Título: Ecos do Passado Autora: Claudia Modell E-mail: cmodell@hotmail.com Categoria: MOTW Sumário: Uma voz do passado, através de um antigo aparelho telefônico, traz de volta um mistério nunca resolvido. Notas: Não espere que essa fic seja cheia de tristeza e angústia. Nem espere que ela seja cômica. Nem é cômica. É só uma fic normal, como foram alguns episódios. Um Monstro da Semana:) Não é shipper, mas também não é noromo. Notas (2): Nada de notas enormes, explicando o funcionamento dos telefones, fiquem tranqüilos. Tomei algumas liberdades, mas acho que ninguém vai notar. Se alguém notar me mande um mail. Aliás, como essa fic tem uma trama bem intrincada, eu adoraria saber em que momento o leitor descobriu quem era o culpado. (Ok, isso é uma tática nova prá conseguir feedback, mas vocês vão se divertir com isso.) Feedback: Claro!!! Ecos do Passado Não eram ainda nove horas da manhã e Mary Arson já sabia que jamais conseguiria terminar seu trabalho no prazo pedido por seu chefe. Ao entrar no escritório, notou que todos a olhavam, já prevendo o que ocorreria ao final do dia. Sua cabeça iria rolar e todos agradeceriam que não era com eles que estava acontecendo. Ela não os recriminava, no entanto. Mary daria tudo para ser um deles, naquele momento. Assim que entrou no escritório, correu para sua mesa. Se era para ela perder a guerra, ao menos ninguém diria que ela não havia lutado bem sua última batalha. Pelo menos, não o canalha do seu chefe. O homem era arrogante, prepotente, e incompetente. Todos sabiam disso, mas ele era um puxa saco de marca maior e sua posição na enorme empresa telefônica era inabalável, já que ele era sócio da companhia. O prazo que ele dera para que ela apresentasse o relatório de estatística de uso de linhas nos últimos 55 anos, havia sido ridículo. O relatório havia sido pedido pela presidência da empresa, mas o Sr. Pilgrim não se preocupara com o prazo exíguo. Parecia que ele queria que ela não conseguisse entregar em tempo. Estava cada vez mais claro, tanto para Mary, como para seus colegas, que o Sr. Pilgrim já tinha alguém pata tomar seu lugar e somente estava dando uma desculpa para desocupar a vaga. Mary tentou deixar de lado seus pensamentos e tendências homicidas em relação a seu chefe e começou a trabalhar em sua derradeira e inútil missão. A manhã passou voando e a tarde teve o mesmo destino. Já eram quase seis horas e faltavam ainda mais de vinte páginas para serem analisadas e os dados digitados, quando o Sr. Pilgrim surgiu ao lado dela, e, como um abutre que aguarda a morte de sua refeição, ele ficou, silenciosamente, observando sua subalterna. Era algo que jamais fizera, ficar ali, observando seu serviço atentamente. Na verdade, eles nunca estiveram na mesma sala por mais de dez minutos, e certamente não havia sido na sala dela. Ela sentiu a presença dele e estava na dúvida se ela a estava observando ou se sua atenção era dirigida ao velho aparelho telefônico, uma relíquia dos anos quarenta, que ela ganhara de um colega de trabalho dois anos antes. Por alguns minutos, ela se preocupou menos com seu emprego e mais com o telefone. E se seu chefe cismasse dizendo que o aparelho não lhe pertencia? Ele poderia contar com uma briga enorme, pensou Mary. Suas mãos tremiam, somente ao imaginar o chefe tendo a ousadia de lhe dizer aquilo, e ela imaginava quantas verdades lhe diria, se ele se atrevesse a tanto. De repente, um som arrancou Mary de seus pensamentos e fez com que seu chefe desse um passo para trás. Um toque, dois toques, e outros em seguida. O som do telefone era quase fantasmagórico. Era mais alto e estridente do que os telefones atuais. Era um som do passado. "Não vai atender essa geringonça?" "Ele não está conectado, Sr. Pilgrim." A reposta pareceu ter servido não somente para o Sr. Pilgrim, como para o próprio telefone. O silêncio imperou por alguns instantes. Mary estava tensa, não conseguia tirar os olhos do aparelho. Estranhamente, no entanto, seu nervosismo não era porque era impossível o telefone ter tocado. O que ela queria mesmo saber era quem poderia ter ligado. Aparentemente, essa