Título: Irish Games Autora: Claudia Modell E-mail: claudia@subsolo.org Sumario: A volta de Phoebe Green traz reviravoltas para a vida de Mulder, que, de repente, se vê acuado entre dois poderosos exércitos irlandeses e ainda precisa provar sua inocência, quando é acusado de homicídio. Categoria: M&S UST Feedback: Antes que digam que eu nunca peço feedback, ai vai:D Nota 1: Ao contrário das minhas outras fics, essa não tem violência excessiva, aproveitem:) Nota 2: Quase metade dessa fic não tem a presença da Scully, mas isso é compensado, e muito, na segunda metade da fic. Nota 3: Para entender melhor a história gostaria de explicar um pouco da situação atual da Irlanda (não reclamem, leiam, é muito bom aprender um pouco mais sobre o mundo que nos cerca:) Fatos históricos: O Rei Henrique II interviu na ilha (atual Irlanda) impondo a sua soberania. A colonização, propriamente dita, só foi iniciada em fins do século XVI, quando Jaime I promoveu a emigração em massa de protestantes que se estabeleceram no norte da ilha (hoje Irlanda do Norte). Os colonos protestantes passaram a molestar a população católica nativa, expropriando suas terras. Os direitos de voto e de acesso a atividades comerciais foram negados. A partir daí surgiu a contenda religiosa, que perdura até os nossos dias. Como se vê não se trata somente de uma disputa sobre religião, mas uma luta entre colonizadores e colonizados. Os setores nacionalistas fundaram, em 1791, a União dos Irlandeses, com a finalidade de desencadear uma rebelião pela independência. Sem conseguir o apoio das massas camponesas, a revolta é esmagada. Em retaliação a Inglaterra abole, em 1801, o parlamento irlandês e através da promulgação do Union Act, sela a anexação da Irlanda, formando o Reino Unido da Grã-Bretanha (o Reino Unido é hoje constituído da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte. A Grã-Bretanha, por sua vez, compreende a Inglaterra, o País de Gales e a Escócia). Revoltas esporádicas continuaram ocorrendo, mas o nacionalismo irlandês só recobrou suas forcas no século XX, com a formação do partido Sinn Fein e das unidades de auto-defesa encarregadas de defender a população católica dos ataques das violentas milícias protestantes. Em 1916 as milícias operárias dirigidas por James Connolly e o partido Sinn Fein, organizam um levante armado. O levante foi brutalmente reprimido e vários de seus líderes executados. A resitência desaparece e em 1918 as unidades guerrilheiras fundam o Exército Republicano Irlandês (IRA). Uma insurreição generalizada toma conta de todo o país, aparecendo, em breve, um poder democrático paralelo ao da administração colonial britânica. Em 1922 os setores burguêses do movimento nacionalista acertam um tratado com a Grã-Bretanha, de onde é constituído o Estado Livre da Irlanda, formado pelos 26 condados do sul (de maioria católica) e os seis condados do norte (hoje Irlanda do Norte, ou Ulster), de maioria protestante, sendo que este último permanece ligado ao Reino Unido. Surge, dessa forma, a Irlanda do Norte, que passa a ser dominada pelos protestantes leais à coroa britânica. O IRA recusa a partilha da nação e a luta prossegue, agora entre os partidários da divisão da Irlanda e os defensores da independência total de todo o território. O Estado Livre da Irlanda ficaria como membro associado do império britânico (commonwealth, posteriormente) pelo tratado assinado, mas em 1937 o governo irlandês declara unilateralmente a independência, somente reconhecida em 1949, pela Grã-Bretanha. Nascia, dessa forma, a atual República da Irlanda (Eire), que nos anos seguintes passaria a reivindicar a reunificação de todo o país. O IRA: O Exército Republicano Irlandês tem seu canal de expressão política no Sinn Fein, um dos partidos mais antigos da Irlanda, que defende o fim da divisão do país, a retirada britância e o direito dos irlandeses que vivem no norte à autodeterminação. Atua como formação política nacional e é o úncio que está presente nos 32 condados (os 26 da República da Irlanda e os 6 da parte ocupada). No campo da luta armada na Irlanda do Norte, atuam algumas pequenas organizações, como o Exército Nacional de Libertação da Irlanda (INLA). Militarização: A Irlanda do Norte é uma região bastante militarizada. Para cada vinte nacionalistas existe um efetivo armado das forças de ocupação, investido de poderes especiais, ditados por leis anti-terroristas que permitem a detenção e encarceramento sem julgamento prévio. Isso sem contar a violenta polícia especial, a RUC, e os bandos paramilitares de extrema direita que lutam contra a população católica da região. Entre esses bandos paramilitares os mais conhecidos são a Associação pela Defesa do Ulster (UDA) e os Voluntários da Liberdade do Ulster (UVF). Esses bandos contam com o apoio de colaboradores dentro da polícia e do exército britânico. Nos último vinte anos, mais de 60 mil pessoas foram detidas na Irlanda do Norte. Calcula-se que ainda existam cerca de 700 prisioneiros políticos. O conflito provocou a morte de pelo menos 3.500 pessoas nos anos mais recentes. Bom, desculpem por toda essa explicação, mas achei que além de melhorar o entendimento da fanfic, iria melhorar o entendimento de uma situação sobre a qual lemos nos jormais e da qual sabemos tão pouco. Não tive intenção alguma de tomar qualquer partido, ao relatar os fatos, mas, tendo nascido em um país colonizado, fica difícil entender com que direito um país invade outro e oprime sua população. Da mesma forma, também não concordo com os métodos usados pela população oprimida. Mesmo porque o Brasil, ao se desligar de seu colonizador, o fez de maneira pacífica, o que deveria ser um exemplo. Irish Games by Claudia Modell O aeropoto estava lotado. Crianças corriam de um lado para o outro e seus pais tentavam controlar as malas e os filhos. As pessoas que não tinham crianças também estavam bastante ocupadas. Toda aquela gente parecia ter decidido, ao mesmo tempo, visitar Washington. Mas sempre fôra assim, na semana de natal e, de certa forma, toda aquela confusão dava a Mulder uma sensação de bem estar, como se tudo corresse como havia sido planejado por algum Deus supremo. O anúncio da chegada de mais um vôo retirou Mulder de seus pensamentos. Sabia que, até a saída dos passageiros, ainda teria que esperar mais uns vinte minutos. Ele estava ansioso. Não a via há muito tempo e não tinha idéia do que dizer ou fazer. Sabia, no entanto, que era inútil planejar o que dizer. O melhor era esperar que ela surgisse por trás da porta de desembarque para que ele soubesse como reagiria. Ele não entendia porque, depois de tantos anos, ainda era difícil lidar com ela. Nem mesmo seus anos de experiência como agente do FBI poderiam ajudá- lo a responder àquela simples pergunta. Mulder olhava, fixamente, para a porta e via diversos passageiros chegando, e, enquanto isso, ele se perguntava se ela havia mudado muito e se sua influência sobre ele ainda seria a mesma. Então, de repente, suas perguntas acharam as respostas por si mesmas, quando ela, finalmente, surgiu. Ela não havia mudado em nada. Talvez o cabelo estivesse mais longo e ela parecia estar mais magra do que ele se lembrava, mas, na essência, ela ainda parecia a mesma e sua influência sobre os sentimentos dele não havia diminuído tampouco. Mulder havia, no entanto, convenientemente, esquecido o quanto ela era sensual. Mas, agora, vendo o modo como ela caminhava em sua direção, o queixo erguido, o olhar altivo, o andar felino, ele se sentia exatamente como anos antes. Como um rato que estava prestes a ser devorado. E, como uma presa acuada, Mulder também não tinha para onde fugir. Ela se aproximou lentamente e tocou-lhe o rosto. Mulder deixou de ouvir os sons do aeroporto, deixou de notar as pessoas à sua volta. Se sentia hipnotizado, levado ao passado, caminhando por uma estrada que já conhecia tão bem, mas que, mesmo que fosse uma estrada cheia de obstáculos, dava a ele uma sensação de aventura, um anseio pelo perito, algo que ele precisava, ainda agora. Enfim, ela quebrou o encanto. _ Fox, você não mudou nada. _ Nem você, Phoebe. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Algumas horas antes Aquela manhã havia começado exatamente como tantas outras. Eles estavam no meio de um caso, mas tanto Mulder quanto Scully percebiam que as investigações não levariam a lugar algum. Mulder parecia resignado e isso deixou Scully tranquila. Pelo visto, seu parceiro havia começado a perceber e aceitar quando um caso era uma canoa furada. No passado, até mesmo insinuar isso a ele teria tido o mesmo efeito de se jogar gasolina no fogo, para apagar as chamas. Quase como se soubesse o que ela estava pensando, Mulder murmurou: _ Esse caso é uma porcaria. Scully fingiu que não havia ouvido e saiu em busca de uma xícara de café. O telefone tocou algumas vezes, antes que Mulder percebesse que Scully não estava mais lá. Finalmente, decidiu atender e tinha a intenção de ser o mais breve possível, quem quer que fosse. _ Mulder. _ Olá, meu caro Agente Especial. _ Quem fala? Mulder não estava reconhecendo aquela voz, mas o sotaque inglês insinuava quem poderia ser. _ Fox, sou eu, Phoebe! Ele não tinha idéia do que ela poderia querer com ele, depois de tantos anos, mas em se tratando de Phoebe Green não seria algo agradável. _ Qual é o problema, Phoebe? _ Porque você acha que há algum problema? _ Você não está me ligando somente para falar dos velhos tempos, não é? _ O, Fox, você me pegou. O fato é que eu estou em Atlanta e chego em Washingtou hoje à tarde e adoraria que você me pegasse no aeroporto. O que acha? _ Acho que não tenho muita escolha, não é? Se eu não te buscar você vai acabar aparecendo aqui, na minha frente. Ele a ouviu rindo do outro lado da linha. Ainda bem que pelo menos alguém estava se divertindo com isso. Não que ele não gostasse dela. Ao contrário, ainda gostava e era justamente isso que o assustava. Houve um tempo em que ele estivera apaixonado por ela e por seu modo de encarar a vida. Havia se ligado a ela, e embarcado em seu estilo de vida, mas sempre tivera dificuldades em seguir seu ritmo. O retorno aos Estados Unidos havia sido providencial e ele não havia pensado nela por dez anos até que ela surgiu, seis anos antes, pedindo ajuda em um caso que investigava. Havia sido um caso difícil, mas foi resolvido rapidamente. Naquela época, ele e Scully estavam trabalhando juntos havia pouco tempo e, mesmo assim, Mulder havia notado que Scully não se sentia confortável com a presença de Phoebe. Sua parceira tinha o péssimo hábito de protegê-lo de ataques externos, principalmente quando tais ataques eram perpetrados por membros do sexo feminino. Mulder não ousava, no entanto, dizer isso a ela. Insinuar que ela sentia ciúmes dele era impensável. De qualquer forma, não era o momento de se questionar sobre os sentimentos de sua parceira, mas sim de levá-los em consideração. Mulder queria escapar de uma situação em que Phoebe e Scully se encontrassem. Por isso, Mulder concordou em buscá-la no aeroporto, antes de sua parceira retornar. Por sorte, ela sequer notou que ele havia falado ao telefone. O dia seguiu normalmente, e, quando chegou o momento de ir ao aeroporto ele arrumou uma desculpa e saiu. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx _ E então Phoebe, qual é o grande problema? _ Fox, você anda muito na defensiva. Calma, ok? Não é um caso tão complicado. Envolve um terrorista, ligado ao IRA. _ Ah, claro, e isso é muito simples e tranquilo. Porque não procura o FBI? Oficialmente, quero dizer. _ Porque eu sequer deveria estar aqui. Na verdade, eu não deveria estar investigando esse caso, nem mesmo na Inglaterra. _ Phoebe, você está muito rebelde, isso me surpreende. Mulder sequer precisou imprimir um tom irônico ao que dizia. _ Eu vou ignorar esse comentário. Será que podemos comer alguma coisa enquanto te conto tudo? Estou faminta. _ Você já está presumindo que eu vá te ajudar. _ Não. Estou te convidando para jantar. _ Se é assim, você paga. E nada de sanduiches. _ Fox! Você me conhece. Eu não te convidaria para jantar se não fosse em algum lugar maravilhoso e romântico. _ Podemos dispensar o romantismo, ok? _ Claro. Por enquanto... xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Apesar da ameaça velada contida nas palavras de Phoebe, ela se comportou de forma exemplar durante o jantar, conversando, principalmente, sobre frivolidades. Isso intrigou Mulder. Parecia que ela estava tentando fugir do assunto principal, o motivo que a fizera ligar para ele. Mas, enfim, ela pareceu relaxar e começou a relatar todos os fatos que a levaram ali. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Phoebe Green trabalhava, ainda, como inspetora na Scotland Yard, quando conheceu Stephen Derry. Segundo ela, Stephen jamais se mostrara uma pessoa aberta, pouco falando sobre seu trabalho, família ou seu passado. Todo aquele mistério havia, a princípio, servido para que ela ficasse cada vez mais atraída pro ele. Mas, após um mês, ela foi tomada pela curiosidade e começou, discretamente, a investigá-lo. Ela achava que ele escondia algo como uma família completa, uma esposa grávida e uns três filhos. Mas o que descobriu foi uma realidade bem mais sinistra. Stephen fazia parte do Exército Republicano Irlandês. Antes que Phoebe, no entanto, pudesse confrontá-lo, ela descobriu que ele estava planejando viajar para os Estados Unidos,. Rapidamente, Phoebe comprou sua própria passagem. Quando chegou em Atlanta, onde o avião fez escala, ela teve a oportunidade de ligar para Mulder. E, agora, lá estava ela, sem muitas pistas a seguir. _ E você quer minha ajuda para fazer o que? _ Descobrir porque ele veio para cá, obviamente. Você tem mais acesso às informações do que eu. _ Sei, e depois que nós descobrirmos onde ele está, o que você pretende fazer, Phoebe? _ Segui-lo, claro. Descobrir o que ele tem em mente, com quem se encontra. Lembre-se, ele é um terrorista. _ Que pode ter vindo passar inocentes férias de natal por aqui. _ Você não conhece essa gente, Fox. Não há nada de inocente neles. _ Tem certeza de que não seria melhor colocar o FBI a par disso? _ Eu estaria em sérios problemas. É melhor não. O melhor é que somente eu e você trabalhemos nisso. Ah, e deixe sua parceira fora disso. _ Isso vai ser complicado. Ela vai desconfiar. _ Se você contar para ela, com certeza, ela vai ser contra a investigação não oficial. _ Sim, acho que você tem razão. Ela jamais concordaria com isso. Mulder se sentia péssimo escondendo algo tão importante assim, de sua parceira, mas Scully conhecia Phoebe e não confiava nela. Se ele queria ajudá-la, teria que fazê-lo sozinho e discretamente. xxxxxxxxxxxxxxxxx 5 dias depois Scully acordou sobressaltada com o telefone tocando insistentemente. Atendeu ainda com os olhos fechados, dominada pelo sono. _ Scully. _ Agente Scully, Skinner falando. _ Boa noite. Algum problema? _ Sim, na verdade é um grande problema. O Agente Mulder foi preso essa noite. _ Qual a acusação? Scully havia se assustado, logicamente, com a informação, mas não estava totalmente surpresa. Nos últimos dias Mulder vinha agindo como se estivesse escondendo algo dela. Talvez tivesse achado uma pista sobre algum disco voador perdido e tenha sido preso por invadir alguma propriedade. _ Homicídio. Te dou mais detalhes quando você chegar aqui. Em seguida, lhe deu o endereço, desligando antes que Scully pudesse fazer mais perguntas. Se antes ela não se preocupara tanto, agora, sabendo qual era a acusação, ela já não se sentia tão confortável. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Skinner já aguardava por ela na delegacia. _ Senhor, pode me dizer exatamente o que está acontecendo? _ Que tal se sentar antes? Assim eu posso dizer tudo o que sei. Scully estava consciente de que seu nervosismo aumentava cada vez mais. Havia algo muito errado, se Skinner queria que ela se sentasse e se acalmasse. _ O Agente Mulder foi preso essa noite, por volta das onze horas. Uma viatura o parou porque ele dirigia perigosamente. Eles decidiram revistar o carro, inclusive o porta malas. Eu não sei ao certo o que se seguiu. Ele se recusou a abrir o porta malas, e se tornou agressivo. Enfim, eles abriram e havia um cadáver dentro. _ Quem é? _ Uma mulher. Inspetora da Scotland Yard, Phoebe Green. O nome não era novo para Scully, e as recordações do caso em que os três trabalharam juntos lhe vieram à mente. Scully não havia ouvido falar daquela mulher durante anos. Mulder jamais a mencionara após as investigações. _ E o que Mulder disse sobre isso? _ Até agora, nada. Ele não abriu a boca. Eles entraram em contato comigo, por causa da identidade dele. _ Não podemos falar com ele? _ Claro. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Mulder estava imóvel, o olhar distante não deixava transparecer qualquer emoção, mas Scully conseguia ver além disso. O simples fato de Mulder sequer se virar em sua direção, já indicava que ele estava tenso, se esforçando para mostrar-se calmo e distante. Ela não queria obrigá-lo a se comunicar, mas, ao mesmo tempo, precisava saber o que estava acontecendo. _ Mulder, quer falar comigo? Ele continuou olhando para o espaço, atrás dela, como se não a visse sentada à sua frente. Scully esticou o braço querendo tocar a mão dele, mas Mulder recuou, quase como se estivesse sendo atacado. O movimento brusco fez com que ele se movesse e abaixasse os olhos. _ Mulder, por favor, fale comigo. Ela estava implorando e não se importava com isso. Mulder havia se fechado em si mesmo, em um mecanismo de proteção. Isso a magoava. Ela somente pretendia ajudá-lo, mas, aparentemente, ele sentia a necessidade de se proteger, inclusive dela. _ Droga, Mulder! Não percebe que se você não falar nada ninguém vai poder te ajudar? Novamente o silêncio. Ele não estava disposto a ceder. Se ela pudesse ver através daquela máscara que ele criara, veria alguém apavorado. Um homem preocupado, não com o fato de estar sendo acusado de homicídio, mas sim alguém que tinha, sobre os ombros, o peso de muitas outras vidas. De seu silêncio dependiam as vidas de muitas pessoas, a ele desconhecidas. E, assim, Mulder fechou os olhos e ouvidos a qualquer pessoa, inclusive sua parceira. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx _ Ele disse alguma coisa? Skinner estava visivelmente preocupado com seu agente. _ Não. Foi inútil ter vindo falar com ele. O que a polícia disse? _ Não mais do que você já sabe. Ela foi assassinada, sem dúvida. O corpo foi reconhecido através da identidade. O rosto estava bastante ferido. Mas isso é tudo. O simples fato do corpo estar escondido no porta malas do carro dele já é o suficiente para ele ser mantido sob custódia. _ O senhor não pode fazer nada para tirá-lo daqui? _ Não agora. Somente amanhã. E vai haver muito mais burocracia, sendo ela uma inspetora da Scotland Yard. _ Bem, do jeito que ele está, talvez seja melhor que ele fique aqui. De fato, se Mulder não queria cooperar dando qualquer resposta, era melhor que ele ficasse sob custódia, deixando o campo livre para que Skinner e Scully tentassem ajudá-lo. Scully estava mais do que certa da inocência dele, mas não podia provar nada se ela não soubesse dos fatos. Uma investigação preliminar mostrou que Phoebe havia entrado no país alguns dias antes. Havia vindo sozinha, aparentemente de férias. Tudo indicava que ela havia vindo visitar Mulder. O fato dele não ter comentado nada com ela era devido, tão somente, à discórida que havia entre as duas. O que Scully não entendia eram os motivos para Phoebe vir visitar Mulder, afinal os dois não se viam há anos e Mulder jamais a mencionara, após o último encontro. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx 3 dias antes _ Fox! Pensei que você não fosse chegar nunca. Tenho novidades. _ Eu tenho horário de trabalho a cumprir. E não é tão fácil despistar a Scully. O que descobriu? _ Ela fica no seu pé? Não sabia que você era do tipo caseiro domesticado. _ Phoebe, o que descobriu? Mulder não queria e nem podia esconder o tom de irritação de sua voz. Phoebe tinha o dom de falar o que não devia, irritando-o sempre. Como ele ainda gostava dela, era um mistério. _ Nosso amigo não consegue ficar longe dos velhos hábitos. Existem poucos pubs irlandeses em Washington. Eu o vi saindo de um deles, ontem à noite. _ Seu amigo, você quer dizer. Você ficou andando de bar em bar ontem à noite? _ Por motivos profissionais. E deu certo. Eu o segui e sei onde ele está hospedado. _ E pretende fazer o que, com essa informação? _ Nada, só ficar de olho nele, ver com quem se encontra. _ Ótimo, você faz isso e um dia você me conta como vão as coisas. _ Não! Fox, vamos! Vai ser divertido. Uma verdadeira caçada. Eu não posso chegar muito perto e nem fazer uma vigilância de vinte e quatro horas sozinha. Mulder sabia que ela tinha razão. O homem não seria fácil de seguir, ainda mais por ela, que ele conhecia tão bem. _ Ok, Phoebe. Eu não sei como vou fazer isso, mas vou tentar. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Quando Stephen deixou Londres não imaginava que estava trazendo atrás de si Phoebe Green. Ele, de fato, não podia se dar ao luxo de ter uma inspetora da Scotland Yard a seu lado. Já havia sido arriscado ter se envolvido com ela. Havia sido um envolviment sem segundas intenções. Ele não passava de um simples soldado do IRA e suas ações, muitas vezes, não passavam de pequenos atos de terrorismo perpetrados na Irlanda do Norte. Na verdade, sua viagem a Londres havia sido, tão somente, um prêmio que ele dera a si mesmo, e ter conhecido Phoebe fôra um mero acaso. Mas sua sorte não terminara ali. Enquanto estava em Londres conheceu um homem do qual nenhum separatista irlandês conseguia, sequer, se aproximar. Jason Morris era parte do alto escalão da Associação pela Defesa do Ulster, o que o fazia ser o maior inimigo da causa que Stephen defendia. Talvez por se sentir tão seguro em sua alta posição, Jason não descobriu quem era Stephen e o acolhou como um novo amigo irlandês que passava as férias em Londres. Quando Jason disse que viajaria para os Estados Unidos, Stephen decidiu seguí-lo, achando que, desta forma, poderia alcançar um posto mais alto na hierarquia do Exército Republicano. Sem saber que, sequer, Jason existia, Mulder seguia Stephen, insistentemente. Dessa forma, sua presença contínua em todos os locais onde Stephen se encontrava, e por conseguinte, onde Jason estava, atraiu a atenção deste último. Ao contrário de Stephen, que era um simples soldado, Jason era mais preparado para tais situações. Quando percebeu que estava sendo seguido, tomou as medidas necessárias. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Presente Scully havia tentado conversar com Mulder, novamente, mas ele a havia tratado do mesmo modo. Sua apatia começava a preocupá-la, fazendo com que ela questionasse a inocência de seu parceiro. Afinal, se ele não havia cometido qualquer crime, porque não tentava se defender? O que ela não sabia era que, por trás da aparente falta de emoções que Mulder demonstrava, havia uma batalha sendo travalda. Por um lado Mulder queria dizer a verdade, para se salvar, mas por outro lado ele sabia que nada poderia dizer. Entretanto, estar preso não ajudava em nada. Quanto mais pensava nisso, mais ele se convencia de que deveria dar um jeito de sair dali. Como faria isso sem que Jason soubesse, era outro problema. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx 2 dias antes Mulder já estava há duas horas de olho no hotel onde Stephen estava hospedado, quando se surpreendeu com a batida leve no vidro do carro. Era Phoebe que trazia consigo um pouco de café, quase como se pedisse desculpas pelo incômodo trazendo uma oferenda de paz. Mas ele não estava no ânimo adequado. _ Phoebe, já cansei disso. Esse cara só veio passear e eu vou embora. _ A gente não pode desistir agora. _ Não existe lógica nenhuma no que ele faz, não percebe? Ele só passeia de um lado pro outro. _ Passeia? Fox! Ele anda seguindo alguém ou esperando alguém. A gente só precisa descobrir quem e porque. _ A gente não. Você. Eu estou indo embora. Dizendo isso, Mulder saiu do carro, deixando Phoebe para trás. Sequer se virou, apesar de achar estranho que ela não viesse atrás dele. Se tivesse se virado, talvez pudesse ter feito algo para impedir que Jason a pegasse. De qualquer forma, ele teria notícias sobre ela em breve. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Presente _ Como é? Scully estava mais zangada do que surpresa, afinal a saída de Mulder da prisão significava que ele iria se meter em alguma encrenca e ela nada poderia fazer para ajudá-lo. _ Calma, Scully. Ele saiu sob fiança, mas está impedido de deixar a cidade e deve se apresentar ainda hoje às seis horas ao juiz. _ E acha mesmo que ele vai obedecer? Skinner não respondeu à pergunta. Na verdade, ele não acreditava que Mulder iria, simplesmente, para casa, sem tentar se inocentar. Infelizmente, as investigações sobre a morte de Phoebe não haviam levado a lugar algum. Ela havia entrado no país sem dizer a seus superiores ou a qualquer outra pessoa suas intenções. Mas, apesar da aparente falta de pistas a seguir, Scully encontrou algo que a deixou ao mesmo tempo animada e preocupada, ainda mais sabendo o que aquilo poderia significar para seu parceiro. Phoebe havia se encontrado diversas vezes com um integrante do IRA. Era uma pista ínfima, mas era o suficiente para Scully. Phoebe não viria aos Estados Unidos somente para visitar Mulder. Com certeza, Stephen Derry viera também e, ou Phoebe o seguira sem que ele soubesse ou viera com ele. Não foi difícil descobrir que a primeira opção era a mais acertada. Apesar de virem no mesmo avião, estavam em poltronas distantes. A partir daí, Scully conseguiu descobrir onde Phoebe se hospedara, mas não conseguiu saber nada sobre o paradeiro de Stephen. Tudo o que lhe restava agora era conseguir falar com Mulder e saber o que estava ocorrendo. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx O dia anterior Assim que Mulder chegou em casa o telefone começou a tocar. Achando que poderia ser Phoebe, Mulder resolveu deixar a secretária eletrônica atender. Mas não era ela. Era uma voz masculina, a ele desconhecida. _ Agente Mulder, acho que tenho algo que lhe pertence. Mulder correu para atender, já pressentindo que havia algo muito errado. _ Quem está falando? _ A Srta. Green está aqui comigo e tenho certeza de que você pretende que ela continue bem, portanto vai fazer o que eu disser. Pelo tom de voz do homem, Mulder notou que a ameaça era séria. Ou ele obedecia ou Phoebe morreria. _ O que você quer? _ Nada que você não possa conseguir com facilidade. Existe uma lista, em poder da Seção Anti-Terrorismo do FBI, com os nomes de diversos terroristas pertencentes ao IRA. Eu preciso dela. _ O que pretende fazer com essa lista? _ Isso não vem ao caso. Apenas consiga a lista até as quatro horas da tarde. Eu vou ligar dando as instruções para a troca. Mulder não teve tempo de dizer mais nada. O telefone já estava mudo. Agora ele se encontrava em um dilema. De um lado havia Phoebe, que corria risco de vida, de outro lado havia esse homem que queria uma lista de nomes, sabe-se lá com que objetivo. Ele estava certo de que não havia falado com Stephen ao telefone. Não havia motivo para Stephen querer essa lista, afinal, ele próprio era membro do IRA, e sabia quem eram seus componentes. Tudo indicava que quem queria os nomes não pertencia ao mesmo grupo, o que significava que dar a lista ao sequestrador valeria como uma sentença de morte para aquelas pessoas. Não havia muito tempo para resolver o impasse e Mulder achou melhor procurar a única pessoa que poderia entender seu problema. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Não foi difícil para Mulder encontrar Stephen. Mas foi complicado convencê-lo de que ele deveria ajudar um agente do FBI a salvar uma inspetora da Scotland Yard. _ Olha cara, eu sei quem a pegou. Só pode ter sido Jason Derry. O cara é perigoso. Ela nunca deveria ter me seguido. _ Agora é tarde. Você sabia o que ele tinha em mente? _ Não. Eu vim sozinho, resolvi seguí-lo por conta própria. Esse cara é perigoso. _ Você já disse isso. Que tal a gente começar a pensar como sair dessa encrenca? Na verdade, não havia muito a ser feito, a não ser esperar a hora combinada e tentar fazer alguma coisa para resgatar Phoebe. Criar uma lista falsa era impensável, já que outras pessoas ficariam em perigo somente por terem, coincidentemente, o nome mencionado na lista falsa. Assim, Mulder fez o que havia sido ordenado, sob os protestos de Stephen, conseguindo a lista através de seu fácil acesso aos arquivos do FBI. _ Você não pode entregar essa lista! _ Eu não pretendo entregar, mas se, por acaso, eu não tiver escolha, quero que você entre em contato com essas pessoas, para que todas elas possam se preparar. _ Tudo por causa de uma mulher, inglesa ainda por cima? _ Não, tudo por causa de uma pessoa inocente que nunca explodiu a casa de ninguém. Mulder não deu tempo para Stephen retrucar. _ É melhor você não perder tempo, já são mais de três horas. A hora seguinte passou mais rápido do que os dois pretendiam. Quando, enfim, o telefone tocou, Stephen já havia avisado a seus superiores e as providências já haviam sido tomadas. Providências que nem Mulder, ou Stephen sequer imaginavam. xxxxxxxxxxxxxxxxxx O local que Jason marcara para o encontro não podia ser mais deserto. Uma velha casa era a única construção que Mulder podia avistar ao chegar. E, naquela casa, segundo ele, poderiam estar Jason e Phoebe, como também poderiam estar escondidos amigos de Jason, armados até os dentes. No entanto, Mulder sentia-se sozinho e não somente porque estava, de fato, só. Havia também a sensação de que ninguém sabia onde ele estava e nem se importava em saber. O disquete contendo a lista com os nomes dos terroristas parecia queimar em sua mão. A noite estava fria, e o forte vento fazia com parte de seu rosto ficasse como que adormecido. Mulder tentou encontrar um pouco de calor encolhendo os braços dentro de seu sobretudo. Não ajudava muito. De certa forma, Mulder preferia sentir frio, já que isso o deixava mais alerta e preparado para o que estava por vir. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Quando já começava a achar que Jason não apareceria, Mulder viu duas luzes se aproximando, que se revelaram como sendo os faróis de um carro. O homem loiro que desceu do carro só podia ser Jason. Mas onde estaria Phoebe? _ Onde ela está? _ Trouxe a lista? _ Sim, em um disquete. Onde ela está? _ Vou verificar primeiro se a lista está no disquete. _ Eu não vou te entregar enquanto você não me mostrar que ela está bem. _ Então estamos em um impasse. Eu não tenho como ler esse disquete. Preciso ir na casa onde estou hospedado. Lá tem um computador. _ É onde ela está? _ Agente Mulder, ao contrário desses terroristas que você quer proteger, eu sou um homem honrado. Pode confiar em mim. _ Eu não costumo confiar em ninguém, muito menos em pessoas que usam outras para conseguir o que querem. _ Vai ser obrigado a confiar então. Ela está bem e só vai vê-la se eu tiver esse disquete e a lista estiver dentro dele. Mulder, de fato, não tinha outra opção. Sabia que, para o bem de Phoebe, ele deveria ir com Jason. Em outra ocasião sua decisão talvez tivesse sido diferente, mas, agora, ele sabia que Stephen e seus amigos deveriam estar planejando algo. O jeito era confiar não somente em Jason, como naquele bando de terroristas ao qual Jason se referiu. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Enquanto Mulder entrava no carro em companhia de Jason, algumas pessoas vigiavam seus movimentos e sinalizavam para que alguém seguisse o carro. Em seguida, três homens entraram no carro de Mulder e, com os faróis apagados, os seguiram a uma distância segura. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Talvez Jason estivesse nervoso ou seguro demais de si mesmo, mas o fato era que ele não percebera que estava sendo seguido. Menos de quinze minutos depois, os dois chegaram ao destino. Era uma casa em estilo vitoriano, localizada em uma rua bastante tranquila. Mulder entrou na casa atrás de Jason, mantendo sua mão na arma, preparado para qualquer eventualidade. Era estranho que Jason não tivesse retirado sua arma, mas não seria ele que iria reclamar disso. De qualquer forma, ele dificilmente usaria a arma. Não sabia onde estava Phoebe e nem com quem. _ E então? Vai me levar até ela? _ Primeiro vou ver o conteúdo do disquete. _ Você diz que eu tenho que confiar em você, mas não confia em mim. _ Bem, Agente Mulder, você tem muito mais a perder do que eu. Então eu suponho que seria capaz de fazer algo estúpido para salvá-la. _ Eu não colocaria em risco a vida dela entregando um disquete vazio. _ Talvez eu não te conheça tão bem. Então vamos fazer do meu jeito, ok? Mulder notou que não havia muito mais o que discutir. Quando Jason visse que o disquete não estava vazio, ele entregaria Phoebe. Ou ao menos era isso que Mulder esperava. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Phoebe podia ouvir alguns murmúrios mas não conseguia identificar as vozes. EStava mais esperançosa, no entanto, já que era a primeira vez que ela ouvia vozes desde que fôra sequestrada. Não que isso pudesse ajudá-la, já que ela não tinha como saber quem estava falando e mesmo que soubesse não tinha como gritar, alertando quem quer que fosse. Com os pés e mãos amarrados e ainda com uma mordaça na boca, não restava a ela mais do que rezar para que alguém simplesmente a achasse. Quem sabe Mulder havia sido contactado pelo sequestrador. Um silêncio repentino deu lugar às vozes que ela ouvira. Por instantes ela achou que as pessoas haviam ido embora, mas, de repente, a luz invadiu o quarto onde ela se encontrava. A única coisa que podia ver, no entanto, eram os vultos de um homem. Quando ele se aproximou e segurou seu braço ela tentou escapar, mas quando notou que ele a estava soltando, Phoebe relaxou. _ Vai ficar tudo bem, Phoebe. Era a voz de Mulder e, pela primeira vez, ela sentiu que estava a salvo. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Depois que Mulder entregara o disquete a Jason, este o colocou no computador, confirmando sua autenticidade, e, cumprindo o que havia prometido, levou Mulder até Phoebe, mas não aguardou que os dois deixassem a casa. Era perigoso ficar alí tanto tempo. Apesar de não pensar que havia sido seguido, ainda achava que não podia forçar demais sua sorte. Saiu por uma porta nos fundos, levando consigo o destino de dezenas de pessoas. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx O carro de Mulder estava estacionado, com as luzes apagadas, a alguns metros da casa. Seus ocupantes aguardavam qualquer movimento. Um terceiro homem se encontrava nos fundos da casa, pronto para a eventualidade de alguém sair por alí. Quando Jason saiu correndo, praticamente atropelou o homem. A surpresa tomou conta de ambos, mas Jason foi mais rápido e conseguiu subjugar seu adversário, matando-o. Enquanto isso, na parte da frente da casa, os outros dois ocupantes do carro esperaram até que viram Mulder sair com Phoebe. A partir desse momento quem antes parecia ser aliado dos dois, se tornava seu inimigo e Mulder se encontrava com mais problemas do que antes. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx _ E onde está o disquete agora, Agente Mulder? A voz irritada do homem, cuja identidade Mulder desconhecia, parecia aumentar de volume cada vez mais. Ele já havia gritado aquela mesma pergunta diversas vezes, e, a cada vez, batia com força com a mão na mesa, mostrando, claramente, que, em breve, partiria para uma abordagem mais física e de resultado mais satisfatório. _ Quer que ela morra, Agente Mulder? Um outro homem segurava Phoebe com força enquanto apontava sua própria arma para a cabeça dela. _ Eu não sei para onde Jason foi, já disse isso! _ Não, eu não acho que você queira que ela morra, já que decidiu deixar um monte de gente morrer no lugar dela! _ Eu não tinha outra opção!! E vocês estavam lá! Que diabo de terroristas vocês são que sequer sabem planejar um resgate?? Mulder esperou pelo golpe que ele tinha certeza que acertaria seu rosto. Mas tudo o que ouviu foi o baque de um soco e o gemido de Phoebe. Eles a estavam usando para fazê-lo falar. Mas ele não tinha o que dizer. _ Droga! Eu já disse que eu não sei! _ Não me venha com essa! Ele sabia que havia alguém vigiando a casa. Você avisou! _ Eu não sabia! Como podia avisá-lo?? Por instantes, Mulder temeou que Phoebe fosse atingida novamente, mas nada aconteceu. O homem que o interrogava saiu da sala repentinamente e os outros dois o seguiram, deixando Mulder e Phoebe a sós pela primeira vez. _ Fox, eles vão nos matar. _ Eu não sei onde ele foi! _ Inventa alguma coisa, droga! _ Isso somente iria irritá-los. E eu nem sei o que inventar. Stephen deveria saber onde Jason pode ter ido. _ Então diga isso a eles, porque se eles continuarem achando que você não quer cooperar eles vão nos matar. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Se Mulder e Phoebe soubessem o motivo da saída de seus captores, talvez se sentissem aliviados, mas se soubessem o que eles estavam conversando seus temores retornariam com maior força. Stephen havia chegado, mas não trazia boas notícias. _ Como assim morto? _ Morto, morto, droga! _ Você matou ele??? _ Eu o achei, tentei recuperar o disquete mas ele reagiu, ia me matar. Eu tive que me defender! _ Stephen, me diga que você está com o disquete. _ Não. _ Onde esta aquela porcaria??? _ Não sei. _ Você seguiu esse cara durante dias, não sabe com quem ele pode ter se encontrado? _ Eu sei, e posso até dar esses nomes e endereços, mas a essa altura todos foram alertados. Vai ser difícil reaver o disquete. _ Ok, ok. Tive uma idéia. Acha que Jason sabia que você o seguiu durante esses dias? _ Não! De jeito nenhum. Ele só soube que Mulder e Phoebe o seguiram. _ Sim, é isso. Então a associação à qual Jason pertencia sabia somente que os dois estavam atrás dele e souberam, também, que foi Mulder quem conseguiu o disquete em troca de Phoebe. _ E qual é a sua idéia? _ Vamos fazê-los abaixar a guarda. Vamos entregar Phoebe morta e deixar que pensem que foi o Agente Mulder. _ Mas Mulder vai abrir a boca, vai contar o que sabe assim que for preso! E então eles vão desaparecer, com o disquete. _ Existem meios para fazer o Agente Mulder não abrir a boca, não se preocupe. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Enquanto Mulder corria em alta velocidade rumo à casa de sua parceira, milhões de pensamentos invadiam sua mente. Havia um cadáver na mala do carro, mas ele não tinha idéia disso. Seus temores ainda diziam respeito a Phoebe e à maldita lista que estava em poder dos companheiros de Jason. Se a lista não fosse encontrada o IRA cumpriria sua ameaça de colocar uma bomba em um prédio, aleatoriamente, como retaliação. Mulder sabia disso e pretendia impedir que isso ocorresse, mas recebera ordens para não dizer nada às autoridades, sob pena de ser explodido algum edifício antes mesmo que a lista fosse encontrada. Somente lhe restava falar com Scully, como deveria ter falado antes. Não deveria tê-la deixado de fora. Por causa disso ele agora se via nessa situação. Mulder acelerou ainda mais o carro quando viu que o sinal ficara vermelho, a sua frente. Não podia se dar ao luxo de perder tempo. O som da sirene o fez perceber o quanto estava correndo, mas ele resolveu ignorar e não parar. Continuou correndo e algumas vezes perdendo a direção do carro. O carro da polícia não desistiu e em breve haveriam outros. Enfim, percebeu que o melhor a fazer era parar, apresentar sua identidade e inventar uma desculpa para tanta pressa. Quando, finalmente, parou o carro, desceu imediatamente, talvez rápido demais. A viatura policial já estava parando e um dos policiais desceu, apontando a arma para Mulder, mandando-o colocar as duas mãos sobre o porta malas do carro. Foi quando Mulder se apavorou. Haviam manchas de sangue na fechadura e em cima do porta malas. Se os policiais vissem aquilo iriam fazer muitas perguntas, que ele jamais seria capaz de responder. Tentando ter alguma vantagem, Mulder identificou-se. _ Eu sou agente do FBI, pode olhar minha identidade no meu bolso. Ao mesmo tempo que Mulder dizia isso, tentava se afastar do carro. A manobra, entretanto, foi percebida pelo policial. _ Não se mexa! Coloque as mãos em cima do carro! _ Eu já disse! Olhe minha identidade no meu bolso! Dessa vez Mulder não teve oportunidade de se afastar do carro. Sentiu o policial empurrando-o com força contra o carro e revistando- o. Em breve, sua arma e distintivo estavam nas mãos do policial, mas Mulder continuava impedido de se mover. No entanto, ainda tentava fazer com que os policiais fossem mais para longe. Suas tentativas fizeram com que eles ficassem curiosos sobre o que havia no carro. Assim, enquanto um deles mantinha Mulder parado, o outro examinava o conteúdo do porta malas. O cadáver de uma mulher jazia lá dentro. Mulder não podia dizer quem era ela, mas o policial achou uma bolsa e, dentro dela, um passaporte com o nome de Phoebe Green. Ele não sabia o que dizer. Agora percebia o quão longe aqueles homens poderiam chegar. As ameaças que lhe haviam sido feitas seriam, de fato, cumpridas. Ele tinha que ficar em silêncio. Não podia falar nada, nem mesmo à sua parceira. A chegada à delegacia, o interrogatório, e a vinda de Scully, mal foram registrados por sua mente. Ao mesmo tempo que ele queria reagir, dizer algo a ela, Mulder sabia que nada poderia dizer. Quando o dia amanheceu, Mulder conseguiu uma audiência com o juiz e pagou a fiança para sua soltura. Em seguida partiu, mais uma vez por conta própria, em busca da lista que salvaria a vida de muitas pessoas. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Mulder somente queria tomar um banho e trocar de roupa para, em seguida, tentar revisar todos os locais quem que ele e Phoebe estiveram enquanto vigiavam Stephen. Ao lembrar-se de Phoebe, Mulder sentiu-se mal. Será que ele poderia ter evitado sua morte? Será que se ele tivesse contando seus planos para sua parceira, hoje Phoebe estaria viva? Com certeza! Ele havia se deixado levar por ela e, dessa vez, sua fraqueza havia tomado proporções enormes. Agora, Mulder tentava imaginar como iria encarar Scully, o que lhe diria quando tudo terminasse. E se, além de Phoebe, muito mais pessoas morressem? Não seria somente Scully que ele teria que encarar, mas também a justiça e a ele mesmo. Mas, ainda assim, o que mais o apavorava era o futuro e inevitável encontro com sua parceira. O destino tratou de programar tal encontro, muito antes do que pretendia Mulder. Ao entrar em seu apartamento, deparou-se com Scully. _ Oi. _ Mulder, é só isso que você tem a me dizer? Oi??? _ Desculpe. O que você quer que eu diga? _ O que aconteceu, para começar. Quem matou Phoebe, também é algo que me deixa curiosa, prá dizer o mínimo. _ Não fui eu. _ Eu sei disso. Mas você sabe quem foi, não é? _ Não, eu juro. Antes dos policiais me pararem eu nem sabia que havia um cadáver no carro. Eu nem sabia que ela já estava morta. _ Mas você tem uma idéia. _ Eu não posso falar, Scully. _ Você está sendo acusado de homicídio! Não percebe??? _ Isso não é nada, eu garanto. _ Você pretende me deixar de fora, não é? Sinto muito, Mulder, mas eu não vou ficar parada esperando você ser condenado. _ Você não entende.... _ Não! Eu não entendo mesmo! Eu não consigo entender porque você continua não confiando em mim. _ Isso não é justo, e você sabe disso. _ Não, eu não sei. Você sempre diz que confia em mim, mas bastou Phoebe aparecer para você esconder isso e muito mais de mim. _ Ela pediu para não te envolver. _ Ok, então ela pediu e você fez o que ela queria. Mas agora ela está morta. Então porque você não me conta o que está acontecendo?? Scully notou a expressão de Mulder mudar ao dizer que Phoebe estava morta. Talvez aquele fosse o primeiro momento que ele percebera que era verdade. _ Eu não quero que você se machuque. Eles bateram nela, Scully. Foi horrível, eu não pude fazer nada. E o tempo todo eu ficava pensando que poderia ser você, e eu não sei o que eu faria se fosse. Mulder falava cada vez mais baixo, quase como se tivesse medo de dizer o que pensava e que isso se tornasse realidade, somente porque fôra dito. _ Mulder, eu sinto muito por ela, de verdade. E eu sinto muito que você tenha passado por isso, mas, agora, nesse