta a ajudá-lo mais do que a megera que o atendera no dia anterior. _ Sinto muito, senhor. Ela não assinou qualquer documento. Na ficha dela consta a internação requerida pelo Dr. Logan. Ela vai precisar de alta médica para sair. _ E só o diretor dá essa alta? _ Sim, sinto muito. Mulder agradeceu a ajuda, apesar de inútil. Em seguida se dirigiu à casa do Dr. Logan. Não foi fácil localizar o endereço. Mas após um telefonema à sua antiga faculdade, Mulder conseguiu o que queria. Ao chegar à casa do Dr. Logan, Mulder percebeu uma movimentação estranha na frente da casa. Havia uma ambulância parada a poucos metros da entrada. A porta da frente estava aberta. Lá dentro jazia um homem e em volta dele estavam alguns paramédicos. Mas ninguém se movia. O homem que jazia no chão era o Dr. Logan, e as palavras que um dos paramédicos pronunciou fez com que Mulder desejasse estar longe dali. _ Hora aproximada do óbito, 10:45 da manhã. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Scully não podia acreditar no que ouvia. Lá estava aquele homem contando uma versão distorcida da vida de seu parceiro. Samantha havia sido levada de casa, aos oito anos, mas não por alienígenas. Havia sido seu próprio pai, enfurecido com a traição da esposa, que decidira deixar a família, levando consigo a criança. _ Desculpe, Mulder, eu entendi que seu pai levou sua irmã, mas não entendo porque alguém culparia você por isso. E ainda mais a minha mãe. E porque você disse que eu estava lá? Eu nem conhecia você. _ Como assim não me conhecia? Você era a melhor amiga da Samantha. _ Sério? _ Você não lembra de nada disso mesmo, não é? _ Não é que eu não me lembre, eu simplesmente não sei nada disso. Mulder pareceu meditar por alguns instantes. Talvez ainda estivesse decidindo se ela estava louca ou se decidira brincar com ele. Qualquer que fosse a conclus ão, ele parecia disposto a ouvi-la, dessa vez. _ Ok, nós três estávamos em um parque, perto da sua casa, naquele dia. Seu irmão Bill estava por perto. Eu não lembro porque, mas nós dois acabamos brigando. Ele se machucou e foi correndo se queixar com a minha mãe. Esse cara sempre foi um idiota. Ele é um idiota nessa outra dimensão também? _ Mulder, a história, continue. _ Certo. Então minha mãe veio até o parque, zangada, gritando comigo. Samantha pulou na minha frente, prá me defender, sei lá. Foi quando o inferno começou. Meu pai estava chegando de carro. Ele viu a confusão e correu até a minha mãe. Do ponto de vista dele, ela estava gritando com a Samantha. Então ele começou a gritar com a minha mãe, dizendo que ela não tinha o direito de brigar com a Samantha. Sabe como é, ela sempre foi a princezinha mimada. _ Não, eu realmente não sei, mas continue. _ A briga foi ficando feia, e eu estava morrendo de vergonha, a Samantha também, acho. Então eu resolvi sair dali e levar a Samantha. Puxei ela pelo braço e saí dali correndo. Você veio atrás. Bem, não só você, meu pai também. Eu falava prá ela correr e a puxava ao mesmo tempo. De alguma forma, conseguimos nos esconder. Você ficou prá trás. Nós ficamos escondidos por horas. Quando já era bem tarde, nós fomos para casa. Meu pai me deu a maior surra que alguém pode levar, minha mãe nem se mexeu. E Samantha só conseguia chorar. No dia seguinte ele tinha ido embora e levado Samantha com ele. Não sem antes ter ouvido da minha mãe que eu não era filho dele. Legal, não é? _ Não. _ Eu sei que não é. Bom, ele morreu há três anos e Samantha foi viver com minha mãe. _ Mas porque minha mãe te detesta? _ Por causa da história que Bill contou, sobre o início da briga. Ele mudou toda a versão. Ficou parecendo que ele era o herói. _ O que ele disse? _ Que eu batia na Samantha e outras coisas. _ Que coisas? _ Que eu machucava você. _ Como assim, Mulder? _ Não é verdade, ok? Eu juro que não é verdade, Dana. _ Ele disse que você me molestou, é isso? _ É. Mas eu nunca fiz isso, juro. _ Eu sei, Mulder. _ Como você sabe, se você diz que não se lembra de nada, que não sabe nada sobre o passado? _ Eu apenas sei. Acho que tudo pode mudar, mas você não me machucaria, nunca. _ Não mesmo. Naquelas duas palavras, Scully encontrou uma grande tristeza e sinceridade. Parecia que, mesmo que Mulder não tivesse passado pelas mesmas situações que passara em seu mundo, ele não pudera fugir à sua carga de culpa. Se aquela maldição o perseguia, até mesmo em outras dimensões, como ela poderia ter certeza de que ela seria poupada? Talvez tivesse sido abençoada até aquele momento. Quem poderia garantir que Melissa não seria atropelada no dia seguinte, que seu pai não sofreria um ataque do coração por causa disso, que Emily não morreria de alguma doença grave e incurável? De repente, Scully se sentiu pequena diante do enorme universo de probabilidades. Era como lutar contra um ser poderoso, cruel, inteligente e insensível. Não havia como vencer. xxxxxxxxxxxxxxxxx