pergunta não era uma exclusividade sua. "Quem...quem você acha que era?" Antes que ela gritasse na cara dele que ela não tinha como saber, o telefone tocou de novo. Mas, dessa vez, os dois saltaram para atender. Apesar de lutarem para tentar pegar o aparelho, os dois conseguiram ouvir uma voz do outro lado. Era uma mulher, que chorava. "Ele quer me matar! Me tire daqui, por favor. Ele vai me matar. Você prometeu!" O Sr. Pilgrim, apesar do absurdo da situação, perguntou. "Quem é você?" "Claire! Claire Melbourne. Você prometeu! Chame a polícia, por favor!" A mulher do outro lado chorava sem parar. Não era um trote, Mary tinha certeza. Não era nem ao menos uma ligação! O telefone sequer estava conectado. Mary checava isso a cada instante, quase como se estivesse achando que estava ficando louca. Então, de repente, não havia mais nenhum som do outro lado da linha. O telefone ficou em silêncio pelas horas seguintes, tendo como fiéis observadores Mary e seu chefe. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Ecos do Passado Parte 2 "Hey, Scully! Chegou cedo." Mulder entrou fazendo seu estardalhaço habitual. Scully se surpreendeu ao vê-lo chegar àquela hora. Não estavam trabalhando em nenhum caso e ele poderia ter dormido um pouco mais. E ela teria podido aproveitar aqueles instantes de silêncio e calma dos quais necessitava para terminar os chatíssimos relatórios de despesas. Mas ele, provavelmente, pensava que ela não agüentaria uns minutos sem sua presença. "E você chegou alegre demais. O que houve?" Não tinha como ele escapar dela. Scully parecia sempre saber o que se passava em sua mente. Mulder fez uma nota mental para tentar esconder melhor o que pensava, mas ele sabia que esse poder era uma exclusividade feminina. "Nada. Mais um dia, mais um dólar. Só isso." Ele tentou disfarçar. Logicamente ele tinha um caso maravilhoso que queria começar a investigar o mais rápido possível, mas para isso ele teria que seguir as regras do jogo que ele e Scully haviam criado e aperfeiçoado durante tantos anos. "Mulder, por favor, acabe logo com isso. Diga logo prá onde nós vamos viajar, qual é o caso e qual é a sua teoria, assim eu posso fazer a minha parte, ok?" "Humm, e a sua parte é dizer que não é um arquivo X e que existe uma explicação científica perfeita, certo?" "Ah, então existe um caso!" "Existe. Nós não vamos viajar. Uma amiga de um amigo de um conhecido do meu jornaleiro pediu para dar uma olhadinha em um mistério que aconteceu ontem." Mulder estava agindo daquela forma deliberadamente, ela tinha certeza. Toda aquela confusão era somente para distraí-la de algum caso absurdo. Ela achava engraçados os métodos que ele tentava usar para que ela não questionasse o caso antes que eles estivesse, realmente, trabalhando nele. Quase nunca esses métodos funcionavam, mas também era raro ela não seguí-lo. "Mulder! Por favor! São oito horas da manhã, e eu não sou uma pessoa matutina. Então não enrola mais do que o necessário, ok?" "Meu Deus, que humor! Ok, lá vou eu. Fiquei sabendo desse caso, hummm, do jeito que já te disse. Bom, dois funcionários de uma empresa telefônica receberam um telefonema de uma tal Claire Melbourne que alegava que queriam matá-la." "E isso é um arquivo X? Chamaram a polícia?" "Sim, para as duas perguntas. Chamaram a polícia e descobriram que Claire Melbourne foi assassinada, em sua própria casa. Houve arrombamento. Ela foi enforcada com o fio do telefone. Nunca descobriram o assassino." "Isso é terrível. Mas qual é o arquivo x?" "O telefone não estava conectado." "Mulder, prá matar alguém com o fio do telefone, ele não precisa estar conectado." Ela estava se divertindo às custas dele, isso era óbvio. Era algo com que ele podia lidar, desde que eles investigassem o caso. "Se, somente se, você me deixasse terminar...." "Ok! Vá em frente, mostrem o grande mistério!" Scully disse isso segurando o riso, mas seu meio sorriso era bastante irônico para passar despercebido. Mulder também conhecia essa jogada e também fez sua parte. "Não me tente..." "Ha, Ha" "Ok, o telefone que os funcionários atenderam é que não estava conectado." "Será que não era um celular, Mulder? Sabe, telefones celulares não precisam de fios." Ela não resistiu. Lembrava-se de uma certa vez em que ela fizera uma pergunta a ele sobre uma boneca que falava e ele lhe perguntou com ironia se ela tinha checado a cordinha atrás. Vingança era uma coisa maravilhosa, ela pensou, deixando transparecer um sorriso de triunfo. "Scully, seu senso de humor é terrível e nada sexy." "Não tinha intenção de ser. Continue, Mulder." "Bom, como eu já disse, o telefone que eles atenderam, que não era um celular, não estava conectado a nenhuma linha. E, prá piorar a sua situação, Agente Scully, Claire Melbourne morreu em 1947, como eu já disse, enforcada com o fio de telefone. Ah, esqueci de mencionar, o aparelho com o qual ela foi assassinada é do mesmo ano, ou década, que o aparelho que aparelho que recebeu a ligação." "Deixa ver se eu entendi. Você acha que a morta ligou do passado pro futuro prá conseguir ajuda? Quando acho que já ouvi todas as teorias absurdas possíveis, você me desafia com mais uma." "Meu prazer é te manter sempre desafiada." "Já notei isso. Ok, Mulder. Então nossa agenda prá hoje qual é? Cobrar a chamada de longa distância dos herdeiros de Claire Melbourne?" "Continue assim e você vai ficar solteira." "Eu já sou." "Tá vendo?" Pronto, o jogo havia terminado, e, como sempre ele vencera. Bem, ao menos Mulder achava que vencera, mas no fundo ele tinha a impressão de que era ela quem sempre saía vencedora. Uma questão de ponto de vista, claro. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Ecos do Passado Parte 3 Ao contrário do que pensara, Mary continuava em seu emprego. Era óbvio, para ela, que seu patrão estava interessado no telefone dela. Esse pensamento a fez sorrir. Normalmente, se diria que o chefe estaria interessado nas pernas dela, ou algo assim. Mas suas pernas não eram tão interessantes quanto o aparelho telefônico, com um disco enorme e que pesava uma tonelada. Mary o manteve em sua mesa, apesar da insistência do Sr. Pilgrim para guardá-lo no cofre. Ele tinha medo que o roubassem, afinal, àquela altura toda a empresa já sabia da estranha ligação. Mas, pelo que ela pôde notar, todos tinham pavor do estranho aparelho. O pessoal da limpeza sequer tirava o lixo de sua lixeira, temendo que o telefone tocasse. Os colegas de trabalho evitavam conversar com Mary, ao menos, não enquanto ela estivesse em seu cubículo. Mas o fato era que o telefone estava tão mudo como estivera durante anos e Mary começava a achar que seus dias de glória haviam, enfim, terminado. Aparentemente, no entanto, não era isso que pensava o Sr. Pilgrim. Quando Mary menos esperava, ele surgiu ao seu lado, trazendo consigo companhia. Federais, ela pensou. Porque agentes federais parecem sempre agentes federais? Ela sempre se perguntou isso, mas vendo os rostos carrancudos do homem e da mulher ao lado de seu chefe, ela decidiu guardar a pergunta para si. Já havia desafiado demais sua sorte. "Mary, esses são os agentes Mulder e Scully, do FBI." "O FBI? Porquê?" "Eu também não sei, mas alguém resolveu chamá-los." Seu patrão parecia realmente contrariado. Era óbvio que ele não queria o FBI se envolvendo na empresa, mas não podia deixar de colaborar. "Mostre o telefone para eles, por favor." Mary sequer respondeu. O telefone estava onde sempre estivera e sua aparência era tão óbvia que Mary questionou a sanidade de seu chefe. Entretanto, já que não podia dizer-lhe o que pensava, ela se levantou e, quase em um gesto teatral, apontou para o misterioso aparelho. Uma pena a falta de trilha sonora e efeitos especiais. Poderia ter sido uma ótima cena para algum filme de ficção científica. A linha de pensamento de Mary estava em perfeita sintonia com a da Agente Scully, somente que, para Scully, o filme seria uma ótima comédia. As duas mulheres se olharam, quase como se soubessem o que cada uma pensava. Quanto a Mulder e o Sr. Pilgrim, pareciam estar olhando para um ser de outro planeta. Mary já tinha se acostumado com o olhar atônito, quase apavorado, que seu chefe dirigia ao velho telefone. Scully, por