exato momento, você não pode lidar com tudo isso sozinho. Eu sou sua parceira, sua amiga, e você precisa de mim, quer queira, quer não. Vamos te inocentar, Ok? Ela estava certa, ele não podia mais mantê-la afastada. Se ele tivesse falado com ela antes, talvez nada disso tivesse acontecido. Scully sempre tinha uma resposta racional para tudo, e ele e Phoebe não eram assim. Ambos agiam, principalmente, por impulso. De fato, havia sido um impulso que fizera com que Phoebe viajasse até os Estados Unidos, escondendo suas razões de seus superiores. E havia sido por impulso que Mulder havia decidido ajudá-la, contrariando a lógica que seria avisar seus superiores no FBI. Agora ele tinha uma chance de não errar ainda mais. _ Acho que o mais importante agora não é provar minha inocência. Existe uma bomba, em algum lugar, pronta para ser detonada. _ Uma bomba? _ Sim, e não é só isso. _ Não, claro que não. O que é uma acusação de homicídio e uma ameaça de bomba? Nada, pelo menos para você, Mulder. Ignorando o comentário sarcástico, por mais verdadeiro que fosse, Mulder começou a relatar todos os acontecimentos dos últimos dias. xxxxxxxxxxxxxxxxxx Mulder avistou Stephen após duas horas esperando que ele aparecesse no endereço parecia ser o mais provável. _ É ele, Scully. Stephen. _ Ótimo. O que pretende fazer? Era uma grande pergunta. Não podia se aproximar muito, mas ao mesmo tempo não podia deixar Stephen escapar. Ele sabia onde estava a bomba, mas caso fosse preso, seus companheiros saberiam e a bomba seria detonada. Mesmo com a Divisão Anti-Terrorismo envolvida, Mulder não se sentia seguro a ponto de correr tamanho risco. _ Não sei. Acho que eles não vão conseguir recuperar a maldita lista. A questão é se eles vão cumprir a ameaça. _ É melhor que a gente acredita que sim, eles já cumpriram uma ameaça. Mulder nada respondeu. Sentia-se culpado pela morte de Phoebe e não tinha qualquer argumento para discutir com Scully. Naquele momento ele deixava tudo nas mãos dela. De uma certa forma, ele sentia como se estivesse traindo sua parceira deixando-a arrumar toda a bagunça que ele havia criado. _ Eu vou me aproximar dele, Mulder. _ Não acho que seja uma boa idéia. _ Ele não me conhece. Não vai perceber nada. Afinal ele nem percebeu quem era Phoebe. Acho que ele não leva mulheres em consideração. O que mais preocupava Mulder não era se Stephen desconfiaria dela ou não, mas sim o que seus companheiros fariam caso a descobrissem. _ Scully, eles são terroristas, não são amadores. _ Pelo jeito que eles vêm agindo parecem mais delinquentes. Mas você tem razão, não é bom subestimá-los. E eu não vou baixar a guarda. Sem dizer mais nada, Scully deixou o carro e foi em direção ao pub onde Stephen havia entrado. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Stephen estava nervoso. Já haviam se passado várias horas e eles ainda não haviam conseguido recuperar a lista. Por sorte, eles pudera ter acesso a uma cópia daquela lista, usando um de seus contatos no governo. Aquele contato havia sido crucial para o movimento por diversas vezes e representava uma vantagem contra o adversário, afinal, como agora percebiam, Jason e seus companheiros de armas não tinham a mesma facilidade já que precisaram se utilizar de Mulder e Phoebe para isso. Agora era somente uma questão de tempo para que todos fossem avisados e pudessem se preparar. Stephen entrou no bar e pediu uma bebida. Não havia muito o que fazer e, na verdade, ele já havia feito coisas erradas demais. Ele não notou a aproximação da mulher ruiva. Em outra ocasião, não somente teria notado, como teria até se aproximado antes dela. Scully ainda não sabia exatamente o que fazer. Contava com seus instintos para conseguir alguma informação de Stephen. A única vez que havia trabalhado sob disfarce tinha sido com Mulder ao seu lado. Agora, sabendo que a presença de Mulder denunciaria suas intenções, Scully estava totalmente sozinha e, de certa forma, assustada com isso. Respirou fundo e se acomodou ao lado de Stephen. _ Oi, já te vi por aqui antes? _ Desculpe, está falando comigo? _ Claro, eu costumo vir aqui sempre, mas acho que nunca te vi. _ Eu não sou daqui. _ Percebi pelo seu sotaque. Meu nome é Dana e o seu? _ Stephen. Scully notou que ele se sentia desconfortável conversando com ela. Talvez ela estivesse forçando demais, mas o tempo era vital, ela não tinha como investir encontrando com ele todos os dias aos poucos até que ganhasse sua confiança. _ Você faz sempre isso? Conversa com estranhos? _ Não qualquer estranho. Você me pareceu um estranho simpático. _ As aparências enganam. _ Acha que eu não deveria estar conversando com você? Você não é perigoso, é? Scully tentou manter uma expressão ingênua no rosto. Algo que, talvez, ele esperasse de uma mulher que se aproximasse de estranhos em bares. Aparentemente, a tática havia funcionado. Stephen pareceu mais relaxado. Não via Scully como alguém a ser temido e em minutos os dois já estavam conversando animadamente. Enquanto conversavam, Scully conseguia ter informações que pareciam sem importância, mas que seriam de grande relevância no futuro. De fato, Stephen disse que estava hospedado na casa de amigos, alí perto. Era estranho, já que desde que chegara, segundo Mulder dissera, ele estivera hospedado em um hotel. _ Seus amigos também são irlandeses? Scully queria conseguir maiores informações sobre as companhias de Stephen e, após tantas cervejas ele parecia mais do que disposto a dizer tudo o que ela quisesse saber. Logicamente, ela não ousava ser mais direta. _ São sim. Mas eu não os apresentaria a você. Não são o seu tipo. _ São perigosos como você? Stephen riu alto com o que ela dissera. Logicamente eles eram perigosos, e Scully sabia disso. Stephen também, mas ele se divertia com a situação. _ Mais do que você imagina... _ Então talvez seja uma boa idéia que nós sejamos amigos. Stephen riu, novamente. _ Não precisa se preocupar com eles. Duvido que eles fizessem mal a uma mulher tão bonita. Visto o que acontecera com Phoebe, Scully duvidou muito dessa análise de caráter dos amigos de Stephen. Talvez ela estivesse colocando esperanças demais em conseguir alguma coisa dele. Pelo jeito, Stephen não passava de um rapaz com muita ambição e pouca habilidade. De qualquer forma, ele era sua única chance e aquele excesso de auto estima dele talvez a ajudasse, afinal. Os dois continuaram conversando mais um pouco, até que Stephen a chamou para irem para outro local. Não quis lhe dizer onde e ela decidiu que o melhor a fazer era ir com ele. Não podia colocar tudo a perder mostrando que não confiava nele. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Mulder estava cansado de esperar dentro do carro, quando viu Scully saindo de braços dados com Stephen. Os dois riam e ela não parecia estar tendo nenhum problema. De certa forma, isso o irritou. Dificilmente via Scully tão a vontade. Parecia que ela e Stephen já se conheciam há muito tempo. Uma parte de Mulder dizia que ela somente estava representando, mas a parte mais primitiva de sua mente ficava, praticamente, gritando que ela estava alegre demais e muito a vontade com Stephen. A saída dos dois havia surpreendido Mulder e seus sentimentos em relação à sua parceira o haviam distraído. O suficiente para que em poucos minutos ele os perdesse de vista. Uma sensação de pânico se apoderou de Mulder e ele deixou de lado os pensamentos que havia tido momentos antes, culpando-se por ter perdido Scully de vista. Aqueles homens já haviam matado Phoebe e não hesitariam em matar Scully também, assim que descobrissem quem era ela. E, agora que pensava no assunto, não se lembrava de ter visto Scully tirar seu distintivo. Era óbvio que ela não o havia feito, ele se lembraria. Mulder tinha que encontrá-la antes que Stephen descobrisse sua identidade. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Scully não havia notado que Mulder não os havia seguido. Se tivesse percebido, talvez não tivesse, sequer, entrado no carro de Stephen e agora não estaria indo com ele para o mesmo local onde Mulder e Phoebe haviam sido feitos prisioneiros. De qualquer forma, ela não tinha como saber disso e, mesmo sabendo quem era Stephen e do que ele era capaz, ela estava despreocupada pois contava com o reforço de Mulder, que, ela acreditava, não os perderia de vista. Quando Scully viu para onde estavam indo, seu coração bateu mais rápido. As ruas estavam desertas, e somente uma velha casa podia ser avistada. _ Stephen, pode me dizer para onde estamos indo? _ Não precisa se preocupar com nada, Dana. _ Eu não estou preocupada, mas é que esse lugar.... _ Fique tranquila. Havia alguma coisa errada. Scully sentia isso pelo tom de voz dele. Não era que ele parecesse zangado. Mas sim por causa de sua segurança, como se ele soubesse de algo, como se tivesse uma vantagem sobre ela. Esse pensamento a alarmou. _ Stephen, eu preciso voltar. _ Você não queria conhecer meus amigos? _ Na verdade, eu não queria, ainda mais depois que você disse que eles são perigosos. _ Fique tranquila, se você não tem nada a esconder e não tiver nada contra eles, então eles se tornarão seus amigos também. É isso que você quer, não é? Havia um traço perigoso no sorriso que ele esboçou. Scully estava armada, mas não acreditava que pudesse alcançar a arma sem ser dominada antes. Sentia-se como se tivesse caído em uma armadilha e sua única esperança era Mulder. Quando, finalmente, o carro parou, Stephen demonstrou suas intenções, apontando uma arma para ela. _ Bem, Agente Scully. Fim da linha. Quer me dar sua arma? _ Escute, Stephen, vocês já foram longe demais com isso. Me matar somente irá piorar a situação. _ O que está em jogo não é somente sua vida. Não percebe, Dana? Quantas pessoas você quer que morram? _ Ninguém precisa morrer. Eu posso ajudar vocês a recuperar a lista. _ Nós já estamos cuidando disso. Sua presença só está atrapalhando. _ Como cuidaram de Phoebe? Acredite Stephen, Mulder não é mais o suspeito na morte dela. Vocês vão pagar por esse crime. Ele não disse nada. Apenas saiu do carro e foi abrir a porta para ela. Bem, ao menos ele era um terrorista educado, ela pensou amargamente. Os dois seguiram para a casa que parecia abandonada. Havia somente um homem de guarda, mas Scully não se animou. Ela seria facilmente subjugada caso tentasse algo. _ Porque trouxe ela aqui? _ Ela é uma agente do FBI. Trabalha com o Agente Mulder. _ Isso já tá virando uma convenção do FBI. O que vamos fazer com ela? _ O mesmo que fizemos com Phoebe, claro. Scully entrou em pânico. Era um terror inútil. Não tinha como lutar contra eles e somente Deus sabia onde estava Mulder. Antes, no entanto, que pudesse externar seus temores, Stephen a levou, gentilmente, para um dos quartos e fechou a porta, deixando-a lá dentro, presa com seus pensamentos entre a esperança de sair dalí viva e a certeza de que não conseguiria. Bateu na porta algumas vezes, chamando por Stephen. Tentando mostrar o quão contraproducente seria matar uma agente do FBI. Soavam ridículos, até mesmo para ela, seus próprios argumentos. _ Agente Scully, é melhor desistir. Sente-se e descanse. Gritar não vai levar a nada. A voz vinha do mesmo quarto onde ela se encontrava, mas a escuridão não a deixava saber quem era aquela mulher que era sua companheira de cárcere. _ Quem é você? A mulher não respondeu e Scully resolveu se aproximar. A pouca luz a deixou vislumbrar o rosto da mulher. _ Phoebe? _ Sim. Muito tempo que não nos víamos. Como vai? _ Isso não é uma reunião de velhas amigas. Nós nem somos amigas! Você tem idéia de como sair daqui? _ Não me preocuparia tanto. Eles não vão nos fazer nenhum mal. _ Não?! Como pode ter tanta certeza?? _ Eu estou viva, não estou? _ Não sei porque eles não te mataram... _ Você não gosta muito de mim, não é? _ Desculpe, Phoebe. Você me entendeu mal. O que eu quis dizer é que eles fizeram tanto esforço para fingir que você estava morta, quanto teria sido mais simples matá-la. _ Eu entendi. Parece que Stephen os convenceu. Bem, seja qual for o motivo, eu não estou reclamando. _ Porque fez isso, Phoebe? _ Fiz o que? _ Colocou Mulder nessa situação. _ Sabe o que eu acho, Scully? Que você trata seu parceiro como uma pessoa incapaz, quase como uma criança. Ele é um adulto e faz o que quiser. E, o pior, é que ele aceita isso. _ Acho que você não é a pessoa indicada para falar do meu relacionamento com Mulder. _ Relacionamento? Ah, então existe algo entre vocês... _ Phoebe, você poderia voltar ao seu silêncio? _ Não, eu fiquei tanto tempo aqui sozinha e está sendo um prazer saber mais sobre a vida do meu amigo Fox. _ Você está no caminho errado. _ Então me diga, Dana. Posso te chamar de Dana, não é? _ Não. _ Bom, Dana, porque você protege tanto ele? _ Eu não protejo ele. Mulder é meu parceiro, é meu dever dar cobertura a ele. _ Ora, Dana, por favor. Você queria protegê-lo de mim! _ Eu não sei de onde você tirou essa idéia. Phoebe não respondeu nada. E isso irritou ainda mais Scully. _ Foi Mulder que disse isso? Pois ele está muito enganado. E se ele teve essa impressão é porque ele não age de forma profissional quando você está por perto. _ E quando não sou eu que estou por perto? _ Phoebe, eu não sei o que você e Mulder andaram conversando, mas acho que isso já está passando dos limites. _ Sabe o que dizem, em situações extremas as verdades vêm à tona. E essa é uma situação extrema. _ E você acha que só por isso eu vou começar a discutir meu relacionamento profissional com meu parceiro, com você?? Eu nem ao menos te conheço. Tudo o que sei de você foi Mulder que me contou, e não foram coisas agradáveis. _ Eu imagino. Fox é assim. Não me lembro dele ter reclamado nada na época que estávamos juntos. _ Duvido que você o deixasse reclamar. _ Você insiste em achar que ele é fraco, manipulável, não é? _ Não, eu acho que você é que é prepotente demais. _ Devia aprender um pouco comigo. Quem sabe assim vocês se aproximassem mais... _ Phoebe, cale a boca!! _ Já é um bom começo, um pouco agressiva demais, no entanto. Scully decidiu ignorá-la. Discutir com Phoebe, principalmente assuntos pessoais, era inútil. Ela era arrogante demais e não desistia de suas próprias opiniões. Scully também não era propensa a desistir de defender o que pensava, mas aquela discussão poderia durar horas e Phoebe ainda estaria com aquele sorriso irritante no rosto. O mais importante, agora, era saber como sairiam dali. Em uma coisa Phoebe estava certa. Se eles não a mataram era porque não queriam se arriscar e, com certeza, evitariam fazê-lo. Sendo assim, Scully se afastou de Phoebe e se sentou em um canto, aguardando que Mulder os encontrasse. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Mulder estava desesperado. Não sabia onde achar Scully. Como havia sido tão idiota em perder os dois de vista? A culpa o atormentava, mas ele não podia ficar, simplesmente, parado se corroendo por dentro. Tinha que achá-la. Lembrou-se da rua onde ele havia se encontrado com Stephen antes de seguirem para o encontro com Jason. Talvez aquela casa abandonada servisse de abrigo para os terroristas. Apesar de ser uma esperança fugaz, ainda assim era a única que tinha. Mulder estacionou o carro o mais longe possível da casa, esperando ver qualquer movimento suspeito. Mas tudo estava quieto demais. Talvez ele estivesse errado e a casa fosse exatamente o que parecia ser. Uma construção abandonada. De qualquer forma, essa era sua única pista e ele resolveu se aproximar mais da casa. Mesmo não vendo ninguém, Mulder seguiu com cautela. Pulou a pequena cerca e foi para os fundos da casa. As janelas estavam bloqueadas com pedaços de madeira. Foi então para a frente da casa e teve uma grande surpresa ao deparar-se com um segurança que estava guardando a casa. A surpresa que ele teve foi a mesma do homem e Mulder aproveitou aquele momento para apontar a arma para ele. O homem não resistiu e ao comando de Mulder, deixou sua arma cair ao chão. Mulder a chutou para longe e ordenou que o segurança se virasse para a parede, com as mãos para cima. _ Onde está minha parceira? O segurança nada disse. Se momentos antes ele parecera nervoso, agora sua expressão era de extrema calma. Isso intrigou Mulder, até que ele ouviu os passos vindo do lado de fora da casa. Era Stephen. _ Agente Mulder, que bom revê-lo. Conheci sua parceira. Muito simpática. Quer me dar a arma? Imediatamente, Mulder percebeu porque Phoebe se sentira atraída por Stephen. Ele era cínico, exatamente como ela. Mas não adiantava nada ele saber disso. Mulder soltou a arma, sabendo que não teria muita chance contra a pistola automática que Stephen carregava. _ Onde ela está? _ Aqui mesmo, nessa casa. Eu vou soltá-la, mas antes vou ter que dar um jeito em você. O segurança pareceu confuso com o que Stephen dissera. Até mesmo para Mulder aquilo não fazia sentido. Para que soltar Scully e matá- lo em seguida? Seria mais lógico que ele matasse os dois. Mas, se o que Stephen havia dito significava que Scully seria poupada, ele não iria discutir. _ Vire-se. Mulder hesitou por alguns instantes e Stephen o empurrou com força. Em seguida, Mulder sentiu uma forte pancada na cabeça e o mundo desapareceu, de repente. xxxxxxxxxxxxxxxxxxx Phoebe parecia ter tido todas suas curiosidades aplacadas, ou havia percebido que Scully não queria conversa, e agora estava em silêncio. Aquela mulher era manipuladora ao extremo. Conseguia mudar os rumos de qualquer discussão de modo que ela sempre tivesse razão. Aquilo era cansativo e agora Scully entendia a razão da separação dela e de Mulder. Em uma das coisas que Phoebe dissera, no entanto, Scully tinha que dar razão a ela. Scully realmente achava que Mulder era facilmente manipulável. De certa forma, porém, Scully estava certa. Mulder sempre se deixava levar pelas verdades que as pessoas