Título: Antes de Pusher Autora: Claudia Modell Sinopse: Robert Patrick Modell também teve infância. Não muito normal, é claro E-mail: claudia@subsolo.org Homepage: http://subsolo.org Disclaimer: Os personagens dessa história foram criados por Chris Carter, 1013 e Fox Company. Antes de Pusher Eram 3 horas de uma tarde quente de domingo. Seus pais tinham saído e ele brincava com sua irmã do lado de fora da casa. Ela não queria brincar do jeito dele, queria somente brincar no pequeno balanço. Isso o deixava irritado. Ela era a única pessoa que não fazia exatamente o que ele queria. Talvez por ser tão pequena. Ele então a deixava brincar em um canto e, normalmente saía à procura de seus amigos do bairro. Mas hoje isso era impossível. Seus pais pediram que ele cuidasse da irmã menor. Então ele ficou lá, olhando para a irmã que dava risadinhas enquanto se divertia no balanço, enquanto ele planejava seu primeiro dia de escola. Ele já havia decidido que não queria se sentar no fundo ou no meio da sala. Ele queria ser o primeiro, para poder testar a professora. Há dois anos ele havia começado a notar que bastava falar com calma e educação que as pessoas o atendiam. Mas à época imaginou que o mesmo acontecia com todos. Agora, com 12 anos, ele já havia notado que essa espécie de poder era exclusivo dele. Assim, após essa descoberta, passou a testar o tal poder em seus pais, colegas e professores. Ele notou que usando a voz de forma pausada e suave, o "poder" funcionava melhor do que quando estava nervoso ou irritado. Assim, aprendeu com rapidez a controlar seus acessos de raiva. Ele sabia que bastavam palavras suaves para conseguir exatamente o que queria. O problema agora, e também sua maior diversão, era descobrir até que ponto ele poderia ir. Já havia descoberto que sua irmã, talvez pela idade, era totalmente imune a ele. Seus pais, no entanto, eram vítimas perfeitas. Quando queria algo como assistir televisão até mais tarde bastava olhar para a mãe e falar com delicadeza. Ela fazia o que ele queria e nem ao menos se dava conta do porque da proibição. Com seu pai a brincadeira era mais perigosa. Ele não era homem de se deixar levar por palavras doces. Na verdade o garoto mal tinha tempo de abrir a boca, quando estava diante do pai. Mas justamente por isso este se tornou o maior desafio. As surras vinham com freqüência, mas depois de alguns anos aperfeiçoando a técnica estas se tornaram cada vez mais raras. Na escola, com os amigos, a situação era completamente diferente. Ele realmente tinha poder sobre todos. Não usava isso de maneira abusiva. Tinha poucas ambições e um senso de justiça que não o deixava passar dos limites. Assim, o máximo que fazia era convencer os amigos a jogar futebol ao invés de andar de bicicleta. Com os professores seu poder de convencimento era uma arma incrível. Suas notas não eram baixas ao ponto de comprometer sua média, mas também nunca foram altas. Assim, ele não tentava aumentar suas notas, apenas fazia com que os professores o vissem sempre como um aluno exemplar, a despeito das notas. Também conseguia faltar às aulas ou sair mais cedo. Era exatamente o queria fazer no dia seguinte. Sair mais cedo da aula para ir à cidade. Ele queria assistir à uma demonstração da polícia, que havia sido anunciada na TV. Seu grande sonho era, algum dia, se tornar um policial. Gostava de ter o poder de instigar as pessoas, mas gostaria de representar o próprio poder. De ser respeitado. Além do que acreditava que a polícia, o FBI, o exército ou qualquer corporação, eram compostos de homens honrados que estavam sempre buscando distribuir a justiça, como antigos guerreiros. Ele estava lá sentado, absorto em seus pensamentos e sonhando com o futuro, que esqueceu-se completamente de sua irmã. Quando notou, sua