Título: Autora: Claudia Modell E-mail: cmodell@hotmail.com Categoria: MS/UST. MulderAngst. MulderTorture. Rating: Contém cenas de violência e descrição de situações que podem ser desconfortáveis. Sumário: O encontro de Mulder e Bill Scully resulta em uma briga de proporções enormes, o que causa o afastamento de Mulder e dá uma chance a seus inimigos de fazê-lo sofrer. Notas: Existem textos (como o do início) que foram retirados de Les Miserables. Foram traduzidos e adaptados para a história. Feedback: Por favor né gente??? E, agora, ele estava sozinho, mais uma vez. Sem um lugar para onde ir, sem ninguém para procurar. Não tinha mais um lar ou, sequer, um amigo. Nenhum rosto conhecido. E, agora, a noite se aproximava e ele fingia que ela estava ali, perto dele. Quando a noite chegava ele caminhava pelas ruas, sozinho. Quando todo mundo dormia ele pensava nela e se lembrava de momentos felizes, que lhe faziam companhia. A cidade ia dormir, mas ele começava a viver, somente dentro de sua própria mente. Fingia que ela estava ao lado dele e caminhava com ela até o amanhecer. Sozinho, sentia os braços dela ao seu redor e, quando se perdia, fechava os olhos e ela o encontrava, novamente. Na chuva, o chão brilhava como prata e as luzes esmaeciam, lentamente. Na escuridão, as árvores pareciam brilhar com as luzes das estrelas. Mas ele não via nada disso. Os olhos de sua mente viam somente a ela. Sempre. Ele sabia que ela vivia somente em sua mente. Que ele conversava consigo mesmo e não com ela. Mas não se importava. Aqueles eram os únicos momentos que ele não se sentia sozinho. Quando a noite chegava ao fim, ela partia, sempre. E as ruas voltavam a ser sujas, sem brilho de prata. E as árvores sequer tinham folhas. E todas as pessoas ao seu redor eram estranhas. E ela não estava no meio delas. Sem ela, o mundo ao seu redor voltava a ser o que era antes, sem vida, sem esperança. Sem ele, o mundo dela continuaria a girar. Um mundo cheio de felicidade que ele chegou a conhecer, mas que deixou escapar. Agora Mulder estava completamente sozinho. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Scully não esperava que Mulder aparecesse no escritório naquele Sábado. Nem ela deveria ter ido lá. Mas ela havia deixado alguns documentos em cima da mesa e achou melhor ir guardá-los melhor. Ver Mulder ali, sentado em frente ao computador, foi uma surpresa. Não estavam trabalhando em nenhum caso complicado. - Mulder. O que você está fazendo aqui? Scully buscou no rosto do parceiro qualquer traço de preocupação, algo que mostrasse se ele estava com alguém. Mas tudo o que ele viu foi um sorriso franco e uma expressão calma. - Oi parceira! Nada, só reorganizando uns arquivos. - Mulder, você não se desliga do trabalho nunca? Mulder pareceu um tanto ferido com a pergunta e Scully se arrependeu de ter dito aquilo. Ela era a pessoa que mais devia entender seu parceiro. Na verdade, após descobrir o que havia acontecido com Samantha, Mulder não tinha mais um objetivo claro na vida. Seu trabalho era o que restara para mantê-lo são. - Ok, desculpe. Quer almoçar comigo? Minha mãe me chamou e ela perguntou se você poderia ir. - Humm, não sei.... - Mulder, vamos lá, você precisa ver gente normal. - Ah, então você não é normal? - Não. Eu não te contei? Descobri que sou uma alienígena. - Vai conquistar meu coração, então. Mulder sorriu, deixando para trás a confusão de sua mesa e aceitou o convite de sua parceira. Seria, realmente, interessante almoçar com pessoas "normais", como ela dissera. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx - Mamãe! Cheguei e trouxe uma surpresa. - Scully, ela não vai gostar disso. - Mulder, cala a boca. Ela vai adorar. Scully entrou, tendo Mulder ao seu lado. Deixou a bolsa em cima do sofá e já se dirigia para a cozinha, onde provavelmente sua mãe estava, quando ela surgiu, sorrindo e trazendo, ao seu lado, Bill Scully. - Dana, eu também tenho uma surpresa. Mulder e o irmão de Scully nunca se deram bem e o encontro dos dois foi desconfortável. Mulder teve vontade de sumir dali, mas Scully segurou seu braço, quando percebeu a tensão entre os dois. Bill, segurando seu filho, agora com um ano de idade, no colo, não disse qualquer palavra, mas manteve um olhar zangado direcionado a Mulder. Scully resolveu quebrar o gelo. - Bill, que bom ver você. E Matthew está lindo. Ela se aproximou do irmão e fez um carinho no bebê. Mulder sentiu que aquele era o melhor momento para sair dali. - Eu só vim dizer oi, Sra. Scully. Tenho algumas coisas para fazer. - Não, Fox! Você vai almoçar conosco. Sem discussão sobre isso. Bill não gostou nem um pouco daquele convite. E seu rosto demonstrava claramente sua desaprovação. - Mamãe, se ele quer ir embora, deixe. Afinal é um almoço de família. Scully olhou com raiva para o irmão. Ela sabia que os dois jamais ficariam juntos em uma mesma sala, conversando como dois amigos, mas a franqueza do irmão a irritava. - Bill, eu o convidei e ele fica. Tudo o que Mulder queria era sair dali. - Scully, é sério, eu prefiro ir. - Deixe ele, Dana. Provavelmente o desgraçado tem alguma outra vida prá destruir. - Bill! Isso é injusto! Ele é meu parceiro e amigo e eu não permito que você fale assim dele! _ E não é verdade, Dana? Por causa dele Melissa está morta, e por causa dele você se feriu tantas vezes e quase morreu. Todo mundo em volta dele está sempre se ferindo ou morrendo. _ Bill, chega! Scully gritou, exasperada. Ela via que Mulder estava cada vez mais nervoso. Com certeza, ele acreditava em tudo o que Bill estava dizendo. Mulder queria sair dali, ouvindo tudo aquilo, mas Scully o mantinha preso pelo braço, e, cada vez que ele tentava ir em direção à porta, ela o puxava de volta. - Dana, você é cega. Esse maluco destruiu toda a família dele e a nossa também! Vai ver ele matou a própria irmã e inventou essa imbecilidade de alienígenas para escapar. Aquilo já era demais, pensou Mulder. Ele tinha que sair dali. Era uma pena que Bill estivesse com o bebê nos braços, senão Mulder já teria pulado em cima dele. Com um movimento brusco, Mulder se soltou de sua parceira. Mas ela insistiu, segurando-o novamente. Estando nervoso, Mulder não mediu suas forças ao tentar se desvencilhar de Scully e, com um forte empurrão, a jogou violentamente no chão. O ato serviu de pretexto para Bill, que continuou seu ataque verbal. - Seu desgraçado, é assim que você trata as mulheres, não é? Foi isso que você fez com a sua irmã? Mulder tentou buscar a calma que necessitava para não atacar Bill. A mãe de Scully correra para ajudar a filha e se levantou, tentando acalmar Mulder, que parecia pronto para matar alguém. - Bill, você é um idiota! No momento, era o máximo que Mulder conseguia dizer. Nunca ninguém o havia acusado de agredir sua parceira e muito menos de matar sua irmã. O bebê gritava incessantemente desde que aquela briga começara. Mulder somente queria que ele soltasse a criança. - Bem, Agente Mulder, eu sou um idiota que nunca matou ninguém e que sabe cuidar da própria irmã. Diferentemente de você!! - Você não sabe o que está dizendo, seu imbecil! Scully já havia se levantado e tentava, mais uma vez, afastar Mulder de seu irmão. - Mulder, chega, é melhor nós dois irmos embora. Ela mal podia ser ouvida já que tanto Mulder quanto Bill continuavam a trocar ofensas. - Eu sei o que eu estou falando, sim! Você acha que faz um grande trabalho caçando alienígenas e desvendando conspirações, mas seu melhor trabalho mesmo é matar pessoas, é transformar a vida dos outros num inferno. Ou você acha que a vida da minha irmã é uma maravilha? - Ela é livre prá ir embora, quando quiser! - Ah, sei, claro! Ela decide ir embora e você arma um esquema de abdução, como armou para sua irmã, não é? O que você fez, Mulder? Violentou a menina e escondeu o corpo? Bill não teve tempo de terminar sua ofensa e Mulder já tinha saltado em cima dele. Mulder estava cego de ódio. A única coisa que ele via à sua frente era o rosto de Bill, que ele queria destruir, a qualquer custo. Não percebeu, ou simplesmente deixou o pensamento de lado, quando o bebê caiu no chão. Nem notou parceira tentando acalmá-lo. Sequer sentiu que a maioria dos socos e chutes que dava não atingiam Bill, mas os móveis, Scully e até o bebê que gritava cada vez mais. Quando, finalmente, Mulder percebeu o que estava acontecendo, ele saiu correndo da casa, não olhando para trás. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Scully demorou alguns minutos para registrar o que ocorrera. A casa estava em silêncio, a não ser pelo choro do bebê. Sua mãe correra em direção a Matthew, preocupada com ele. Bill ainda estava no chão, o rosto ensangüentado. Mas ele estava consciente. Scully pegou o bebê no colo e pediu à mãe que chamasse uma ambulância. Os momentos que se seguiram foram plenos de preocupação. Ela não se lembrava, sequer, de como haviam ido ao hospital. Em outras condições, Scully teria seguido os médicos, cuidando pessoalmente de seu sobrinho, mas ela estava nervosa demais para assimilar o que ocorria a sua volta. Enfim, após o que lhe pareceram horas, um médico surgiu. Bill e Margareth correram em direção a ele, esperando notícias. - Sr. Scully, seu filho está bem. Não corre qualquer perigo. Terá alguns hematomas, mas nada de sério. - Graças a Deus. Margareth realmente agradecia a Deus por não ter ocorrido nada de mais grave. Nunca havia visto alguém agir com tanta raiva. E só o pensamento de que aquele ódio era dirigido a um filho seu a deixava apavorada. E a lembrança de Mulder atacando Bill, mesmo com o bebê no colo, a fazia estremecer. Ela não ousava olhar para sua filha. Tinha medo de deixar transparecer a raiva que sentia de Mulder e, se Dana percebesse, talvez pensasse que estava com raiva dela também. Mas Scully sentia o mesmo que a mãe. Ela desconheceu, completamente, seu parceiro. Nunca desconfiou de que ele seria capaz de tanta brutalidade. Mulder já havia perdido a paciência diversas vezes, ela sabia, e até concordava que Bill tinha ultrapassado os limites naquela discussão. Mas a agressão que Mulder mostrou era algo, para ela, inimaginável e imperdoável. Ela sabia que Mulder devia estar se corroendo de culpa. Que ele jamais tivera intenção de fazer o que fizera, mas, ainda assim, havia uma voz dentro dela que dizia, claramente, que ela devia pensar, primeiramente, em sua própria família. Assim, quando, mais tarde, Bill resolveu fazer uma queixa formal a Skinner, deixando ao menos de fora a polícia, Scully nada objetou, assinando como testemunha a denúncia apresentada. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx No dia seguinte, Skinner recebeu a denúncia e não pôde deixar de ficar surpreso, até não acreditando na veracidade do documento. Entretanto, após falar com Scully ao telefone, certificou-se do que ocorrera. - Agente Scully, essa denúncia que eu recebi, é verdadeira? - Sim, senhor. Por incrível que pareça, é. - Sabe o que vai acontecer com ele, por causa disso? - Senhor, sinceramente, eu não ligo. Não depois do que ele fez. - Esses fatos não foram exagerados? - Está querendo dizer que eu estou mentindo? - Não, Scully, claro que não. Não existe uma possibilidade disso ter sido causado por fatores externos? Não seria a primeira vez. - Acha que eu não pensei nisso? Não há nada que indique que Mulder estivesse sendo drogado, ou algo parecido. Ele estava bem. Teve uma briga com meu irmão. Uma briga idiota que feriu um bebê. - Certo, Agente Scully. A denúncia vai ser entregue à OPR, mas ele pode ser suspenso, você sabe.... Scully não o deixou terminar. Desligou o telefone, decidindo que fizera o que deveria ser feito. O que era justo. Em meia hora, a denúncia foi entregue aos canais competentes. Uma hora depois, Fox Mulder estava suspenso, por tempo indeterminado. Duas horas depois, os computadores do Departamento de Pessoal e da Corregedoria registravam a suspensão do agente, sem vencimento, com bloqueio em conta corrente e dos cartões de crédito. Mais algumas horas e Fox Mulder já não tinha crédito, identidade e número do seguro social válido. Diante da tela do computador um homem sorria. Havia, sem grandes esforços, conseguido afastar Mulder, por algum tempo ou, talvez, para sempre. O agente, sem dinheiro, sem emprego e sem amigos, estaria na situação que ele sempre sonhara. O homem desligou o computador e acendeu outro cigarro. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Alguns dias se passaram e Mulder não tivera coragem de procurar sua parceira. Havia ido até a sede do FBI, somente para saber que estava suspenso e que teria que deixar a arma e o distintivo lá; Fez isso rapidamente, não dando chance a Skinner de lhe perguntar nada. Mulder não saberia o que responder, de qualquer maneira. Desde sua explosão de raiva, ele se sentia como se estivesse fora da realidade, perdido em algum sonho maluco, do qual ele não conseguia acordar. Ao deixar o prédio do FBI, Mulder decidiu que precisava falar com sua parceira. Sabia que, ao menos, deveria tentar se desculpar, mesmo estando consciente de que o que ele fizera não tinha desculpa. Mas Scully não estava em casa. Não atendia o telefone, tampouco. O celular estava desligado. Os dias se passaram e ela não voltou para casa. Mulder tinha certeza disso, já que, praticamente, montara acampamento na frente da casa. Ela estava fugindo dele, obviamente. Ele próprio adoraria fugir de si mesmo. Tentou saber, através de Skinner, onde ela estava, mas ele sequer o recebeu. Na verdade, Mulder não conseguia passar pela segurança do FBI, e seus telefonemas não ultrapassavam a barreira das secretárias. Sem saber mais o que fazer, Mulder resolveu recorrer aos seus amigos. Paranóicos ou não, os Lone Gun Men seriam de grande ajuda. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx - Como é que é? A voz alterada de Mulder surpreendeu a ele próprio. Mas não havia como não ficar zangado com a negativa de seus amigos. - Isso mesmo, Mulder. Nós não vamos te ajudar. Byers era o único que ousava falar. Nunca vira Mulder tão zangado e, depois de saber o que ocorrera, ele se perguntava se era a coisa mais sensata ser tão direto com ele. - Byers, você é um idiota! Vocês todos são! Eu só quero falar com ela! - Olhe, Mulder, ela não quer ver você. Porque não respeita isso? - Escuta você! Se eu respeito ou não, é problema meu! Me diz onde ela está, agora! À medida que Mulder levantava seu tom de voz, se aproximava cada vez mais de Byers. Os punhos cerrados e a expressão de raiva eram avisos para que Byers se afastasse, mas, apesar disso, ele manteve sua posição, tentando, com o olhar, dar a impressão de que não estava com medo de Mulder. - Eu não vou dizer! Mulder se sentiu traído. Disse a si mesmo que eles tinham razão, mas, ao mesmo tempo a raiva se apoderava dele, abafando aquela voz. Em mais uma explosão de raiva, partiu para cima de Byers, atingindo o rosto do amigo com um soco. Frohike se colocou entre os dois, enquanto Langly empurrava Mulder, pedindo que ele saísse dali antes que eles chamassem a polícia. Já do lado de fora, e tendo a porta sido fechada, Mulder percebeu que havia feito mais uma besteira. Não era agredindo seus amigos que conseguiria chegar a Scully. Agora ele podia dizer, com segurança, que estava totalmente isolado. A sensação o apavorava. Talvez o tempo fizesse as coisas voltarem a ser o que eram antes. Mulder, no entanto, não confiava tanto assim no tempo para curar feridas. Ele queria, somente, pedir perdão a Scully, mesmo que, depois, ela decidisse que não queria mais vê-lo. E Mulder sabia que não merecia que ela, sequer, o perdesse. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Mulder deu-se conta da verdadeira encrenca em que se metera uma semana depois. Tentara movimentar sua conta, mas estava bloqueada. Tentou usar cartões de crédito e cheques, mas foi inútil. Ainda tinha uns oitenta dólares, que não durariam muito e que não seriam, certamente, suficientes para pagar o aluguel, que venceria na próxima semana. Se ele não conseguisse falar com Skinner ou com algum funcionário do Departamento de Federal, ele não teria nenhuma chance. As várias tentativas, no entanto, de entrar no FBI, foram infrutíferas, e, o pior, Skinner não queria atendê-lo. Mulder havia tentado usar um outro nome, na tentativa de falar com seu chefe, mas bastou Skinner reconhecer sua voz para que ele desligasse o telefone, sem dar a Mulder a oportunidade de falar. O mês passou rapidamente e o resto de dinheiro que Mulder tinha, acabou, deixando-o em uma situação de emergência. Somente lhe restava vender o que havia de valioso, o que não era muito, mas seria o suficiente para permitir que ele continuasse no apartamento até conseguir falar com alguém e resolvesse esse problema. Mas o tempo corria veloz e Mulder não alcançava ninguém que pudesse ajudá-lo. Tinha ido à casa de Skinner, algumas vezes, e uma das vezes tinha até conseguido estar frente a frente com ele, mas Skinner se afastou rapidamente, não dando a oportunidade de Mulder falar. Ao final de três meses, estando com o aluguel atrasado, Mulder teve que decidir entregar o resto de dinheiro que tinha para seu locatário ou guardá-lo para si. Enfim, vencido pelas circunstâncias, Mulder abandonou seu apartamento, sabendo que jamais retornaria ali. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Nos dois primeiros meses, Scully sabia que Mulder procurava por ela. Soube da briga com Byers e da perseguição a Skinner. Ela nunca tivera medo de Mulder, mas preferiu evitar um confronto, mesmo porque ela não sabia como seria sua reação ao vê-lo. Por mais que ela soubesse que Mulder não tivera a intenção de ser tão violento, ela não conseguia, simplesmente, esquecer o que ocorrera. Achou melhor dar tempo ao tempo, até que, um dia, voltasse a falar com ele. Talvez tudo jamais voltasse a ser, exatamente, como era antes, mas ela sabia que sua amizade e seus sentimentos em relação à ele não tinham deixado de existir. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Fim da primeira parte Título: Desespero Autora: Claudia Modell E-mail: cmodell@hotmail.com Categoria: MS/UST. MulderAngst. MulderTorture. Rating: Contém cenas de violência e descrição de situações que podem ser desconfortáveis (como sempre). Sumário: O encontro de Mulder e Bill Scully resulta em uma briga de proporções enormes, o que causa o afastamento de Mulder e dá uma chance a seus inimigos de fazê-lo sofrer. Notas: Existem textos (como o do início) que foram retirados de Les Miserables. Foram traduzidos e adaptados para a história. Feedback: Por favor né gente??? Desespero By Claudia Modell E agora ele estava sozinho, mais uma vez. Sem um lugar para onde ir, sem ninguém para procurar. Não tinha mais um lar ou, sequer, um amigo. Nenhum rosto conhecido. E agora a noite se aproximava e ele fingia que ela estava ali, perto dele. Quando a noite chegava ele caminhava pelas ruas. Sozinho. Quando todo mundo dormia, ele pensava nela e se lembrava de momentos felizes, que lhe faziam companhia. A cidade ia dormir, mas ele começava a viver, somente dentro de sua própria mente. Fingia que ela estava ao lado dele e caminhava com ela até o amanhecer. Sozinho, sentia os braços dela ao seu redor e, quando se perdia, fechava os olhos e ela o encontrava, novamente. Na chuva, o chão brilhava como prata e as luzes esmaeciam, lentamente. Na escuridão, as árvores pareciam brilhar com as luzes das estrelas. Mas ele não via nada disso. Os olhos de sua mente viam somente a ela. Sempre. Ele sabia que ela vivia somente em sua mente. Que ele conversava consigo mesmo e não com ela. Mas não se importava. Aqueles eram os únicos momentos em que ele não se sentia sozinho. Quando a noite chegava ao fim, ela partia, sempre. E as ruas voltavam a ser sujas, sem brilho de prata. E as árvores sequer tinham folhas. E todas as pessoas ao seu redor eram estranhas. E ela não estava no meio delas. Sem ela, o mundo ao seu redor voltava a ser o que era antes, sem vida, sem esperança. Sem ele, o mundo dela continuaria a girar. Um mundo cheio de felicidade que ele chegou a conhecer, mas que deixou escapar. Agora Mulder estava completamente sozinho. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Scully não esperava que Mulder aparecesse no escritório naquele sábado. Nem mesmo ela deveria ter ido lá. Mas ela havia deixado alguns documentos em cima da mesa e achou melhor ir guardá-los. Ver Mulder ali, sentado em frente ao computador, foi uma surpresa. Não estavam trabalhando em nenhum caso complicado. - Mulder. O que você está fazendo aqui? Scully buscou no rosto do parceiro qualquer traço de preocupação, algo que mostrasse se ele estava com alguém. Mas tudo o que ele viu foi um sorriso franco e uma expressão calma. - Oi parceira! Nada, só reorganizando uns arquivos. - Mulder, você não se desliga do trabalho nunca? Mulder pareceu um tanto ferido com a pergunta e Scully se arrependeu de ter dito aquilo. Ela era a pessoa que mais devia entender seu parceiro. Na verdade, após descobrir o que havia acontecido com Samantha, Mulder não tinha mais um objetivo claro na vida. Seu trabalho era o que restara para mantê-lo são. - Ok, desculpe. Quer almoçar comigo? Minha mãe me chamou e ela perguntou se você poderia ir. - Humm, não sei.... - Mulder, vamos lá, você precisa ver gente normal. - Ah, então você não é normal? - Não. Eu não te contei? Descobri que sou uma alienígena. - Vai conquistar meu coração, então. Mulder sorriu, deixando para trás a confusão de sua mesa e aceitou o convite de sua parceira. Seria, realmente, interessante almoçar com pessoas "normais", como ela dissera. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx - Mamãe! Cheguei e trouxe uma surpresa. - Scully, ela não vai gostar disso. - Mulder, cala a boca. Ela vai adorar. Scully entrou, tendo Mulder ao seu lado. Deixou a bolsa em cima do sofá e já se dirigia para a cozinha, onde provavelmente sua mãe estava, quando ela surgiu, sorrindo e trazendo, ao seu lado, Bill Scully. - Dana, eu também tenho uma surpresa. Mulder e o irmão de Scully nunca se deram bem e o encontro dos dois foi desconfortável. Mulder teve vontade de sumir dali, mas Scully segurou seu braço, quando percebeu a tensão entre os dois. Bill, segurando seu filho, agora com um ano de idade, no colo, não disse qualquer palavra, mas manteve um olhar zangado direcionado a Mulder. Scully resolveu quebrar o gelo. - Bill, que bom ver você. E Matthew está lindo. Ela se aproximou do irmão e fez um carinho no bebê. Mulder sentiu que aquele era o melhor momento para sair dali. - Eu só vim dizer oi, Sra. Scully. Tenho algumas coisas para fazer. - Não, Fox! Você vai almoçar conosco. Sem discussão sobre isso. Bill não gostou nem um pouco daquele convite. E seu rosto demonstrava claramente sua desaprovação. - Mamãe, se ele quer ir embora, deixe. Afinal é um almoço de família. Scully olhou com raiva para o irmão. Ela sabia que os dois jamais ficariam juntos em uma mesma sala, conversando como dois amigos, mas a franqueza do irmão a irritava. - Bill, eu o convidei e ele fica. Tudo o que Mulder queria era sair dali. - Scully, é sério, eu prefiro ir. - Deixe ele, Dana. Provavelmente o desgraçado tem alguma outra vida para destruir. - Bill! Isso é injusto! Ele é meu parceiro e amigo e eu não permito que você fale assim dele! - E não é verdade, Dana? Por causa dele Melissa está morta, e por causa dele você se feriu tantas vezes e quase morreu. Todo mundo em volta dele está sempre se ferindo ou morrendo. - Bill, chega! Scully gritou, exasperada. Ela via que Mulder estava cada vez mais nervoso. Com certeza, ele acreditava em tudo o que Bill estava dizendo. Mulder queria sair dali, ouvindo tudo aquilo, mas Scully o mantinha preso pelo braço, e, cada vez que ele tentava ir em direção à porta, ela o puxava de volta. - Dana, você é cega. Esse maluco destruiu toda a família dele e a nossa também! Vai ver ele matou a própria irmã e inventou essa imbecilidade de alienígenas para escapar. Aquilo já era demais, pensou Mulder. Ele tinha que sair dali. Era uma pena que Bill estivesse com o bebê nos braços, senão Mulder já teria pulado em cima dele. Com um movimento brusco, Mulder se soltou de sua parceira. Mas ela insistiu, segurando-o novamente. Estando nervoso, Mulder não mediu suas forças ao tentar se desvencilhar de Scully e, com um forte empurrão, a jogou violentamente no chão. O ato serviu de pretexto para Bill, que continuou seu ataque verbal. - Seu desgraçado, é assim que você trata as mulheres, não é? Foi isso que você fez com a sua irmã? Mulder tentou buscar a calma que necessitava para não atacar Bill. A mãe de Scully correra para ajudar a filha que se levantou, tentando acalmar Mulder, que parecia pronto para matar alguém. - Bill, você é um idiota! No momento, era o máximo que Mulder conseguia dizer. Nunca ninguém o havia acusado de agredir sua parceira e muito menos de matar sua irmã. O bebê gritava incessantemente desde que aquela briga começara. Mulder somente queria que ele soltasse a criança. - Bem, Agente Mulder, eu sou um idiota que nunca matou ninguém e que sabe cuidar da própria irmã. Diferentemente de você!! - Você não sabe o que está dizendo, seu imbecil! Scully já havia se levantado e tentava, mais uma vez, afastar Mulder de seu irmão. - Mulder, chega, é melhor nós dois irmos embora. Ela mal podia ser ouvida já que tanto Mulder quanto Bill continuavam a trocar ofensas. - Eu sei o que eu estou falando, sim! Você acha que faz um grande trabalho caçando alienígenas e desvendando conspirações, mas seu melhor trabalho mesmo é matar pessoas, é transformar a vida dos outros num inferno. Ou você acha que a vida da minha irmã é uma maravilha? - Ela é livre para ir embora, quando quiser! - Ah, sei, claro! Ela decide ir embora e você arma um esquema de abdução, como armou para sua irmã, não é? O que você fez, Mulder? Violentou a menina e escondeu o corpo? Bill não teve tempo de terminar sua ofensa e Mulder já tinha saltado em cima dele. Mulder estava cego de ódio. A única coisa que ele via à sua frente era o rosto de Bill, que ele queria destruir, a qualquer custo. Não percebeu, ou simplesmente deixou o pensamento de lado, quando o bebê caiu no chão. Nem notou parceira tentando acalmá-lo. Sequer sentiu que a maioria dos socos e chutes que dava não atingiam Bill, mas os móveis, Scully e até o bebê que gritava cada vez mais. Quando, finalmente, Mulder percebeu o que estava acontecendo, ele saiu correndo da casa, não olhando para trás. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Scully demorou alguns minutos para registrar o que ocorrera. A casa estava em silêncio, a não ser pelo choro do bebê. Sua mãe correra em direção a Matthew, preocupada com ele. Bill ainda estava no chão, o rosto ensangüentado. Mas ele estava consciente. Scully pegou o bebê no colo e pediu à mãe que chamasse uma ambulância. Os momentos que se seguiram foram plenos de preocupação. Ela não se lembrava, sequer, de como haviam ido ao hospital. Em outras condições, Scully teria seguido os médicos, cuidando pessoalmente de seu sobrinho, mas ela estava nervosa demais para assimilar o que ocorria a sua volta. Enfim, após o que lhe pareceram horas, um médico surgiu. Bill e Margareth correram em direção a ele, esperando notícias. - Sr. Scully, seu filho está bem. Não corre qualquer perigo. Terá alguns hematomas, mas nada de sério. - Graças a Deus. Margareth realmente agradecia a Deus por não ter ocorrido nada de mais grave. Nunca havia visto alguém agir com tanta raiva. E só o pensamento de que aquele ódio era dirigido a um filho seu a deixava apavorada. E a lembrança de Mulder atacando Bill, mesmo com o bebê no colo, a fazia estremecer. Ela não ousava olhar para sua filha. Tinha medo de deixar transparecer a raiva que sentia de Mulder e, se Dana percebesse, talvez pensasse que estava com raiva dela também. Mas Scully sentia o mesmo que a mãe. Ela desconheceu, completamente, seu parceiro. Nunca desconfiou de que ele seria capaz de tanta brutalidade. Mulder já havia perdido a paciência diversas vezes, ela sabia, e até concordava que Bill tinha ultrapassado os limites naquela discussão. Mas a agressão que Mulder mostrou era algo, para ela, inimaginável e imperdoável. Ela sabia que Mulder devia estar se corroendo de culpa. Que ele jamais tivera intenção de fazer o que fizera, mas, ainda assim, havia uma voz dentro dela que dizia, claramente, que ela devia pensar, primeiramente, em sua própria família. Assim, quando, mais tarde, Bill resolveu fazer uma queixa formal a Skinner, deixando ao menos de fora a polícia, Scully nada objetou, assinando como testemunha a denúncia apresentada. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx No dia seguinte, Skinner recebeu a denúncia e não pôde deixar de ficar surpreso, até não acreditando na veracidade do documento. Entretanto, após falar com Scully ao telefone, certificou-se do que ocorrera. - Agente Scully, essa denúncia que eu recebi, é verdadeira? - Sim, senhor. Por incrível que pareça, é. - Sabe o que vai acontecer com ele, por causa disso? - Senhor, sinceramente, eu não ligo. Não depois do que ele fez. - Esses fatos não foram exagerados? - Está querendo dizer que eu estou mentindo? - Não, Scully, claro que não. Não existe uma possibilidade disso ter sido causado por fatores externos? Não seria a primeira vez. - Acha que eu não pensei nisso? Não há nada que indique que Mulder estivesse sendo drogado, ou algo parecido. Ele estava bem. Teve uma briga com meu irmão. Uma briga idiota que feriu um bebê. - Certo, Agente Scully. A denúncia vai ser entregue à OPR, mas ele pode ser suspenso, você sabe.... Scully não o deixou terminar. Desligou o telefone, decidindo que fizera o que deveria ser feito. O que era justo. Em meia hora, a denúncia foi entregue aos canais competentes. Uma hora depois, Fox Mulder estava suspenso, por tempo indeterminado. Duas horas depois, os computadores do Departamento de Pessoal e da Corregedoria registravam a suspensão do agente, sem vencimento, com bloqueio em conta corrente e dos cartões de crédito. Mais algumas horas e Fox Mulder já não tinha crédito, identidade e número do seguro social válido. Diante da tela do computador um homem sorria. Havia, sem grandes esforços, conseguido afastar Mulder, por algum tempo ou, talvez, para sempre. O agente, sem dinheiro, sem emprego e sem amigos, estaria na situação que ele sempre sonhara. O homem desligou o computador e acendeu outro cigarro. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Alguns dias se passaram e Mulder não tivera coragem de procurar sua parceira. Havia ido até a sede do FBI, somente para saber que estava suspenso e que teria que deixar a arma e o distintivo lá. Fez isso rapidamente, não dando chance a Skinner de lhe perguntar nada. Mulder não saberia o que responder, de qualquer maneira. Desde sua explosão de raiva, ele se sentia como se estivesse fora da realidade, perdido em algum sonho maluco, do qual ele não conseguia acordar. Ao deixar o prédio do FBI, Mulder decidiu que precisava falar com sua parceira. Sabia que, ao menos, deveria tentar se desculpar, mesmo estando consciente de que o que ele fizera não tinha desculpa. Mas Scully não estava em casa. Não atendia o telefone, tampouco. O celular estava desligado. Os dias se passaram e ela não voltou para casa. Mulder tinha certeza disso, já que, praticamente, montara acampamento na frente da casa. Ela estava fugindo dele, obviamente. Ele próprio adoraria fugir de si mesmo. Tentou saber, através de Skinner, onde ela estava, mas ele sequer o recebeu. Na verdade, Mulder não conseguia passar pela segurança do FBI, e seus telefonemas não ultrapassavam a barreira das secretárias. Sem saber mais o que fazer, Mulder resolveu recorrer aos seus amigos. Paranóicos ou não, os Lone Gun Men seriam de grande ajuda. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx - Como é que é? A voz alterada de Mulder surpreendeu a ele próprio. Mas não havia como não ficar zangado com a negativa de seus amigos. - Isso mesmo, Mulder. Nós não vamos te ajudar. Byers era o único que ousava falar. Nunca vira Mulder tão zangado e, depois de saber o que ocorrera, ele se perguntava se era a coisa mais sensata ser tão direto com ele. - Byers, você é um idiota! Vocês todos são! Eu só quero falar com ela! - Escute, Mulder, ela não quer ver você. Porque não respeita isso? - Escuta você! Se eu respeito ou não, é problema meu! Me diz onde ela está, agora! À medida que Mulder levantava seu tom de voz, se aproximava cada vez mais de Byers. Os punhos cerrados e a expressão de raiva eram avisos para que Byers se afastasse, mas, apesar disso, ele manteve sua posição, tentando, com o olhar, dar a impressão de que não estava com medo de Mulder. - Eu não vou dizer! Mulder se sentiu traído. Disse a si mesmo que eles tinham razão, mas, ao mesmo tempo a raiva se apoderava dele, abafando aquela voz. Em mais uma explosão de raiva, partiu para cima de Byers, atingindo o rosto do amigo com um soco. Frohike se colocou entre os dois, enquanto Langly empurrava Mulder, pedindo que ele saísse dali antes que eles chamassem a polícia. Já do lado de fora, e tendo a porta sido fechada, Mulder percebeu que havia feito mais uma besteira. Não era agredindo seus amigos que conseguiria chegar a Scully. Agora ele podia dizer, com segurança, que estava totalmente isolado. A sensação o apavorava. Talvez o tempo fizesse as coisas voltarem a ser o que eram antes. Mulder, no entanto, não confiava tanto assim no tempo para curar feridas. Ele queria, somente, pedir perdão a Scully, mesmo que, depois, ela decidisse que não queria mais vê-lo. E Mulder sabia que não merecia que ela, sequer, o perdoasse. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Mulder deu-se conta da verdadeira encrenca em que se metera uma semana depois. Tentara movimentar sua conta, mas estava bloqueada. Tentou usar cartões de crédito e cheques, mas foi inútil. Ainda tinha uns oitenta dólares, que não durariam muito e que não seriam, certamente, suficientes para pagar o aluguel, que venceria na próxima semana. Se ele não conseguisse falar com Skinner ou com algum funcionário do Departamento de Federal, ele não teria nenhuma chance. As várias tentativas, no entanto, de entrar no FBI, foram infrutíferas, e, o pior, Skinner não queria atendê-lo. Mulder havia tentado usar um outro nome, na tentativa de falar com seu chefe, mas bastou Skinner reconhecer sua voz para que ele desligasse o telefone, sem dar a Mulder a oportunidade de falar. O mês passou rapidamente e o resto de dinheiro que Mulder tinha, acabou, deixando-o em uma situação de emergência. Somente lhe restava vender o que havia de valioso, o que não era muito, mas seria o suficiente para permitir que ele continuasse no apartamento até conseguir falar com alguém e resolvesse esse problema. Mas o tempo corria veloz e Mulder não alcançava ninguém que pudesse ajudá-lo. Tinha ido à casa de Skinner, algumas vezes, e uma das vezes tinha até conseguido estar frente a frente com ele, mas Skinner se afastou rapidamente, não dando a oportunidade de Mulder falar. Ao final de três meses, estando com o aluguel atrasado, Mulder teve que decidir entregar o resto de dinheiro que tinha para seu locatário ou guardá-lo para si. Enfim, vencido pelas circunstâncias, Mulder abandonou seu apartamento, sabendo que jamais retornaria ali. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Nos dois primeiros meses, Scully sabia que Mulder procurava por ela. Soube da briga com Byers e da perseguição a Skinner. Ela nunca tivera medo de Mulder, mas preferiu evitar um confronto, mesmo porque ela não sabia como seria sua reação ao vê-lo. Por mais que ela soubesse que Mulder não tivera a intenção de ser tão violento, ela não conseguia, simplesmente, esquecer o que ocorrera. Achou melhor dar tempo ao tempo, até que, um dia, voltasse a falar com ele. Talvez tudo jamais voltasse a ser, exatamente, como era antes, mas ela sabia que sua amizade e seus sentimentos em relação à ele não tinham deixado de existir. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Quando Allison Davies foi designada para trabalhar na Corregedoria do FBI, ela se irritou, afinal ninguém queria trabalhar investigando os próprios colegas. Com o tempo, porém, ela notara que, mais do que prejudicar, ela ajudava os agentes em serviço, especialmente aqueles honestos. Por causa do trabalho da Corregedoria, o FBI conseguia manter-se, aos olhos do público, como uma instituição série e capaz. Allison havia deixado New York para entrar no FBI havia três anos e, assim que seu treinamento terminou, ela foi designada para a Corregedoria, tendo Brian Wilson como parceiro. Ao contrário dela, Brian era casado e tinha dois filhos. A parceria funcionava bem, e os dois eram bons amigos. Assim, quando Brian pediu a Allison que fizesse o relatório semestral, porque ele queria viajar com a esposa, ela não hesitou em aceitar o encargo. Allison não teria tanto trabalho, na verdade. Era somente uma questão de atualizar o relatório do semestre anterior, e isso ela faria rapidamente. De fato, duas horas depois, ela já tinha a lista completa dos agentes que haviam sofrido punições administrativas, sendo que, no último semestre somente cinco nomes haviam sido acrescentados à lista. Mas algo chamou sua atenção. Um agente havia sido suspenso sete meses antes. O nome, de fato, estava constando do relatório anterior. Mas como era possível alguém ficar suspenso por tanto tempo? Allison fez uma anotação para falar com o supervisor de Fox Mulder, em breve. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Mulder tentara se adaptar à cidade e à sua nova condição, mas não podia, simplesmente, desistir de sua carreira dessa forma. Havia procurado um defensor público, mas os advogados do FBI haviam simplesmente, mostrado a denúncia ao defensor que desistiu de tomar qualquer atitude. Depois de tanto tempo, Mulder já não podia ficar, sequer, nas pensões mais baratas da cidade. Ele já não tinha mais dinheiro e nem um modo honesto de conseguí-lo. O que fez foi tentar estar perto de pessoas que não tinham questionamentos morais e tentar tirar dessa amizade o que precisava para viver. Ele tentava não se envolver demais com ninguém, já que queria ficar longe de problemas com a polícia. Ainda tinha esperanças de poder retornar ao trabalho, mesmo desconfiando de que haviam forças mais poderosas armando a sua decadência total. De todas as suas novas amizades, a pessoa que ele mais confiava era uma prostituta chamada Natalie. Ela sempre procurava ajudá-lo, apesar dela própria precisar de ajuda. Mulder, às vezes, se sentia como se estivesse sendo sustentado por ela, mas, como Natalie dizia, ela o usava como guarda-costas. Mulder nunca dissera a ela quem ele era, e Natalie jamais insistira em saber. Naquele mundo não importava quem você era, mas somente a própria sobrevivência. Os dias agora passavam lentamente, e a morosidade parecia destruir o espírito de Mulder. Depois de tanto tempo longe de sua rotina, Mulder havia se habituado à essa realidade e já não se importava com mais nada, apesar de ter esperanças no futuro. Era um paradoxo. Ao mesmo tempo em que esperava por uma mudança, se acomodava sem se importar em como mudar. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx - Agente Scully! Podemos conversar? Allison, praticamente, teve de correr para alcançar Scully. Por sorte, conseguira. Scully parou e esperou que Allison chegasse. - Pois não? - Meu nome é Allison Davies. Trabalho na Corregedoria. Eu ia falar com o Diretor Skinner, mas como me disseram que você estava nesse andar, resolvi falar primeiro com você. Scully estava curiosa sobre o que a Corregedoria queria com ela e Skinner. - É a respeito do seu ex-parceiro. Fox Mulder. Ele foi suspenso há sete meses. - Sim, eu sei. Na verdade ele foi suspenso por causa de uma briga ocorrida na casa da minha mãe. Nós não trabalhamos juntos desde então. E eu nem sei em que setor ele está. - Bem, Agente Scully, acho que o problema é bem mais complicado do que descobrir em que setor ele está trabalhando. - Não entendo, qual é o problema afinal? Ele fez alguma coisa? - Sim, ele desapareceu. - Como assim? Quando? - Não existem notícias dele há, pelo menos, uns quatro meses, quando ele simplesmente abandonou o apartamento em que morava. - Ele foi levado do apartamento? Existem sinais de luta? - Não. Aparentemente, ele deixou de pagar o aluguel, vendeu tudo o que tinha de valor e foi embora. - E somente agora vocês perceberam? Ele não veio trabalhar por sete meses e ninguém notou? - Nos computadores consta, até o momento, que ele continua suspenso. Isso era ridículo, pensou Scully. Mulder não ficaria suspenso por tanto tempo sem ir ao FBI reclamar. Na verdade, qualquer pessoa reclamaria. - Agente Davies, algo aconteceu, ele não desistiria de seu trabalho dessa forma. - Então é melhor começarmos a procurar por ele, oficialmente, quero dizer. E isso se o Diretor Skinner concordar, é claro. Não foi difícil para Scully convencer seu chefe a ordenar uma busca por Mulder, principalmente depois que foi verificado que ele havia perdido seu acesso a cartões de crédito e conta corrente, o que era irregular demais. Era claro que alguém havia se aproveitado da situação em que Mulder se metera para afastá-lo de vez. E havia conseguido. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Toda aquela movimentação no sentido de procurar por Mulder, havia chamado a atenção de alguém, no FBI. Alguém que tinha muito a perder caso o envolvimento naquela pequena conspiração chegasse a público. Em segundos, todas as provas que pudessem existir já haviam desaparecido e o homem que as apagara deixou, rapidamente, a sala. O único vestígio de sua presença era o leve odor de cigarro. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Mulder não percebeu quando alguém se aproximou do colchão em que dormia. Mesmo que tivesse notado algo, pensaria que era Natalie, que voltava de seu trabalho. Mas acordou rapidamente ao sentir o chute que lhe foi desferido. Não teve tempo de gritar quando um segundo chute o atingiu, nas costelas, retirando todo o ar de seus pulmões. Em instantes, tudo o que ele sentia eram as fortes pancadas sobre seu corpo. Mulder não tinha forças para se defender e, por isso, se deixou levar pela violência, sentindo-se como um boneco, jogado de um lado para outro. Os únicos sons que ouviam eram das pancadas no seu próprio corpo. A última coisa que viu foi Natalie, jogada em um canto, com a garganta cortada. O homem que o agrediu pegou Mulder nos braços e o jogou dentro de um freezer abandonado, dentro do que já havia sido a cozinha da casa. Depois, pegou o corpo sem vida de Natalie e o jogou por cima de Mulder, fechando a tampa do freezer, em seguida. Saiu sem que ninguém nas redondezas o visse, ou se importasse. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Depois de dois dias de investigações, tendo mostrado a foto de Mulder em diversos lugares, nada havia sido feito. Scully começava a achar que Mulder havia deixado a cidade. Mas isso era quase impossível de ser determinado. Allison estava caminhando por uma das ruas da parte mais abandonada da cidade quando percebeu que já havia passado por ali. Mas, já que estava lá, não custava perguntar aos passantes, uma outra vez, se haviam visto o homem da foto. Parou um menino, de uns dez anos de idade. O menino pareceu indeciso e Allison decidiu insistir, acreditando que ele sabia de algo. - Escute, nós não queremos fazer mal a ele, nem prendê-lo. Você não vai estar fazendo nada de errado se contar o que sabe. - Eu vi ele. Muitas vezes. Eles dormiam naquela casa abandonada no fim da rua. Mas faz alguns dias que eu não vejo os dois. - Os dois? - É. Ele e Natalie. Ela é garota de programa. Allison agradeceu a informação e decidiu verificar a velha casa a que o menino se referiu. Cheirava a mofo, e Allison nunca vira um lugar tão sujo e tão acabado. No chão do que um dia fôra a sala, haviam dois colchões. Allison se aproximou e notou que, abaixo da poeira, havia sangue. Muito sangue. Decidiu dar uma olhada nos outros aposentos, e não foi difícil saber para onde ir, exatamente. À medida que ela se aproximava da cozinha, mais forte o cheiro de algo podre aumentava. Era um cadáver. Se de um gato morto, ou de um ser humano, era difícil saber, sem olhar. Allison seguiu em direção ao velho freezer e, ainda indecisa, abriu a tampa. O cheiro, praticamente, a jogou para trás. Quase recuperada, ela se aproximou novamente, tapando o nariz e segurando a respiração o máximo que podia. Eram dois corpos. A mulher havia sido degolada. O homem era, sem dúvida, Fox Mulder. Deixando de lado as sensações de aversão que a dominavam, Allison olhou os corpos mais de perto e verificou que o corpo da mulher parecia estar em um estágio de decomposição avançado. Nesse momento, enquanto verificava os corpos, algo se moveu lá dentro. Allison não soube dizer se era impressão sua ou se Mulder havia se movido. Secretamente, ela desejou que fosse somente sua impressão. Que ele estivesse morto. Provavelmente, ele estava preso lá dentro, ferido, com um cadáver, há dias. Só de pensar nisso Allison estremecia. Resolveu verificar se haviam batimentos cardíacos, mas antes que pudesse tocá-lo, Allison foi surpreendida por Mulder, que abriu os olhos, lentamente. Parecia estar olhando em um ponto atrás ou através dela. Allison tinha que tirá-lo dali. Devia deixar de lado o que estava sentindo e, simplesmente, levá-lo para qualquer lugar, que não fosse aquele inferno. Essa tarefa mostrou-se bem menos complicada do que ela imaginara. Mulder, de fato, mesmo estando em estado tão precário, parecia mais do que ansioso em sair daquela caixa. Allison percebeu o sacrifício que ele estava fazendo e tentou ajudá- lo, o máximo possível. Quando, finalmente, Mulder estava fora do freezer, ele se deixou levar pela exaustão e dor, caindo estrondosamente no chão. - Mulder? Está me ouvindo? Ele não respondeu, mas Allison viu seus dedos se movendo. Ele estava acordado e ela queria somente dizer a ele que tudo estaria bem. - Escute, nós já vamos sair daqui. Vou pedir ajuda, ok? Ao dizer essas palavras, Allison notou que Mulder parecia ter entrado em pânico. Encolheu-se o máximo que podia, fechando os olhos com força. Parecia que ele tentava se esconder. Allison se aproximou mais dele, e tocou seu rosto com delicadeza. - Olha, ninguém vai te machucar. Eu prometo. Nesse momento ele segurou a mão dela com força. Allison não podia imaginar de onde ele estava tirando tanta força. Talvez do medo, simplesmente. Vendo que não havia o que ser feito, ela decidiu arriscar e levá-lo para sua casa. Talvez após verificar as extensões dos ferimentos, ela conseguisse acalmá-lo. Ficou indecisa sobre avisar Scully, mas, vendo que Mulder estava apavorado com a perspectiva de ver outras pessoas, Allison afastou essa idéia. Ao chegar em casa, ela chamaria um médico, conhecido de seus pais, que examinaria Mulder. Allison teve uma certa dificuldade em colocar Mulder no carro, e depois retirá-lo quando chegaram na casa dela. Mas o resto de seu trabalho foi facilitado pela docilidade do agente. Ela tirou-lhe as roupas, e, em seguida fez com que ele tomasse um banho na banheira. Dessa forma, Allison pôde verificar que Mulder não tinha ferimentos profundos e, aparentemente, nenhum osso quebrado. Ela não se preocupou com hemorragia interna, também. Se ele tivesse algum sangramento interno, já teria morrido dias antes. A chegada do médico tirou qualquer dúvida que ela pudesse ter de que estava fazendo a coisa certa. Mulder, de fato, não tinha ferimentos que o obrigassem a ir para um hospital. E, além disso, a reação que teve na frente do médico indicava que levá-lo para o hospital seria muito mais prejudicial do que mantê-lo em casa. De fato, Mulder se mostrou arredio, apavorado. Manteve o mesmo tratamento de silêncio que vinha dispensando a Allison, mas se mostrou mais assustado, cerrando os punhos, e colocando os braços na frente do rosto. O médico foi embora, receitando um antibiótico para as infecções que os ferimentos já apresentavam e um leve sedativo para o caso dele não conseguir dormir. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Desde que havia sido agredido, Mulder havia acordado e desmaiado muitas vezes. Cada vez que acordava sentia o peso do corpo de Natalie, sobre ele. Sentia o forte odor, a princípio adocicado e enfim amargo e sufocante. Via a luz entrando por alguns buracos da caixa. Quando não via a luz, sabia que era noite. Jamais pensou que estava morto. O cheiro não o deixava pensar isso, e nem mesmo a sensação de umidade que vinha do cadáver sobre ele. Quando estava acordado, rezava para desmaiar novamente ou para morrer. Sentia-se como se estivesse ele próprio morto, se decompondo lentamente. Os insetos que coabitavam no cubículo com ele ajudavam a dar-lhe essa sensação. Seu corpo estremecia ao sentir as pequenas patas caminhando sobre seu rosto, seu peito, pescoço. Sobre todo seu corpo. Nesses momentos, ele fechava os olhos e tentava se esconder em algum lugar obscuro em sua própria mente. Tentava se dissociar do seu corpo. A última vez que Mulder abriu os olhos foi para ver uma grande quantidade de luz. E um fantasma. Sim, ele tinha certeza, era um fantasma. Mulder não queria mais fechar os olhos. Não queria arriscar que a aparição se fosse. Ela começou a se afastar, lentamente. Um minuto ela estava lá, no outro já não estava mais. O desespero tomou conta dele. Precisava sair dali, precisava ir atrás dela. Até que, finalmente, ele estava fora da caixa. A liberdade lhe pertencia. Ele podia quase sentir o vento secando seu corpo, levando embora o cheiro pútrido que dele emanava. Mulder já podia respirar de novo. Podia se mover novamente. E ela estava lá. Tocando seu rosto, dizendo palavras que ele mal podia ouvir. Ela lhe disse alguma coisa sobre outras pessoas. Não, ela não podia fazer isso, não podia trazer outras pessoas e deixar que o levassem. Tinha que ficar do lado dele. Mulder tentou lhe dizer isso e rezou para que ela entendesse. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Quando Mulder acordou novamente, parecia estar no céu. O fétido odor que sentira por dias, havia sido levado embora pela água limpa, dando lugar a um perfume cítrico. Seu corpo doía ainda, mas a dor parecia mais um cansaço imenso do que dor. Mas, no fundo, Mulder se sentia como se ainda estivesse naquele lugar horrível. Tinha certeza de que havia alcançado aquele lugar especial em sua mente, um lugar sem dor, sem sofrimento, que ofuscava a realidade. E ele não se importava em ficar escondido ali para sempre. Não queria mais nada do mundo de fora. Somente queria ficar nesse mundo, onde o sol brilhava sempre, onde os lençóis eram limpos e o ar emanava um perfume cítrico suave. E onde seu fantasma habitava e lhe fazia companhia, lhe trazendo uma sopa quente, cuidando de seu corpo ferido. A chuva que caía lá fora não podia mais feri-lo. A chuva lavaria seu passado e seu fantasma o manteria a salvo, estando apenas perto dele. As nuvens que antes pairavam sobre sua vida, agora eram dispersadas pela chuva que a trouxera para ele. Agora ele podia descansar. Nada o tiraria dali, jamais. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Allison não avisou aos outros e nem tinha intenção de avisar. Queria que Mulder estivesse mais forte e preparado psicologicamente para se encontrar com outras pessoas. Havia sido difícil fazê-lo aceitar que o médico cuidasse dele. Allison imaginou, portanto, que seria ainda mais traumático rever sua parceira. No fundo, Allison estava com raiva de Scully. Como ela podia ter deixado que Mulder chegasse àquele estado? Como não percebeu que ele havia ficado afastado tempo demais? Se o tivessem encontrado, somente uma semana antes, ele não estaria assim. Agora, dois dias depois de tê-lo encontrado, Allison se perguntava se havia feito a coisa certa. O estado dele não melhorava. Ele não falava e parecia não entender o que ela dizia. Às vezes, parecia estar assustado, mas na maior parte do tempo ele dormia ou fixava o vazio. Fazê-lo comer, ao menos, estava sendo uma tarefa relativamente simples. O problema, para Allison, era deixá-lo tanto tempo sozinho, enquanto ia trabalhar. E, o pior, tentar não demonstrar sua súbita falta de interesse no paradeiro do Agente Mulder. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx - Allison, eu queria falar com você. Ela não esperava ver Brian tão cedo no trabalho. Normalmente, ele chegava atrasado já que levava a esposa ao trabalho. - Oi Brian, o que houve? - É sobre essa busca pelo Agente Mulder. Até quando isso vai durar? Vai ver o cara já tá morto ou foi para outro Estado. - Eu concordo, mas não somos nós que decidimos isso. Devia falar com Skinner. - Eu falei, mas ele disse que Dana Scully não quer desistir. Parece até que é ela quem dá as ordens. - Brian, não estou entendendo. Se eles querem continuar a procurar por ele, porque se preocupar? - Porque nós temos mais o que fazer. Eu tenho mais o que fazer, pelo menos. - O que, por exemplo? Preparar relatórios semestrais intermináveis? Ou você tem alguma outra profissão secreta? - Ah, esquece, ok? Eu vou pedir ao Skinner para sair desse caso. Não é nossa função. Por alguns momentos, Allison pensou em objetar já que não gostava do jeito arrogante com que Brian decidia as coisas por ela. Mas, talvez, estando ela fora do caso, fosse mais fácil ficar perto de Mulder. - Ok, Brian. Mas você diz isso para ele. Eu não quero me indispor com o Diretor Assistente. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Tudo estava dando errado. Seria possível que Mulder não pudesse cair em desgraça sem causar toda aquela confusão. Ele não havia planejado daquela forma. Já era para o corpo de Mulder ter sido encontrado junto com o daquela prostituta. Mas o corpo dela, e somente o dela, fôra encontrado pela polícia. Nenhuma menção a uma segunda vítima, nos relatórios. Isso somente significava que ele estava vivo. E precisava ser encontrado e eliminado. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx - Oi. Allison se virou, sobressaltada. Não esperava ouvir qualquer palavra do homem deitado há semanas na cama. - Oi. É bom ter você de volta. Como se sente? - Bem. Acho. Onde eu estou? - Na minha casa. Você se machucou, eu te trouxe para cá. Dizer que ele havia se machucado era, realmente, um modo muito delicado de contar a verdade, mas Allison não queria arriscar, caso ele não se lembrasse de nada. - Eu lembro da casa abandonada. E de Natalie.....Ela está morta, não é? Allison nunca vira tanta tristeza em uma única pergunta. Mas não havia como mudar isso. - Sim, está. Sinto muito. Do que mais se lembra? - De alguém me batendo e depois eu vi Natalie no chão. Acho que é só isso. Allison soltou a respiração lentamente. Pelo menos ele não se lembrava do tempo que passara preso dentro daquele freezer. - Ok, já é o bastante. É melhor você não se esforçar tanto. Mulder concordou, balançando a cabeça. Em seguida, olhou intensamente para Allison. - Quem é você? Eu já te vi antes. - Meu nome é Allison Davies. Trabalho no FBI, mas nós nunca nos encontramos. - Mas eu te conheço. - Sim, provavelmente porque fui eu que te achei e te trouxe para cá. Mais uma pausa se seguiu. Allison chegou a pensar que Mulder tinha voltado ao seu estado de catatonia ao qual ela se acostumara. Mas, novamente, ele rompeu o silêncio. - Porque não me levou para um hospital? - Porque você não queria ver ninguém. Eu trouxe um médico, que te examinou e te medicou. - E não disse a ninguém que eu estou aqui? - Não. Novamente, Mulder ficou em silêncio, apenas olhando para Allison. - E isso tudo só porque eu não queria ver ninguém? Allison simplesmente balançou a cabeça. Nem ela entendia porque estava fazendo isso. - Que dia é hoje? - Mulder, para alguém que ficou calado por duas semanas você faz muitas perguntas. - Desculpe. - Não tem do que se desculpar. Vou tentar tirar todas as suas dúvidas. Eu achei você na casa abandonada e te trouxe para cá porque você parecia nervoso quando eu mencionava pedir ajuda. Eu não contei para ninguém sobre isso porque achei que isso não seria bom para você. Além disso, eu ando desconfiada.... - Do que? - De toda essa confusão em que você se meteu. De você ter ficado suspenso por tanto tempo, com a conta bancária e cartões de crédito bloqueados, sem ter acesso ao FBI. - Eu agredi minha parceira, o irmão dela e um bebê. Acho que isso explica bastante. - Você acha que ela se vingou de você? Ela não faria isso. - Eu tenho uns amigos, ou tinha, pelo menos. Eu briguei com eles também. Não seria difícil para eles fazer isso. - Mulder, o que você está dizendo é que seria mais fácil para seus amigos, sua parceira e seu chefe prepararem uma vingança contra você do que um estranho? - Bem, eu mereci... - É por isso que você não procurou ajuda? - Eu procurei! - Acho que não. Você é um agente federal, teria mais meios de sair desse problema se quisesse. Mulder concordava com ela. No fundo ele havia aceitado a situação achando que merecia cada minuto de sofrimento. - Talvez você tenha razão, Allison. Mas eu garanto que eu tentei fazer alguma coisa. Posso não ter tentado o suficiente, mas tentei.... - Ok, vamos deixar esse assunto de lado. E deixar de lado qualquer desconfiança que você tenha quanto aos seus amigos. Alguém matou uma mulher inocente, e tentou te matar. Seja quem for que fez isso queria que você sofresse muito, senão teria te matado imediatamente. Seus amigos não iriam querer isso... Tem idéia de quem possa ser? - Não. Eu tenho alguns inimigos, mas fica difícil adivinhar. - É melhor a gente fazer mais do que adivinhar. Seja quem for que se deu a tanto trabalho, deve estar ainda mais disposto a terminar o serviço. Mulder não respondeu, mas tentou se levantar, e foi parado por Allison, imediatamente. - Onde você pensa que vai? - Allison, eu não posso ficar aqui parado. - Você tem ficado parado por muito tempo e com certeza pode ficar mais uns dias. Enquanto isso, eu posso tentar descobrir quem fez isso com você. - Se você não descobriu até agora, como pretende fazer isso? - Porque você pode se lembrar de quem te agrediu. - Estava escuro, eu não vi nada. - Nada mesmo? Altura, tipo físico, qualquer coisa? - Não sei. - Enquanto você tenta se lembrar, eu vou para o FBI. Existem algumas perguntas que eu preciso fazer, lá dentro mesmo. - Como o que? - Como: Quem te suspendeu? Ou quem bloqueou sua conta bancária? - Já não tinha pesquisado isso? - Já, mas pelos canais oficiais. Existem outros métodos para se alcançar dados em computadores, você sabe. Só tenho que torcer para que quem apagou as informações não tenha sido cuidadoso. - Boa sorte, então. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Enquanto seguia para o FBI, Allison ficou pensando em toda a conversa com Mulder. Mesmo depois de ter ouvido os argumentos de Allison em defesa de Scully, Mulder não havia pedido para rever a parceira. Isso era estranho, já que os dois tinham trabalhado tantos anos juntos. De qualquer forma, Allison não pretendia contar a Scully onde Mulder estava. O ideal era que ninguém, além dela própria, soubesse. Ela não ousava contar, sequer, a Brian. Confiava em seu parceiro, mas, ao mesmo tempo, sentia que ele entregaria tudo nas mãos de seus superiores, caso achasse que isso o prejudicaria. Allison também se preocupava com a possibilidade de ser punida, mas não podia virar as costas à Mulder. Não agora, quando já havia conseguido que ele conversasse com ela e confiasse nela. - Agente Davies. O Diretor Assistente Skinner quer vê-la, imediatamente. Allison estremeceu com a mensagem que lhe fôra dada. O que Skinner poderia querer com ela? Obviamente, não era para dizer que haviam encontrado Mulder. Não adiantava especular. O que ela tinha que fazer era ir falar com Skinner e ver o que ele queria. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx - Diretor. Queria falar comigo? Allison se assustou ao ver que Scully também estava na sala. Mas Scully sequer se virou para olhá-la. Foi nesse momento que Allison pressentiu que teria problemas. - Sente-se, Agente Davies. Ela não ousava desobedecer. Sentou-se lentamente com o olhar fixo em Skinner. - Agente Davies, a Agente Scully recebeu uma informação de alguém que a viu na cena de um crime ajudando um homem ferido a entrar no seu carro. Nós verificamos a informação e descobrimos que junto ao corpo de Natalie Stevens havia mais alguém bastante ferido. E, pelo exame do sangue encontrado a outra pessoa era o Agente Mulder. O que tem a dizer a respeito? Allison demorou um pouco para assimilar aquilo, e o medo inicial deu, rapidamente, lugar à raiva. - Escute, Diretor Skinner. Eu não devo satisfação do que eu faço a vocês. O Agente Mulder não fez nada de errado. Eu tirei ele de lá sim. O que vocês pretendem fazer? Me suspender para sempre? - Você o encontrou há duas semanas e nunca disse nada. Nos fez perder tempo. - Ok! Me processe! Scully levantou-se, bruscamente. Por segundos, Allison achou que ela a atacaria, mas tudo o que recebeu foram agressões verbais. - Você não tinha o direito de fazer isso. Não teve respeito pelos sentimentos de ninguém. - Eu nunca tive respeito pelos sentimentos dos outros? Eu respeito os sentimentos de Mulder. Tem idéia do que esse homem passou? E vocês ficaram sentados, sem fazer nada a respeito. Então não me venha dar lição de moral, Agente Scully. Se isso é tudo, senhor, eu vou indo. Tenho muito o que fazer. - Não. Isso não é tudo. Onde ele está? - Vai ter que conseguir uma autorização judicial para que eu diga onde ele está e vocês possam vê-lo. - Agente Davies, isso é insubordinação! - Como eu já disse, me processe. Me suspenda. Mas eu garanto que eu não vou deixar que bloqueiem meu crédito, que me coloquem para morar em alguma pocilga, sem antes eu ir a público mostrar como vocês punem os agentes. - Isso é ridículo. Nós não fizemos isso. Ele foi somente suspenso. - Por sete meses! Não esqueça isso, foram sete meses sem salário. Olhe, eu realmente tenho muito o que fazer, me dê licença. Allison tremia de raiva quando deixou a sala de Skinner. Não se preocupou, sequer, em olhar para trás. Sabia que estava mexendo com fogo e sabia, também, que agora seria mais complicado continuar a investigação. Teria que retirar Mulder de sua casa, o mais rápido possível. Chegou em casa, avisando a Mulder que se levantasse, explicando, mais ou menos, o que havia ocorrido. - Allison! Calma, me explica direito o que houve. - Nós não temos tempo! Eles estão vindo para cá! - Eles quem? - Eu te explico no caminho, Mulder! Por favor. Mulder achou melhor deixar as perguntas para depois e ajudá-la a arrumar as coisas. Allison não tinha idéia sobre onde eles poderia ir, mas era imperativo que eles não estivessem ali quando Skinner e Scully chegassem. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Scully havia ouvido as acusações de Allison em silêncio, mas dentro de si ela havia mantido uma calorosa discussão, chegando a conclusão de que Allison estava certa. Ela havia se afastado de Mulder, simplesmente apagando seu parceiro de sua vida. Sem jamais ter dado a ele a oportunidade de pedir desculpas. Decidiu ir atrás de Allison, mas antes que chegasse à porta, Skinner a impediu. - Scully, deixe-a. Ela não confia em nós. Vou chamar o parceiro dela e pedir que ele vá para lá, imediatamente. Quem sabe assim ela se acalma e nós consigamos falar com Mulder. Não foi difícil encontrar Brian, que estava bem perto da casa de Allison. Brian aceitou o encargo. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Allison e Mulder estavam perto do carro e ela já se preparava para abrir o porta-malas e guardar as coisas dentro. Foi quando Allison notou que Mulder estava parado, o olhar perdido como quando ela o havia encontrado. - Mulder! Entra no carro! Nenhuma reação. Allison olhou na direção que Mulder insistia em fixar o olhar. Brian. Ele estava com medo de Brian. Assim como devia ter medo de qualquer pessoa estranha. Não podia forçar Mulder com a presença de Brian, mesmo confiando que seu parceiro não os pararia. Allison não esperou que Brian chegasse perto do carro. Fez Mulder entrar, rapidamente, e ligou o carro, arrancando em seguida. Pelo retrovisor, viu que Brian os seguia. - Mulder, fica calmo, ok? Eu conheço ele. É meu parceiro. - Foi ele, Allison. Foi ele que me atacou e matou Natalie. - Brian? Tem certeza? - O suficiente para não querer me arriscar. É melhor você acelerar esse carro. Allison não discutiu. Confiava em Brian, mas confiava também nos seus instintos, e esses diziam que o medo de Mulder era real. Correu o máximo que pôde, sempre tendo Brian na sua cola. Parecia ser impossível despistá-lo. Ela tinha que se afastar o suficiente para fazer com que Mulder saísse do carro. Era Mulder quem Brian queria. A oportunidade perfeita surgiu depois de uma curva. Allison parou o carro, bruscamente. - Desce Mulder. Eu te encontro mais tarde, no parque em frente ao seu antigo apartamento. Mulder não teve tempo de dizer nada, saiu correndo do carro e se escondeu em um beco. Ainda pôde ver Allison desaparecendo no fim da rua e Brian que a seguia, sem desistir. Ele somente esperava que ela conseguisse escapar. Mas não podia, simplesmente, esperar sem fazer nada. Pediu para usar o telefone em um banco, naquela rua. Por sorte sua aparência havia melhorado muito desde a última vez que estivera nas ruas. Ligou para o celular de Scully. Ela tinha que atender. Era só o que ele pensava. - Scully. Ouvir a voz dela o congelou. Ele não sabia o que dizer. Não tinha forças, nem mesmo, para respirar. Mas Allison dependia dele. - Sou eu. Mulder. - Mulder? Onde você está? - Olha, não importa. Vocês têm que achar a Allison. Ela está fugindo no carro dela. - Fugindo de quem? - Do parceiro dela. Ele quer me matar. - Mulder, isso não faz o menor sentido. Nós o mandamos para encontrar você na casa dela. Ele não quer matar você. Onde você está? - Pelo amor de Deus, Scully, faz isso por mim! Peça uma busca para o carro dele. Scully não tinha opção. Ou fazia o que Mulder pedia, ou perdia a confiança dele. Mesmo que depois ficasse esclarecido que o Agente Wilson não tinha intenção de fazer mal a Mulder, ela precisava fazê- lo confiar nela, novamente. - Certo, Mulder. Vou fazer isso. - Obrigado, depois te explico tudo. Antes que ela dissesse algo, ele desligou. Scully contatou a polícia e pediu uma busca pelo carro de Allison e a prisão de Brian. Somente esperava que não fosse um alarme falso, ou um modo de fazer com que eles olhassem para o outro lado enquanto Mulder fugia. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Allison olhou pelo retrovisor mais uma vez, somente para se certificar do que desconfiava. Brian já não a estava seguindo. Teria ele percebido a manobra que ela fizera para salvar Mulder? Naquele momento ela não podia fazer nada a não ser seguir para o parque, onde havia dito para Mulder ir. Quando estava quase chegando, se sobressaltou com o som de seu celular. - Alô? - Allison, sou eu, Scully. Onde você está? - Porque quer saber? - Porque Mulder me ligou e me pediu para mandar prender seu parceiro. Quer me dizer o que está acontecendo? - Olhe, Scully, eu realmente não sei, mas Mulder disse que Brian matou aquela moça e tentou matá-lo. - E você acredita nele? - E porque não deveria acreditar? Brian me seguiu até agora. - Skinner o mandou para procurar por você. Ele estava seguindo ordens. Escute, Allison, Mulder passou por maus bocados, mas talvez exatamente por isso ele não esteja vendo as coisas como elas são. - Você pode até ter razão, mas eu preferi não arriscar. - Ok, ok. Onde você está agora? E onde está Mulder? - Ele não te disse? - Não, Allison. Ele preferiu não me dizer. - Então vamos fazer o seguinte. Eu me encontro com ele e depois te digo onde estamos. Allison desligou o celular em seguida, não dando chance a Scully de chamá-la novamente. Ela não estava disposta a arriscar nada. Não sem saber quem eram os inimigos dele. Allison confiava no que Mulder dissera. Que Brian queria matá-lo. Ela não sabia porque, e jamais imaginou seu parceiro fazendo isso. Mas ela tinha olhado Mulder nos olhos e tinha visto o medo lá dentro. Era um medo verdadeiro. E se ela não podia confiar no próprio parceiro, porque deveria confiar na parceira de Mulder. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx - Dá para acreditar nisso? Scully entrou na sala de Skinner, lançando fogo com seu olhar. Skinner já a havia visto furiosa, mas isso ainda o assustava. - O que houve? - Aquela mulher se recusa a dizer onde Mulder está e ainda nos faz perseguir um agente do FBI, que, segundo ela, armou uma conspiração com o único propósito de matar Mulder. - Ela disse isso? - Sim. Foi o que ela disse. Eu nunca pensei que fosse encontrar alguém mais paranóico e megalomaníaco do que Mulder, mas vejam só, como a gente se surpreende. Nesse momento, quase como que atendendo a uma deixa, o telefone tocou na mesa de Skinner. - Pois não? Sim...Sei...Não. Pode mandá-lo aqui. Obrigado. Dirigindo-se a Scully, Skinner disse sobre o que era a ligação que acabara de receber. - O Agente Brian Wilson foi detido pela polícia. Eles o trouxeram para cá. Minutos depois, Brian entrou na sala de Skinner. Estava furioso. - Posso saber o que diabos a polícia veio fazer atrás de mim? - Agente Wilson, fui eu que pedi isso. Recebi uma ligação de alguém que fez algumas acusações bastante sérias. - De quem, Agente Scully? - De Mulder. E sua parceira confirmou as acusações. - Sei. E agora os dois desapareceram, não é? Eles fizeram vocês de idiotas. Vocês me pediram para ir à casa de Allison, para não perder Mulder de vista, e quando eu faço isso vocês mandam a polícia atrás de mim, somente porque aqueles dois disseram um monte de bobagens! Scully já se preparava para dizer algo quando Skinner a interrompeu. - Agente Wilson. Acalme-se. Nós vamos cuidar disso a partir de agora. Pode se retirar. Brian não esperou nem mais um minuto. Tinha que sair dali. Mas o que ele queria mesmo era acabar com aqueles dois. Com aquela sua parceira traidora e com Mulder. Não tinha idéia de onde eles poderiam estar, no entanto. Talvez tivesse que deixar para depois essa sua vingança. Uma vingança que ele perseguira durante anos, contra aquele agente que, devido aos seus modos arrogantes, havia feito com que seus superiores o relegassem a um segundo plano. De fato, segundo Brian, se não fosse por Mulder e seu trabalho na Seção de Crimes Violentos, o próprio Brian seria o astro naquela seção e hoje ele não estaria trabalhando em verificar relatórios intermináveis e espionar seus colegas. Fôra Mulder, sempre prepotente, que o colocara em situação ridícula, durante uma investigação de homicídio, demonstrando que ele estava errado. Quando Brian vira, no computador, a chance de derrubar Mulder de vez, não pensou duas vezes. Desferiu o golpe que fez com que Mulder afundasse. A tentativa de homicídio servira somente para fazer Mulder sofrer ainda mais. Agora se arrependia de não tê-lo matado com rapidez. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Um enorme sentimento de alívio tomou conta de Allison quando ela viu Mulder sentado atrás de uma árvore. - Você chama isso de se esconder? - Eu andei descobrindo outros métodos para me esconder. - Bem, nem pense nisso. Foi complicado demais fazer você sair dessa toca que você inventou. - Eu vi você, Allison. O tempo todo. Quando eu estava lá dentro, daquele freezer, eu só queria sair dali, só queria que Scully me tirasse dali. Mas ela nunca apareceu. Então você abriu a tampa e eu te vi. Era estranho. Tudo parecia desfocado, não só o que eu via, mas o que eu sentia e ouvia. Tudo. Menos você. Eu escutava a sua voz e as bobagens que você dizia. - Hummm, bobagens? Que absurdo! - Deixa para lá. Mulder apresentou um sorriso inédito para Allison e se levantou. - Acho melhor a gente ir até o FBI, Allison. Eu prometi à Scully que eu ia explicar tudo. - Você confia nela? Ele não respondeu e ela não insistiu. Talvez ainda procurasse a resposta dentro de si. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Scully estava zangada consigo mesma. Mulder a havia enganado e ela se deixou levar, completamente, por uma acusação absurda e sem nexo. Decidiu que o melhor a fazer era ir para casa e tentar esquecer Fox Mulder de uma vez por todas. Desceu para a garagem e já estava abrindo a porta do carro quando escutou o barulho de um tiro e alguém gritando, pedindo uma ambulância. Uma voz de mulher, que ela reconhecia. Era Allison Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Allison havia aceitado ir até o FBI. Seria bom tentar, ao menos, ajeitar a situação. Ela não acreditava que alguém fosse tentar algo contra Mulder, dentro do edifício do FBI. Ainda usando seu cartão de identificação, Allison entrou na garagem do prédio. Quando parou o carro e desceu viu que Brian vinha em sua direção. Mulder saiu do carro, não sabendo se devia fugir ou enfrentar Brian. Fosse qual fosse sua decisão, ele não pôde agir rapidamente. Brian sacou a arma e atirou em Mulder, que caiu imediatamente. Allison buscou sua própria arma no coldre, mas, ela estava no carro, por alguma razão que ela não lembrava mas amaldiçoava. Então ela fez a única coisa que podia. Gritou, pedindo uma ambulância e correu em direção à Mulder. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Brian não esperava encontrar Allison e Mulder na garagem do FBI. Sua reação foi imediata, mas estúpida. Atirara em Mulder, em um local que, em breve, estaria apinhado de seguranças. Mas, no fundo, já não se importava com mais nada. Quando Scully se aproximou dele, gritando para que abaixasse a arma, ele o fez docilmente. Enquanto ela lia seus direitos, tudo o que ele fazia era fitar Allison, quase como se a acusasse de traição. Quando o levaram embora, algemado, ele nada disse. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Scully correu para ver como Mulder estava. Ainda tinha pulso, mas ela notou que a respiração estava fraca. - Allison, pressione o ferimento. Vou arrumar um cobertor, antes que ele entre em choque. Allison fez o que ela dissera. Não tinha, de fato, intenção de discutir. Tudo o que queria era que Mulder sobrevivesse. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx - Allison, acabei de falar com os médicos. Ele vai ficar bem. - Ótimo. - Eu sinto muito, Allison. Sinto muito que eu não tenha acreditado em você e no Mulder. - Não esperava que você acreditasse em mim. Mas porque não acreditou nele? Sabe o que custou a ele ligar para você? Demorou duas semanas para que ele falasse comigo. E, quando ele finalmente fala, ninguém ouve! - Você ouviu. - Não era a mim que ele queria ouvir, Scully. Era você. Mas sabe o que é o pior? É que ele vai continuar a confiar em você, como se nada tivesse acontecido. - Você não faz idéia do que aconteceu. Você não estava lá! Não viu Mulder agredir um homem com um bebê no colo. Não viu Mulder tão cheio de ódio que sequer se importava com quem estava agredindo. Aquele bebê saiu ferido, entende isso? - Qual é a pena para alguém que bate em uma criança? Anos de cadeia, com certeza, não é? Só que na cadeia ele teria comida, uma cama para dormir e não seria jogado dentro de um freezer com um cadáver em cima dele. E não ficaria preso lá dentro, por dois ou três dias, sem água nem comida. Sem oxigênio o suficiente. Sinceramente, acho que ele já pagou até demais pelo crime do qual você o acusa! - Eu não quis isso para ele! - Tenho certeza absoluta que você não quis, Scully. Assim como eu sei, no fundo do coração, que ele não queria machucar aquela criança. Allison estava certa. Scully sabia disso. Sempre soubera, mas havia escolhido o caminho mais fácil. Se Mulder estava sofrendo era porque ela o havia feito sofrer. Era, realmente, o caminho mais fácil, mas, ao mesmo tempo, o que causava maior sofrimento. Agora ela precisava desfazer isso. Tinha que ficar frente a frente com Mulder e pedir que ele a perdoasse. Scully não sabia se tinha forças para isso. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Mulder acordou aos poucos, incerto, ainda, sobre onde estava. Não era aquela caixa maldita, tinha certeza. Aos poucos tentou se lembrar do que havia ocorrido. Allison! Brian havia atirado nele e Allison estava lá. E se Brian a tivesse matado? Uma sensação de pânico se apoderou dele. Tinha que sair dali, tinha que achar Allison. Viu que estava em um hospital, mas isso não o acalmou. Seus braços estavam presos à cama. Começou a gritar, chamando por Allison. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx