Título: O Escritor Autora: Claudia Modell Sinopse: Mulder tem que escrever um livro, mas a vida real atrapalha a ficção. Ou às vezes ajuda. E-mail: claudia@subsolo.org Categoria: Humor Homepage: http://subsolo.org Disclaimer: Os personagens dessa história foram criados por Chris Carter, 1013 e Fox Company. O Escritor Mulder acordou as onze horas e xingou secretamente sua esposa por não tê-lo acordado antes. Dana sabia que ele não queria perder a manhã toda dormindo. Mas ela achava que ele, estando desempregado, preferiria dormir a ter que enfrentar mais um dia inteiro sem fazer nada. Mas fazer nada não era o que ele tinha em mente para aquela segunda feira. Enquanto Dana estava trabalhando ele pretendia continuar a fazer o que vinha fazendo nos últimos seis meses desde que deixara o emprego. Escrever tinha se tornado um hábito, e se, a princípio, ele achava que não tinha qualquer talento, agora já alimentava esperanças de ver seu trabalho publicado algum dia. O salário de sua esposa, somado à renda que ele havia acumulado durante anos de trabalho para o governo, o haviam colocado na confortável situação de desempregado feliz. Ele podia passar seus dias como quisesse, e a escolha pela literatura lhe pareceu bastante produtiva. Dana sabia que ele escrevia e até tinha curiosidade em saber as histórias que corriam dentro daquele laptop, mas ele não a deixava sequer dar uma breve olhada. Ele se levantou com preguiça, não sabendo se preparava seu café da manhã ou o almoço. Na dúvida não fez nem uma coisa nem outra. Correu para a frente do computador e começou a colocar na tela todas suas idéias. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Dana Scully tinha deixado Mulder em casa já sabendo de antemão que a conversa com Skinner não seria nada agradável. Desde que Mulder se afastara do trabalho que tanto amava ele tinha se tornado um fantasma de si mesmo. Ela sabia que Skinner havia notado a mudança mas não sabia que atitude ele iria tomar. Scully se importava demais com Mulder para não tentar fazê-lo voltar ao seu trabalho, mas também sabia que se ele havia se decidido por isso era porque havia algo errado com ele. Forçá-lo a voltar não era uma opção inteligente, portanto. Skinner estava esperando por ela em sua sala. Sua face não demonstrava qualquer emoção e não deixava transparecer as intenções dele. "Bom dia senhor. Queria me ver?" "Sim, Scully, eu estive pensando sobre o afastamento de Mulder. Sabe que para o Bureau essa situação é inaceitável, não sabe?" "Eu entendo. Mas já tentei falar com ele. O senhor não acha que ele pode ter mais um pouco de tempo? Talvez férias vencidas." "Ele já usou as férias vencidas. De qualquer forma acho que isso não funcionaria. Minha opinião é que você deveria tentar mais uma vez convencê-lo a voltar, e se não conseguir ele será afastado definitivamente." Scully estava assustada. Ela sabia que a decisão de seu parceiro era definitiva, mas também sabia que ele sofreria com isso quando finalmente fosse desligado de fato, sem chance de retorno. Skinner não poderia manter essa situação por mais tempo. Ela só tinha uma opção. Convencer Mulder a voltar. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Ele estava tão absorto no seu trabalho que não notara o toque insistente do telefone. Atendeu visivelmente irritado. "Fox, querido, sou eu Dana." "Sim, Dana, eu sei, e quem mais me chama de Fox nesse mundo???" "Irritado? Desculpe. William, ok?" "Ok, ok. O que houve? Estou escrevendo." "Você vai ter o dia todo prá fazer isso. Eu somente queria saber como você estava." "E dizer também que você falou com meu chefe não é?" "Bom, isso também. Fox, por favor, seria tão bom prá você voltar a trabalhar." "Dana, eu já disse isso ontem a noite. Eu não quero voltar." "Mas essa decisão pode ser definitiva. Você tem que repensar." "Não, eu não vou mudar de idéia." "Fox, por favor..." "E pare de me chamar de Fox!" "Ok, faça como quiser. Eu não vou ficar implorando prá você tomar um rumo na vida!" "Ótimo!" Dana desligou o telefone e ele ficou ali, fixando o aparelho com raiva. Ela sempre o irritava. Porque diabos ele tinha que ter casado com ela?? Antes tudo era tão perfeito. E agora ela estava sempre irritada. Depois que ela havia descoberto que não podia ter filhos, Dana parecia que estava sempre zangada. E como se a culpa fosse dele!! Logo ele que sempre a apoiara. Bem, ele não iria perder mais tempo pensando nisso. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Scully deixou a sala de Skinner e foi até o laboratório. O caso que estava investigando era bastante interessante. Mulder iria adorar. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Ele teve que parar novamente de digitar quando alguém bateu na sua porta. Quem diabos seria a essa hora? "Bom dia Sr. Mulder. Eu estive pensando....será que posso entrar para conversarmos?" Deus, como era mesmo o nome dele? Mulder nunca lembrava. O velho morava no andar de cima e a única coisa que Mulder se lembrava dele era o cheiro insuportável de cigarros que ele deixava para trás. "Claro, entre." O velho se acomodou no sofá e Mulder ficou esperando que ele dissesse algo. "Sr. Mulder, eu sei que o senhor está desempregado no momento. Eu queria saber se o senhor se interessaria em trabalhar para mim." "Na verdade eu estou trabalhando." "Mesmo? Não sabia." "Bem, estou escrevendo um livro." "Sobre o que? Homenzinhos verdes?" Mulder se irritou com o comentário e não quis mais falar com aquele homem. "Olhe, senhor, nem ao menos sei o seu nome. Fumante! Isso, senhor fumante, eu não quero trabalhar para o senhor, ok?" "Mas o trato seria bom para você para a sua companheira." "Esqueça! Não há trato nenhum!" Após dizer isso, Mulder acompanhou o velho até a porta. E a fechou assim que ele estava do lado de fora. Um trato!!! Era só o que faltava! Mulder voltou a escrever. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Scully saiu do laboratório e resolveu falar com Mulder pessoalmente. Uma conversa por telefone jamais o convenceria. Ela sabia que conversar pessoalmente também não seria de grande ajuda mas não podia deixar de tentar. Ao chegar no prédio de Mulder, Scully teve uma surpresa. Viu o Canceroso deixando o prédio. O que ele teria ido fazer lá? Ela subiu e usou sua própria chave para entrar no apartamento de seu parceiro. Achara que ele estivesse ferido ou até mesmo morto. Afinal ele servia a um propósito, quando trabalhava para o FBI, mas agora, afastado, talvez o quisessem eliminar. Mas Mulder estava bem. "Scully, o desgraçado veio até aqui!." "Eu sei, cruzei com ele lá embaixo. Achei que você pudesse estar ferido. O que ele queria?" "Fazer um trato! Queria aproveitar o fato que eu não trabalho mais no FBI para me juntar a causa dele." "Bem, ele tem uma cara de pau, não é?" "Com certeza." "Você não se sentiu tentado a aceitar?" "E porque eu faria isso?" "Prá encontrar a verdade, finalmente." "Scully, você me conhece bem. Eu não usaria esse tipo de artifício." "Ou talvez você não se interesse mais em saber a verdade." "Eu me interesso!" "Então porque deixou o FBI?" xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxxx Outra interrupção deixou Mulder furioso. Ele não conseguia sequer terminar uma página! E quem seria dessa vez? Quando abriu a porta se deparou com uma menina, a filha do zelador do prédio. Era outra pessoa que ele não sabia o nome, mas também não se importava em saber. "Senhor Mulder. Meu pai perguntou se o senhor pegou sua correspondência." "Não. Porque? Qual é mesmo seu nome?" "Samantha." "Ok, Samantha, desculpe, sou ruim em guardar nomes. O que houve com a correspondência?" "Alguém arrombou a caixa do correio." "E só arrombaram a minha caixa?" "Só. Estranho não é?" "É sim. Depois eu resolvo isso." Cada coisa!! Arrombamento de caixa do correio. O que será que havia lá de tão importante? Decidiu deixar essa pergunta para depois e continuar a escrever. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Dana Scully deixou o apartamento de Mulder bastante zangada. Seu parceiro, ou ex-parceiro, vinha agindo de forma estúpida. Quando ela chegou a entrada principal do prédio notou que a caixa de correio estava arrombada. E justamente a caixa do apartamento de Mulder. Ela ponderou se subia e avisava isso a ele, ou se ia atrás da única pista. O Canceroso. O que aquele homem queria com a correspondência de Mulder. Ela iria descobrir. Correu para seu carro e seguiu na direção que, supostamente, o Canceroso teria ido. Foi fácil encontrá-lo. Ela diminui a marcha do carro e continuou a seguí-lo. Quando o carro finalmente parou em frente ao prédio do FBI, Scully não se surpreendeu. Será que Mulder era tão importante assim para ele? Será que ele tentaria fazer com que Mulder voltasse para o FBI já que não conseguira que se aliasse a ele. Tantas perguntas. E a mais estranha. O que havia na correspondência de Mulder que era tão importante? Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Ok, esse negócio da correspondência havia mexido com ele. O que será que alguém iria querer com suas cartas? Logicamente Mulder não desconfiava do fumante. Ou deveria? Talvez não fosse uma má idéia ir até o apartamento dele e investigar. Mulder bateu na porta do fumante algumas vezes, sem resposta. Seria arriscado invadir o apartamento do homem, mas se as suas cartas estivessem lá, o velho teria muito o que explicar. Ele entrou no apartamento usando um arame. Não fora nada difícil. Ao entrar deparou-se com uma bagunça maior do que o seu apartamento. Bem, pelo jeito o velho não era casado e não tinha com o que se preocupar. Ao contrário de Mulder que ouviria o mesmo velho sermão quando Dana voltasse do trabalho. No meio da bagunça, em cima da mesa, Mulder encontrou o que procurava. Os envelopes de suas cartas. Todos fechados. Exceto por um. Não tinha remetente. Mulder procurou pelo conteúdo do envelope e o encontrou na cesta de lixo. Ao abrir a carta teve uma surpresa. Não sabia de quem era. Mas o que estava escrito o intrigou. O homem que escrevera a carta dizia que era seu pai, que o havia abandonado quando criança e deixado que sua mãe o criasse. Mulder sempre desconfiara que não era filho de Bill Mulder, mas era somente uma desconfiança. O modo como ele sempre tratara diferente seus dois filhos, William e Alex era somente um indício da verdade que agora se mostrava a sua frente. Ele recolocou a carta na cesta de lixo e saiu do apartamento do velho. Ao entrar em seu próprio apartamento, Mulder tremia. Desconfiar que seu pai não era seu pai de verdade era diferente de finalmente descobrir isso. Mas o que mais o deixava nervoso era saber que o velho poderia ser seu pai. Mulder queria afastar esses pensamentos e voltou a escrever, tentando fingir que nada havia acontecido. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx "Agente Scully, que surpresa." "Me poupe de sua falsa surpresa. O que você queria roubando a correspondência do Mulder?" "Mas eu não estava roubando. Eu mandei uma carta prá ele. Mas mudei de idéia. Peguei o que é meu de volta." "O que dizia nessa carta?" "Está preparada para saber, Agente Scully?" "Se você estiver preparado para me dizer." "Eu soube que ele havia deixado o FBI, queria que ele trabalhasse para mim. Ele se negou. Ele tem inimigos você sabe. Eu não sou o inimigo, Scully. Eu estava tentando salvar a vida dele. Mas a teimosia dele vai selar seu próprio destino. Não posso fazer nada. Mas antes do fim queria que ele soubesse que eu sou o pai dele." Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Droga, depois de tanto tempo, Mulder se sentia como se tivesse caindo na sua própria armadilha. Como podia deixar que uma simples carta interferisse dessa forma na sua vida? Talvez fosse melhor parar de escrever por alguns instantes. Respirar fundo, esperar Dana chegar e lhe contar o que houve. Ela o ajudaria. Quando ela não ficava tratando ele como sua raposinha ela era até bastante útil. Fox! De onde ela tinha tirado esse apelido idiota? Quase como se ele tivesse adivinhado, Dana abriu a porta do apartamento com os braços cheios de compras. "Fox, meu amor, me ajuda." "Dana, você comprou o supermercado inteiro?" "Não seu bobo, nós temos visitas hoje a noite, não lembra?" "Alex? Droga, meu irmão e a mulherzinha chata dele não!!" "Melissa não é chata, Fox! Ela só tem idéias estranhas. Você devia tentar entendê-la." "Ah, eu entendo, claro. Até uso as idéias malucas dela no meu livro." "Sério? Ela é um personagem?" "Foi. Já morreu. Sabe quem matou ela?" "Não. Diga!" "Alex." "Fox!!! Não acredito! Você é louco" "Ah, mas a idéia é interessante. Ele ia matar você. E errou e matou ela." "Ia me matar? O que eu fiz, meu Deus?" Dana não pôde conter o riso. As idéias que passavam na mente de seu marido eram bem