lhe contavam. Ele acreditara em Diana, confiou no que Kritschgau dissera e, por isso, deixara de acreditar na única verdade que conhecia. Enfim, ele sempre estava aberto a acreditar em qualquer um que tivesse uma verdade plausível, mesmo que falsa e sem provas, para lhe contar. O que Scully não entendia era porque ele estava sempre pronto a ser enganado e manipulado por Phoebes e Dianas, mas ao mesmo tempo era incapaz de aceitar as verdades que ela lhe dizia. Por mais que Scully provasse por A + B que ela tinha razão, Mulder não se deixava persuadir e mantinha-se firme em suas convicções. Se algum dia ela saísse viva dalí, com certeza perguntaria isso a ele. Scully estava perdida em seus pensamentos, quando a porta se abriu, com força. Era Stephen. _ Olá Dana. Espero que tenha estado confortável. Infelizmente vou ter que interromper suas férias forçadas. Vamos dar um passeio. Scully não teve tempo de dizer nada. Sthephen a segurou com força pelo braço e a levou para fora da casa. _ E Phoebe? O que pretende fazer com ela? Stephen nada respondeu. Ao chegarem no carro, que Scully notou ser de Mulder, ele a conduziu para o banco do passageiro. Em seguida, ele tomou o volante e eles seguiram por uma estrada de terra. À medida que o carro acelerava, deixando um rastro de poeira atrás de si, Scully se perguntava se aquele seria seu último dia de vida. xxxxxxxxxxxxxxxxx Já se perguntava onde estaria Mulder, visto que eles estavam usando o carro dele, quando notou um movimento no banco de trás. Era Mulder. _ Mulder! Você está bem? Scully gostaria de verificar pessoalmente como ele estava, mas Stephen não permitiu. _ Ele está bem, Dana. Um pouco tonto, talvez. Mas vai sobreviver. E você também. Eu vou deixar vocês mais à frente e vou embora. _ E Phoebe? Mulder olhou confuso para Scully. Ainda estava tonto, tentando entender onde estava, como Scully tinha aparecido de repente, e agora porque ela estava falando de Phoebe, que estava bastante morta. _ Você sabe o que houve com Phoebe. Ela está morta. _ Não! Eu falei com ela, naquela casa. _ Dana, por favor. Eu já disse que nada vai acontecer a vocês. A lista foi recuperada e nós vamos embora. É uma pena que Phoebe tenha sido sacrificada. _ Eu a vi! Eu falei com ela! _ Acho que você anda vendo e ouvindo coisas demais. Pronto, chegamos. É aqui que vocês ficam. Vou deixar o celular para vocês chamarem ajuda, mas acho que vocês terão que andar alguns quilômetros antes que o telefone esteja na área de serviço. Scully não teve tempo de argumentar. Em segundos, ela e Mulder estavam fora do carro e Stephen já havia partido em alta velocidade. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Desde criança, Stephen aprendera que o que movia o mundo não eram as religiões, não eram os políticos e nem mesmo os estadistas com seus grandes ideais. A força que fazia o mundo girar era o dinheiro. O vil metal. Ele estava em todas as partes, escondido, às vezes, em locais e situações onde ninguém jamais imaginaria. Stephen sempre o perseguira. Sempre tentara estar onde a moeda estava. A ironia era que, por mais que ele perseguisse a riqueza, ela sempre escapava dele. Dessa vez, no entanto, a riqueza é que havia surgido à sua frente, disfarçada, mascarada de forma tão simples que Stephen não podia acreditar. Era como um peixe raro, que nadava sob seus pés, incapaz de lhe fugir e inocente quanto ao seu destino. Quando Stephen seguira Jason até os Estados Unidos, não havia visto o tal peixe raro. Ele ainda se escondia entre as pedras pontiagudas. Mas a maré havia mudado. As ondas que se formaram foram tantas e tão fortes que ninguém se preocupara com Stephen, o mais insignificante dos pescadores. Na verdade, ninguém pensava no peixe, tampouco. Enquanto seus companheiros de exército corriam de um lado para outro atrás da lista, Stephen ficou, silencioso, vendo sua grande oportunidade surgir à sua frente. Avisar aos integrantes da lista sobre o perigo que estavam correndo significou, também, modificar alguns hábitos, como números de contas correntes pertencentes ao IRA. Logicamente, para os grandões do exército, Stephen não passava de um ser sem significância alguma e cuja única utilidade, naquele momento, seria transferir todo o dinheiro para uma conta segura. Quando, enfim, a maré baixou e o perigo não mais existia, todos os 14 milhões de dólares que o IRA mantinha nos Estados Unidos haviam passado para o nome de Helen Ceil, uma total desconhecida. E o melhor, ninguém desconfiava de Stephen, afinal ele estava morto. Bem, na verdade quem estava morto e devidamente carbonizado era o segurança que cuidara de Phoebe e Scully. Mas ninguém, jamais, saberia disso. Para o FBI, Stephen havia sido morto pelo IRA, por ter deixado Mulder e Scully escaparem. Para o IRA, o segurança havia matado Stephen e depois fugira, levando consigo todo o dinheiro. Tudo o que Stephen queria agora era sombra e água fresca, ao lado de uma mulher bonita. E era exatamente o que teria. xxxxxxxxxxxxxxxxxxx _ Mulder, eu juro que eu falei com ela!! _ Ok, admita, você viu um fantasma. Ela está morta. Você viu o corpo! _ O rosto estava irreconhecível. Você mesmo disse isso. _ Scully, era ela. Eu tenho certeza. _ Eu não vi nenhum fantasma. Eu não tive uma discussão irritante com o fantasma de Phoebe Green. _ Isso seria normal, sabe? Acho que ela consegueria irritar as pessoas até além túmulo. _ Mulder, eu não estou brincando. Era ela! _ Se era ela, onde ela está agora? _ Morta! Ou sei lá, eles a estão mantendo prisioneira. _ Se ela está morta, de novo, onde está o corpo? E porque eles a manteriam prisioneira? _ Ok, Mulder, já vi que é inútil discutir com você. Isso me leva a te fazer uma pequena pergunta que vem me atormentando. _ O que? De que cor é minha roupa de baixo? Scully ignorou o comentário irônico. Não deixaria que ele fugisse da discussão com piadinhas. _ Porque você nunca aceita meus argumentos? _ Eu nunca aceito? _ Nunca, Mulder. Você sempre aceita o que todo mundo diz como verdade absoluta, mas quando sou eu você descarta o que eu digo, mesmo que eu tenha prova em contrário. _ Scully, quantas vezes eu te pedi opinião em algum caso? _ Sempre. _ Porque eu pediria sua opinião se eu não quisesse, sequer, levá-la em consideração? Só porque não concordo com você não quer dizer que eu não te respeite. _ Não estou falando de respeitar minhas opiniões. Estou falando de acreditar em mim. _ Eu acredito em você, mesmo quando não acredito nas provas. _ Não parece, Mulder. Você acreditou em tantas pessoas que estavam te enganando, e elas sequer tinham provas para corroborar o que diziam. Sabe o que eu acho? Que você aceita acreditar somente no que te interessa. Você não se importa, de fato, com a verdade. Ela é secundária, e só é válida se for de acordo com suas expectativas. Mulder ficou em silêncio. Não havia muito o que dizer. Talvez ela estivesse certa, mesmo que ele fosse incapaz de admitir. _ Não vai dizer nada, Mulder? _ Deve ser um momento histórico. Eu concordo com você. _ E o que pretende fazer a respeito? _ O que quer que eu faça, Scully? Quer que eu mude? Quer que eu passe a aceitar tudo o que me disserem, que deixe de acreditar no que vai além da normalidade? _ Não sei, mas acho que deveria tentar, só prá ver o que acontece... _ Tem certeza de que ainda quer trabalhar comigo? _ Mulder! Claro! Eu adoro trabalhar com você. _ Então porque quer me mudar? Porque quer mudar nossa parceria? Scully não respondeu. Ele tinha razão. Porque ela iria querer que ele aceitasse tudo sem questionamentos? Seria como transformá-lo em outra pessoa. O assunto morreu e eles passaram a falar sobre tudo o que ocorrera. Em minutos, aquela discussão já estava esquecida e eles voltaram, lentamente, à rotina à qual estavam acostumados. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx As prais da Itália eram lindas naquela época do ano, especialmente no sul do País. Stephen aproveitava ao máximo aquele mar azul, o calor e o leve vento que trazia alguns grãos de areia para o seu rosto. Podia viver assim para sempre, e era o que pretendia. Nada mais de guerras absurdas, de mortes inúteis. Com o dinheiro de que dispunha, pretendia viajar para sempre, correndo atrás do bom tempo, das lindas praias. _ Stephen! Pode passar óleo nas minhas costas? Ela vinha correndo e sorrindo, ainda molhada da água do mar. Ela era tudo o que ele sonhara. Não tinha planejado se envolver tanto com ela, mas no final aquilo havia sido uma das melhores partes de todo o golpe. Ele a adorava, mesmo tendo a impressão de que seu amor não era correspondido. Mas isso não importava. Ela estava ligada a ele, se não por amor, pelo dinheiro. Stephen pegou o frasco de bronzeador e arrumou a toalha para ela. _ É melhor você sair um pouco do sol. Nós vamos viajar amanhã, lembra? _ Stephen, não se preocupe com amanhã. Só com hoje. Phoebe então sorriu, enquanto Stephen passava bronzeador em suas costas. Fim!