sua vez, já conhecia o olhar de Mulder quando encontrava algo diferente, inexplicável. O problema mesmo era que, naquele momento, os dois homens olhavam, boquiabertos, um simples e antigo telefone. A cena seria cômica e tanto Mary quanto Scully ririam bastante se não tivessem, cada uma, que mostrar um certo respeito pelos dois homens. Mary porque precisava do emprego. Scully porque não suportaria o mal humor de seu parceiro. Depois de alguns instantes, Scully se cansou de toda aquela admiração e, com um gesto, chamou Mary para que conversassem. Mary contou-lhe, de forma rápida, o que havia ocorrido. Mas não deixou de dar nenhum detalhe. "Essa Claire Melbourne...Ela morreu mesmo, não foi?" "Sim, há muitos anos. Foi enforcada com um fio de telefone." "Meu Deus. Agente Scully, não foi o mesmo aparelho, não é?" "Não sei. Onde o conseguiu, Mary?" "Um dos técnicos, Sr. Richardson. Quando ele se aposentou me deu de presente. Era um homem muito agradável." "Era? Ele morreu?" "Sim. Semana passada. Tinha câncer no fígado." "Ele era casado? Tinha filhos?" "Não sei muito a respeito. Acho que tinha uma filha, que não morou com ele." "Então vai ser difícil descobrir de onde surgiu esse telefone." "Não. Na verdade não é tão difícil. Veja, essa empresa, existe há muitos anos. O nome mudou, há quatro anos, antes ela se chamava TelDC e o Sr. Pilgrim era o dono, agora ele é sócio majoritário. Na verdade, tudo foi reestruturado. O Sr. Richardson sempre trabalhou para a empresa. Ele trouxe o aparelho com ele." "Acha que é possível eu conseguir uma lista com os funcionários antes da mudança na empresa?" "Claro. Todos os empregados da TelDC foram avaliados por nós. Eu vejo com o departamento de recursos humanos. Mas deve demorar um pouco." "Eu agradeço, Mary." "Não tem de que. Prefiro fazer algo mais concreto do que esperar aquela coisa tocar." Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx E esperar que aquela coisa tocasse era exatamente o que Mulder ainda estava fazendo. Havia convencido Mary de que o telefone estaria em boas mãos se ficasse com ele. Mulder parecia uma criança com um brinquedo novo, e Scully acreditava que, dessa vez ela faria todo o trabalho investigativo sozinha. Já tinha até mesmo se conformado e começado a aceitar as possibilidades extremas. Mas seu interesse não era descobrir porque o telefone tocara, ou como. E sim saber o que Claire estava tentando dizer quando morreu. Não era tão difícil para Scully aceitar a possibilidade de uma pessoa morta tentar se comunicar com os vivos, através de um telefone. Já havia ocorrido com ela uma vez e ela não havia, sequer, questionado sua própria sanidade. Se havia feito vista grossa para si mesma no passado, poderia fazê- lo de novo. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Scully estava examinando, de novo, a lista dos empregados da empresa TelDC, antes da reformulação. De alguns nomes, já havia conseguido ter algumas notícias. Eram, ao todo, 115 empregados, dos quais 22 já haviam morrido. O que deixava um número terrível para interrogatório. Além disso, ela se sentia tôla em perguntar a 83 pessoas sobre um aparelho telefônico surgido do nada. E o pior estava por vir. Muitas daquelas pessoas sequer moravam mais em Washington. Como eles iriam justificar tantas viagens, era a grande pergunta. Seu entusiasmo inicial já começava a dar sinais de esmorecimento. Ela entrou, desanimadamente, no escritório, achando que Mulder já estaria lá. Mas se enganara. No entanto, o telefone preto estava depositado silenciosamente, claro, sobre a mesa dele. Isso sim, era um arquivo X. Teria Mulder se cansado de brincar com o telefone? Quase como se ouvisse sua pergunta, Mulder entrou abruptamente na sala. "Ele tocou?" "Mulder, o que houve?" "Não tocou, não é?" Ela teve o desejo cruel de dizer que havia tocado, mas que ela tinha ficado com medo de atender. Conteve seu impulso diabólico, no entanto. "Não que eu tenha ouvido. Mulder, você fica estranho sem o telefone embaixo do braço. Parece nú sem ele, na verdade." "Gostou da visão?" "Mulder..." Scully disse o nome dele em um leve tom de ameaça. "Eu estive pensando, sabe Scully?" "Em que? Em procurar um grupo de apoio a viciados em telefone?" "Não. Eu sou viciado em celulares." "E mesmo assim é tão cruel com eles." "Faz tempo que eu não preciso substituir um celular." "É verdade, Mulder. Agora me diga, o que você estava pensando?" "Acho que nós estamos preocupados demais sobre quem fez a ligação. Quero dizer, nós já sabemos quem foi. Já sabemos como ela morreu." "Certo." "Essa mulher morreu tentando pedir ajuda. Acho que a gente devia descobrir para quem ela pediu ajuda." "Porque acha que ela realmente ligou para alguém, Mulder?" "Ela foi morta com o fio do telefone. O assassino usou a primeira arma disponível. O telefone." "Concordo." "Scully, eu sei que você vai achar que eu sou maluco...." "Eu já acho. Vá em frente." "Hummm, é que, bem....É que eu acho que Mary e o Sr. Pilgrim atenderam uma ligação que nunca aconteceu, mas que na verdade aconteceu, me entende?" "Não." "Vamos só supor o seguinte. Claire liga para alguém, pedindo ajuda, mas não tem ninguém do outro lado da linha." "Porque você acha que não tinha ninguém?" "Não sei. Tudo o que eu ouço nesse telefone é um eco. Esse eco parece ser a solução do problema." "Mulder, o que nós precisamos fazer, de verdade, é deixar esse caso parado um dia ou dois. Não é como se a gente estivesse atrás de um assassino em série." "Tem razão. Eu nem agüento mais olhar para esse telefone. Se importa de levá-lo com você?" "Mulder, e se essa coisa tocar?" "Você atende. É só dizer alô." "Eu levo, mas se ele tocar eu corro." "Contanto que você não dê um tiro nele." "Eu não atiro em objetos indefesos." "Ah! Sei. Eu lembro disso!" Mulder levantou a mão em direção ao ombro, ferido anos antes. Ela entendeu a insinuação. "Você não é um objeto, e muito menos indefeso, Mulder." "É o que você pensa." Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Era terrível para Scully ver seu parceiro quando ele estava naquele estágio das investigações. Quando a resposta para o mistério, qualquer que fosse, se recusava a aparecer, mas ficava acenando em algum ponto distante. Ela sabia que faltava pouco para que ele, finalmente, achasse o que estava procurando. Nada do que ele havia dito fazia muito sentido, ela sabia, mas o próprio caso não fazia o menor sentido. Para quem Claire havia ligado? Porque a ligação não constava dos relatórios das investigações realizadas? Mesmo que a ligação jamais tivesse sido registrada, a pessoa para quem ela havia telefonado teria aparecido para falar a respeito. No entanto, ninguém jamais aparecera. Era como uma ligação que caiu no vazio. E se o telefone estivesse com defeito? Não, isso teria sido descoberto nas investigações. ((ir para pagina 15) ((((Continuação)))) A não ser que tivesse sido alguém da TelDC. Com certeza, a pessoa esconderia os dados da polícia. Scully se animou com essa perspectiva e decidiu chamar seu parceiro. "Mulder?" "O que foi? Ele tocou?" Mulder parecia mais agitado que o normal. Isso estava, realmente, mexendo com ele. "Não, não tocou. Você está muito nervoso com isso." "Você me liga às três da manhã e quer que eu pense o que?" "Desculpa, Mulder, não tinha percebido que o tempo tinha passado tão rápido. É que eu também estive pensando." "Vá em frete." "Ela não conseguiu falar com ninguém no telefone. A Claire, quero dizer." "Sei." "Talvez alguém da TelDC tenha provocado um defeito, ou talvez ela tenha ligado para alguém e esconderam os dados da polícia." "Qualquer um poderia ter causado um defeito, se é que houve um. Porque tem tanta certeza de que foi alguém da companhia telefônica? "Não sei. Intuição, sei lá." "O que eu não consigo entender mesmo é porque o telefone nunca tocou nesses anos todos. Se ele tem algo de sobrenatural, então deveria ter tocado alguma outra vez." "Vai ver a pessoa certa para ouvir a ligação não estava lá." "Acha que Mary é a pessoa certa?" "Não sei, Mulder. Talvez." "Mas ela já tem o telefone há algum tempo e ele nunca tocou." "É, eu sei. Acho que a gente deveria conversar com Mary novamente, para saber no que aquele dia foi diferente dos outros." "Então a gente se fala amanhã, Scully." Ela se sentia tôla, nesse caso Havia, praticamente, aceitado a teoria do fantasma que pedia ajuda, e ela, sequer, tinha ouvido o bendito telefone tocar. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Eram oito da manhã e Mary estava pronta para ir trabalhar. Desde a história do telefone, ela estava mais tranqüila quanto a seu emprego. Assim, sentindo-se totalmente segura, Mary entrou em seu local de trabalho, cumprimentando, rapidamente, seus colegas e sequer notou o Sr. Pilgrim vindo, lentamente, em sua direção. Se tivesse notado, compararia seu olhar com o de uma cobra, pronta a atacar sua presa. Mesmo que tivesse notado, nada poderia fazer a respeito. Quando ele, finalmente, chegou perto dela, mal disse bom dia. "Srta. Arson, não tenho boas notícias. A empresa não precisa mais de seus serviços. Pode ir para casa." Eram nove horas em ponto, quando a cobra deu o bote fatal. Dois minutos depois, ela seguiu, de modo perfeitamente natural, para sua sala e começou a arrumar suas coisas, não querendo deixar transparecer qualquer sentimento. Tudo o que ela queria era sair dali o mais rápido possível, não sem antes perpetrar sua última vingança. Sem que ninguém notasse, Mary apagou, do computador, todos os vestígios do relatório que vinha fazendo. Em seguida, pegou o que já havia impresso e saiu sem dizer nada. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx ((((Continuação)))) Scully ouviu a campanhia estridente tocando ao longe. Era seu despertador. Que horas seriam? Ela tinha certeza de que ele havia tocado antes. Ainda sonolenta, ela olhou para o relógio. Eram nove horas. Já era tarde, realmente. Mas havia algo errado. Não era dali que vinha o som da campanhia. Parecia um telefone. Ela se levantou, ainda meio adormecida, e foi até a sala. O telefone preto estava tocando desesperadamente, sem estar conectado. A despeito de sua ameaça de sair correndo caso isso ocorresse, o máximo que Scully conseguia fazer era olhar fixamente para o aparelho, até que a curiosidade e o desejo de fazer parar todo aquele barulho, foram maiores que seu medo. Tirou o telefone do gancho e com cuidado o levou ao ouvido. "Ele quer me matar!!! Me tire daqui, você prometeu!!" A mulher do outro lado parecia tão real e seu terror quase palpável. "Quem, Claire? Quem quer te matar?" Antes que Claire pudesse dizer mais alguma coisa o telefone ficou mudo. E, antes mesmo que Scully tivesse tempo de se lamentar a respeito, a porta de sua casa se abriu com violência e ela não pôde fazer nada para evitar o que se seguiria. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Dez horas da manhã e Scully ainda não havia aparecido. Mulder, a princípio, não estivera preocupado. Não estavam trabalhando em nenhum caso que pudesse colocar um dos dois em perigo. Mas, após ter ligado para a casa dela, sem sucesso, e tendo aguardado o tempo necessário para ela chegar ao trabalho, Mulder achou melhor ir até o apartamento dela. Mulder correu para o apartamento dela. Antes de chegar à porta, já notou que havia algo errado. A porta estava entreaberta e a fechadura quebrada demonstrava que havia havido arrombamento. Ele retirou a arma do coldre e entrou cautelosamente no apartamento. Estava vazio. Uma mesinha caída era o único sinal de que havia havido alguma luta. E o telefone preto não estava mais lá. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx ((((Continuação)))) Agora, mais do que nunca, era importante saber quem estava por trás da morte de Claire. E, para descobrir isso, Mulder precisava saber tudo sobre ela. Apesar de não haver prova de que o desaparecimento de Scully, tinha algo a ver com aquele caso, Mulder sentia que aquele era o caminho certo. Tinha que confiar na sua intuição e também na de sua parceira. Ela havia lhe dito, com tanta segurança, que o assassino era alguém da própria companhia telefônica. Talvez houvesse uma conexão entre Claire e alguém da TelDC. O problema era descobrir isso. Novamente, somente Mary poderia dar algumas respostas. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Scully não tinha idéia de onde estava e entendia menos ainda o que estava acontecendo. Ainda não compreendia como uma pessoa, aparentemente tão frágil, havia conseguido arrombar sua porta e subjugá-la. O elemento surpresa fôra importante, é claro. Por outro lado, Scully era bem treinada. Bem, não importava como havia acontecido. O importante agora era entender os motivos pelos quais era mantida prisioneira. Scully olhou ao seu redor, procurando alguma saída. Claro, considerando-se que ela conseguisse se livrar das cordas que prendiam seus braços e pernas. Talvez se gritasse, conseguisse chamar a atenção de alguém. No entanto, não podia fazer isso. Não sem se arriscar. O mais importante era manter-se calma e tentar negociar com a pessoa que a havia capturado. E, também, confiar em Mulder para juntar todas as peças do quebra- cabeça. Algo que nem mesmo ela estava conseguindo. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Mary se surpreendeu ao abrir a porta e se deparar com o Agente Mulder a sua frente. "Olá, Mary. Eu preciso fazer algumas perguntas, ok?" "Algum problema?" "Sim. Aconteceu algo com minha parceira e tenho certeza que está relacionado com esse telefone." "Como pode ter tanta certeza? O homicídio ocorreu há tantos anos. Prá que alguém iria querer atrapalhar sua investigação?" "Na verdade, eu acho que nós estamos perto demais de alguma coisa." "Mas porque alguém seqüestraria sua parceira? Isso somente atrairia mais atenção, não acha?" Mulder não havia dito nada a respeito de seqüestro. Mary estava escondendo algo. "Sim, e também é um crime muito grave." Ele decidiu não dizer nada. Para o bem de Scully, era melhor que Mary não ficasse na defensiva. E se Mary tinha algo a ver com isso, provavelmente não estava sozinha. Ela sequer era nascida quando Claire foi morta. Talvez ela estivesse protegendo alguém. O ideal era descobrir tudo sobre a moça, o mais rápido possível. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Já haviam se passado, ao menos, dez horas desde o desaparecimento de Scully. Mulder ainda não havia comunicado ao seu superior o que havia ocorrido, achando que conseguiria encontrar sua parceira antes de uma equipe completa de agentes, que não acreditariam na sua história de um fantasma no telefone. Mas, agora, começava a se arrepender. Não havia conseguido descobrir grande coisa. Somente o nome dos pais de Mary, que eram Elaine e George Isakson. E o estranho fato de que Elaine também havia trabalhado na TelDC. Era especialmente estranho, já que Mary não havia mencionado nada a respeito. Mulder resolveu investigar um pouco mais a fundo a vida da mãe de Mary e descobriu que Elaine Erikson havia sido adotada quando tinha sete anos. Não que isso fosse de grande relevância, mas algo dizia a Mulder que ele não podia deixar escapar nenhum detalhe, por mais que tivesse relacionado com uma data tão distante. Ao contrário, Mulder estava convicto que era no passado que ele deveria procurar as respostas, já que era do passado que haviam vindo as questões. xxxxxxxxxxxxxxxx Elaine Erikson era uma viúva que levava uma vida pacata em um bairro de classe média. Sua vida, desde que o marido morrera há dez anos, havia se resumido a terminar de criar a única filha, Mary. Após esta ter deixado sua casa para viver sua própria vida, Elaine passou a cuidar de suas plantas e dos dois gatos dos quais tanto gostava. A violência cotidiana, a política e até mesmo a movimentação da sociedade, não lhe interessavam. Assim, quando o agente do FBI bateu, insistentemente, à sua porta, a Sra. Erikson atendeu extremamente irritada. "O que o senhor quer? Eu estou muito ocupada." "Desculpe, Sra. Erikson. Eu sou o Agente Mulder, do FBI. Gostaria de lhe fazer algumas perguntas." "Fiz algo errado?" "Não, senhora." "Então não sei como posso ajudá-lo. Agora se me dá licença..." "Senhora, por favor. É muito importante. Uma questão de vida ou morte, na verdade." Isso pareceu fazer com que Elaine decidisse escutá-lo. Mulder aproveitou a indecisão da mulher e deu um passo a frente. Em instantes, ela já o havia deixado entrar e se ofereceu para responder às perguntas que ele queria fazer.