malucas. Talvez ele realmente se tornasse um escritor famoso algum dia. "Nada, você estava me protegendo contra forças malignas." "Hummm, forças malignas, heim?" O famoso livro de seu marido parecia bem mais interessante do que ela pensava. Talvez fosse uma boa idéia saber mais sobre essas forças malignas. "Isso, e sabe o que mais? O Canceroso roubou minha correspondência e você foi atrás dele. Ele te disse que ele é meu pai." "E quem é o Canceroso?" "O velho do andar de cima." "E de onde você tirou a idéia de que ele é seu pai?" Então Mulder contou tudo a ela. Claro que ela se irritou muito em saber que seu marido havia invadido o apartamento do velho, mas ficou mais irritada ao saber da história da carta. Ela não acreditava que o velho fosse pai de seu marido, mas o que a irritava era saber que ele estava querendo que Fox acreditasse nisso. "E o pior. Ele veio de manhã me oferecer emprego na empresa dele. Eu nem sabia que ele tinha uma empresa." "Não é uma empresa grande. É um escritório de contabilidade." "Como você sabe?" "Alex me disse que faz serviços ocasionais prá ele." "Ah, típico do meu irmão! Ele tem essa mania de esconder tudo. A vida dele é um mistério." "Fox, ele não precisa ficar falando prá você tudo sobre a vida dele não é?" "Não. Você tem razão ruivinha. Mas hoje a noite eu pego ele e se ele não me falar o envolvimento dele com o Canceroso eu acabo com ele." "Fox!! Para de chamar o pobre velho de canceroso, isso dá azar. E você não vai brigar com o Alex!" "No meu livro eu andei dando umas surras nele." "Você devia procurar ajuda psicológica, isso sim." "Não ruivinha, a minha ajuda tá bem aqui. Quanto tempo a gente tem?" "Bastante." Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Alex e sua esposa chegaram algumas horas depois. Dana havia conseguido preparar o jantar, se arrumar e convencer William a se vestir. O que tinha sido a parte mais difícil. Mas tudo havia dado certo. Alex e Melissa eram o casal perfeito e Dana adorava quando eles os visitavam. Pena que William não estava no seu melhor humor com toda a maluquice do velho do andar de cima. Quando Dana tocou no assunto com Alex, sentiu que havia feito algo errado. Os olhares que ele e Melissa trocaram indicavam que havia algo de muito estranho. William não deixou escapar esses sinais. "Fala Alex. Quem é esse velho afinal? Você trabalha prá ele?" "Eu faço alguns serviços prá ele. Não há nada de errado nisso." "Ele veio me convidar prá trabalhar com ele. Você tem algo a ver com isso?" "Na verdade sim. Eu pedi a ele prá te dar a oportunidade." Dana percebia que seu marido estava cada vez mais zangado. E ele nem havia tocado no assunto da carta, ainda. "Eu não preciso de nenhuma oportunidade! Eu já disse que eu estou bem. Se eu quisesse voltar a trabalhar eu voltaria." "Will, ficar parado na sua idade não é legal." "Olhe Melissa, não se meta ok?" "Fox!! Não fale assim com ela!" "Não, Dana. Deixe. Nós vamos embora. Vamos Melissa." Alex e a esposa já estavam se encaminhando para a porta, com Dana atrás pedindo desculpas, quando William lançou a última pedra. "Que negócio é esse desse velho dizer que é meu pai?" "Bem, meu irmãozinho querido, tenho más notícias. Ele É Seu Pai!" "Vai pro inferno, Alex!" "Chega vocês dois! Alex, por favor, vá. Eu converso com ele, ok?" "É só por você Dana. Porque eu queria mesmo era acertar a mão na cara desse idiota, egoísta e paranóico." Antes que William tivesse alguma reação, Alex saiu com Melissa fechando a porta atrás de si. Mas Dana não deixou por menos. "Ele é sua família, você não percebe?" "Bem, de acordo com ele eu sou só meio irmão dele. O que não é muito não acha?" "William, eu não vou suportar mais isso! Você fica em casa dias inteiros, somente escrevendo suas histórias sobre conspirações governamentais. Afasta seus amigos e parentes e o que é pior, você está começando a acreditar nas suas próprias histórias!" "Não, Dana. Eu escrevo o que eu vejo! E eu sei o que eu vi naquela carta. E eu sei que Alex trabalha para aquele homem. Tem alguma coisa por trás disso!" "Tem, claro! Esse homem provavelmente é seu pai, ok! Só que você não pensou que talvez ele queira se redimir, queira se reunir ao filho e está fazendo isso através de seu irmão." "Esse Canceroso é um