Título: Ela Nunca Voltou Autora: Claudia Modell E-mail: claudia@subsolo.org Homepage: http://subsolo.org Categoria: Drama Sinopse: Um telefonema durante a noite lança uma sombra sobre a real identidade de Dana Scully. Disclaimer: Os personagens dessa história foram criados por Chris Carter, 1013 e Fox Company. Ela Nunca Voltou Eram mais de oito da noite e Mulder ainda estava no escritório. Scully já havia ido embora, mas ele quis ficar para examinar as fotos da cena do crime que estavam investigando. Era um caso banal, quando comparado com os que, normalmente, investigavam, mas ainda assim, ou talvez por isso mesmo, ele queria aproveitar qualquer tempo disponível para chegar a alguma conclusão sobre os crimes. Quanto mais cedo terminassem aquela investigação, mais cedo encontrariam algum verdadeiro arquivo X. Mulder já estava decidido a ir embora quando o telefone tocou. Disse alô três vezes, antes que a pessoa do outro lado decidisse, finalmente, dizer algo. -Agente Mulder? -Sim, quem é? -Sua parceira nunca voltou. Click. O telefone ficou mudo. Mulder não tinha idéia de quem poderia ser. Ou o significado do que havia dito. Mas como envolvia, quase certamente, sua parceira, Mulder decidiu ligar para ela, somente para ter certeza de que ela havia chegado bem em casa. -Scully? -Mulder? É você? O que houve? -Nada, só queria saber a que horas você vem amanhã. Ainda temos muitas pessoas para interrogar. Mulder tentava disfarçar o embaraço por tê-la chamado sem qualquer motivo. -Mulder, estarei na hora de sempre, não se preocupe. -Ok, desculpe, nos vemos amanhã. Boa noite. Após desligar o telefone, Mulder continuou pensando sobre o que a mulher desconhecida havia lhe dito ao telefone. O que ela queria dizer com "sua parceira nunca voltou"?? Enfim, decidiu que não adiantava tentar especular e foi dormir, deixando essa preocupação para o dia seguinte, quando poderia investigar mais a fundo o telefonema. No dia seguinte, no entanto, Mulder já havia esquecido completamente o incidente. Sua parceira estava ao seu lado, como sempre e não havia qualquer motivo para se preocupar. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx A sede dos Pistoleiros Solitários estava em plena atividade. Os folhetos estavam sendo impressos e os três integrantes do grupo mal conversavam, devido à grande quantidade de trabalho. Enquanto Byers organizava os arquivos antigos, Frohike preparava as ultimas matérias que seriam publicadas no jornal e Langly vasculhava os computadores alheios, em busca de novas notícias de conspirações. Tudo normal portanto. Langly tinha conseguido entrar nos arquivos do FBI, mas não era a primeira vez que isso acontecia. Resolveu entrar em alguns diretórios aparentemente inúteis, somente por curiosidade. Não esperava encontrar nada de importante em diretórios que serviam a toda a rede do FBI. Entretanto, verificou que um dos diretórios havia sido criado recentemente, há menos de uma semana. Resolveu olhar. Foi então que sentiu um aperto no estômago. Havia uma lista de nomes. Com datas na frente e cada um com uma frase. Alguns estavam catalogados como "sem volta", outros como "eliminado", outros ainda "devolvido". Mas o que o surpreendeu foi ver o nome de Dana Scully no meio daqueles nomes. A data que constava era a mesma da abdução ocorrida com ela anos atrás. E após a data vinha a frase "sem volta". Ele não achou qualquer informação adicional. A informação que estava ali era estranha. Scully havia sido seqüestrada, mas retornara três meses após. Porque a observação "sem volta"? Nada do que estava ali fazia sentido. Langly decidiu não contar nada a seus colegas. Desligou o computador e disse que ia sair para dar uma volta e tomar um pouco de ar. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Langly chegou à casa de Scully rapidamente. Nem ao menos sabia se ela estava lá, mas não queria se arriscar telefonando para ela. Não era algo para ser dito ao telefone, de qualquer maneira. De qualquer forma, ela estava em casa. -Langly, olá. Ela ficou surpresa ao abrir a porta. -Oi, desculpe vir na sua casa, mas eu realmente preciso falar com você. -À vontade. Entre. O que houve? Langly relatou a ela o que havia encontrado. Scully ficou surpresa e zangada em saber que seu nome constava de arquivos ocultos, em relação ao seu seqüestro. Estava, também, surpresa com o contexto no qual seu nome aparecia. Ela havia retornado de seu seqüestro, obviamente. Seria possível que aquela nota significasse que ela não deveria ter retornado? E que, apesar da decisão anterior, ela tivesse sido devolvida, mas os arquivos continuaram com a mesma informação? Mas Langly disse que o diretório tinha sido criado recentemente. Então isso não fazia qualquer sentido. Scully decidiu falar com Mulder sobre o assunto. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx -Tem certeza disso? Era mesmo isso que estava escrito? Que você não voltou? Mulder parecia muito preocupado, mais do que ela imaginou que ele ficaria. -Mas eu não acho que isso seja realmente um motivo de preocupação, Mulder. Afinal eu estou aqui. -Não é isso. É que outra noite, antes de ligar para você eu recebi um telefonema estranho. Alguém disse que você nunca teria voltado. -Mulder, usando suas próprias teorias isso não passa de uma campanha de desinformação, ridícula por sinal. -Eu sei que tudo é estranho, mas não se preocupa que seu nome conste em um arquivo do governo e mencionado dessa forma?? -Eu não sei e sinceramente prefiro não saber. Já fui envolvida demais nessa trama. O implante no meu pescoço. O câncer. Prefiro não ter mais nada a ver com esse pessoal que trabalha nas sombras. -Mas você não pode fugir disso. Você já está envolvida. Seu nome está naqueles arquivos. Eu acho que temos que investigar isso a fundo. -Então, Mulder, você vai estar sozinho nisso. Mulder ficou ao mesmo tempo chocado e triste. Era no interesse dela que ele queria investigar. Mas ela não queria isso. Mesmo assim ele decidiu prosseguir, mas não tinha idéia de como fazer isso. Que pista seguir? A quem procurar? Resolveu procurar a última pessoa que gostaria de encontrar. O Canceroso. Ele sabia de todos os detalhes da abdução da Scully. Não havia outra saída. Mulder precisava saber se sua parceira corria algum risco. Mesmo que isso não interessasse a ela. Não foi difícil encontra-lo. Aliás era mais provável que Mulder tenha sido encontrado. Mulder estava saindo do prédio do FBI quando foi abordado por ele. -Senhor Mulder, soube que queria falar comigo. Deve ser um assunto muito importante, dada a hostilidade com que sempre me tratou. Ele disse no tom irônico que lhe era peculiar. -A hostilidade continua, pode ter certeza. O que eu preciso é de uma resposta. -E porque o senhor acha que eu lhe daria qualquer resposta? -Eu não sei. Daria? -Não posso afirmar antes de saber a pergunta. -Então vamos ver. A Agente Scully está catalogada em um arquivo do governo, como "sem volta". O que isso significa? Mulder olhou atentamente para o homem a sua frente, e percebeu que a reação inicial dele havia sido de raiva. Essa era uma faceta do Canceroso que Mulder não conhecia. Ele sempre se mostrava calmo, irônico e seguro de si. Mas naquele momento ele o viu zangado, e isso o preocupou. -O que houve? Mulder perguntou com curiosidade. -Sr. Mulder, existem coisas que talvez ninguém deva descobrir. Coisas que estão escondidas há muito tempo. -Se essas coisas a que se refere devem ficar escondidas, porque eu pude ter acesso a elas com tanta facilidade? -Isso é que me intriga. Como teve acesso a essa informação? O Canceroso parecia agora muito interessado na resposta de Mulder. -Primeiro me diga: que informação é essa??? O que significa "sem volta"? -Sr. Mulder, sem volta significa sem volta. E exatamente o que significa. Sua parceira nunca voltou. O Canceroso falou isso mas não parecia muito seguro de sua própria afirmação. Mulder lembrou das palavras da mulher desconhecida ao telefone. As mesmas palavras. -O que está dizendo é que Scully nunca voltou da abdução? Percebe o que está dizendo? Ela está aqui, eu trabalho com ela há anos. -O senhor já respondeu a sua própria pergunta. Eu realmente não tenho mais nada a acrescentar. -Supondo que você esteja falando a verdade, quem seria a pessoa com que eu venho trabalhando? Mulder tinha medo dessa pergunta, mas havia uma resposta que tinha que ser dada. -Talvez ela seja um clone, Senhor Mulder. -Talvez?? Você não sabe? -Senhor Mulder, eu, com certeza, sei que existem casos de abduções que não tiveram volta. Não sabia que sua parceira era um deles. -Eu não acredito em você! -Em que parte não acredita? Que ela seja um clone ou que eu esteja no escuro sobre esse assunto? -Os dois. Tudo o que ele havia dito não tinha qualquer nexo. Scully, um clone??? Isso era ridículo. O Canceroso sem saber o que estava acontecendo? Impossível. Mulder decidiu que não tinha mais nada a falar com aquele homem. Suas mentiras não iriam atingi-lo. Provavelmente tudo não passava de uma conspiração para fazê-lo perder a confiança na única pessoa em quem ele podia confiar. Ele não ia deixar isso acontecer. Decidiu ignorar o que tinha ouvido. Decidiu esquecer este assunto. Mas isso não foi tão fácil. Mulder foi para casa e passou a noite pensando no assunto. As perguntas que lhe vinham a mente eram respondidas por ele mesmo, mas as respostas que encontrava eram rebatidas por novas perguntas. Scully nunca voltou da abdução? Claro que ela voltou. Ela estava ao lado dele todos os dias. Ela quase morreu de câncer, que ocorreu por causa do implante no pescoço dela. Mas a cura foi inexplicada pela ciência. O implante foi colocado durante sua abdução. Mas a que servia exatamente? A teoria que ele tinha era de que o implante servia para manter controle das pessoas abduzidas, armazenando as memórias destas pessoas. Mas e se o chip servisse para controlar os clones? E se na verdade ao invés de retirar informações da memória das pessoas, o chip na verdade implantasse as memórias do original no clone? Isso explicaria a utilidade dos implantes, manter o clone informado sobre a memória do original e controlar todos os passos do clone. E uma vez retirado o chip todo a trama ficava em perigo. O Consórcio, ou seja lá quem fosse que tivesse arquitetado o plano, não teria mais controle sobre os clones, e isso era perigoso. Então o chip funcionaria como uma bomba relógio. Tudo ia bem enquanto estava no corpo do clone, mas uma vez retirado o corpo sofria de uma doença perfeitamente conhecida entre os humanos, e assim não havia suspeitas. Tudo havia sido previamente estudado. A Colonização já havia começado, ele já sabia disso. Já havia tido provas de que isso já vinha ocorrendo. Agora parecia tudo tão claro. Tão fácil de entender. Mas não de aceitar. Seus pensamentos voltaram para Scully. Mulder não podia aceitar que ela fosse um clone. Teria sido ele enganado tão bem durante esses anos?? E não somente ele, mas também o seu superior, e a família dela. Todos enfim. Mas havia outra coisa que não entendia. O sangue dela era normal. Não era verde como o dos clones que havia encontrado. Mas isso também tinha uma explicação plausível. Era somente um dos tipos de clones. Ele se lembrou da colônia que havia visitado e do que Jeremiah Smith havia lhe dito sobre os diferentes tipos de clones. Então, Scully era na verdade um clone avançado, projetado para conviver perfeitamente em nossa sociedade. Com as memórias da Scully original implantada no chip. O fato de Scully estar estéril também poderia ser conseqüência não da abdução em si, mas do fato de ela ser um clone. Mas qual seria o verdadeiro motivo para que tivessem colocado um clone ao lado dele? Estaria a verdadeira Scully morta? Ou esse clone foi colocado somente para manter Mulder sob controle?? Mulder lembrou-se que Scully foi abduzida num momento em que estava claro que ela confiava nele completamente, e não estava disposta a fazer jogo duplo. Mas essa Scully, que agora ele mentalmente se referia como o "clone", nunca o havia traído. Ele não tinha motivos para achar que ela trabalhava contra ele. Mesmo quando ela atirou nele, o que ela estava visando era protegê-lo de ser acusado de homicídio. Mulder não sabia mais no que pensar. Começava a se sentir culpado por não confiar em sua parceira. Resolveu parar de pensar sobre o assunto. Iria tentar descobrir mais no dia seguinte. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Scully chegou um pouco mais tarde na manhã seguinte. Mulder já estava ansioso esperando por ela. Ele queria confrontá-la, mas não sabia como. Tudo o que havia pensado na noite anterior não fazia qualquer sentido a luz do dia. Era tudo um absurdo e se Scully jamais havia duvidado da sanidade de Mulder, essa seria com certeza a primeira vez. Mas ele resolveu prosseguir, mesmo com cautela. -Scully, você se lembra de algo que tenha ocorrido durante a sua abdução? Ele sabia que este era um terreno perigoso. Mulder temeu que ela ficasse furiosa com essa pergunta. Mas ela simplesmente disse "Não". Somente isso. Não. Mulder ficou desconcertado com a falta de elementos conseguidos nessa abordagem. Resolveu continuar. -Scully, qual é a última coisa que você se lembra? -Mulder, onde você quer chegar realmente? Porque não faz uma pergunta clara e objetiva? Agora sim, ela parecia um pouco zangada. Por alguma razão desconhecida, Mulder se sentiu mais a vontade com esse sentimento. -É que eu estive pensando sobre o que o Langly te falou. Sobre o arquivo com seu nome. -Sim?? Ela não parecia muito interessada, nem mesmo em saber o que Mulder pensava. Scully sempre fôra arredia quando o assunto era a abdução. Mas porque? -Falei com o Canceroso também. -Você está andando com estranhas companhias Mulder. Scully escondia um sorriso. Ou seria só impressão?. Afinal ele disse que conversou com o Canceroso e ela nem ao menos piscou. -Eu sei, mas é que eu precisava ter uma resposta sobre aquele arquivo. -Mesmo que seja referente a mim e que eu não queira que você investigue? Agora sim, Scully zangada. Ele se sentia mais a vontade. -Eu precisava saber, acho que isso diz respeito a mim também, e ao meu trabalho no departamento. -Sei, e como isso pode afetar você? -Digamos que eles tenham colocado aquele chip em você somente para poderem controlar os seus e os meus passos. -Mulder sua paranóia ainda consegue me surpreender. Eu não sei se o chip servia a esse propósito. A única coisa que eu sei é que eu quase morri sem ele. -Então você tem que concordar que a presença do chip e necessária para que você continue saudável. -Sim, eu não tenho explicação para isso, mas é verdade. -Você não tem uma explicação cientifica para dizer porque a falta do chip causa o câncer. Isso é totalmente sem explicação, concorda? -Sim, Mulder, eu concordo. Não consigo achar a explicação para esse fato. -Mas o seu conhecimento de medicina é suficiente para buscar essa resposta certo? -Mulder, acho que meus conhecimentos de medicina não podem ser julgados por um leigo. Podemos parar com esse interrogatório inútil? Ele já tinha ido tão longe. Não podia voltar atrás. Não teria outra oportunidade ou a coragem necessária. -Só mais uma pergunta. E se a medicina que você estudou não fosse adaptável aos parâmetros relativos ao chip? Quero dizer, você estudou medicina aplicável a pessoas normais..... -Mulder! Aonde quer chegar??? Que eu não seria uma pessoa normal?? Ou que eu não seria sequer uma pessoa? Acha que eu sou o que? Um clone??? -Acho. Ela ouviu. Não disse nada. Virou as costas e saiu do escritório. Mulder se sentiu ao mesmo tempo perdido e aliviado. Agora ela também teria que pensar nessa possibilidade. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Scully realmente estava furiosa. Mas mais do que isso, estava preocupada. Ela havia visto os clones. A existência deles era incontestável, mesmo que ela não soubesse como explicar. Mas daí a dizer que ela era um deles..... Não isso era demais. A paranóia de seu colega estava se tornando fora do normal. Se é que algum dia foi. Apesar da raiva que tinha tomado conta dela e da tristeza em pensar que seu parceiro não confiava nela, Scully achou melhor ligar para ele. Ela pediu que eles se encontrassem em algum local. Ela tinha que enfrentá-lo. Dizer-lhe que ele tinha ido longe demais. Eles se encontraram e conversaram por algum tempo. Mulder estava calmo e Scully já havia se acalmado o suficiente para não gritar com ele. Afinal, Mulder não estava bem, aquilo devia ser somente uma projeção da paranóia que sempre existiu nele e que agora, devido a algumas informações sem fundamento, estava aumentando. Mulder lhe disse, novamente, o que havia passado a noite toda a remoer. Os motivos porque ele achava que ela era um clone. Scully escutou e até concordou que tudo fazia sentido. Mas lembrou-lhe que a pessoa a colocar essa idéia na cabeça dele tinha sido o Canceroso. Um homem no qual não se podia confiar. E, além disso, o arquivo que Langly tinha encontrado também não servia como suporte para essa teoria absurda. Afinal que arquivo secreto é esse que está disponível para toda a rede do FBI? Mulder escutou tudo com calma e já havia se convencido de que na verdade tudo não passava de um plano para fazer com que ele perdesse a confiança em sua parceira. Sim, ele tinha sido um tolo. Como podia sequer imaginar que Scully era um clone??? Que tipo de clone é esse que está sempre ao lado dele? Sempre arriscando a vida por ele? Que clone é esse que, sendo mandado para controlá-lo, passa o tempo todo a dar apoio a ele em todas as investigações, inclusive contra o próprio Consórcio? Após essa longa conversa, Mulder resolveu ir para casa. Scully se sentiu mais tranqüila sabendo que ele já tinha se convencido que ela era o que era, ou seja, um ser humano. Que era sua parceira e que estava sempre do seu lado. Mulder pediu desculpas a ela e prometeu não pensar mais no assunto. Ela o perdoou e eles foram embora. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Quem não estava muito contente com toda aquela confusão era o Canceroso. Ele sabia que haviam abduzidos que nunca voltavam, e que eram substituídos por clones. Mas o que ele não sabia era que Scully tinha sido um desses casos. Ele resolveu verificar pessoalmente, e descobriu que estava enganado. Scully havia voltado. Mas a questão agora era, porque alguém teria colocado a falsa idéia de que ela não teria voltado? Ele já havia confrontado os membros do Consórcio outras vezes e estava disposto a fazê-lo de novo. Afinal, era uma coisa que ele nunca suportou, ser deixado de fora de qualquer operação. E se Scully realmente não tinha voltado então não era o caso somente de ele ter sido deixado de fora, como também enganado sobre o assunto. Ele se encontrou com um de seus colegas, o homem que em segredo ele chamava de Cara de Lua. Ele lhe disse que tudo não passava de um mal entendido. Que Scully tinha voltado. Que eles não se arriscariam tanto ao ponto de colocarem um clone lado a lado com Mulder. Que toda aquela coisa era um absurdo. O Canceroso a principio seguiu essa linha de raciocínio, acreditando no seu colega, mas depois ficou imaginando que na verdade não era um mal entendido o que tinha ocorrido. Afinal, não somente o arquivo ficou à mostra, podendo ser facilmente encontrado, como também houvera um telefonema para Mulder. O propósito teria sido de fazer com que Mulder não confiasse em sua parceira. Ele até entendia os motivos, e sinceramente achou que foi uma boa idéia. Mas porque deixá-lo de fora? Ele tinha que descobrir de onde surgira toda a trama. Quem teria dado o telefonema? O Cara de Lua não sabia. Estaria ele também no escuro quanto a isso? Ele achava que não. Ele resolveu ir a fundo nisso. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Apesar de Scully ter perdoado seu parceiro e lhe dito para não pensar mais no assunto, ela própria não conseguia parar de pensar nisso. Um clone! Era demais. Afinal ela saberia se era ela mesma ou não. Ou não? Sim, saberia! Mas e se as memórias foram implantadas incluindo memórias de infância, de sua vida inteira? Então ela realmente teria a memória do original e acreditaria que era a verdadeira. Isso seria necessário para que tudo funcionasse com perfeição. Se o próprio clone acreditasse que era o verdadeiro então o projeto nunca estaria em perigo. Deus, ela já estava começando a achar que era um clone. Isso estava se tornando destrutivo e absurdo. Era melhor não pensar mais no assunto. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Mulder não teve melhor sorte na tentativa de esquecer o assunto. Mas ele não estava mais tão convencido de que Scully seria um clone. Sua preocupação agora era descobrir porque quiseram que ele acreditasse nisso. E quem fez isso? O Canceroso ele tinha certeza de que não havia sido. A expressão de raiva que ele viu no rosto do homem era genuína. Ele realmente não sabia de nada sobre o assunto. Mulder agora estava sem caminho para seguir. Sua única esperança de lançar luz no caso era, por mais absurdo que fosse, a confiança de que o Canceroso iria procurar saber a verdade. Mulder detestava isso. Depender daquele homem para qualquer coisa. Mas era um mal necessário. Ele iria aguardar. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Não precisou esperar muito. Um telefonema no meio da noite e o Canceroso lhe disse que não era verdade. Que sua parceira não era um clone. Mas que ele também não sabia como e porque aquilo tinha sido dito a ele. Mulder desligou o telefone. Então tudo não passava realmente de uma campanha de desinformação perpetrada somente para fazer com que ele perdesse a confiança em sua parceira. Mas o que o preocupava agora era que ele tinha se deixado enganar. Mulder realmente acreditara que Scully não era quem dizia ser. Ele disse isso a ela. Nesse momento Scully devia estar odiando ele. Não importava que tenha dito que o perdoava. Ele não se perdoava. Mulder sentiu que isso havia abalado o relacionamento dos dois. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Scully atendeu ao telefone. Era tarde e ela imaginou que fosse Mulder. -Agente Scully? -Sim, quem é? Era uma pergunta retórica já que ela sabia quem era. Reconhecia a voz do Canceroso em qualquer lugar. -Agente Scully seu parceiro esteve fazendo algumas perguntas, queria uma resposta definitiva sobre um assunto referente a você. -Sim, eu soube. Deu a resposta a ele? -Dei a resposta que conhecia. Ou seja, que o que ele descobriu não é verdade. -Eu não precisava saber isso vindo de você. -Mas aparentemente ele precisava. -Escute, eu não tenho mais nada a conversar com você. Scully desligou o telefone zangada. O que esse homem estava insinuando era que seu parceiro não confiava nela. Mas estaria ele errado? Afinal, Mulder a confrontara, dizendo que achava que ela era um clone. Ele realmente não confiava nela. Isso tinha abalado o relacionamento deles. Quem quer que tenha planejado isso, havia alcançado seu objetivo. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx No dia seguinte, eles mal se falaram. Ele por se sentir envergonhado, por não ter confiado nela. Ela por sentir raiva já que ele não confiara nela. Mas a raiva maior que Scully sentia era de si mesma. Ela não confiara em si mesma. Na verdade, por alguns instantes, acreditara que fosse um clone. -Scully, eu queria te pedir desculpas de novo. Foi ridícula essa situação. Eu não tinha o direito de sequer pensar que você não é quem é. -Mulder eu gostaria de esquecer esse assunto. Para dizer a verdade eu mesma tive dúvidas. -E parou de ter essas dúvidas? -Sim. Não sei se por causa do telefonema daquele homem, o Canceroso. Ou se por ter recuperado o bom senso. -Ele te ligou? -Sim, acho que para verificar pessoalmente que o plano dele tinha funcionado. Que a nossa confiança mútua foi prejudicada. -E você acha que foi? -Você acha mesmo que tudo vai ser como antes Mulder? Você vai sempre ter essa dúvida com você. Não importa o que eu faça. Você sempre vai achar que eu não sou a verdadeira. -Escute Scully, se eu acreditei nisso tudo é justamente porque me importo com você. Pensar que havia um clone aqui, significa que a verdadeira estaria em algum local, presa, em perigo. Eu não podia aceitar isso. -Sim Mulder, eu entendo seus motivos. Mas o que me preocupa é o quanto você está convencido que eu seja a verdadeira. -Eu estou convencido. -Porque o Canceroso falou pra você que eu sou? Desde quando você acredita nele desse jeito? E porque você não acredita por você mesmo? -Eu não acredito pelo que ele disse. Eu acredito porque acredito. Porque conheço você. Porque confio em você. -Era só isso que eu queria ouvir Mulder. Agora vamos deixar esse assunto de lado para sempre. Ok? Ele concordou e os dois passaram a trabalhar no caso que vinham investigando. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx A sala de reuniões estava cheia. Somente um dos homens que trabalhavam no grupo não estava presente. Os outros acharam melhor não chamá-lo, devido ao envolvimento dele no caso que queriam discutir. Eles sabiam que o Canceroso podia ser um homem muito perigoso, principalmente se descobrisse que tinha ficado de fora no assunto em questão. Eles estavam agora pensando em como resolver o problema. A informação de que a Agente Scully era um clone vazou deliberadamente, sobre isso não havia qualquer dúvida. A questão agora era decidir o que fazer. Deixar o clone trabalhando juntamente com Mulder? Devolver a Scully original? Isso seria complicado. Seria quase uma admissão de culpa. Afinal ela contaria tudo, ou se não tivesse o que contar ainda assim haveria o problema dos anos todos em que a clone trabalhou junto com Mulder. Como implantar na verdadeira Scully essa memória? Os clones eram facilmente manipuláveis, mas os seres humanos não. A decisão final foi que eles deveriam correr o risco. Deveriam implantar falsas memórias na Scully verdadeira. E deviam começar essa operação o mais rápido possível. Mas acima de tudo essa decisão não podia sair dessa sala. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Uma semana já tinha se passado desde o telefonema que Mulder recebera. O assunto já estava enterrado, ao menos era o que os dois pensavam. Mas eles tinham motivos para pensar que tudo tinha acabado. Estavam convencidos de que tudo não passara de um plano que não havia funcionado, um plano que visava somente destruir o relacionamento deles. Mas agora eles estavam totalmente envolvidos em um caso de homicídio, tendo que, inclusive, se ausentar da cidade. Eles tinham viajado na noite anterior para Detroit, para dar prosseguimento as investigações. No final do dia eles já tinham interrogado os parentes da vitima e não tinham chegado a nenhuma conclusão. Estavam cansados e seguiram para o hotel. Scully decidiu ir dormir cedo e se despediu de Mulder. Mas dormir para Mulder não era tarefa muito fácil, principalmente quando estava em meio a alguma investigação. As horas passavam e ele não conseguia dormir. Então ouviu um barulho. Vinha do quarto da Scully. Era o barulho de alguma coisa caindo. Mulder resolveu verificar se estava tudo bem. Bateu na porta, mas não houve resposta. Ele insistiu. Nada. Começou a se preocupar. Arrombou a porta e examinou o quarto. Parecia tudo bem. Mas e Scully? Onde estava? Foi até o banheiro e a encontrou caída. Ele chamou uma ambulância, que chegou em pouco tempo. Enquanto esperava, Mulder procurava por traços de violência. Mas ela não parecia machucada. A ambulância a levou para o hospital. Os médicos fizeram uma série de exames. Após meia hora um deles veio falar com Mulder. Disse que não havia encontrado vestígios de violência. Que não percebeu qualquer ferimento na cabeça. Nem havia vestígios de drogas. Ou seja, não havia motivo para que ela estivesse inconsciente. O médico disse que ia aguardar para ver se ela acordava sozinha. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx No dia seguinte ela acordou. Estava relaxada, não sentia dores. Não estava assustada. Parecia que nem havia notado o que tinha acontecido. Mulder foi falar com ela. -Ei, se sente bem? -Oi Mulder, estou ótima. Pegaram ele? -Alguém te atacou então. Não, nos não o pegamos, mas não se preocupe com isso. Vamos cuidar disso a seu tempo. Ela tocou na cabeça, a procura de ferimentos. Mas não haviam ferimentos. -Pensei que tivesse batido com a cabeça na mesinha. Tive essa impressão. -Não, você não se machucou, está tudo bem. Você só precisa descansar. -Eu vou deixar você agora e depois venho para que a gente descubra quem te atacou. Você pode fazer um retrato falado. -Mulder eu sei quem me atacou. Não há necessidade de fazer um retrato falado. -Quem é?? -Duane Barry. Mulder entrou em pânico. Em um segundo seu cérebro fez todas as conexões. Tudo ficou claro. A Scully que trabalhara com ele até o dia anterior era um clone. E essa era a verdadeira. E foi devolvida. Somente agora foi devolvida. A última coisa que ela se lembrava era das circunstancias do próprio seqüestro. Mulder não sabia mais o que pensar. Estava apavorado com a idéia de ter trabalhado durante anos com um clone. Mas estava mais apavorado com a idéia de contar essa estória a Scully. Scully não entendeu a razão do nervosismo dele. -Mulder o que houve? -Nada. Duane Barry já foi preso. Não temos com que nos preocupar. -Durma agora ok? -Foi preso quando? -Durma, mais tarde a gente conversa. Ele não a deixou dizer mais nenhuma palavra. Saiu imediatamente do hospital. E resolveu ligar para o seu superior. Disse-lhe que devido ao incidente com a Scully eles estariam voltando no dia seguinte para Washington. E que o caso seria passado para a policia local. Skinner compreendeu e aceitou a idéia de Mulder. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Mulder e Scully não conversaram muito durante a viagem. Ele estava arredio e ela não compreendia o porque. Mas resolveu não forçar. Ela achou que ele estava chateado porque estavam voltando e deixando um caso em aberto para trás. Scully ainda não entendia como tinha se esquecido dos eventos após seu seqüestro por Duane, mas Mulder lhe disse que tudo voltaria ao normal. E ela também achava a mesma coisa. De fato já começava a lembrar de muitas coisas. Mas, o que ela não sabia e que não tinha esquecido somente uma ou duas semanas mas mais de dois anos. Mulder sabia que ela descobriria cedo ou tarde. Ele temia esse momento. Mas nesse instante o que o preocupava mesmo era o paradeiro do clone. Era uma sensação estranha. Ele estava preocupado com um maldito clone. Mas esse mesmo clone trabalhou com ele durante anos. O protegeu, o defendeu, esteve ao lado dele em momentos tristes e alegres. Mulder não podia, simplesmente, apagar todos esses anos. Decidiu que procuraria saber onde ela estava. Iria ao inferno para descobrir. Mas o que lhe preocupava também era como dizer a Scully que seu pai e sua irmã tinham morrido. E como dizer a ela tudo o que tinha acontecido durante todo esse tempo? Ele estava desnorteado. Nada em sua vida o havia preparado para isso. Achou melhor não contar nada a ela. Afinal ele não sabia como Scully reagiria. Na verdade ele mal conhecia sua parceira. Mulder conhecia bem aquela que ele pensava ser sua parceira. Apesar disso ele não podia deixá-la de lado. Nem mesmo o clone. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Mulder levou-a para casa. Estava curioso sobre a reação dela ao ver sua casa mudada. Eles chegaram e realmente ela notou as mudanças. Mas ele percebeu que isso para era ela normal, já que ele lhe tinha dito que ela havia esquecido os acontecimentos após o seqüestro. Mas o que ela não podia imaginar era que tinham se passado anos desde aquele dia. -Scully. Eu preciso falar com você. Eu sei que esse não é o momento. Mas é necessário. -Pode falar, desde que não seja ainda sobre aquela sua teoria absurda. -Que teoria? Mulder tinha que se lembrar que teoria ele tinha apresentado a ela antes do seqüestro. Mas isso era impossível. -Sobre eu ser um clone Mulder. -O que??? -Não se lembra? Você me falou isso antes de irmos para Detroit. -Eu ... Não, não é sobre isso. Agora sim, Mulder estava confuso. Afinal, se ela não se lembrava de nada após o seqüestro, como se lembrava do que ele havia lhe dito antes de viajarem? -Pensei que você não se lembrasse de nada desde o seu seqüestro. -É estranho, eu também achava que não me lembrava. Mas o que aconteceu nos últimos meses me parece que aconteceu ontem. De qualquer maneira, comecei a me lembrar dos acontecimentos após o seqüestro. -Deve ter sido uma espécie de trauma então. Mulder tinha que falar com ela. O fato de ela se lembrar do que aconteceu há duas semanas não era um elemento significativo. Afinal, a memória do clone poderia ter sido implantada nela. Só havia um meio de descobrir. Fazendo um raio-x e vendo se o chip ainda estava lá. Mas era isso que ele queria? Ele realmente queria saber a verdade? Será que essa verdade era tão importante assim? Afinal as memórias do clone, se é que isso realmente aconteceu, estavam implantadas nela agora. Então era como se ela nunca o tivesse deixado. Afinal são as memórias que fazem a pessoa ser o que é? Era a experiência dos dois trabalhando juntos que importava. E o fato de que a verdadeira Scully estava do lado dele agora, e se lembrava de tudo que tinham passado juntos, era o que realmente valia. Ele não precisava saber a verdade. Não competia a ele saber essa verdade. Como o próprio Canceroso disse, e ele tinha que concordar dessa vez, existem verdades que devem continuar escondidas. Quanto ao clone, se é que ela realmente existiu, ele não podia fazer nada. Buscar justiça ou tentar salvá-la era seria um risco. E talvez fosse um risco inútil. Ele tinha certeza de que, a essa hora, o clone não existia mais. Ele então disse a sua parceira. -O que eu queria te dizer é que às vezes meu lema de não confiar em ninguém assume proporções que eu mesmo não desejo. Eu não tinha o direito de desconfiar de você. Eu fiz o jogo deles, e não pretendo fazer mais isso. -Fico muito contente que você tenha chegado a essa conclusão, Mulder. Espero mesmo que esse assunto tenha morrido. E agora que tal cada um ir descansar um pouco? Amanhã será um dia normal de trabalho. -Nos vemos de manhã então. -Ate amanhã. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Mulder foi embora e ela ficou sozinha com seus pensamentos. Mas seriam seus pensamentos? Scully não queria que Mulder desconfiasse que ela inha dúvidas sobre o que tinha acontecido. Sobre si mesma. Scully se lembrava que ele tinha lhe dito que achava que ela era um clone. Se lembrava muito bem, mas não sentia nada. Aliás ela se lembrava da morte do pai e da irmã. Sentia tristeza, mas não se lembrava do sentimento que tomou conta dela na época das mortes. Era isso que estava faltando. As memórias estavam lá, mas os sentimentos relativos às lembranças não estavam. Isso a levou a pensar que a pessoa que havia estado ao lado de Mulder não era ela na verdade. Era de fato um clone. Mas o que isso significava exatamente? Ela se lembrava de cada detalhe desses anos. Era como se ela nunca tivesse ficado ausente. O que lhe foi tirado foi a dor de cada lembrança. Isso não era tão ruim. Mas e as alegrias das lembranças? De qualquer forma, Scully não podia recuperar aquilo. Resolveu enterrar o assunto, assim como Mulder havia resolvido. Ele não lhe tinha dito, mas ela sabia da decisão dele. Ela tinha certeza que ele tinha decidido não mais pensar sobre isso. E foi isso que ela fez. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx -Scully. Temos um novo caso para resolver. Mulder estava eufórico, como cada vez que um caso estranho lhe caia nas mãos. -O que é dessa vez? Algum caso de vampirismo? Scully falou com o tom irônico de sempre. Então ele relatou toda sua teoria sobre o caso. E enquanto ele falava ela levantava a sobrancelha demonstrando seu ceticismo. E Mulder, vendo o ceticismo dela, pensou. "Tudo voltou a ser como sempre foi. Ela voltou." Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Ela acordou com uma dor de cabeça terrível. Tentou lembrar o que tinha acontecido, mas só conseguia lembrar de ter ido para o quarto do hotel em Detroit. Agora estava acordando em uma casa vazia. Foi até a janela e viu que estava em um campo. NNão tinha mesmo a mínima idéia de como tinha ido parar lá. E onde estava Mulder? Tentou manter a calma, afinal ela não estava ferida, e pelo jeito não era prisioneira. Não estava amarrada pelo menos. E tinha certeza que Mulder devia estar procurando por ela. Achou melhor se deitar um pouco para ver se a dor de cabeça passava. Daria tudo por uma aspirina naquele momento. Em poucos minutos tinha adormecido. Mas não completamente. Estava naquele estado entre a vigília e o sono, em que a mente fica atenta ao que ocorre mas o corpo não pode reagir a nada. Mas ela estava se sentindo bem, a dor de cabeça estava passando, e ela ouvia somente um som vindo de fora. Era um som conhecido, mas que a aborrecia. Mais do que isso, algo na sua mente lhe dizia que era um som perigoso. Mas ela estava cansada demais, e se deixou levar pelo sono. Então começou a sonhar. Em seu sonho via Mulder correndo, mas não em direção a ela. Mulder corria dela. Ela corria atrás dele, pedindo que esperasse por ela. Mas suas pernas não obedeciam. Ao mesmo tempo ela ouvia aquele barulho. Olhou em volta e entendeu de onde vinha o barulho. Eram abelhas, milhares delas. Todas vindo em sua direção. Então ela gritou para Mulder. Gritou o mais alto que pode. E ele se virou. Ela gritou que ele esperasse, que as abelhas estavam atrás dela. Então Mulder respondeu com voz calma "Elas não farão mal a você". Mesmo falando baixo ela o ouviu perfeitamente. E ele continuou repetindo. "Calma, elas não vão fazer mal a você". Repetia isso sem parar. Então notou que não era mais Mulder que estava falando com ela. Era Jeremiah Smith. Ela acordou assustada. E ficou mais assustada ainda com o que viu. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Mulder tinha decidido esquecer o assunto sobre clones e o seqüestro de sua parceira. Mas isso tinha se tornado difícil. Por mais que tentasse ele não conseguia se livrar do sentimento de culpa por estar abandonando o clone da Scully. Ele dizia a si mesmo que era somente um clone, que já teria até sido eliminado. Mas não adiantava. Ele se sentia o pior dos homens por fazer isso. Não discutia o assunto com Scully. Mass pressentia que ela sabia de algo. E se ela realmente soubesse que havia havido um clone no seu lugar? E que ela tinha sido mantida prisioneira por tanto tempo? Então era ainda pior, afinal ele estava abandonando sua parceira, mesmo que fosse um clone. Era a sua parceira até algumas semanas atrás. Deviam fazer um tratado de psicologia sobre isso. Ele mesmo com todo seu conhecimento da psique humana não conseguia colocar em ordem seus sentimentos em relação ao assunto. Mas, enfim, estava decidido a ir atrás do clone. Faria isso sem que a Scully soubesse. Era um risco grande, ir atrás do clone e ainda por cima não deixar Scully saber. Mas era melhor assim. Se descobrisse que ela estava morta se sentiria...... Como se sentiria???? Aliviado? Pela morte da pessoa que sempre esteve do lado dele? Que salvou sua vida tantas vezes?? Triste? Pela morte de um clone? Que foi colocado ao lado dele para vigiar seus passos? Realmente, Mulder não fazia idéia de como iria reagir. Talvez estivesse fazendo isso para si próprio. Para ficar em paz com a própria consciência. Foi nesse momento que ele viu que estava seguindo o raciocínio de um crápula. Ele estava sendo um crápula. Mas percebeu também que qualquer coisa que fizesse o faria um ser sem escrúpulos. Deixar o clone a sua própria sorte era a atitude esperada de uma pessoa como o Canceroso. Ir atrás do clone significava uma traição contra sua parceira. Afinal seria como afirmar que o clone tinha sido uma ótima parceira e ele precisava da verdadeira Scully e nem havia sentido sua falta. Mas o que o deixava mais triste consigo mesmo era o sentimento que estava tomando conta dele. O desejo de fazer com que o clone sumisse. Com que nunca tivesse existido. Mulder sentia que, se Scully estava do seu lado, então o clone podia ter o fim que fosse. Ele não precisava saber. Mas ele lutou contra isso. Resolveu ir atrás do clone. Quanto a Scully, ele depois decidiria como contar a ela. Agora tinha que descobrir como achar o clone. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Ver Jeremiah Smith era a última coisa que ela esperava. Tinha certeza que ele estava morto. Ou não estava? Ele estava falando com ela. Dizendo a ela que ficasse calma. Ela então perguntou onde estava. E de onde vinha aquele zunido de abelhas. -Elas estão lá fora. Não precisa se preocupar. Abelhas só atacam quando são provocadas. -O que eu estou fazendo aqui?? -Você foi trazida de volta para casa. Aqui é seu lar. Você vai se sentir melhor mais tarde e vai se lembrar de tudo. -Essa não é minha casa. Eu quero ir embora imediatamente. Preciso usar o telefone. -Não temos telefone aqui. Como eu já disse, descanse. Mais tarde vou responder a todas as suas perguntas. -Mesmo querendo ir embora, ela achou que a idéia de descansar não era tão má assim. E adormeceu quase imediatamente. Dessa vez não sonhou, apenas dormiu profundamente. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Mulder ligou para o escritório de Marita Covarrubias. Ele sabia que ela conseguiria descobrir algo sobre o clone. Ela foi um tanto quanto evasiva ao telefone, mas eles marcaram um encontro e poderiam falar com mais tranqüilidade. -Eu preciso saber algo. Acho que voccê poderia descobrir isso par mim. Se estiver disposta. -Eu sei o que o senhor procura Agente Mulder. Ela está a salvo. Esqueça que ela existiu. -Está viva? Está bem? -Sim, posso lhe garantir isso. -E como pode garantir? Você sabe onde ela está? -Eu já lhe mostrei coisas demais, e já dei informações demais. Informações que podem servir por muito tempo. Não tenho nada de novo a acrescentar Sr. Mulder. -Então e só isso? Ele mal teve tempo de fazer essa pergunta, e ela já estava indo embora. Não tinha sido de grande utilidade. Mulder lembrou das vezes que ela o tinha ajudado. Não muitas por sinal. Uma vez lhe conseguiu o passaporte para a Rússia. E da primeira vez que se viram, após a morte do Mr. X, ela tinha lhe mostrado que o que ele tinha visto era verdade. Que havia um campo onde.... Isso! O campo onde estavam os clones! Ela tinha dado aquela informação. E agora ela tinha lhe dito exatamente onde estava o clone. Foi fácil. Ele tinha sido estúpido em não ver isso. Mas ai se lembrou. Aquele campo não existia mais. Quando Marita Covarrubias lhe mostrara as fotos da colônia, o campo já não existia mais. E agora? Onde procurar? Talvez fosse uma idéia procurar todos os campos em que se criavam abelhas. Falando assim parecia fácil. Mas talvez a colônia não tenha se mudado para muito longe. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Finalmente, ela acordou. Estava se sentido muito melhor agora. Mas o zumbido das abelhas continuava. Resolveu tentar abrir a porta. Tinha certeza que estava trancada. Mas resolveu arriscar assim mesmo. Ficou surpresa ao verificar que a porta estava aberta. Saiu da casa e percebeu porque eles não tinham medo que ela fugisse. Eles estavam no meio do nada. Um enorme campo. Haviam algumas plantações, e uma enorme estufa. E, e claro, as abelhas. Estavam por toda parte. Mas não chegavam perto dela. Ela decidiu que era melhor nem ao menos abanar as mãos, lembrando-se do que Jeremiah tinha dito a ela. Ela resolveu fazer uma exploração. A idéia era seguir com calma pelo campo até estar longe o bastante e correr. Correr sem parar. Até encontrar um ser humano normal que a levasse de volta para Washington. E foi o que ela fez, seguiu andando calmamente. Mas antes mesmo de conseguir uma boa distancia, ela ouviu uma voz. -Vejo que acordou disposta a caminhar. Não era Jeremiah Smith. Era um homem desconhecido. -Eu estou disposta a voltar para casa se não se importa. Acho que sabe que sou uma agente do FBI e que seqüestro é um crime federal. -Dana, nos precisamos conversar exatamente sobre quem você é. -Então sabe meu nome. Está em vantagem em relação a mim. -Nomes não são importantes. Mas me chame de John se quiser. Ele parecia uma pessoa muito calma. Se isso era um seqüestro então os seqüestradores eram ótimas pessoas. Esse pensamento a fez sorrir. -Então, John, me diga, o que eu estou fazendo aqui? Porque estão me mantendo prisioneira? -Você não é prisioneira. Essa é a sua casa. Você somente voltou para casa. Não se lembra agora, mas com certeza vai se lembrar. -Escute eu não sei quais são as intenções de vocês, mas nesse momento meu parceiro está a minha procura, e com certeza o FBI inteiro também, então vamos fazer o seguinte, vocês me deixam ir embora e eu não falo nada sobre a existência desse local. O que acha? -Parece ser uma ótima oferta, Dana, mas não acho que seja necessário. Seu parceiro não está procurando por você. A verdadeira Dana Scully está ao lado dele nesse momento. Não há motivo para ele procurar por você. Veja, talvez você não se lembre, mas você é um clone, uma copia fiel da verdadeira Scully. -E quer que eu acredite nisso? Ok, eu acredito, agora posso ir embora? -Pode ir onde quiser, mas não saia da propriedade. Ele a deixou sem dizer mais nada. Ela tinha ouvido aquele absurdo e tinha até mesmo rido do que ele disse. Mas isso foi a mesma coisa que Mulder tinha lhe dito algumas semanas atrás. Ela não podia acreditar que Mulder iria aceitar o fato dela ter desaparecido. Mesmo que ele tivesse com aquela idéia absurda de que ela era um clone. Não ele não a abandonaria. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Ele visitou quinze apiculturas. Em cada uma delas teve que se passar por interessado no comercio de mel. Já estava enjoado de provar mel de abelhas. E a busca parecia infrutífera. Mas ele sentia que não podia parar. Já estava decidido a prosseguir quando o celular tocou. Era Scully. -Mulder pode me dizer onde está? E o que está fazendo? -Na verdade estou atendendo a um pedido de um amigo. Ele pediu que eu desse uma olhada em um possível uso de seres humanos como escravos. De onde ele tirou essa? Sua mente às vezes o deixava boquiaberto. Era a pior mentira que alguém já tinha inventado. -Mulder, sinto muito interromper essa sua investigação, mas Skinner quer falar conosco ainda hoje. -Sim, Scully, eu encontro com você na sala do Skinner, às 3:00 ok? -Ok, espero você então. Às três horas ele estava lá. Skinner recebeu os dois e explicou a eles o novo caso em que teriam que trabalhar. Mulder não gostou muito de ser afastado de sua investigação, mas a garantia de que o clone estava bem o deixou tranqüilo, e trabalhar em um novo caso deixaria Scully menos desconfiada. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Os dias passavam e ela já começava a perder as esperanças de que Mulder a encontraria. Talvez John estivesse certo. Mulder não precisava mais dela. Ela era somente um clone. Ela não valia muito, afinal clones podem ser refeitos. Isso a estava deixando deprimida. Ela já não estava confiando em Mulder. Ele realmente a havia abandonado. Tempo demais tinha se passado desde o dia do seqüestro. Tempo demais. Será que havia sido assim que a verdadeira Scully havia se sentido enquanto estava sendo mantida como prisioneira? Será que ela chegou a perder a confiança nele? Será que ela começou a odiá-lo? Oh, Deus, agora ela já estava realmente achando que era um clone. Tinha que afastar esses pensamentos. Era exatamente o que eles queriam, que ela acreditasse que era um clone, que ela perdesse a esperança. Queriam afastá-la de Mulder. Deixá-lo sem ninguém em que confiar. Mas o fato principal permanecia. Porque até agora ele não a tinha encontrado? E novamente ela respondia a sua própria pergunta. Porque ele não queria. E ele não queria porque ela era um clone. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx O caso que Skinner passou para eles tomou mais tempo e energia do que imaginavam. O confronto final com o assassino tinha sido uma batalha a céu aberto. Dois policiais morreram durante o tiroteio. E Mulder viu sua parceira ser atingida por um estilhaço. Não foi nada grave. Mas ele ficou assustado. Ultimamente tinha aquela idéia fixa de achar o clone. E agora percebia que estava deixando Scully de lado. Ele se sentiu culpado por isso. Não podia fazer isso com ela, que já tinha sofrido tanto. O seqüestro por si só já tinha sido uma experiência terrível, mas acordar e não se lembrar que o pai e a irmã morreram não deve ter sido muito agradável também. E mesmo sabendo disso lá estava ele. Procurando pelo clone dela. Pelo ser que tinha lhe roubado esses anos. Pelo ser que tinha tido a audácia de sentir a tristeza das mortes de seus parentes no lugar dela. Ele não podia abandona-la duas vezes. Ele a abandonou quando recebeu de volta o clone. Ele não sabia que era um clone. Mas agora ele a estava abandonando para ir em busca do clone que ele sabia muito bem o que era. Esse abandono ainda era pior que o primeiro. Não foi difícil decidir o que fazer. Se tendo que escolher entre a Scully ferida a sua frente ou a falsa Scully que estava bem e com saúde em algum lugar, então ele escolhia a primeira. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Já tinha se passado muito tempo desde seu seqüestro. Agora ela já estava realmente convencida de que Mulder não estava procurando por ela. A princípio essa certeza a fazia triste. Mas agora ela estava mais do que decepcionada com ele. Ela estava zangada. Não a maltratavam ali, mas ele não tinha como saber disso não? Como ele podia ter feito isso? Ela nunca imaginou que Mulder a abandonaria. Mas já haviam se passado mais de cinco meses, pelo que ela pode contar. Era tempo demais. A vida não era ruim no campo. Ela tinha toda a liberdade, não podendo somente sair da propriedade. Nos primeiros meses ela tentava fugir sempre. Mas agora já não tentava mais. Sabia que não havia nada para ela lá fora. Sua família nem ao menos sabia que ela havia desaparecido. Sua família. Ela ainda ficava confusa com isso. Seria ela realmente um clone? Ou estavam fazendo uma espécie de lavagem cerebral nela? Para convencê-la de que era um clone. Então o clone estaria lá, com Mulder. E com a família dela. Usando as roupas dela, Indo para o trabalho no carro dela. Ela se sentiu como se tivesse sendo roubada. Mas pensou, que se ela era um clone então ela própria era quem havia roubado a vida de outra pessoa, usufruido da vida da verdadeira Dana Scully. Era tudo muito confuso. Ela nunca imaginou que ia ter dúvidas sobre si mesma. Mas estava tendo. Tinha dias em que ela tinha certeza de que era um clone. Dias em que sentia em casa, e em que tinha lembranças de um passado que não era o seu. Essas lembranças eram mais vívidas, mais reais que as de sua família, de sua infância. Os dias em que sabia que era um clone, ou os dias em que achava que estava sofrendo lavagem cerebral, tinham alguma coisa em comum. A raiva que estava sentindo porque Mulder não vinha buscá-la. Ora, se ela não era um clone, Mulder não tinha o direito de abandoná-la. E se ela era um clone, isso não era motivo suficiente para ele desistir de salvá-la. Em pouco tempo a raiva que ela estava sentindo cresceu. Ela estava começando a odiá-lo. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Mulder já tinha desistido de procurar pelo clone. Ver sua parceira ferida, por menor que fossem os ferimentos, o tinham feito pensar muito. E ele tomou sua decisão. Iria prosseguir seu caminho sem olhar para trás. Mulder já estava realmente convencido disso, mas teve um encontro com Marita. Ela lhe disse que sabia onde estava o clone. E lhe deu todos os elementos para achá-la. Agora cabia a ele a decisão. Enquanto era impossível encontrá-la ele não teve problemas. Apenas disse a si mesmo que não seria possível achá-la e que sua parceira precisava dele ali. Mas agora a situação era diferente. Ele sabia onde o clone estava. Tinha que ir até lá. Tinha ao menos que vê-la. Nem que fosse pela última vez. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Ela ouviu um zumbido. Mas não era das abelhas. Era um barulho forte. Fazia tempo que não ouvia o barulho de um automóvel. Ela se virou para ver o carro. Era um carro muito conhecido. Ela e Mulder costumavam alugar sempre um parecido. Um Ford Taurus. Ela sentiu como se fosse desmaiar. Tinha esperado tanto tempo que ele viesse a procura dela. Depois havia perdido as esperanças e começado a não desejar vê-lo nunca mais. Mas agora lá estava ele. Como ela reagiria estando frente a frente com ele? O que diria? E o que ele diria? Como se explicaria a ela por ter deixado passar tanto tempo? Só havia um meio de descobrir, e era indo de encontro a ele. Naquela hora do dia não havia muitos integrantes da colônia por perto. E ela achava que eles nem notaram a chegada do carro. Ela foi na direção do automóvel. O carro parou e Mulder desceu. Ela parou em frente a ele. Os dois se olharam por algum tempo. Nenhuma palavra foi trocada. Ele não conseguia colocar os pensamentos em ordem. Ela estava diferente. Não exatamente fisicamente, mas havia algo nela, no olhar dela que ele nunca tinha visto. Ela olhou para ele sem sentir nada do que achava que sentiria. Nem mesmo a raiva que acumulou. Mulder rompeu o silencio. -Ela voltou. -Sim, eu soube. Você conseguiu o que queria Mulder. -Não, eu não queria isso. Eu não busquei isso. Eles fizeram isso a nós. Eles nos usaram. -Agora isso não importa mais. O que importava era como você reagiria ao que eles fizeram. Você tinha a escolha. Você não quis escolher. -Scully escute.. -Não me chame de Scully. Me chame de qualquer coisa, ou nem me chame. -Dana, eu não tive escolha. Eu não podia.... -Você não podia? Você tinha a escolha nas suas mãos.!! Ela estava furiosa. Tão furiosa que começou a chorar. Não era uma coisa que gostasse de fazer, mas a raiva acumulada nesses meses a tinha deixado despreparada para o que seria o encontro real com ele. Com emoções reais vindo a tona. -E sabe o que você escolheu Mulder? Você escolheu virar as costas. Fingir que eu não existo. Não importa o que eu seja eu existo. Você entende isso?? Você entende que fui eu que salvei sua vida tantas vezes? Que fui eu que sofri de câncer por causa das suas crenças? Que fui eu que senti a perda de pessoas queridas? Você percebe que a verdadeira Scully estava em um lugar como esse, descansando enquanto eu sofria no lugar dela??? -Eu sei tudo isso. Eu sei e me reprovo por tudo isso. Mas como você quer que eu abandone minha parceira? Eu já abandonei uma vez. Quando ela foi seqüestrada e mantida aqui, ou seja lá onde for, eu recebi você de volta, mas ela ficou sozinha, não durante meses, mas durante anos. Você roubou todos esses anos dela. E isso que você precisa entender. -Eu roubei os anos dela? Eu sou tão vitima quanto ela, Mulder! Olhe para mim! Eu estive do seu lado, eu salvei sua vida, não uma, mas muitas vezes. Você confiava em MIM! Eu! Você consegue ver essa diferença? Consegue distinguir entre a pessoa que está do seu lado agora e eu? Não vê que a confiança que você tinha em mim foi adquirida com a experiência? Ela não teve a experiência. Ela não caçou os loucos que nos dois caçamos. -Ela tem essas memórias. -Pergunte a ela Mulder! Pergunte a ela se ela tem o sentimento dessas memórias. Eu tenho certeza que ela não tem. Eu sei que ela não sente nada quando lembra de você apontando uma arma pra ela, naquele quarto de hospital. Ela se lembra. Mas não sente nada. Ela é pior que eu, ela é somente uma copia de mim, com minhas memórias mas sem o que eu sinto. -Ela é real!! -Real? E eu não seria real? Porque você acha que eu sou parecida com ela, Mulder? Eu tenho a mesma linha de DNA dela. Eu não sou ela, mas eu venho dela. A diferença? Eu tenho os sentimentos e a memória e ela somente tem a memória. -E a alma? Quem tem a alma? -Alma? Vindo de você isso fica estranho, ou será que você só usa argumentos religiosos quando é conveniente? É isso? Pois bem, respondendo sua pergunta, eu tenho alma sim, e tenho certeza que ela também tem. -Mas você não é ela. -E nem ela sou eu. -O que você quer que eu faça??? Me diga! Quer que eu traga ela pra cá e leve você comigo? -Não. Eu só quero que você vá embora. Eu estava com muita raiva de você. Mas agora eu não sei mais o que eu sinto. Você está sendo uma decepção pra mim. Espero que não seja pra sua parceira. Ela virou as costas e foi embora. Ele entrou no carro, deu a partida e não olhou para trás. Não importava o que ela tinha dito. Mulder não podia fazer escolhas. Escolhas demais já tinham sido feitas, e todas desastrosas. Ele não ia cometer esse erro. Ela seguiu para a casa. A sua casa. Ela sabia agora que não pertencia a outro lugar. Era essa a sua casa. Era aqui que ela tinha alcançado a paz que tanto ansiava. Mulder voltou para Washington. Não iria contar nada do que tinha acontecido para Scully. Ela não merecia saber. Ele já tinha sido um lixo com a outra Scully. Ele sabia que o que ela tinha dito era verdade. Ele sabia e se sentia mal com isso. Mas não havia escolha a fazer. Ele tinha que aceitar a situação como ela foi apresentada a ele. Não havia saída possível. A dor e a culpa iria sempre persegui-lo, mas não havia como escapar disso. E dor e culpa sempre estiveram ao lado dele. Ele podia conviver com isso. Mulder dizia tudo isso a si mesmo com pouca convicção. Ele estava errado. Sabia que estava errado. Sentia em todo o seu corpo que estava errado. Era o clone a sua verdadeira parceira. E Scully que estava trabalhando com ele agora não significava a mesma coisa para ele. Mulder fez o trajeto até a cidade chorando. Chorando por ter tido tantas oportunidades de resolver tudo, bastava que ele tivesse notado desde o inicio. Chorando porque ele havia abandonado Scully não somente uma vez, mas muitas, e estava fazendo isso novamente. Mesmo que ela não fosse a verdadeira. Chorando porque no trajeto até a cidade ele estava deixando para trás anos de amizade verdadeira. E chorando, principalmente, porque não havia nada que ele pudesse fazer quanto a isso. E enfim ele entendeu o telefonema. Sua parceira nunca voltou e não voltaria nunca mais. Fim