Título: Os Cinco Pontos Cardeais Autora: Claudia Modell Sinopse: Mulder resolve investigar uma pequena conspiração descoberta por uma garota de quatorze anos. A pequena conspiração se revela bem grande, e as conseqüências do mistério nas investigações colocam em risco a vida dele e da garota. Além de lançar uma sombra sobre a parceria dele e da Scully. E-mail: claudia@subsolo.org Categoria: Drama Homepage: http://subsolo.org Disclaimer: Os personagens dessa história foram criados por Chris Carter, 1013 e Fox Company. Os Cinco Pontos Cardeais O prédio do FBI era quase como uma fortaleza. As entradas eram todas vigiadas, fosse a garagem, a entrada principal ou até mesmo a entrada dos funcionários. Não havia meio de alguém desconhecido entrar no prédio sem se tornar conhecido imediatamente. As câmaras de segurança estavam por toda a parte, os vigias tinham ordens de deter qualquer intruso. Assim, quando o grupo de trinta e dois estudantes, todos na faixa dos quatorze anos, entrou no edifício, a segurança já estava sabendo da identidade de cada um deles. A visita ao FBI, assim como a diversos outros prédios públicos, era uma praxe nas escolas, principalmente um pouco antes dos alunos entrarem de férias. Algumas das visitas eram consideradas monótonas, menos aquela feita ao FBI. Os estudantes estavam excitados com a possibilidade de visitar um local que eles somente conheciam através dos filmes. Danielle Ferguson tinha completado quatorze anos havia um mês e estava considerando aquele passeio como um presente. Mas não exatamente pelos mesmos motivos que seus colegas. Ela adorava computadores e a única coisa que queria era mexer em uma das máquinas do FBI, sem precisar invadir a rede, é claro. Ela não tinha intenções criminosas. Era mais como um desafio. Um desafio a si mesma já que nunca poderia contar o que faria a ninguém. Ela já tinha um plano em mente. Não era exatamente um plano, já que a idéia era somente encontrar um computador, mexer nele o máximo possível até que alguém a descobrisse e ela agisse como uma adolescente boboca que não tinha idéia do que estava fazendo. Assim que sua turma se afastou um pouco ela se separou deles e seguiu para o elevador. Sem saber para que andar ir, ela simplesmente escolheu o segundo andar. Ao sair no corredor notou que o andar estava vazio. Seguiu para uma sala, cheia de computadores, todos conectados em rede. Ou seja, o paraíso. Ela correu para o último computador da sala e começou a abrir diretórios mas não achava nada de interessante. Havia um sistema de busca de nome de criminosos. Ela achou que seria divertido procurar alguns nomes. Começou com os nomes de seus professores, seus pais, seus vizinhos. Mas como era de se esperar nenhum deles era um criminoso. Digitou James Mason, para ver se o sistema realmente funcionava. Bem, ele não era nenhum procurado, mas lá estava o nome no hall da fama do FBI. Tentou Bill Clinton. Nada. O presidente podia ser acusado de tudo menos de ser procurado pelo FBI. Danielle já estava entediada quando decidiu digitar o nome do momento. Senador Jefferson Whitaker, que havia denunciado um colega por suborno. A resposta que surgiu na tela a deixou desorientada. Ele havia sido investigado pelo FBI, suspeito de venda de bebida alcóolica. O problema era que o suposto crime ocorrera havia sessenta anos e o senador devia, na época, ou ser um bebê ou nem ao menos ter nascido. Era claro que era um caso de homônimos, mas mesmo assim ela resolveu imprimir a informação. Quando a impressora terminou de trabalhar, Danielle se levantou para ir embora, mas foi surpreendida por um homem, com um crachá do FBI. Como ela conseguiria escapar com o papel que havia impresso era a pergunta de cinco mil dólares. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Mulder queria fugir para qualquer lugar. Antártica, China ou até o inferno. Qualquer lugar seria mais agradável do que ficar naquela interminável reunião. À medida que a reunião prosseguia Mulder dava alguns passos para trás, com a esperança de, aproveitando-se da presença de tantos agentes, passar despercebido e escapar da sala. Scully já estava longe dele e não havia notado que ele havia se distanciado. E então, de repente, Mulder estava livre. Mas a questão era que não sabia o que fazer com a liberdade que acabara de conquistar. Foi até sua sala. Pelo menos lá ele estaria longe da chatice da reunião. Quando chegou notou uma menina, no fundo da sala, mexendo em um dos computadores. Agora tinha algo a fazer. Iria assustar a menina dando-lhe voz de prisão, e se divertir vendo a reação dela. Normalmente, ele não era cruel com crianças, mas a garota era uma adolescente e todos os adolescente são um pouco cruéis. Assim ele somente faria algo com que ela já estava acostumada. "Posso saber o que a senhorita está fazendo?" Mulder notou o claro nervosismo da garota que se levantara abruptamente segurando uma folha de papel que tentava, desesperadamente, esconder. Danielle jamais pensara que podia se meter em alguma encrenca. Achara que se fosse pega seria simples inventar uma desculpa e ir embora. Mas, agora, que estava enfrentando o problema, isso não parecia tão simples. "Desculpe, eu só estava verificando meu mail." "Seu mail? Aqui?" "Eu uso o Hotmail." "Olhe, você pode até estar só verificando seu mail, mas ainda assim isso é crime, e eu vou ter que prender você." Mulder percebeu que ela estremecera com essa declaração, mas, mais do que isso, ela parecia estar preocupada com a folha de papel que carregava. "Pode me dar esse papel?" Esse era o pedido que Danielle temia. Pegar informação do FBI era realmente um crime federal, e a idade dela não a ajudaria muito. Ela tentou fingir uma crise de choro, mas isso não adiantou. Mulder puxou o papel da mão dela, mas mal teve tempo de examiná-lo. "Você não tem o direito de fazer isso. Me devolve isso!" "Não! Enquanto você não me disser quem é você e o que está fazendo aqui." "Meu nome é Danielle Ferguson e eu estava somente olhando o mail que eu imprimi. Satisfeito, Sr. Ninguém?" "Fox Mulder e eu sou um agente do FBI que não acredita em você." "Dane-se se você não acredita. Me devolve isso agora." Danielle não estava disposta a deixar o papel com o agente de nome esquisito. E ela estava furiosa por ele não deixá-la ir. Ela tentava pegar a folha mas Mulder, sendo mais alto, tinha, simplesmente, que levantar o braço mantendo o papel fora do alcança da menina. Eles continuaram com esse jogo de gato e rato por alguns instantes até que ouviram vozes se aproximando. A distração causada pela aproximação das pessoas deu tempo a Mulder para abaixar o papel e ver o que havia nele. Era uma surpresa. A ficha do Senador Whitaker. Mas ele não pôde analisá-la por muito tempo. Danielle, refeita do susto, conseguiu puxar o papel das mãos dele e correu o mais rápido que pôde, em direção aos elevadores. Ela pensou que Mulder iria gritar para que a parassem mas ele não fez isso. Enquanto ela entrava no elevador deu uma olhada para trás e viu que Mulder estava olhando para ela. Mulder estava intrigado com o que estava na folha de papel, e assim foi até o computador e fez a mesma busca que Danielle havia feito. Estava lá. O homônimo do senador, investigado sessenta anos atrás. Só podia ser um homônimo. Mesmo assim, Mulder achava que havia algo estranho e decidiu que conversaria com a garota mais tarde. Mesmo que ela tivesse fornecido seu nome verdadeiro ele tinha meios de conseguir isso já que todas as pessoas que entravam no prédio eram identificadas. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Quando Danielle se encontrou com o grupo achou que a professora teria dado por falta dela. Mas se enganou. Todos já estavam se preparando para ir embora. O que ela fez foi se juntar a seus colegas e fingir que jamais os tinha deixado. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Mulder viu Scully se aproximando e achou que ela iria dizer algo sobre a saída antecipada dele. Mas ela não disse nada. Provavelmente não havia notado sua saída. Assim, ele achou melhor não comentar o encontro com Danielle. Mas ele ainda queria conversar com ela. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Danielle chegou em casa e mal disse oi para seus pais. Correu para o computador. Queria encontrar o máximo de informações possível sobre o senador e mesmo sabendo que a internet era um poço de informações, também tinha consciência de que teria de saber onde procurar. Mas ao menos ela sabia o que devia procurar. Data e local de nascimento e os nomes dos pais do senador. Não era o tipo de informação confidencial e após algum tempo ela finalmente encontrou o telefone do gabinete dele. E tudo o que ela teve que fazer foi ligar para lá, fingir que estava fazendo um trabalho sobre ele e conseguir todas as informações. O que resultou de sua pesquisa a deixou perplexa. A data de nascimento, logicamente, não era a mesma. Mas somente quanto ao ano. Mês e dia eram os mesmos. Mas essa não era a única coincidência. Os nomes dos pais e o local de nascimento também eram iguais. Tudo indicava que o Senador Whitaker estava usando a identidade de outra pessoa. Porque, era a pergunta seguinte. Mas Danielle teve que deixar de lado suas perguntas para atender ao telefone que sua mãe havia anunciado ser para ela. "Alô" "Danielle? Fox Mulder falando. Eu queria conversar com você sobre o papel que você imprimiu." "Olhe Agente Mulder, eu sei que vocês tem sua conspiraçãozinha e vou denunciar vocês para todos os jornais." "Que conspiração?" Ele parecia mesmo surpreso e Danielle não estava segura se deveria ir à imprensa, pelo menos não sozinha. Talvez devesse deixar isso a cargo dele, afinal ele era um agente da lei. "Os dados do senador são os mesmos do homem que o FBI prendeu anos atrás." "Todos os dados?" "Não. O ano de nascimento é diferente e o homem morreu, mas é claro que o senador está bem vivo." "Danielle, escute. Não conte isso a ninguém. Você não contou, não é?" "Não. E nem vou contar. Eu estava blefando." "Ok. Eu também acho melhor isso ficar entre nós. Somente enquanto investigo isso com calma." "Acha que isso pode ser coisa de quem?" "Não sei. Mas enquanto eu investigo você poderia me fazer um favor." "Pode dizer" "Você poderia procurar, usando o mesmo método, pelos nomes de todos os senadores, só para checar." "Agente Mulder, você só pode estar brincando. Prá fazer isso eu teria que entrar no sistema do FBI e não tem jeito de fazer isso legalmente." "Tem um jeito. Se você entrar na rede usando a minha senha." "Ei, isso tá começando a ficar divertido." Mulder sorriu. Era o típico entusiasmo da juventude, mas ele sabia que poderia durar pouco. E, de fato, após uma noite inteira de pesquisas, recolhendo os nomes de todos os senadores e depois checando os nomes nos arquivos, a última coisa que Danielle queria era continuar na investigação. E era o que ela iria dizer a Mulder no dia seguinte. Mas, enquanto ela investigava os nomes, Mulder havia descoberto muitas coisas interessantes. De fato, o senador era um político proeminente, mas que havia surgido na política havia pouco tempo. Ele não era um homem jovem e para chegar a senador ele deveria ter sido uma figura conhecida politicamente. Mas não era o caso. Era como se ele tivesse aparecido de uma hora para outra. Mas haviam outras peculiaridades. O senador havia formado uma comissão que tinha como objetivo a luta contra a corrupção. Não era algo oficial. Ele simplesmente se juntara a outras figuras políticas e começara a sua campanha pela moralidade. Isso era um fato amplamente divulgado pelos jornais. Mas quando Mulder decidiu verificar os corruptos que o senador já tinha perseguido notou que as provas contra eles sempre foram circunstanciais. Teria o senador armado um esquema somente para se promover? Mas não fazia sentido o senador querer tanta publicidade para si quando usava uma identidade falsa. Isso era o que mais intrigava Mulder. Quando ele contou isso a Danielle, pensou que ela desistiria, mas não foi o caso. Ela lhe disse que achava que haviam outros. "Mas porque você acha isso?" "Não sei, eu ia dizer que não ia continuar procurando, mas depois que você me disse isso eu acho que seria uma boa idéia a gente continuar." "Eu também acho. Ele deve estar tendo o apoio de alguém." "Ok, já que não tenho mais senadores o que devo olhar?" Essa era a grande pergunta sem aparente resposta. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Toda a questão podia ser um caso isolado ou não. Mas o mais importante era que, de alguma forma, o senador tinha tido acesso aos arquivos do FBI, e, assim, seria lógico procurar uma pista por lá mesmo. "Danielle, que tal se você procurasse por todo o FBI?" "Todos os funcionários?" Ela sequer podia imaginar como iria verificar tantos nomes. E o pior, ela nem ao menos tinha uma relação de nomes. Mas antes que perguntasse isso a Mulder, ele se antecipou. "Existe um sistema de busca por nome de funcionários. Nada muito confidencial, mas é o suficiente para verificar os dados." "Ok, vou tentar." Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Mulder desligou e ficou sentado no escritório pensando qual seria o próximo passo. Ele não se sentia confortável pedindo a uma criança que fizesse algo ilegal. E também não gostava da idéia de deixar sua parceira de fora. Ele sabia que chegaria o momento em que ela iria desconfiar de algo. E ele estava certo. Scully já começara a desconfiar do comportamento dele, mas ela imaginou que ele estivesse saindo com alguém. Ela o via se afastar para falar ao telefone. Havia ouvido Mulder dizer um nome. Danielle. Bem, Scully ficava contente que ele estivesse tendo alguma vida social. Pelo menos um dos dois tinha que ter. Mas, como sempre, ela se preocupava com ele. Mulder tinha o hábito de se deixar envolver demais com as pessoas. O famoso lema de não confiar em ninguém era somente uma máscara, porque, na verdade, ele sempre confiava em todo mundo. Principalmente se era uma mulher. Scully decidiu ficar mais atenta aos movimentos de seu parceiro. Ela disse a si mesma que estava somente ajudando seu amigo a não se ferir, mas tinha medo de sequer formular o pensamento de que, na verdade, ela estava com ciúmes. Mas vigiar os passos dele estava se tornando uma tarefa cansativa. Ele parecia absorto no trabalho, mesmo os dois não tendo algum caso em que trabalhar. Mas, ao mesmo tempo, ele parecia distraído. Se Scully não estivesse já com uma idéia formada de que a causa era uma mulher ela teria notado que ele estava se comportando exatamente como quando eles estava em alguma caçada a um serial killer. E, realmente, na mente dele, se tratava de uma caçada. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Mulder não teve que esperar muito para receber uma ligação de Danielle dizendo que havia encontrado o segundo nome. Era um dos diretores do FBI. Jeremy Davidson. Agora eram dois nomes, em posições não exatamente privilegiadas, mas com grande potencial de crescimento. Assim como o senador, o Diretor Davidson também tinha uma cruzada. Ele investigava o uso abusivo de dinheiro público pelo FBI e suas representações. Mulder podia somente concluir que alguém havia colocado os dois nessas posições com algum objetivo desconhecido. O fato dos dois lutarem contra a corrupção somente demonstrava que pretendiam ser bem vistos, o que, com certeza, devia fazer parte de um plano mais elaborado. Mas, como Danielle havia dito, não devia ser somente esses dois nomes. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Scully estava preparando alguns relatórios de despesas e Mulder achou que era um bom momento para chamar Danielle. "Oi Danielle. Sou eu, Mulder." "Oi, e ai? Qual é o próximo passo? "Você deve estar pensando o mesmo que eu, existem mais." "Foi o que eu disse. Mas, Mulder, já pensou que eles, os outros, podem estar em cargos bem mais importantes?" "Já. Por isso acho que a gente deva continuar isso discretamente." Mulder disse isso quase como um sussurro, mas Scully conseguiu captar algo. Entretanto, o que ela havia entendido somente reforçava o que ela imaginava. Eles estava saindo com alguém e não queria que ninguém soubesse. De certa forma Scully se sentiu magoada com isso. Não. Não era ciúmes, disse a si mesma. Fosse qual fosse a razão ainda assim ela se sentia na obrigação de manter Mulder sob seus olhos. E o fato de Mulder querer tanta discrição podia somente significar que a mulher era casada. Talvez fosse melhor investigar o assunto mais profundamente. Pelo bem dele, é claro. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Danielle já tinha passado uma semana dentro de casa, fazendo pesquisas no computador. Isso em plenas férias de verão. Essa situação não passou despercebida por sua mãe. Julie Ferguson havia se casado bem cedo e já tinha duas filhas adolescentes com as quais tinha um ótimo relacionamento. Normalmente Danielle era a mais agitada das irmãs. E vendo a mesma garota antes agitada e alegre, agora trancada em seu quarto, recebendo telefonemas de um homem que, pela voz, parecia ser bem mais velho do que ela, Julie começou a se preocupar. Talvez o mesmo homem que ligava para ela estava se encontrando com ela na internet. Julie e o marido não se sentiam ameaçados pela internet pois tinham plena confiança no bom senso das filhas. Mas, agora, Julie começava a pensar que, na verdade, um aproveitador podia se aproximar facilmente das garotas, conquistando aos poucos a confiança delas. Assim, nada restou ao casal senão cancelar o acesso à internet e começar a filtrar as chamadas para Danielle. Então, de repente, a comunicação entre os dois foi totalmente cortada e, o pior, a pesquisa estava emperrada. Danielle sabia que era inútil tentar reverter a situação. Ligaria para Mulder, de alguma forma e ele pensaria em uma solução. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Mulder não estava na sala quando Danielle ligou. Scully atendeu e aproveitou a oportunidade. "Não, ele não está. Mas volta em alguns minutos. Sou a parceira dele, Dana Scully, quer deixar algum recado?" Danielle ponderou por alguns instantes, mas não podia deixar um recado muito claro, e também não sabia quando teria outra chance de falar com ele. "Pode dizer que Danielle ligou e que eu não vou poder atender qualquer telefonema? Mais tarde eu falo com ele." "Ok, eu digo. Mas está tudo bem?" Scully imaginava que o marido de Danielle devia estar desconfiado e que isso era o que ela queria dizer a Mulder. "Tudo bem, obrigada. Até logo." Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Quando Mulder voltou Scully deu o recado e notou que ele havia ficado decepcionado. "Ela não disse quando vai ligar?" "Não Mulder. Mas não chore, ela liga" Scully sorriu ao dizer isso mas se arrependeu ao ver a expressão dele. Mulder seguiu para sua mesa e ficou quieto, olhando para o monitor. Parecia desolado. E ele realmente estava. Danielle já havia conseguido descobrir dois nomes e ele sabia que bastava um pouco mais de pesquisa para descobrir mais. Ele até tinha uma idéia do próximo passo. Mas sem ela ele teria que tentar pesquisar sob os olhares, não só de sua parceira, como também dos outros agentes que estavam na mesma sala. Mas, pior que essa decepção era o que estava por vir. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx O Diretor Assistente Kersh chamou os dois ao seu gabinete. Um caso em Ohio requeria a atenção deles. Nada interessante. Somente a verificação de uma informação sobre compra de explosivo plástico. Mas isso afastaria Mulder por um bom tempo do que ele procurava. Só esperava que Danielle o chamasse, nem que fosse para o seu celular. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx A viagem para Ohio foi bastante silenciosa. Scully preferia não tentar puxar assunto com ele. Pelo jeito ele não estava gostando muito da separação forçada de sua nova amiga, ou namorada. Scully já começava a achar que o caso era bem mais sério do que um simples namoro, no entanto. Ao descerem no aeroporto, Mulder religou o celular e praticamente no mesmo instante ele tocou. "Mulder." "Oi. Ainda bem que te achei. Eu queria dizer que meus pais não me deixam mais usar a internet e estão de olho nos meus telefonemas. Ou seja, eu não posso fazer mais nada. Pelo menos mais nada ilegal." "Danielle escute, tem uma biblioteca pública perto da sua casa, não é?" "Tem, mas acho que alguém poderia notar." Mulder se afastou de Scully, enquanto ela pegava as bagagens. Os ruídos do aeroporto propiciaram a chance para Mulder falar abertamente. "Você só vai pesquisar os nomes dos governadores." "De todos os estados???" "Receio que sim. Mas isso é uma pesquisa normal, ninguém vai desconfiar. Se importa?" "Não, que isso! Se não fosse isso eu estaria fazendo coisas super chatas como namorar, passear, andar de patins." "Ok, Ok, entendi. E seu eu te implorar?" "Tá bom, não precisa. Eu vejo isso." "Eu sabia que podia contar com você. Eu devo voltar para Washington ainda essa semana." Scully já havia se aproximado de Mulder, com as malas. Estava claramente contrariada por ter sido deixada com todo o trabalho. Mas não disse nada. Queria ouvir o que Mulder dizia, mesmo se repreendendo intimamente por isso. "Eu nem sabia que você estava fora da cidade." "É só um caso de rotina. Juro que volto logo e resolvo tudo." "Ok, então tchauzinho." Mulder desligou o celular e estava um pouco mais tranqüilo. Danielle não iria parar a pesquisa. Scully notou que o humor dele havia mudado para melhor. Fosse lá quem fosse Danielle ela tinha uma forte influência sobre ele. Enquanto os dois prosseguiam no caso para o qual foram chamados, Danielle prosseguia pesquisando os nomes de todos os governadores. Quando conseguiu a lista completa, no entanto, viu que não poderia jamais continuar. Pelo menos não em uma biblioteca pública. Ela conseguira acesso a um computador mas era por tempo limitado, e as pessoas que esperavam para usar o micro ficavam praticamente vigiando o que ela procurava. Se ela abrisse o sistema de busca do FBI alguém notaria e ela não teria como inventar uma desculpa. Não restava mais nada a não ser esperar a volta de Mulder e ver o que ele faria. Mas ela não tinha idéia de como ele entraria em contato com ela. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Mulder havia conduzido as investigações com o mesmo interesse que demonstraria por uma palestra sobre economia. Scully podia entender, já que o caso não tinha nada de interessante, e nem ao menos era um caso propriamente dito. As suspeitas de atividade ilegal se mostraram infundadas e os dois voltaram com um relatório de algumas linhas. Pela reação impassível de Kersh, Scully notou que isso era o que ele já esperava. Apenas mais um caso inútil para mantê-los ocupados e insatisfeitos. "Scully, você entrega o relatório de despesas?" "Claro. Onde você vai?" "Eu preciso encontrar alguém." "Ok, tudo bem." Scully não ousava perguntar nada a Mulder mas sabia que ele iria se encontrar com a misteriosa Danielle. Talvez não fosse uma má idéia seguí- lo. Enquanto ela cogitava isso, Mulder já se encaminhava para a garagem. Ela tinha que decidir rápido, ou não o alcançaria. E, então, finalmente, decidiu. Disse a si mesma que era para o bem dele e o seguiu. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Danielle não tinha idéia se Mulder já havia voltado ou não. Achou que ele ligaria para ela mas duvidava que seus pais a chamassem. Havia a possibilidade dele ir se encontrar com ela nos arredores de sua casa. Assim ela ficou, por aqueles dias, passeando nos arredores de sua casa. Não era o que se chama de férias, mas era o único modo de estar em um local certo, dando chance a Mulder de encontrá-la. E deu certo. Mulder havia pensado em ir até a casa dela, e, chegando lá, pensaria em algo para dizer. Mas teve sorte. Danielle estava a umas duas casas distante de sua residência, e o melhor, estava sozinha. Mulder parou o carro ao lado dela. "Hey, é você a hacker dessas bandas?" Ela sorriu ao vê-lo e se aproximou do carro. "Ainda bem que você voltou. Eu tenho os nomes dos governadores, mas não tenho acesso à internet." "Isso é um problema. Na biblioteca é impossível?" "É. Muita gente e o programa do FBI iria ficar visível demais. Você bem que podia me arrumar um laptop." Mulder não pôde deixar de rir, afinal isso era o sonho de qualquer viciado em computadores, e Danielle era exatamente isso. "Ok, eu arrumo. Mas você tem que prometer que vai cuidar bem dele." "Eu juro que não quebro ele! Juro!" Danielle estava tão eufórica que deu um beijo no rosto dele. Ele sorriu e se despediu, marcando outro encontro onde ele entregaria o laptop. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Scully estava à uma distância segura quando notou que Mulder havia parado o carro. Não havia ninguém nas redondezas a não ser uma menina sentada no meio-fio. Com certeza aquela não era Danielle. Mulder havia parado o carro mas não desceu. Scully não podia ouvir mas notou que ele estava conversando com a menina. Estava sorrindo e a garota parecia conhecê-lo. Ela se aproximou do carro e beijou Mulder. Depois ela foi embora. Scully não conseguia sequer se mover. Era somente uma criança! Ela não acreditaria se alguém contasse isso a ela. Mas ela tinha visto com os próprio olhos. Não que ele tivesse feito algo de errado, mas visto o modo como ele vinha se comportando nos últimos dias, mais os telefonemas dele para Danielle, ela somente podia concluir que havia algo muito errado. Scully, no entanto, decidiu se aproximar da garota e ter certeza de que ela era Danielle. Desceu do carro e foi em direção dela. Danielle viu a mulher ruiva se aproximando e notou que ela estava bem vestida demais. Talvez fosse uma vendedora ou corretora de imóveis. "Oi. Eu acho que estou perdida. Você mora por aqui?" Scully achou que esse seria um ótimo método de aproximação e realmente deu resultados. "Moro. O que a senhora está procurando?" "A casa 43. Sabe prá que lado fica?" "Claro. É só descer essa rua. Bem no final." "Obrigada. Qual é o seu nome?" "Danielle. E o seu?" Scully ficou praticamente congelada ao ouvir o nome, mas teve presença de espírito suficiente para inventar um nome qualquer e agradecer a menina. Antes mesmo que Danielle tivesse a chance de dizer mais alguma coisa, Scully já estava dentro de seu carro. Suas mãos tremiam violentamente. Scully não conseguia parar de pensar que ela devia estar enganada. Mas os fatos eram mais óbvios do que ela podia enfrentar. Ela teria que conversar com ele, mas não tinha idéia de como seria essa conversa. Enquanto Scully pensava no que fazer, Danielle ia se afastando até que entrou em uma casa. Scully pensou que seria uma boa idéia conversar com os pais dela, antes quem eles descobrissem aquela amizade por outros meios. Mas Scully não podia fazer nada enquanto Danielle estivesse em casa. Ela teria que esperar, e foi o que fez. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Danielle não havia notado que o carro daquela mulher ainda estava na rua, até que, ao sair de casa o viu parado. Mas ela fingiu que não havia notado e prosseguiu. Havia algo errado. Talvez alguém tivesse notado o que ela e Mulder estavam fazendo. Mulder não tinha dito a ela que a investigação era algo ilegal, mas com certeza a coisa toda estava longe da ilegalidade. Danielle seguiu para um telefone público. Havia decorado a placa do carro e telefonou para Mulder, contando a ele sobre a mulher do carro. Enquanto isso, Scully tocou a campanhia da casa de Danielle e foi atendida pela mãe dela. "Boa tarde. Meu nome é Dana Scully e eu trabalho junto ao FBI." "Boa tarde, Julie Ferguson. Em que posso ajudá-la?" "É sobre sua filha, Danielle. É sua filha, não?" "Sim, o que houve? Ah, desculpe, por favor entre." Scully fez isso e começou a pensar no que diria. "Mas o que houve? O que ela fez?" "Nada, Sra. Ferguson. Eu somente notei que sua filha estava conversando agora há pouco com alguém que eu conheço e eu me perguntei sobre o que seria." Julie quase parou de respirar ao ouvir isso. A preocupação que ela vinha tendo sobre o tal homem que entrava em contato com Danielle, havia voltado. Ela tinha, ingenuamente, achado que, tendo proibido telefonemas e internet, isso passaria. Mas pelo jeito ela estava enganada. E muito. A ponto de uma agente do FBI estar preocupada. Scully notou a apreensão da Sra. Ferguson. "Tenho certeza que não é nada, pode ficar tranqüila." "Não, Agente Scully. Eu não estou tranqüila. Danielle mudou de repente. Passou a ficar trancada dias e noites no quarto, conectada na internet. E esse homem estava sempre ligando para ela. Até que eu e meu marido decidimos proibir tanto os telefonemas como a internet. Mas nós fomos ingênuos. Acha que ele é perigoso?" "Não. A senhora não precisa se preocupar. Eu vou cuidar disso pessoalmente." Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Scully foi para casa, pensando no que havia visto e ouvido. Estava claro que a menina e Mulder estavam confortáveis um com o outro. Se Scully não soubesse que se tratava de seu parceiro já estaria providenciando a prisão dele. Os acessos à internet e os telefonemas eram o claro indício de assédio. Que outro motivo levaria Mulder a se encontrar às escondidas com ela? Ele nem ao menos estava trabalhando em um caso. Scully buscou na memória algum momento em que Mulder houvesse demonstrado preferência por adolescentes, mas somente pensar nisso já era ridículo. Ao chegar em casa ela foi surpreendia por um telefonema. Era Mulder, mas ela levou alguns segundos para saber isso. Ele estava furioso. "Posso saber quem te deu a autorização prá me seguir?" "Mulder, quer se acalmar? Nós podemos conversar com calma." "Fale por você mesma, Scully, porque eu não posso conversar com calma sabendo que você anda me seguindo por aí!" "Mulder, eu vou aí, ok? Nós precisamos conversar." "Acho que não! Porque se você aparecer na minha frente agora eu não sei o que eu vou fazer ou dizer. Me faça um favor, desapareça!!" Scully não teve tempo de responder. A menina havia sido rápida em ligar para ele contando sobre ela. Isso não a surpreendia tanto. Mas o que era surpreendente era a reação de Mulder. Ele estava possesso, mas não tentou se justificar, ou sequer pediu que ela não contasse nada a ninguém. Mas Scully sabia que, no fundo, ele confiava muito nela e sabia que ela não contaria nada a ninguém. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Danielle havia ligado para Mulder, com medo de que a mulher que a seguira tivesse algo a ver com as investigações. Ficou aliviada ao saber que era a parceira dele. Mas Mulder não recebera isso como uma boa notícia. Scully podia estragar tudo. Ela, certamente, o recriminaria por usar uma criança na investigação e tentaria mostrar que tudo não passava de paranóia dele. Ele já estava acostumado com os argumentos dela, mas, nesse caso, ele não teria como rebatê-los. Ele não tinha mais do que dois nomes e uma teoria absurda. Mais tarde, naquele dia, Danielle teve que passar por um interrogatório por parte de seus pais. Eles queriam saber quem ligava para ela e deixaram claro que suas férias seriam um inferno. Danielle não podia entender o motivo de tanta apreensão, a não ser que a parceira de Mulder tivesse colocado idéias na cabeça deles. Danielle esperaria até o dia seguinte para, de alguma forma, se encontrar com Mulder e pegar o laptop. Haviam milhares de obstáculos, como a marcação cerrada que a impediria de sair de casa. Mas ela tinha confiança de que conseguiria dar um jeito. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Mulder desligou o telefone, ainda furioso com Scully. Sabia que tinha exagerado na sua raiva, mas, ao mesmo tempo, percebeu que a situação era grave. Se Scully havia descoberto com tanta facilidade seus encontros com Danielle, outras pessoas também poderia ter notado e descobririam o que estavam fazendo. Mas ele não podia entender porque Scully tinha decidido seguí-lo, afinal as investigações não eram tão visíveis. Entretanto, ao pensar nisso, Mulder se deu conta do que se passava, não somente na mente de sua parceira, como também na dos pais de Danielle. Visto de longe parecia que Mulder estava assediando a menina. Isso o deixou mais zangado. Podia esperar essa desconfiança dos pais de Danielle mas jamais de sua parceira. Como ela ousava sequer imaginar que ele seduziria uma adolescente? Mulder não iria parar tudo por causa disso, no entanto. Iria dar um jeito de entregar o laptop para Danielle e tentaria manter-se longe dela. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Mulder saiu de casa carregando o laptop dentro de um saco de papel. Não pegou o carro. Achou melhor pegar um ônibus e ir para a biblioteca que Danielle costumava ir. Chegando lá, ligou para a garota mas pediu a uma jovem que dissesse a quem quer que atendesse que Danielle havia esquecido uns livros lá. A mãe de Danielle acreditou na estória mas fez questão de acompanhar a filha até lá. Mulder pediu à jovem que o ajudara que entregasse o pacote para Danielle. Na volta para casa Danielle apenas rezava para que sua mãe não pedisse para ver o conteúdo do pacote. Mas Julie não pediria isso de qualquer maneira. Estava preocupada com a filha e sabia que não podia ficar se mostrando desconfiada de tudo, pois a garota podia se rebelar ainda mais. Danielle subiu para o quarto tentando imaginar como faria para se conectar. Pensou nisso por bastante tempo. Tinha que ser em um local perto de uma tomada telefônica, por razões óbvias. O que restringia os cômodos da casa à cozinha, sala e quartos. O seu próprio quarto seria impossível, já que a irmã dela notaria. Mas, ao anoitecer, a resposta caiu do céu. Sua irmã, Ann, pedira autorização aos pais para passar alguns dias na casa de uma amiga. Na verdade o convite tinha sido para as duas, mas os pais de Danielle não queria que ela fosse. Danielle fingiu estar ofendida, armou uma cena de choro, mas, conhecendo seus pais, sabia que eles não mudariam de idéia. A situação era perfeita e ela somente tinha que aproveitar com o máximo cuidado. Ficaria sozinha em seu quarto e faria a pesquisa, mas somente de madrugada e escondida embaixo das cobertas. Não podia arriscar uma visita surpresa de sua mãe. E foi isso o que ela fez. Pegou todos os nomes e dados dos governadores de todos os estados e iniciou a lenta pesquisa. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Às duas da manhã, após ter examinado algumas dezenas de fichas, Danielle se deparou com o terceiro nome. Eduard Morris. Era o governador da Califórnia. Isso era estranho. Danielle podia jurar que o próximo nome seria de um governador de um estado próximo a Washington. Mas a proximidade física, pelo jeito, não queria dizer grande coisa. Ela aproveitou para mandar um mail para Mulder, dizendo em poucas palavras que havia encontrado o terceiro nome. Mas utilizou o próprio mail dele para isso. De qualquer forma tentou ao máximo codificar a mensagem. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Mulder chegou ao trabalho em seu horário habitual, já sabendo que Scully estaria lá, pronta para dar início a um interrogatório. Assim que ele entrou, no entanto, notou que ela não havia chegado. Então ele seguiu para o computador e verificou seu mail. Ele tinha um mail. Estranho porque vinha dele mesmo. Só podia ser Danielle. A mensagem era estranha, mas somente para outras pessoas. De: Fox Mulder Para: Fox Mulder Data: Segunda-feira, 8 de Março de 1999 02:48 Assunto: Férias Três dias de férias na Califórnia!!! ????????? Fim da mensagem. Mulder entendia perfeitamente o que estava escrito. Ela havia achado o terceiro nome, e era o governador da Califórnia. Quanto às interrogações ele também tinha as mesmas dúvidas. Para onde prosseguir a partir de agora? Até o momento havia um senador, um diretor do FBI e um governador. Onde mais eles se infiltrariam? Mas a pergunta a ser feita era: com que propósito eles estavam se infiltrando em lugares estratégicos do poder? Eles se conheciam? Quem os ajudava? E como eles teriam conseguido passar por todas as investigações pessoais que normalmente eram feitas? Logicamente, quem investigou os investigou também estava envolvido. Para deixar Danielle ocupada ele mandou um mail dizendo para ela procurar altos cargos na Casa Branca e no Pentágono. Mas prometeu que, antes, iria mandar a lista dos nomes a serem checados. Quando ele acabou de mandar o mail, Scully apareceu, mas sequer olhou para ele. Parecia muito zangada. Mulder, que antes tinha a intenção de se mostrar ofendido, agora não sabia o que fazer, principalmente quando notou que ela estava esvaziando as gavetas. "Scully, o que você está fazendo?" "Vou embora. Kersh me chamou. Quer que eu vá trabalhar em uma outra seção por alguns dias. E talvez isso seja o que eu realmente preciso." "Você está sendo precipitada. Eu não queria gritar com você. Desculpe." "Não Mulder, não é só isso e você sabe muito bem. Eu sempre te apoiei porque sempre acreditei que você estava fazendo a coisa certa. Mas dessa vez seu comportamento é totalmente errado." "Está falando de Danielle?" "Sim, Mulder, estou falando de uma menina de somente quatorze anos com quem você anda se encontrando às escondidas." "Não existe nada, eu juro!" "Eu acredito em você, mas você percebe que pode estar criando muitos problemas para ela? Ela só tem quatorze anos e essa é uma idade em que ter a atenção de um adulto, bem apessoado e ainda por cima agente do FBI pode fazer com que ela se apaixone. Não vê isso?" Mulder ensaiou uma resposta, mas não teve tempo de dizer qualquer coisa. "Eu tenho que ir Mulder, depois a gente conversa." Dizendo isso Scully saiu da sala. Ela estava ao mesmo tempo aliviada por deixar Mulder por algum tempo e zangada por não ter a chance de conversar com ele. Mas Kersh era de um tempismo incrível, parecia que ele sabia o exato momento para desestruturar a parceria dela e Mulder. Mulder viu Scully ir embora e não conseguiu parar de pensar no que ela dissera. E se ele estivesse de fato prejudicando a garota? Bem, quando tivesse uma oportunidade conversaria com Danielle. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Mulder, agora sozinho, ou praticamente sozinho, podia investigar melhor o caso. Ele já havia descoberto que havia uma ligação entre os sistemas de segurança do FBI e do Congresso. Quem poderia, no entanto, ter investigado o Governador Morris, era um mistério. Talvez jamais tenha havido qualquer investigação. Ele conversou com um dos empregados da empresa de segurança e descobriu que ela era muito requisitada. Mas o que ele queria mesmo era conseguir a lista dos clientes. Com um pouco de insistência e contando uma estória falsa sobre verificação de rotina, ele conseguiu o que queria. Ao chegar em casa ele verificou que a lista era enorme. Mas ao menos ele tinha nomes e somente teria que seguir sua própria teoria. Tinha que procurar altos cargos. Conseguiu reduzir bastante a lista, somente retirando os cargos mais baixos. E também haviam as coincidências nas investigações do senador e do diretor do FBI. A equipe que investigara os dois era liderada pelo mesmo homem. Mulder somente teve que procurar as pessoas investigadas por ele, mais ou menos no mesmo período. Isso fez com que Mulder ficasse com uma lista contendo nomes de senadores, ativistas políticos, chefes de estado, desportistas, etc... Mas ao retirar todos os senadores e funcionários do FBI, ele se encontrou com um total de 123 nomes. Danielle iria adorar, com certeza. No dia seguinte mandaria um mail para ela. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Scully estava detestando o caso para o qual havia sido designada. Não era o caso em si, mas principalmente o fato de não parar de pensar na situação. Ela agora notava que havia se precipitado nas suas conclusões. Mulder não faria nada de errado e devia haver uma explicação para a aproximação dele com a menina. Talvez ela, de alguma forma, o lembrasse de sua irmã, mas Scully não imaginava como, já que elas eram totalmente diferentes. Mas não adiantava Scully ficar imaginando o que poderia ser, ela tinha que conversar com Mulder. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Danielle viu o mail assim que conseguiu se conectar. Ela agora estava mais confiante em conseguir resultados já que tinha uma lista menos aleatória. Mas ficou decepcionada quando finalmente conseguiu verificar os nomes. Achou somente um. Era um juiz da Suprema Corte que havia sido nomeado recentemente. Algo lhe dizia que ela ainda não havia terminado. Ela escreveu em uma folha de papel os cargos ocupados pelos "fantasmas" e viu uma ligação entre eles. Os poderes executivo, legislativo e judiciário estavam ali e a polícia, na sua autoridade máxima, também. Danielle chegou à mesma conclusão que Mulder. Os quatro nomes se auxiliavam. Um dava cobertura ao outro. Mas com que propósito? Poder? Dinheiro? Tinha que ser algo mais. Ela tinha que conversar com Mulder. Ainda eram 11 horas da noite quando ela saiu de casa, pulando a janela. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Mulder não esperava visitas, e se surpreendeu ao ver Danielle à sua porta. Por alguns instantes ele pensou no que Scully havia dito, mas assim que Danielle começou a falar ele percebeu que o entusiasmo dela era totalmente direcionado para o problema dos nomes misteriosos. "Mulder, desculpa eu vir assim, mas eu precisava, realmente, falar com você." Danielle foi entrando e sentou-se no sofá, agitada por todas as dúvidas que tinha. A porta ficou entreaberta mas Mulder não percebeu. Estava querendo descobrir o que havia deixado a garota tão ansiosa. "Hey, calma! O que houve?:" "Achei mais um nome. É um juiz da Suprema Corte." "Ótimo. Acho que não tem mais nenhum." "Eu acho que tem um, Mulder. E é um grandão. Eu estive pensando. Os quatro postos ocupados por eles são muito importantes mas eles mesmos não são." "É, eu notei isso. Mas acho que eles estão somente esperando o momento de crescer mais." "Mas, Mulder, e se eles estiverem somente ajudando alguém?" "O quinto nome?" "É, só que eu não sei se a gente vai descobrir quem possa ser." Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Scully decidiu procurar Mulder para esclarecer tudo, mesmo que ele não quisesse conversar. As coisas não podiam continuar daquela forma. Durante o dia havia sido impossível sequer telefonar para ele, e, assim, Scully resolveu ir até a casa dele à noite. Era melhor nem telefonar avisando, pois ele poderia dispensá-la facilmente. Quando Dana Scully chegou perto da porta do apartamento verificou que estava entreaberta. Ela se aproximou e ouviu vozes. Já ia voltar quando ouviu o nome de Danielle ser dito. Não era possível que a garota tenha ido até a casa dele àquela hora, ou era? Será que Mulder havia sido tão irresponsável a ponto de deixar a menina entrar? Scully se aproximou mais para ouvir o que diziam. Ela já estava se acostumando a ouvir atrás das portas, pensou, se recriminando. Mas o que ouviu a fez acreditar que estava fazendo a coisa certa. "Danielle, não importa como nós vamos fazer isso, mas nós não podemos simplesmente parar, fingir que não existe nada." "Eu sei. Mas você entende que é complicado prá mim? Se meus pais descobrem o que eu ando fazendo eles me matam. E não é só isso. O que a gente tá fazendo é ilegal, não é?" "Bom, é. Mas eu é que vou ter problemas. Olhe Danielle, vamos continuar desse jeito. Eu resolvo qualquer problema que aparecer, ok?" Scully não agüentou ouvir mais nada. Já tinha provas suficientes do que Mulder estava fazendo. Ela entrou no apartamento dele, sem se anunciar. Mulder e Danielle estavam mais do que surpresos com a chegada dela. Mas não tiveram tempo de dizer qualquer coisa. "Danielle, é melhor você vir comigo. Eu te levo para casa. Mulder, depois a gente conversa." A frase parecia mais uma ameaça do que uma promessa e Mulder tentou imediatamente se defender, o que somente reforçou mais ainda o que ela já estava pensando dele. "Scully o que você pensa que está fazendo entrando na minha casa desse jeito? E não precisa se preocupar com Danielle, eu mesmo a levo para casa." "Mulder, eu só vim aqui para conversar com você, e dou de cara com uma menor no seu apartamento, tarde da noite. Com certeza os pais dela não sabem onde ela está." À medida que Mulder e Scully falavam o tom de voz subia de volume. Danielle se afastou dos dois, achando que, em breve, eles partiriam para as vias de fato. "Nós não estamos fazendo nada que você imagina!! Aliás, Scully, você anda imaginando coisas demais, sabia?" "É tão óbvio Mulder!!! O que foi? Você chegou na idade em que precisa sair com garotinhas para se sentir jovem?" "Bem, Scully, pelo menos eu saiu com alguém. O que me diz de você?" Danielle já estava vendo que a discussão não era bem sobre ela. Eles já estavam jogando baixo, partindo para o lado pessoal. Scully estava cada vez mais furiosa. Mulder estava, claramente, visando agredi-la para fugir da discussão em si. Mas ela também podia jogar esse jogo. "É verdade Mulder, eu não tenho o que se chama de vida social. Não quando eu perdí tudo o que tinha somente por causa desse seu trabalho. Acho que não tenho muitos motivos para sair por aí procurando me divertir a qualquer custo." "Ah, então a culpa é minha, como sempre. Só que desde que eu te conheço você sempre foi desse jeito, um cubo de gelo!." Isso já estava fugindo ao controle. Eles já estavam começando a discutir coisas que Danielle não estava disposta a ouvir. "OK! Chega!!! Os dois!" Mulder e Scully se calaram imediatamente com os gritos de Danielle. "Agente Scully, por mais que a idéia de um romance com um agente do FBI seja sensacional, eu posso garantir que não aconteceu nada. Nem chegou perto de acontecer." Então, para raiva de Mulder, a garota contou toda a estória dos nomes falsos. Scully devia estar mais calma com a revelação, mas ela não estava. Mulder havia colocado em risco a vida da menina. Não era justo. Mas, mais do que isso, ele havia deixado sua parceira de fora. Isso já havia acontecido muitas vezes, mas a razão para isso sempre havia sido para não colocá-la em risco. Dessa vez, porém, ela não entendia o motivo, já que ele estava colocando uma garota inocente em risco. "Danielle, eu te levo para casa." "Já disse Scully, eu faço isso." "Mulder, eu acho que você já fez demais." "Ok, eu vou com ela, só não comecem a gritar de novo." Scully saiu e Danielle a seguiu, mas não sem antes olhar para Mulder e ver o quanto ele estava contrariado. Ela ensaiou um sorriso e foi embora. A ida para casa foi silenciosa. A Agente Scully parecia furiosa e Danielle não entendia ao certo o porquê. Danielle, mesmo curiosa, preferia não perguntar nada. Tinha mais com o que se preocupar. Como, por exemplo, o que diria a seus pais quando chegasse em casa. Mas quando chegaram Scully rompeu o silêncio. "Danielle, dá para você entrar por onde saiu?" "Acho que dá, obrigada." "Olhe, é melhor você não ter mais nenhum contato com ele, ok?" "Tá, tchau." Danielle saiu do carro, batendo a porta com força. Estava zangada, afinal ela é que havia começado aquela investigação e Mulder reconhecia isso. Mas agora a parceira dele iria atrapalhar tudo. Já se arrependia de ter contado tudo e entendia porque Mulder não queria contar. Dana Scully era o tipo de pessoa que seguia as regras. E as regras eram bem chatas. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Scully voltou ao apartamento de Mulder e o encontrou sentado no sofá. Quando ele a viu foi logo dizendo: "Scully, não me interessa o que você vai dizer, eu vou continuar a investigar esse caso." "Sabe o que eu acho Mulder? Que eu estava certa antes, mas a diversão que você procura não era o que eu pensava. Agora você anda arrumando as teorias mais absurdas, até mais do que o seu normal, somente para sair da rotina." "É exatamente por causa disso que eu não te contei nada. Você não acredita em nada!! Não estou falando de vampiros aqui, Scully! Eu estou falando de um esquema perfeitamente plausível!" "O que, Mulder? Um senador que tem um homônimo? Sim, isso é plausível. É uma coincidência muito plausível." "São quatro coincidências até agora Scully!!! Eles são pessoas importantes, deveriam ter sido investigadas, e até foram! Pela mesma firma de investigações. Não percebe? Tem algo atrás disso!" "Mulder, se você realmente quer continuar com essa investigação, ok, vá em frente, mas eu estou trabalhando em um caso e não vou ficar ao seu lado. E quanto a Danielle é melhor você não envolvê- la ainda mais." Mulder estava muito irritado. Scully, normalmente, discordava dele, mas dessa vez, além de discordar ela estava colocando obstáculos, e a última coisa que ela disse, finalmente tirou Mulder do sério. "E, Mulder, é melhor você procurar algo para fazer ou Kersh pode achar algo para você." A ameaça era velada mas estava lá e isso Mulder jamais poderia esperar dela. "Vai embora, Scully! Agora!" "Mulder." "Eu disse agora!" Scully saiu, perguntado a si mesma se havia agido bem. Mas sabia que a resposta era sim. Mulder ia se destruir se continuasse nessa investigação que, certamente, não levaria a nada. Mas Mulder não pensava dessa forma e nem mesmo Danielle, ele tinha certeza. Ele tentou pensar em um jeito dos dois continuarem investigando sem que Scully cumprisse sua ameaça. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Danielle entrou em seu quarto em silêncio. Ninguém notou, afinal já era bem tarde e todos dormiam. Mas ela não conseguiria dormir. A coisa que mais queria era resolver o mistério e tentava imaginar como eles prosseguiriam com Dana Scully no pé deles. Durante a semana que se seguiu, no entanto, eles não prosseguiram. Não por culpa da parceira de Mulder, mas sim por uma série de acontecimentos. A primeira coisa que aconteceu foi o laptop de Mulder simplesmente parar de funcionar. Danielle não conseguia acessar nenhum programa nele. Ela não entendia como havia ocorrido já que estava cuidando bem do aparelho, mas sabia que computadores eram estranhos. Podia tentar usar o seu próprio computador mas como havia sido proibida, isso seria arriscado, além do que ela não tinha idéia de onde procurar o quinto nome. Se é que ele existia. A segunda coisa que aconteceu foi bem mais séria. Sua irmã se machucou na casa da amiga e teria que ficar deitada por um período até que tirasse o gesso. Assim, Danielle teve que ajudar a irmã nas coisas mais simples. Ao mesmo tempo, Mulder também teve problemas. Scully não dissera nada a Kersh mas ele, como sempre inconveniente, mandou Mulder para ajudar em uma investigação de assassinato. E, novamente, a investigação ficou suspensa, e dessa vez por um período bem mais longo. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx O caso que Mulder investigava era um dos piores que havia visto, mesmo considerando-se que eram sempre horríveis. Envolvia crianças e o assassino era bastante cruel. Mulder, como sempre, focalizou toda a atenção no caso, envolvendo-se totalmente. Ao terminarem e tendo, finalmente, capturado o assassino, Mulder estava cansado e nervoso. Scully, diferentemente das outras vezes, não estava ao lado dele e o apoio dela era sempre crucial. Mas não era culpa dela, ou ao menos ele gostaria de acreditar nisso. Ela estava trabalhando em outro caso. E assim, ela não pôde ajudá-lo. Durante esse tempo Scully chamou Mulder apenas uma vez, mas era mais para se certificar que ele não estava trabalhando no caso dos nomes idênticos. Ela esperava que ele sossegasse por uns tempos, e isso realmente aconteceu. Tendo terminado de trabalhar no caso de homicídio e estando Danielle sem possibilidade de falar com ele, os dois simplesmente deixaram tudo de lado e cada um seguiu a própria vida. Até que, sem que qualquer dos dois provocasse, o destino achou por bem colocá-los, outra vez, na pista do quinto nome. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Era uma tarde de sábado normal e ainda faltava uma semana para o início das aulas. Danielle não tinha muito o que fazer. Sua irmã tirara o gesso e até poderia sair com ela, já que esse era o único modo permitido a Danielle para sair de casa, mas, por ordens médicas, Ann não podia sair. Assim, com a irmã emburrada por que não podia sair, e não tendo nada o que fazer, Danielle ficou zapeando a televisão sem achar nada de interessante. Até que uma reportagem lhe chamou a atenção. Era um documentário sobre uma das maiores empresas transportadoras do país. A reportagem, conduzida por um grupo pacifista, mostrava o quanto a indústria bélica crescia no país e acusava a empresa Cartright de transportar armamento ilegalmente. Danielle tinha se interessado pela reportagem sem qualquer motivo específico, mas o que ouviu a seguir fez com que ela ligasse o caso dos nomes falsos à empresa transportadora. O Senador Whitaker apareceu dando uma entrevista e alegando, veementemente, que as operações eram legais, que a empresa agia dentro da legalidade, e que, mesmo que houvesse transporte de armamentos a empresa estava agindo de forma legal. Danielle achou estranho o fato do senador aparecer na televisão, em rede nacional, para defender uma empresa cujas atividades estavam sendo questionadas. Afinal o senador, assim como os outros três homens, não queria tanta publicidade, a não ser quando se tratasse de lutar contra a corrupção. Ao menos assim havia sido. Mas agora lá estava o senador defendendo a empresa, e se arriscando a ser contestado pelo grupo pacifista. Talvez fosse um tiro no escuro, mas Danielle achou que, provavelmente os quatro homens estavam naquelas posições para proteger a empresa Cartright. Danielle precisava conversar com Mulder sobre isso. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Mulder e Scully já estavam trabalhando juntos novamente, nos mesmos casos monótonos que Kersh insistia em passar para eles. Scully não tocou mais no assunto que havia causado a briga dos dois, e Mulder também fingia que nada acontecera e sequer mencionava o caso. Quando o telefone tocou Mulder atendeu. Era Danielle. "Oi Mulder, sou eu, Danielle." "Pois não?" "Pois não? Eita! Ok, eu estive pensando sobre o lance do quinto nome. Sabe o que eu acho?" "Não." "Bom, o senador apareceu em uma reportagem defendendo uma empresa que tá na cara não é coisa boa." "Sei. E o nome?" "Cartright, acho. É uma empresa transportadora. Dizem que ela transporta material bélico." "Ok." "Porque você está falando desse jeito? Não ficou animado?" "Não é isso. Até logo." Danielle percebeu que Mulder não podia falar no momento e entendeu porque ele desligara daquela forma. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Mulder olhou para Scully para ver se ela havia percebido algo, mas ela continuava estudando os papéis à sua frente e não parecia ter notado que ele havia falado ao telefone. Isso era ótimo. Scully, provavelmente, já havia esquecido totalmente o incidente anterior. Ou ao menos não pensava que ele ainda estava obcecado com a idéia. Durante o resto do dia Mulder conseguiu, discretamente, obter muitas informações sobre a empresa. Mas o que descobriu foi desanimador. Ao contrário do que Danielle tinha visto na televisão, a empresa agia dentro da lei e jamais havia sido sequer acusada de transportar qualquer material ilegal. A pista que Danielle havia encontrado poderia estar, em parte, correta. Talvez não houvesse, realmente, um quinto nome, mas sim um alvo que era protegido pelos quatro. Uma empresa ou uma pessoa. Mas não havia mais nada que Mulder pudesse fazer. Se não soubesse quem ou o que era o protegido, ele jamais poderia formular acusações. E, agora, Mulder via que tinha somente duas opções. Ou seguia um dos quatro homens até saber de todas as ligações ou confrontaria um deles até que dissesse a verdade. A segunda opção era impensável e a primeira era de difícil execução. Como ele investigaria qualquer um deles sem que Scully notasse? Mas essa parecia ser a única solução. Ele poderia pedir a Danielle que fizesse algo, já que ninguém desconfiaria dela. Mas se ele fizesse isso estaria realmente encrencado. Entretanto, não havia outra saída. Ele pediria a ela que apenas seguisse um deles de longe. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx No dia seguinte Mulder ligou para Danielle. "Você é louco? E se minha mãe atendesse?" "Ela não atendeu, não é?" "Só não atendeu porque ela não está em casa." "Bem, se ela não está então ela não atenderia." "Ah, mas você não sabia disso!" "Sei, então ela poderia atender mesmo não estando em casa somente porque eu não sabia?" "Argh!! Deixa prá lá. Fala logo antes que ela chegue." "Zangada?" "Primeiro dia de aula. Segunda feira. Aula de matemática. Quer mais?" "Dia duro, heim?" "Fala logo!" "Ok, ok. Sabe o nosso amigo senador? Que tal se você seguisse ele?" "Peraí, volta a fita. E a empresa de transportes não deu em nada?" "Não, nadinha. Mas acho que eles protegem alguém ou algo, só que o único jeito de descobrir é seguindo um dos quatro. Sorteei o senador." "Você consegue imaginar com quantas pessoas ele se encontra todo dia? E a quantos lugares ele vai?" "Eu imagino, Danielle, mas não vejo outra saída." "Já pensou em grampo telefônico?" "Já, claro. Mas eu teria que contar o que eu estou fazendo." "E qual é o problema? Fale com a sua parceira." "Sem chance. Ela é contra tudo isso. Vamos, Danielle! Você tira umas fotos do senador, anota a rotina dele. Nada demais. Até nós conhecermos as pessoas com quem ele se encontra." "Eu vou fazer isso, mas vai demorar séculos." "Ok, no meio tempo ou vou seguir seu conselho, vou procurar uns amigos e ver se arrumo umas escutas telefônicas." "Isso parece bem mais lógico." "Te mando um mail, ok?" "Ah, Mulder, eu queria mesmo falar sobre isso." "O que foi?" "Bom, deu a doida no laptop." "Ah, não! Você jurou que ia cuidar bem dele. Eu peguei aquele treco no almoxarifado e assinei um termo de compromisso, além de ter contado um monte de mentiras. Como você quer que eu justifique o defeito? E o pior, vão descobrir que eu peguei e a Scully vai somar dois mais dois. Como você...Alô? Danielle?" Mas ela já tinha desligado. Ele pensaria no problema do laptop mais tarde. O problema mais urgente era pedir a um dos pistoleiros solitários que colocasse grampos no escritório e na residência do senador. Como ele poderia fazer isso sem que eles corressem para contar para a Scully? Talvez fosse melhor falar com somente um deles, e Langly parecia ser o mais adequado. Frohike não deixaria Scully de fora nunca. E Byers tinha lá seu senso de justiça. Mas Langly era audacioso o suficiente para tomar o pedido como um desafio. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Frohike atendeu o telefone que havia tocado insistentemente por alguns minutos. Se quem chamava era tão insistente então o assunto era importante. Era Mulder. "Oi Frohike. O Langly está por aí? Eu preciso perguntar uma coisa para ele." "Claro, um momento." Mulder sabia que eles gravavam todas as ligações que faziam e recebiam, por isso tinha que achar um meio de se encontrar com Langly em algum lugar e conversar pessoalmente. "Diga Mulder." "Oi Langly, eu precisava de sua ajuda em uma coisa. É que a mãe da Scully faz aniversário e eu queria comprar algo para ela. Pode me ajudar?" "A Scully?" Ao dizer o nome de Dana Scully, Langly despertou o interesse de Frohike que se aproximou do telefone.. Ao ver a curiosidade do amigo Langly deu de ombros. "Não. A mãe dela. Pode fazer isso? A gente se encontrar no restaurante chinês que eu vou sempre. Sabe qual é?" "Sei, mas Mulder..." "Langly, por favor. Ah, e venha só você." "Mas.." Mulder já tinha desligado. A chamada era muito estranha. Langly sabia que não era nem o mês do aniversário da mãe da Scully. De qualquer forma ele resolveu que era melhor verificar primeiro o que Mulder queria. Langly disse aos amigos que ia tomar ar e saiu. Logicamente, Frohike e Byers desconfiavam de que havia algo estranho mas tinham outras coisas a fazer e deixaram esses pensamentos de lado. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Mulder já estava no restaurante quando Langly chegou. "Mulder, você não vai almoçar a essa hora, vai?" "Não." Mulder respondeu sem sorrir, o que deixou Langly preocupado. "O que foi? Essa estória de presente é furada, não é?" "É. Olhe Langly, eu vou te pedir um favor. É um favor enorme, e o que é pior, eu queria que você não contasse nada a ninguém, nem aos rapazes e muito menos a Scully. Promete?" "Mulder, em que encrenca você está se metendo?" "Promete ou não?" Mulder parecia irritado e apressado. Langly achou melhor prometer e ver o que ele pediria. Só esperava que não fosse algo tão terrível quanto parecia. Mas quando Mulder lhe disse o que era Langly se arrependeu da promessa. Colocar grampos no Senado? A residência do senador não seria um problema mas o Senado era muito arriscado. "Langly, não é tão arriscado. Você já fez coisas mais arriscadas do que isso." "Já, mas Frohike e Byers me ajudaram. Nós trabalhamos em equipe!" "Se a Scully descobre que eu continuo investigando o senador ela vai se opor e estraga tudo. Ela ameaçou contar ao Kersh, você acredita?" "Mulder, calma, ok? Frohike e Byers não contariam nada, eu tenho certeza." "Mas eu não tenho tanta certeza. Não posso arriscar." "Não confia neles? Como também não confia na Scully. Então porque está confiando em mim?" Mulder nunca tinha visto Langly tão zangado e tentou acalmá-lo. "Eu não disse que não confio neles. Eu só quero fazer isso sozinho." "Ok, Mulder. Então faça isso sozinho. E pode ficar tranqüilo. Não vou contar essa conversa a ninguém. Acho que a sua lista de pessoas que não são dignas da sua confiança já está cheia demais." "Langly, me escuta, por favor." Mas Langly já havia se afastado e não se virou para ouvi-lo. Mulder se sentia sem saída. Será que ele teria que contar somente com Danielle? Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Quando Langly voltou ainda estava zangado com Mulder. E isso foi facilmente notado por seus amigos. "O que Mulder queria?" "Porque acha que eu fui me encontrar com ele?" "E não foi?" "Fui. Mas...Deixa prá lá." Langly não queria falar mais do que devia, mas ao mesmo tempo sabia que o pedido de Mulder era estranho e pedir segredo era injusto. Eles todos já haviam arriscado tanto por ele e mesmo assim ele não confiava neles. "Ele queria que eu colocasse uns grampos no escritório de uma pessoa, mas não queria que vocês soubessem, nem a Scully." Frohike se surpreendeu. "Ele não quer que ela saiba? Então ele está se metendo em problemas." "Com certeza. Mas eu prometi não contar nada e vocês não vão contar, certo?" "Tudo bem. Mas acho que a gente podia fazer o que ele pediu sem contar prá ele. Se acharmos algo a gente conta." Langly parecia inseguro com a solução dada por Frohike. "Fique tranqüilo, Langly, ele não vai notar. É melhor que ele tenha os amigos do lado dele, mesmo que ele não saiba quem são seus amigos." Langly concordou e eles prosseguiram, colocando as escutas como pedido. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Danielle não sabia de nada disso. Ela imaginou que Mulder daria um jeito nos grampos, enquanto ela, de uma distância segura, prosseguiria seguindo o senador e tirando fotos. Mulder não conseguira falar com ela desde a última vez, isso porque Scully estava cada vez mais no pé dele. Mas Danielle tinha uma idéia de como prosseguir sozinha. Tinha assistido a tantos filmes policiais que seguir alguém lhe parecera tarefa muito fácil. O senador era um homem de hábitos e Danielle não teve problemas para saber tudo o que ele fazia durante o dia. Bastou seguí-lo um pouco e ligar algumas vezes para o gabinete dele. Ela descobriu diversas coisas, como onde ele almoçava, onde passava o dia, e até o horário que costumava ir para casa. Danielle achava que não estava sendo notada em todas os seus questionamentos e que o senador jamais a notaria na multidão enquanto ela o seguia. Mas ao contrário, o senador recebeu a notícia de que tinha uma grande admiradora, uma jovem que ligava sempre e perguntava muitas coisas sobre ele. O nome, Danielle. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Langly já havia acumulado algumas fitas de conversas do senador com muitos políticos, um juiz e outras pessoas. Mas nenhuma das ligações parecia anormal. Exceto a do juiz, que havia ligado tarde da noite para o senador. A conversa prosseguira com amenidades até que tomou outro rumo. "Richard, eu andei recebendo uns telefonemas no meu gabinete. Uma mulher chamada Danielle. Além disso John, me disse ter visto a mesma garota em muitos lugares diferentes. Ele fica bastante no carro quando me leva a algum lugar, e notou isso com facilidade." "O que pretende fazer?" "Falei com a minha secretária para falar com ela. Vou ver se marco um encontro e descubro o que essa mulher quer." "Acha que ela sabe de algo?" "Não sei, mas acho que ela anda procurando coisas sobre mim." "Calma, já avisou aos outros?" "Não, ainda não. Mas assim que me encontrar com ela eu aviso vocês." Os pistoleiros solitários não sabiam quem poderia ser essa mulher, afinal o grampo havia sido colocado no telefone do senador e não no da secretária. Mas, aparentemente, essa mulher estava sendo levada a uma armadilha. Eles só podiam esperar que ela não aceitasse o encontro. Mas, no dia seguinte, eles tiveram uma surpresa. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Danielle tentou de todas as formas falar com Mulder, mas ele não atendia ao telefone. Ou quem atendia era a parceira dele. Droga, porque ele tinha que ser tão teimoso? Se a Agente Scully estivesse sabendo de tudo, Danielle podia falar com ela sobre o senador e o encontro. E Scully poderia avisar Mulder. Mas agora era tarde. Danielle achou que poderia se encontrar com o senador e tirar alguma informação dele. E então ela foi ao local marcado. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Langly decidiu que era melhor enfrentar Mulder e contar o que estavam fazendo, do que deixar essa mulher correr perigo. Ele ligou para Mulder, mas Scully atendeu. "Oi Scully, como vai?" "Langly? O que houve?" "Nada, somente queria falar com o Mulder. É meio urgente." "Ele deve estar chegando. Quer ligar daqui a pouco?" Langly consultou seu relógio. Faltava pouco menos de uma hora para o encontro do senador com a misteriosa Danielle. Ele podia avisar a polícia mas isso poderia causar mais problemas, já que ele teria que explicar como sabia do encontro. "Bom, eu não sei. Talvez fosse melhor você falar com ele o mais rápido possível. Eu sei que ele vai ficar furioso comigo, mas isso é realmente importante." "Ok, Langly, conte logo o que houve." "Ele pediu prá grampear um senador e..." "Ele o que??? E você fez isso?" "Eu fiz, mas ele não sabe. Eu tinha dito que não faria. É uma longa estória." "Tá bom. O que aconteceu?" "Uma mulher ligou para o senador e ele está desconfiado dela. Ele marcou um encontro com ela dentro de uma hora. Acho que ela pode estar com problemas." "E quem é ela?" "Eu não sei. Não sabemos se ela é alguém que Mulder tenha encontrado para ajudá-lo. O nome dela é Danielle." Ao ouvir o nome, Scully teve que se sentar. Não era possível que Mulder tivesse continuado a se encontrar com ela. Mas tudo indicava que sim. E o pior, a menina estava correndo risco agora. "Langly, onde é o encontro? Rápido!" Ele lhe disse o endereço e Scully pediu a alguns colegas que fossem com ela. Ao mesmo tempo que se sentia ridícula por achar que um político de renome iria fazer mal a uma menina, ela sentina que Danielle podia estar em perigo, pelo jeito que Langly falara. Não havia tempo para procurar Mulder. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Danielle tinha planejado o que diria ao senador. Não faria qualquer acusação, mesmo porque ela não tinha muitas acusações a fazer. Mas tentaria descobrir o máximo sobre ele, tentando parecer o que era. Uma garota de colégio com muita curiosidade e pouca coisa para fazer. Quando ela chegou ao local marcado viu que havia somente um carro lá. Era uma mercedez. Um homem alto saiu de dentro do carro e foi na direção dela. "Você é Danielle?" "Sou. E você é o senador, não é?" "Pode entrar no carro?" "Não! Nem pensar!" O homem não disse nada. Simplesmente a segurou pelo braço e a jogou dentro do carro, entrando em seguida e sentando-se ao lado dela. Fez um sinal para o motorista que colocou o carro em movimento. "Para onde vocês estão me levando? Não podem fazer isso!" Mas eles não diziam nada e isso era o que mais a apavorava. Ela começou a se recriminar por ter sido tão idiota a ponto de se encontrar com o tal senador sem contar a ninguém. Mas recriminava Mulder que tinha sido tão obtuso em não aceitar que a parceira dele se metesse na estória. Não adiantava reclamar, no entanto. O que ela precisava mesmo era achar uma saída. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Quando Scully e os agentes que a acompanhavam chegaram ao local não encontraram ninguém. A hora marcada já havia passado e Scully começava a pensar que não encontrariam mais a menina. Após meia hora de espera Scully ligou para a mãe de Danielle, somente para descobrir que ela não havia voltado da escola. Os piores temores de Scully estavam se concretizando. Alguém havia seqüestrado a garota e Mulder era diretamente responsável por isso. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxx Mulder soube por alguns colegas que o Diretor Assistente Kersh queria falar com ele. Ele procurou Scully mas lhe disseram que ela havia saído. Kersh estava esperando por ele e não parecia nada contente. Mas Mulder já sabia que Kersh nunca parecia contente. "Agente Mulder, entre." Scully estava na sala. Ela não parecia estar confortável, mas havia algo mais. Ela não olhou para ele quando ele entrou. Parecia zangada. Kersh rompeu o silêncio. "Agente Mulder, quero lhe avisar de algumas decisões que foram tomadas, todas em decorrência de seu comportamento. Em primeiro lugar você está suspenso por tempo indeterminado. Em segundo lugar não poderá ir a nenhum lugar sem antes falar com a Agente Scully." Scully continuava impassível. A única coisa que a diferenciava de uma estátua era a respiração pausada e profunda. Estava zangada. "Posso saber o que houve? Do que eu estou sendo acusado?" "De negligência, de colocar em risco a vida de uma menina, de esconder provas, utilizar os meios do FBI para atos ilegais. Quer mesmo que eu continue?" "Não. Posso ir agora?" Scully levantou-se com tanta rapidez que Mulder se assustou. Seus olhos lançavam faíscas de raiva em direção a Mulder. Ele sabia que Scully ficaria zangada se soubesse que continuava se encontrando com Danielle, mas jamais pensara que ela realmente viria até Kersh para delatá-lo. Ele deixou a sala, furioso com a deslealdade dela. Mas ela o alcançou. "Mulder, você sabia que você é a pessoa mais egoísta da face da terra? Você tem idéia do que você fez? Ou você realmente não se importa se aquela menina estiver morta nesse momento?" "Como assim? O que houve com ela?" "Ela resolveu fazer o seu trabalho, Mulder! O trabalho que não era nem mesmo para você fazer." Scully contou a ele o que acontecera. Mulder não sabia o que dizer. Ela estava certa. Ele, e somente ele, era o responsável pelo desaparecimento dela. "Já foram procurar o senador? E os outros?" "Eles sumiram Mulder. Nós não temos outras pistas. Acabou." "Scully, eles não iriam matá-la." "Como sabe? Sinceramente, nesse caso você não sabe absolutamente nada. E é melhor não se meter mais porque eu juro que Kersh vai saber!" "Já notei isso Scully, você parece ter um ótimo canal de comunicação com ele." Mulder a deixou ali mesmo. No momento não se importava com mais nada. Estava de mãos atadas. Não tinha idéia do que fazer, de onde Danielle poderia estar. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Danielle quase soltou uma gargalhada quando viu para onde a estavam levando. Era um navio pertencente à empresa Cartright. É Sr. Agente Especial de nome esquisito, parece que a adolescente boboca sabia o que estava fazendo. Bem, sabia até o momento que fez besteira, e isso era o que iria ficar para a história. Danielle, agora, tinha que torcer para que Mulder revisse suas idéias e percebesse que a Cartright tinha algo a ver com a armação. Ao entrar no navio Danielle viu-se frente a frente com os outros três homens de nomes falsos. Eles não pareciam nada contentes em vê-la. O senador foi o primeiro a falar. "Bem, Danielle, certo? Diga, Danielle, o que você queria comigo?" "Uma entrevista para minha escola." "Era por isso que você estava me seguindo? E tirando fotos? E querendo saber tudo da minha vida? Eu não acredito, sabe Danielle.? "Eu sei tudo sobre vocês, ok? Vocês estão encobrindo a Cartright.!" O juiz parecia surpreso. "Jeff, se ela sabe temos que acabar com ela." "Eu sei, Richard, e é isso o que nós vamos fazer." Danielle se apavorou com o que ouvira mas tinha que pensar rápido. "Não vai adiantar me matar. Aliás isso só iria piorar tudo. O FBI sabe de tudo e a qualquer momento vocês serão presos." Os olhares de três dos homens se dirigiram para o quarto deles, o Diretor Morris. "Hey, eu não sei de nada sobre isso. O Bureau não tem qualquer investigação oficial a esse respeito. Ela está blefando." "Não. O agente Fox Mulder sabe de tudo e vocês não têm como escapar. É melhor me soltar e fugir enquanto ainda podem." Mas eles nem ao menos olharam para ela. O senador chamou o motorista. "John, quero que você traga o Agente Fox Mulder aqui. Use a força se necessário." Justo quando Danielle achava que estava sendo esperta ela fazia algo muito estúpido. Era um fato que já a estava preocupando. Nunca, em sua breve vida, tinha feito tanta besteira, mas pelo menos sabia que era impossível que fizesse mais alguma estando morta. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx As buscas por Danielle continuavam e Mulder já havia dito tudo o que sabia sobre os homens. E tudo o que ele sabia não era o suficiente para saber para onde ela havia sido levada. Mulder foi para o apartamento dele e, sem ter mais o que fazer senão esperar, ele começou a rabiscar o que sabia em um pedaço de papel. Os nomes dos homens, os locais onde eles moravam, os cargos que ocupavam. Mas nada levava a qualquer pista. Se, ao menos, eles tivessem descoberto o quinto nome. À esse ponto ele nem sabia mais qual dos dois havia pensado que havia um quinto nome, mas uma coisa ele se lembrou. Danielle tinha achado que a empresa Cartright estava envolvida. Aquela podia ser a solução. Mulder fez algumas ligações e conseguiu saber os endereços da empresa. Pegou as chaves do carro e saiu correndo deixando em cima da mesa o papel no qual havia rabiscado suas idéias. Os quatro homens haviam desaparecido e, provavelmente, fugiriam para sempre, já que a armação havia sido descoberta. O mais provável era que fugissem de navio. Sem alfândega, sem fiscalização. Mulder somente tinha que descobrir qual navio. Mas ele mal teve tempo de chegar ao seu carro. Sentiu uma forte pancada na cabeça, e não viu mais nada. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Scully estava cansada e já havia perdido as esperanças de encontrar Danielle. Mas à medida que o tempo passava e a esperança se esgotava, a raiva que estava sentindo de Mulder também começava a se dissipar e a se transformar em piedade. Ele devia estar se roendo de culpa e, pior, se sentindo traído, não somente por ela, mas também pelos seus amigos. Se Scully tivesse ficado do lado dele isso não teria acontecido, se ela tivesse somente acreditado nele sem achar que ele era um pervertido, nada disso estaria acontecendo. Mas o fato era que, devido a uma série absurda de erros e agressões, Mulder havia se isolado e encontrado em Danielle seu único apoio. Agora ela havia sumido e Mulder estava novamente sozinho. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Eles haviam trancado Danielle em uma das pequenas cabines do navio. Ela ainda não entendia porque não a haviam assassinado, mas não iria reclamar disso. A cabine era escura e úmida, mas isso era bem melhor do que estar morta. De repente a porta se abriu e Danielle se encolheu em um canto, achando que, finalmente, eles haviam decidido matá-la. Mas ao contrário do que imaginou, eles não tinham ido matá-la. Eles estavam trazendo Mulder. Inconsciente. Ao fecharem a porta da cabine, Danielle correu em direção a ele. Ainda estava vivo e isso era bom, mas o fato dos dois estarem presos ali não era nada animador. Era claro que Mulder não iria sequer saber onde estava quando acordasse, o que significava que ninguém mais saberia. Mas, ainda assim, ele era um agente do FBI, treinado para situações como essa. Ele saberia o que fazer. Ela tentou acordá-lo. Mulder acordou lentamente e ainda não conseguia entender o que havia acontecido. Aos poucos foi vendo onde se encontrava e quem estava a seu lado. "Danielle? Você está bem?" "Claro. Mas acho que não vai ser por muito tempo. Eles estavam falando em me matar e acho que você também vai ser incluído." "Ah, isso é ótimo." "Bom, você vai pensar em alguma coisa, não é?" "Danielle, antes de pensar em alguma coisa, pode me explicar uma coisinha?" "O que?" "Como diabos você pôde ser tão idiota a ponto de se encontrar com um deles sozinha?? E como é que eles souberam sobre mim?" "Bom, primeiro não precisa gritar, ok? É o seguinte, bom, ok!! Eu fui burra, além de encontrar com o senador eu ameacei contar tudo e falei que você sabia de tudo." "Ótimo, ainda bem que você reconhece." "Hey, a culpa não é só minha! Se você tivesse confiado na sua parceira nada disso teria acontecido." "Ah, não teria mesmo, porque ela não iria investigar esse caso." "Tá bom, não adianta a gente discutir. Como a gente vai sair dessa?" "Não sei." Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Scully decidiu ir até o apartamento de Mulder para ver como ele estava. A presença dela nas investigações não era essencial e nunca havia sido. Afinal, Mulder descobrira tudo com o auxílio de Danielle. Ele não havia confiado na própria parceira. Não era a primeira vez e não seria a última. Assim, somente restava a ela tentar remediar a situação, como sempre fazia. Scully entrou no apartamento, mas Mulder não estava lá. Mas a papelada em cima da mesa indicava que tinha estado recentemente. Scully resolveu arrumar um pouco a bagunça e ao pegar nos papéis ela se deparou com as anotações dele. Empresas Cartright, navios, e uma série de endereços. Será que era alguma pista para o seqüestro de Danielle? Não custava verificar. Scully telefonou para alguns agentes que trabalhavam no caso e disse a eles para procurar nos locais que ela tinha visto no papel. Mas havia um nome, de um navio, que estava assinalado diversas vezes. Talvez Mulder acreditasse que a menina tivesse sido levada para lá. Ela mesma queria verificar isso, já que, se fosse verdade, os agentes encontrariam Mulder no local, e o Diretor Kersh iria ficar furioso. As ordens haviam sido para que ele ficasse longe do caso, e, obviamente, ele não estava obedecendo. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Mulder não sabia dizer se o navio estava se movendo ou não. Danielle achava que ele estava se movendo mas Mulder preferia ser mais otimista. "Mulder, você por acaso não contou a ninguém sobre essa empresa, não é?" "Não." "Sei. Sabe o que eu acho?" "Se você vai dizer que acha que eu deveria ter contado algo para a minha parceira eu só posso te dizer que você já disse isso!" "Eu estava só checando prá ver se você lembra do porque nós estamos aqui." "Eu lembro. Mas espero que você se lembre que você também foi culpada, certo?" Danielle não respondeu. Os dois sabiam que haviam agido de forma errada. Mas ficar se recriminando não iria adiantar. O problema era que o tempo estava passando e nada acontecia. Não que isso fosse uma má notícia, afinal era melhor eles estarem presos sem fazer nada do que mortos. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Scully chegou às docas algum tempo depois. O navio estava lá, mas não havia sinal de vida, fosse no navio ou nas docas. Empunhando a arma, ela entrou no navio, incerta de que fosse encontrar algo ou alguém lá. Mas não custava tentar. Seguiu com cautela, abriu diversas cabines, mas não encontrou qualquer sinal de vida. Já estava desistindo quando ouviu vozes. Parecia alguém discutindo. Ela prosseguiu. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx "Eu não entendo uma coisa Mulder." "Lá vamos nós de novo." "Escuta. Como é que souberam que eu fui seqüestrada? Não deu tempo dos meus pais ficarem preocupados com a minha falta." "Uns amigos meus grampearam o telefone do senador." "Ah, Ok. E porque você não me avisou que tinham um grampo no telefone?" "Porque eu não sabia." "Hum, hum. Porque você não sabia? Não são seus amigos?" "Porque eu pedi a eles para um deles fazer isso e não contar a ninguém. Então ele fez e contou aos outros, mas não me disse que estava fazendo." "Meu Deus, você vive em um mundo de paranóicos e você é o pior de todos!" "Eu não podia contar nada! Ah, chega ok?" "Bem, senhor Agente Especial, você fez uma grande besteira dessa vez. Se tivesse falado com alguém, com sua parceira, ou seu chefe, qualquer pessoa, a gente não estaria aqui agora." "Olha aqui, eu não preciso que uma pirralha fique me criticando!" "Não precisa é? Mas antes você precisou de mim não é?" "Quem fez a burrice maior foi você, Danielle!" "Não foi burrice! Eu não tive outra saída, não te encontrei em lugar nenhum!" De repente a porta se abriu e Mulder se levantou, pronto para derrubar o homem que os havia capturado. Mas era Scully. "Scully, como achou a gente?" "Pelos gritos de vocês. Vamos embora daqui." "Não entendeu, como achou o navio?" "Você deixou anotações no apartamento, Mulder. Vamos?" "Agente Scully, eu não sei ele, mas eu não vou ficar aqui nem mais um segundo." Eles deixaram o navio e seguiram para o carro. Nenhum dos três falava nada e foi neste silêncio que eles chegaram até o FBI. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx A bronca que Mulder recebeu foi colossal. Ele já não agüentava mais ouvir a voz de Kersh. E não era somente isso. Scully dedicou pelo menos uma hora somente para essa finalidade, e não deixou de ressaltar que ele tinha tido sorte, já que os pais da garota não iriam apresentar queixa. E o pior é que tudo havia sido por nada. Os quatro homens haviam desaparecido completamente. E a Empresa Cartright estava limpa, nada indicando que eles, alguma vez, tivessem feito nada de ilegal. Ao mesmo tempo que Mulder ouvia tantas recriminações, Danielle também teve a parte dela. Mas, acima de todos esses problemas, Danielle tinha uma preocupação, que era compartilhada por Mulder, sem que ela soubesse. A questão que os preocupava era o fato de que os dois haviam descoberto um esquema muito bem elaborado. Na verdade, eles haviam não somente descoberto tudo, como também haviam impedido a continuidade das operações. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Um mês após o incidente, Mulder se sentia vigiado. Ele conhecia muito bem quem tomava conta de todos os seus passos. Dana Scully estava, literalmente, transformando a vida dele em um inferno. Quando estavam trabalhando ela não saía do lado dele, e quando estavam de folga ela fazia questão de manter-se em contato. Mulder se irritava cada vez mais, e, muitas vezes, não era nada gentil ao demonstrar isso. Para Scully, no entanto, o que ela estava fazendo era válido. Kersh tinha perdido a oportunidade de se livrar de Mulder somente porque um dos diretores do FBI estava envolvido, e era mais produtivo manter Mulder quieto. Mulder não parecia estar dando continuidade às investigações mas Scully conhecia muito bem seu parceiro. Ele não desistiria da estória com tanta facilidade. Mas, dessa vez, ela estaria bem atenta e não deixaria que ele afundasse de vez. Ela percebia que ele estava odiando toda a atenção dispensada, mas não tinha importância. Os fins justificavam os meios. Dana Scully estava habituada a ter controle de todas as situações. Mas, como ela já havia notado diversas vezes, os acontecimentos podiam, com freqüência, fugir a qualquer controle. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Danielle tinha avisado aos pais que iria se encontrar com alguns amigos no shopping. O clima em casa ainda era pesado e ela tentava obedecer os pais em tudo. Ela tinha certeza que, cedo ou tarde, eles esqueceriam toda a estória. Mas, enquanto esse dia não chegasse, ela tinha que agüentar todo tipo de controle. Tinha que dizer onde ia, até mesmo quando ia somente na casa dos vizinhos. Mas, para Danielle, todo aquele controle era desnecessário, afinal ela não tinha a intenção de se meter em mais problemas. Claro que havia, ainda, um fantasma rondando a vida dela e era um fantasma disfarçado de laptop. Ela não havia conseguido devolver o aparelho para Mulder. O estranho era que ele não parecia se importar com isso. Talvez ele tivesse entendido que o laptop estava totalmente destruído. Mesmo que fosse assim ela ainda se sentia na obrigação de devolver o laptop. Mas não tinha idéia de como fazer isso. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Mas Mulder não havia esquecido o assunto. O almoxarifado ligara para ele algumas vezes, cobrando o computador, mas Mulder conseguira se esquivar. Ele sabia, no entanto, que teria que pegar o laptop com Danielle ou comprar um novo, o que não era a melhor opção. Ele poderia até pedir para Scully que fosse até lá mas aí ele teria que explicar a ela como havia iludido o almoxarifado e eles retornariam às intermináveis brigas. Mulder estava justamente pensando nisso quando o celular tocou. "Você é doida? Eu já me meti em muitos problemas, sabia?" "Ah, e foi culpa minha, é?" "Não disse isso, só que você pode piorar a situação." "Então ótimo, eu fico com o laptop. O que você acha?" "Não. Ok. Vamos arrumar um jeito de nos encontrarmos." "Eu saio da escola às quatro, amanhã. Posso ir para a biblioteca e a gente se encontra lá. Ala de livros antigos. Tá sempre vazia." "Ok, eu dou um jeito." "Tá difícil aí também, é?" "Só um pouco mais complicado do que o normal." "Nada que você não mereça. Tchau." Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx O que os dois sequer podiam imaginar era que, ao mesmo tempo em que eles planejavam um meio de se encontrarem, havia alguém que planejava um meio de matá-los. Joshua Anderson era um homem muito rico, dono de muitas empresas, e poderoso. Mas ao mesmo tempo em que possuía um patrimônio invejável, ele era detentor de dívidas absurdas. Dívidas de jogo, principalmente. Ele podia pagar as dívidas com facilidade, já que seu patrimônio cobriria os valores com folga, mas o problema era que ele teria que vender propriedades ou títulos para isso. A solução seria impossível já que seu patrimônio era compartilhado por sua família. Assim, Joshua vivia um grande paradoxo. Ser rico e não ter dinheiro. Ele tinha algum dinheiro em bancos, mas não passava de trezentos mil dólares, o que era uma simples gota no oceano de débitos em que ele havia afundado. A solução começou a esboçar-se alguns anos antes. Um grande amigo de Joshua apresentara a ele uma proposta. Joshua deveria somente propor a compra de uma empresa já de renome no mercado e, após a compra, Joshua faria com que seu amigo se tornasse presidente da empresa. O golpe estaria justamente aí. Com seu amigo na presidência, a empresa iria continuar a ser o gigante que era, mas com pequenas atividades paralelas, como a venda ilegal de armas. Joshua sabia de tudo o que acontecia e deixou nas mãos do amigo a responsabilidade pelo ganho de capital bem como pelos atos ilegais. Tony Ricci, o amigo de Joshua, havia planejado tudo de forma perfeita. Se não tinha pessoas de confiança nos altos postos governamentais, ele simplesmente as criaria. Em poucos anos os rendimentos da empresa quadruplicaram mas o pagamento de impostos não atingia sequer um terço de todo o ganho. A impunidade era garantida por quatro homens, criados do nada e colocados nos postos em que poderiam manter a empresa longe de quaisquer problemas. Joshua poderia, agora, considerar-se um homem feliz. Mesmo adquirindo novas dívidas tinha dinheiro suficiente não somente para pagá-las, como também para adquirir novos débitos. Tudo ia às mil maravilhas, até que um dos homens que os ajudava fez uma burrice. Ao invés de comunicar que alguém o estava vigiando ele decidiu, por conta própria, contornar o problema. Quando Tony descobriu que os quatro homens haviam sido desmascarados e que haviam seqüestrado uma adolescente e um agente do FBI, não lhe restou outra solução senão eliminar os quatro e limpar o máximo de pistas que pudessem levar à empresa. Isso havia sido fácil, mas os resultados foram, no mínimo, desastrosos. Tony Ricci não estava tão disposto a assumir responsabilidades como Joshua tinha imaginado a princípio. Assim que pôde, ele abandonara tudo e voltara a New York, onde era um simples empregado de uma das mais importantes famílias da máfia. Joshua amargou o fato de que não podia mais fazer tanto dinheiro. Para ele não seria um problema. Era somente uma questão de readaptação. Mas, infelizmente, a readaptação era algo impossível. De fato, Tony, apesar de ter sido o criador e executor da idéia, tinha suas ligações com a máfia, e, ao saberem do esquema do jovem, os mafiosos de New York se sentiram traídos por terem sido deixados de fora. Quando Tony voltou para New York, depois que tudo dera errado, teve que enfrentar a fúria de seus chefes não somente porque eles não haviam sido informados do esquema, mas também porque, ao retornar, Tony poderia estar trazendo consigo o FBI pronto a investigá-los. O corpo de Joshua foi encontrado em sua própria cama. Causa da morte, enfarte. Se um legista menos corrupto tivesse examinado o corpo a causa da morte teria sido envenenamento. O corpo de Tony jamais fôra encontrado. Mas a fúria da máfia não tinha sido totalmente consumida. Ainda haviam uma adolescente e um agente do FBI. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Mulder foi ao local marcado para se encontrar com Danielle. Era bastante arriscado, mas Scully, apesar de continuar vigiando Mulder com atenção, às vezes se distraía, e foi valendo-se dessa distração que ele conseguiu chegar até lá. Ele entrou na biblioteca e foi para a seção de livros antigos. Danielle já estava lá, com o inútil laptop nas mãos. Não havia mais ninguém naquele setor e ela relaxou ao vê-lo. "Oi Mulder. Olha, você entendeu mal. O laptop não está quebrado, é só um bug de micro, coisa normal." "Eu sei, desculpe. Não devia ter gritado com você." Ela sorriu. Apesar dos dois estarem se encontrando às escondidas a situação agora era bem diferente. Eles não tinham que procurar nenhum nome falso ou coisa do gênero. "Tudo bem. E com a sua parceira? Como vão as coisas?" "Não muito bem. Nós brigamos muito. Eu disse coisas que não deveria ter dito, não pedi desculpas. Parece que nós só brigamos ultimamente." Ela podia sentir o quanto ele estava triste com tudo isso. "Não fica assim não. Tudo vai melhorar, você vai ver." Mulder esboçou um sorriso, mas não conseguiu mostrar-se animado. Danielle se aproximou dele e lhe deu um leve beijo no rosto. Mas, por alguma razão que ela não entendera na hora, ela prosseguiu e seus lábios se aproximaram dos dele. Ele podia sentir o cheiro doce do shampoo nos cabelos dela, parecia fruta, ele não conseguia distinguir que fruta. Um segundo beijo, dessa vez nos lábios, aconteceu. Ele não se afastou. Ao contrário, Mulder se aproximou mais dela e devolveu o beijo. E o leve roçar dos lábios de ambos, se transformou em um beijo mais profundo. Danielle nunca havia beijado alguém antes, e nunca imaginou que seria daquela forma. Uma invasão que ela não queria que acabasse. A explosão de emoções que tomavam conta dela mal deixavam espaço para pensamentos lógicos. O que ela conseguia pensar era somente em ficar mais e mais perto dele. O laptop não deixava. Talvez por sorte, ela pensou. Mulder a puxou mais para perto dele, sem deixar de beijá-la. Ele não conseguiria parar mesmo que quisesse. E ele não queria. Sabia que o que estava fazendo era errado. A adrenalina que atingia seu estômago a intervalos regulares lhe dizia isso em altos brados. A simples idéia de alguém aparecendo e vendo os dois o deixou apavorado, mas o máximo que conseguia fazer era manter suas mãos longe do corpo de Danielle. Após alguns minutos que pareceram uma eternidade, Danielle quebrou o beijo. "Desculpa, eu não costumo agir assim." "Danielle, não tem nada para se desculpar. Eu é que agi errado." "Não. Não. Eu, eu tenho que ir." "Ok, tchau." Danielle foi embora sem olhar para trás. Seu corpo inteiro tremia. O gosto salgado da boca de Mulder ainda estava em seus lábios. E o pior, a vontade de continuar a estava consumindo. Mas aquilo não estava certo. Ela entendia que aquilo jamais deveria ter acontecido. Ela até mesmo tinha consciência de que não passava de uma simples atração. Ou curiosidade. Ela podia racionalizar tudo aquilo, mas ainda assim suas pernas não paravam de tremer. Apesar de ter adorado o beijo, ela se sentiu triste por seu primeiro beijo ter sido uma coisa proibida. Mulder se sentia pior. Ele não dera o primeiro passo, mas também não afastara a garota, como deveria ter feito. Ele voltou para o escritório, sem saber como esconder de sua parceira todas as emoções que o invadiam. Ele tinha gostado do beijo, e tinha sentido desejo por ela. O que ele era? Um pedófilo? Justamente o perfil do pervertido que ele sempre odiara. Só agradecia a si mesmo por não ter tocado, ainda mais nela. Um beijo, só isso. Ele repetia isso a si mesmo como um mantra. Como se, repetindo, ele passasse a acreditar. Sua mente acreditava. Ele sabia que o que acontecera era somente a conclusão de toda a tensão que havia regido a vida de ambos. Sua mente acreditava. Mas seu corpo não. O desejo que o invadiu ainda o fazia tremer. A cada vez que ele lembrava a cena, seu impulso era de voltar. Mas ele jamais poderia fazer isso. Jamais. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Danielle seguiu para casa, distraída, perdida nos pensamentos e emoções que tomavam conta dela. Ainda estava perto da biblioteca quando um carro preto se aproximou dela. Um homem saiu de dentro do carro, e Danielle, ainda distraída, foi pega de surpresa por ele. Uma dor intensa nas costas, foi o que sentiu em seguida. E, ao cair no chão, viu as gotas de seu próprio sangue no asfalto. Se virou e viu o homem que a agredira. Conseguiu ver a placa do carro, antes de sua mente ser tomada pela escuridão. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Mulder chegou ao trabalho meia hora depois, e encontrou Scully bastante ansiosa. "Mulder, acabei de receber um telefonema. Era a mãe de Danielle." "O que houve?" "Danielle foi esfaqueada." "O que?? Onde ela está? Ela está bem?" "No hospital, Mulder. Já deve estar sendo operada." "Quem fez isso?" "Não sei. Quer ir ao hospital? Nós podemos investigar o caso ou ajudar nas investigações." "Vamos" xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxxx Mulder e Scully chegaram logo depois ao hospital. Como Scully previra Danielle estava sendo operada. As informações eram de que o ferimento, causado por uma faca, havia sido bastante profundo, atingindo o pulmão. Mas os médicos estavam otimistas. Ela era jovem e a operação estava indo bem. Scully conversou por alguns instantes com os pais de Danielle, mas Mulder preferiu não se aproximar. Ainda podia sentir o gosto e o cheiro de Danielle e não sabia como encarar os pais dela. Os policiais que estavam cuidando do caso se aproximaram de Scully. Havia uma mulher com eles. Mulder não podia ouvir o que diziam, mas de repente todos olharam para ele. Scully foi na direção dele, com uma expressão de preocupação. "Mulder, aquela mulher trabalha na biblioteca. Ela ouviu a ambulância chegando e reconheceu Danielle. Ela disse que viu você e Danielle na biblioteca e que você estava beijando a garota." "Scully, eu..." "Porque Mulder? Porque foi se encontrar com ela?" "Ela tinha ficado com o laptop que eu peguei emprestado. Eu fui pegar o aparelho com ela." "Saiu junto com ela da biblioteca, Mulder?" "Não. Você não está pensando que fui eu que fiz isso, não é? Scully?" "Não. Não." Scully não pôde dizer mais do que isso. Uma incerta negativa. Ela já não sabia mais o que pensar. Sabia que Mulder não faria uma coisa dessas mas também jamais imaginara que ele se encontraria com uma menor, às escondidas, para um encontro romântico. "Mulder, não foi a primeira vez, não é? Até onde você foi, Mulder?" "O que? Não! Foi a primeira vez, eu juro! Não fiz nada, acredite!" Scully estava perturbada demais, nervosa e zangada. Tanto que sequer percebeu o olhar de desespero de seu parceiro. Ele estava se sentindo como se estivesse afundando cada vez mais. O beijo, a notícia do ferimento de Danielle e agora sua parceira achando que ele tinha um caso com a garota, tudo isso o estava arrasando. E, para piorar a situação, eles estava sendo considerado suspeito pelo atentado. Mulder mal conseguia respirar. Ele ouvia vagamente o que Scully dizia, mas não conseguia captar o sentido das palavras. Suas mãos suavam e estavam cada vez mais geladas, como se ele tivesse começado a morrer aos poucos. O frio das mãos estava se espalhando por todo o seu corpo e somente seu estômago parecia apto a sentir algo mais além do gelo. Era como se alguém esmurrasse seu estômago cada vez que ele pensava em Danielle. Mulder procurou uma cadeira para se sentar e segurou a cabeça com as mãos, como se, dessa forma, evitasse que ela, enfim, explodisse. Scully, finalmente, notou o que estava havendo. Se aproximou dele e colocou a mão no ombro dele. O toque dela fez Mulder retornar à realidade, que ele preferia não enfrentar. Ele se levantou, bruscamente, se afastando dela. Ela, achando que Mulder estava zangado com ela, não se aproximou mais. Mulder vendo que Scully não queria chegar perto dele, também manteve distância. E um abismo se criou entre os dois. Um abismo que jamais havia existido e que, por essa razão, seria difícil de ser transposto. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Mulder tinha duas opções. Ou seguia para a delegacia ou ficava no hospital. Ele preferiu a segunda opção. Queria estar lá quando Danielle acordasse. A operação tinha corrido bem, e Mulder já estava se sentindo bem melhor. Ainda se sentia bastante nervoso, mal conseguia olhar para as pessoas, mas ficar em uma delegacia parecia pior. Scully estava sentada ao lado dele mas sentia como se eles estivessem a quilômetros de distância. Então ele se levantou e foi ao banheiro, sem dizer nada. Estava lá havia alguns minutos quando os médicos deram autorização para ver Danielle. Scully se juntou à família. Ao entrar Danielle já estava acordada, mas ainda parecia estar sob efeito dos sedativos. Os pais dela a abraçaram com cuidado e ela garantiu que estava bem. "Danielle, quem agrediu você?" Scully não podia deixar de perguntar isso, já que a liberdade de Mulder dependia dessa informação. "Eu não sei. Eu vi o rosto dele, mas nunca tinha visto ele antes. Mas eu vi o carro dele, e lembro da placa. Fácil de lembrar. FOO 1000." "É, bem fácil mesmo. Nós vamos pegar quem fez isso, ok?" Mas Danielle não respondeu, já que havia adormecido novamente. Por sorte, Scully havia conseguido o que queria. Tirar a acusação que pairava sobre Mulder. Ela saiu do quarto esperando encontrá-lo no corredor. Queria contar a ele que Danielle estava bem e que tinham a placa do carro. Mas Scully não achou seu parceiro em lugar algum. Os policiais procuraram no banheiro, enquanto Scully procurou por todo o hospital. Mas foi em vão. Scully achou que Mulder, com medo de ser preso, fugira. Mas ela sabia que, cedo ou tarde, ele apareceria. Ela somente tinha que esperar. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Mulder acordou lentamente. O local onde estava era escuro, e ele não tinha idéia de onde poderia ser. Ele não estava amarrado mas ainda não se sentia em condições de se levantar. Se lembrou do que acontecera. Ele estava no banheiro quando um homem entrou o golpeou, pegando-o de surpresa enquanto lavava o rosto. Quando Mulder acordou estava nesse local escuro e não sabia como o encontrariam. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Scully achou melhor deixar o desaparecimento de Mulder para depois. Ele devia estar assustado com as conseqüências do que havia ocorrido. O importante agora era descobrir quem havia tentado matar Danielle e porque. O carro pertencia à Empresa Cartright. Scully mal pôde acreditar quando leu essa informação. Eles haviam sido tão óbvios. Nem ao menos usaram um carro alugado. O FBI em peso passou a investigar a empresa, era uma questão de honra. A empresa estava, claramente, atuando na ilegalidade, durante anos, mas nada pôde ser provado. Quando o esquema que protegia a empresa caíra, todos pensaram que, finalmente a empresa teria suas falcatruas expostas. Mas isso não ocorrera. Ela passou a agir legalmente e nada pôde ser provado. Mas, agora, audaciosamente, alguém da empresa atacou a menina. Com que objetivo Scully não podia imaginar. Danielle não podia representar perigo para a empresa. A não ser que ela e Mulder tivessem, de alguma forma, continuado nas investigações, mas Scully sabia que isso era impossível. O cerco aos dois era cerrado, não havia como eles se encontrarem como faziam antes. Mesmo o último encontro deles havia se dado por pura sorte. Então, Scully só podia concluir que alguém da empresa queria somente se vingar? Mas porque a menina? Eles não culpariam Mulder também? Aos poucos Scully se deu conta de que Mulder não havia fugido. Ele havia sido capturado e já poderia estar morto. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Scully sabia que a chave do atentado a Danielle e o desaparecimento de Mulder era a Cartright. Descobriu diversas coisas a respeito da empresa, como o nome de seu dono e o de seu presidente. Soube das ligações de Tony Ricci com a máfia. Não foi difícil concluir quem dominava a empresa agora. O atentado e o seqüestro foram feitos somente por vingança. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Mulder começava a acreditar que iria pagar caro por todas as besteiras que fizera. Mesmo que saísse vivo ainda teria que enfrentar sua parceira, e, dessa vez, ele duvidava que ela o perdoasse. Corria o risco de ser expulso do FBI por má conduta. Com essas duas perspectivas Mulder já pensava que era melhor que ele morresse mesmo. Estava se acostumando a ver Scully sempre zangada com ele, mas não sabia se agüentaria um afastamento. Se ela decidisse ir embora e não falar mais com ele, sua vida seria um inferno. E, quanto mais ele pensava nas besteiras que havia feito, mais ele se perguntava como tinha sido tão estúpido. Não era somente o fato de ter envolvido Danielle nas investigações, mas também o fato de não ter confiado em mais ninguém. Havia afastado a todos, sua parceira, seus amigos. Claro, ainda havia o maldito beijo. Como ele pôde ter deixado aquilo acontecer? Ele sabia que não sentia nada por Danielle a não ser amizade e tinha certeza que ela somente o beijara por curiosidade de adolescente. Ele tinha certeza que Danielle não nutria sentimentos românticos por ele. Tinha sido o beijo mais dispensável da história, mas com as conseqüências mais terríveis. Quando a porta se abriu, Mulder achou que todos os problemas haviam terminado. Ele morreria de forma violenta e seu corpo apareceria boiando em algum lago. Ele foi arrastado para fora do armazém onde se encontrava. Já era noite e ele sequer tinha percebido. Os homens que o prenderam o jogaram no chão. Mulder se preparou para dizer algo, mas foi atingido com um chute no estômago. Mal teve tempo de se recuperar quando recebeu mais uma série de golpes. Respirar já se tornara difícil e o sangue escorria de sua boca. A um certo ponto Mulder parou de sentir dor. Era como se o ataque acontecesse a uma outra pessoa. Ele já não se importava, também. Queria somente que tudo aquilo acabasse logo. E foi o que aconteceu. Em instantes a escuridão chegou e, aos poucos, foi dando a ele o descanso que tanto almejava. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx A próxima vez que Mulder tentou respirar, sentiu que não havia mais sangue na sua boca. Ele podia respirar normalmente. Abriu os olhos e viu que estava no hospital. Bem, não tivera a sorte que esperava. Agora estava bem vivo e teria que enfrentar seu destino. Scully estava ao lado dele e ao vê-lo acordar tentou acalmá-lo. "Scully." "Não tente falar. Precisa descansar." "Como me achou?" "Eles não esconderam você, Mulder. Ao contrário, avisaram onde você estava." "Scully, sobre Danielle, eu..." "Eu sei Mulder. Ela disse o que houve. Falou que você tentou afastá-la na biblioteca. Eu não achei mesmo que você agiria de outra forma. Mas eu te avisei sobre esse risco, Mulder." "Eu sei, desculpe." "Ok, agora durma. Depois a gente se fala." Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Scully estava aliviada porque tudo terminara. Seria praticamente impossível para a polícia ou o FBI capturar os responsáveis pelas agressões, mas Scully tinha certeza de que não fariam mais nada contra os dois. Quanto a Danielle, Scully estava certa de que Mulder havia aprendido a lição e não se aproximaria mais dela. Mesmo porque, segundo a própria garota, tudo havia sido um erro da parte dela. Ela beijara Mulder, que, gentilmente, a afastou e lhe disse que aquilo era impossível. Scully, somente agradecia que os problemas de Mulder, a esse propósito, tivessem acabado. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxx xxxx Danielle também estava aliviada, porque tudo acabara e porque havia conseguido livrar Mulder de mais problemas. Mas, mesmo sabendo que mentira sobre o que realmente tinha acontecido na biblioteca, ela sabia que era verdade que não sentia nada por ele. Ela não podia reclamar de forma alguma daquele beijo, mas sabia que era algo errado, que não podia ser repetido. Em pouco tempo Danielle voltou a sua vida normal, com amigos de sua idade. Desistiu de mexer em computadores alheios e tentou cuidar da própria vida. O mesmo aconteceu com Mulder e Scully. Os dois tentavam jamais mencionar o assunto e isso funcionava muito bem. Mulder nunca mais encontrou Danielle. E nem ao menos tentou. Em pouco tempo, Mulder já estava absorto em novas investigações e Scully continuava a seu lado, como sempre. Fim