covarde, um desgraçado que levou minha irmã!" "Que irmã!!!!???" "Eu lembro, Dana. Eu tinha uma irmã, e ele a levou." "Você nunca teve uma irmã." "Tive! Alex não lembra. Ele era muito pequeno. Mas eu lembro dela. Ele a levou." "Bem, já sei o que vamos fazer. Vamos até lá em cima falar com esse homem, o que você acha?" "E você acredita que ele vai dizer a verdade?" "Não sei. Mas não custa tentar." "Vamos deixar isso prá amanhã, Dana. Eu quero escrever um pouco e espairecer." "Escrever o que? Que esse homem, o Canceroso, levou sua irmã?" "Eu tinha escrito isso, mas eram alienígenas que levavam ela." "Ai, Deus! Prefiro a idéia do Canceroso levando ela." Sem dizer mais nada, Dana deixou seu marido na penumbra da sala, escrevendo as loucuras que agora povoavam sua mente. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Scully ainda estava chocada com a revelação. Por mais que tivesse desconfiado jamais tinha aceitado a idéia de que Mulder fosse filho daquele homem. O homem que estava por trás do desaparecimento da irmã dele. Seria difícil para Mulder aceitar essa realidade. A busca pela irmã havia significado toda a sua vida, e saber que seu próprio pai era o responsável pelo desaparecimento dela, o deixaria louco. Mas ela não podia esconder essa verdade dele. Iria se encontrar com ele e lhe contar. Já era tarde quando Scully entrou no apartamento. Mulder, no entanto, não estava dormindo. Ele não surpreendeu ao vê-la. "Scully? O que houve?" "Mulder, arrombaram sua caixa de correio." "Sério? Porque?" "Foi o Canceroso. Ele queria pegar uma carta que ele mesmo havia mandado." "E porque ele faria isso?" "Ele me disse que queria que você soubesse a verdade. Antes que alguém te matasse." "Humm, e alguém vai me matar?" "Não sei Mulder. Realmente eu não sei. Eles querem você vivo, no Bureau ou trabalhando para o Canceroso. Eles não te querem aqui, nesse apartamento, sem fazer nada." "Isso é o que eu chamo de incentivo ao trabalho." "Ele é seu pai." "Eu sei." "Sabe? Como?" "Eu sempre soube. E sabe do que mais, Scully?" "Samantha não é filha dele. Estranho não é? Eu sempre tinha achado que ela era a filha dele, e que ele a havia levado por essa razão. Mas agora eu notei que não, que ele a levou ou deixou que a levassem, como garantia. E eu fiquei com minha mãe como garantia também." "Garantia de que Mulder?" "De que meu pai, o que eu pensava que fosse meu pai, trabalhasse para o Consórcio." "E onde está Samantha?" "Eu não sei." Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Já era bem tarde, e William não tinha conseguido resolver metade dos mistérios que povoavam sua mente. Será que ele tinha tido realmente uma irmã? Bem, o nome não era Samantha, ele tinha certeza. Quando começara a escrever o livro tinha achado que seus personagens eram ficcionais, mas agora, relendo algumas partes tinha notado tantas coincidências com sua vida que não podiam ser só coincidências. O próprio Canceroso tinha aparecido como personagem em sua história, bem antes do velho fumante aparecer pela primeira vez na sua frente. A um certo momento William já não tinha certeza se ele estava escrevendo uma história de ficção ou se estava somente relatando os fatos já ocorridos. A força com que as palavras surgiam na tela de seu computador era assustadora. Era quase como se alguém ditasse o texto para ele. Ele sequer pensava no que escrevia, sequer tinha necessidade de revisão. Talvez um erro ou outro de gramática ou de ortografia, mas a essência do texto jamais era modificada. Ele decidiu reler sua história desde a primeira página, e assim descobrir o que se escondia por trás de sua própria vida. William pegou as folhas de seu manuscrito e começou a ler, sabendo, desde aquele momento, que, ao final, encontraria a verdade que tanto ele quanto Fox Mulder procuravam. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Dana Scully era uma linda moça, porém não tinha sido por sua beleza que conseguira aquele emprego, mas por causa de seu cérebro. Era extremamente viva e não tinha medo de mostrar sua perspicácia. Era o tipo perfeito de agente que o FBI estava procurando quando ela viera se candidatar a uma vaga. Sua tarefa mais recente no Bureau tinha sido como instrutora na Academia de Treinamento....... Fim.