irmã já não dava suas risadinhas e o balanço estava vazio. A princípio achou que ela tivesse entrado em casa. Ele entrou e chamou por ela, procurou nos quartos, cozinha, banheiros. E nada. Foi às casas dos vizinhos, perguntou por ela, mas ninguém a havia visto. Seus pais chegariam logo, e ele não queria que sequer desconfiassem que ela havia desaparecido. Mas não havia traço de sua irmã. Após algum tempo procurando e já completamente desorientado e apavorado, ele achou melhor chamar a polícia. Quando viu a viatura policial chegar ficou ligeiramente mais tranqüilo. Confiava completamente nos policiais. Tinha certeza de que eles achariam sua irmã. Dois policiais desceram do carro e vieram ao seu encontro, e começaram a fazer perguntas. Muitas perguntas, ele mal tinha tempo de responder e eles perguntavam novamente a mesma coisa. Ele estava nervoso, preocupado com a irmã, e a atitude dos policiais o deixou mais nervoso ainda, ao ponto de não conseguir responder a perguntas simples como a idade da irmã e até mesmo seu nome. Os policiais passaram então a acusá-lo e a perguntar onde estava a menina, e ele somente repetia que não sabia, que queria encontrá-la. Ele, então começou a chorar, explicando que não sabia onde ela estava, que não havia escondido a irmã, ou que não a havia machucado, como insinuavam. Mas os policiais não o ouviam. Um deles segurou seu pescoço por trás e o jogou com força no banco traseiro do carro policial. Em seguida bateu a porta com violência. O menino estava cada vez mais assustado. Seus vizinhos observavam tudo e nada faziam. Ele se sentia humilhado e apavorado, e acima de tudo desesperado pelo destino de sua irmã. Ele foi levado até a delegacia e quando chegou, iniciou-se novo interrogatório. As perguntas que faziam a ele eram absurdas e as acusações eram de que ele havia matado a própria irmã. Ele repetia incessantemente que não era verdade. Mas ninguém parecia ouvir. Um dos policiais sentou-se à sua frente e batia com a mão na mesa com força. O outro ficava andando atrás dele e perguntando sempre a mesma coisa. Em seguida seus pais chegaram e quando a porta se abriu ele sentiu alívio em ver seu pai. Foi ao seu encontro procurando apoio, mas tudo o que recebeu foi um violento tapa no rosto que o derrubou. Os policiais seguraram seu pai, antes que batesse nele novamente. Seu pai foi retirado da sala, mas ele continuou lá, sempre ouvindo as mesmas perguntas e dando a mesma resposta. Após algum tempo, que pareceu a ele uma eternidade, um outro policial entrou na sala, e disse que a menina havia sido encontrada e estava bem. Ela havia ido ao sótão e adormecido. Ele podia voltar para casa. O garoto então foi liberado, sem maiores explicações ou qualquer pedido de desculpas. Os pais o levaram para casa, mas não lhe dirigiram qualquer palavra. Naquele momento percebeu que havia perdido a confiança de seus pais. Perdeu também o seu sonho de menino, sua idéia de que a polícia era composta de homens justos. Tudo o que passara havia sido uma grande injustiça. Quando chegou em casa sua irmã estava na porta. Ele correu para abraçá-la. Ela sorriu para ele. Era tudo o que importava para ele, e esse sorriso, a partir desse dia, foi a única coisa que realmente importava. Ele havia crescido, já não morava com os pais. Terminou o colégio e não tinha qualquer intenção ou dinheiro para ir a uma faculdade. Não sabia o que fazer. Lembrou-se de seus sonhos infantis de ser um policial e decidiu deixar a mágoa de lado e tentar ingressar na polícia. Achou que seria fácil e a prova escrita realmente foi. A entrevista com os entrevistadores e o psicólogo, seria sua parte mais fácil, devido ao seu poder. Bastava usar sua voz e convencer os entrevistadores e psicólogo que ele era perfeito. Isso seria fácil. Mas não foi. Nas provas escritas foi bem, mas o exame psicológico e a prova oral foram um desastre. Ele não conseguia se livrar da lembrança do abuso de poder cometido pelos policiais quando ainda era uma criança. Quando estava diante dos examinadores perdia sua concentração, suava e mostrava nervosismo. Não conseguiu passar no exame. Tentou outras vezes mas o resultado era sempre o mesmo. Agora já estava se tornando uma obsessão. Era um grande desafio. Como ele pretendia dominar a vontade das pessoas se sequer dominava seus próprios sentimentos? Ele tentou o exame no exército, marinha, aeronáutica, fuzileiros, e por fim no FBI. Mas foi tudo em vão. Sua vida estava totalmente arruinada e os únicos culpados eram aqueles policiais. Ele sentia ódio quando se lembrava disso. Ódio por ter perdido a confiança dos pais, ódio por ter perdido a confiança em si mesmo. Quando já havia desistido de ingressar em qualquer corporação começou a ter dores de cabeça. Às vezes sua visão ficava turva e ele ficava tonto. Decidiu procurar um médico. O diagnóstico o deixou apavorado. Tumor maligno no cérebro. Passou por alguns dias de total desespero. Sua vida não valia mais nada. Sua família não se lembrava sequer dele, exceto sua irmã que no entanto morava longe. Ele não achava justo jogar esse fardo nos ombros dela, que ao contrário dele tinha um futuro pela frente. Decidiu então iniciar um tratamento, afinal o tumor era tratável, segundo o médico. Após algumas sessões, no entanto, se sentia acabado. O corpo todo doía, tinha enjôos que o fizeram emagrecer demais, e dores de cabeça lancinantes. Resolveu parar o tratamento. Continuava indo ao hospital, para verificar como estava indo, mas não queria se tratar. Se deu conta de que não estava perdendo nada. Na verdade estava ganhando. Sim ganhando liberdade. Não tinha nada a perder na vida. Não tinha família, e a morte não o assustava mais. Decidiu então se vingar. Era o único meio de fazer com que aqueles policiais pagassem pela ruína de sua vida. Ele achava que os policiais eram os culpados, mas não somente aqueles dois. Todos. Ele tinha um poder sobre a vontade das pessoas e apesar de nunca ter feito mal a ninguém, neste momento, tinha tanto ódio que já não se importava com mais nada. Localizar os policiais que o prenderam quando criança foi fácil. Um já havia morrido. Difícil foi aceitar esse fato e mais que o segundo policial estava velho e indefeso, e com certeza não reagiria ao ataque. Ao saber disso sua mente ficou confusa. Seu pensamento era a vingança. Ele precisava disso. Sabia que ia morrer, e tinha ódio por isso. Queria que o mundo pagasse de alguma forma. Não se importava se algum inocente iria pagar por isso. E então foi adiante. Foi até a casa do policial e bateu na porta. Uma mulher atendeu e ele pediu com delicadeza que ela o deixasse entrar. Ela não resistiu. Eles foram até a cozinha. Ele apanhou uma faca e pediu, sempre delicadamente, que ela enfiasse a faca em seu próprio estômago. Ele mal teve tempo de se esquivar do sangue que esguichava. Ela caiu aos pés dele, sem sequer pronunciar um som ou emitir um gemido. Em seguida morreu. Ele ficou nervoso. Olhou para a mulher morta e percebeu, com terror, que não estava arrependido. Suas mãos tremiam, e ele suava. Estava muito cansado. Se sentia mal. Sabia o porquê. A doença minava as suas forças. Tinha que voltar para casa. Queria descansar. Precisava comer alguma coisa. Parecia que não comia algo há anos. Foi até a geladeira. Havia uma lata com polpa de frutas. Ele comeu o conteúdo e se sentiu melhor. Em seguida, pensou que talvez fosse uma boa idéia deixar uma espécie de assinatura. Isso deixaria a polícia enlouquecida. Era como se ele estivesse rindo dos policiais, e ele estava! Então manchou com o sangue da mulher a parede da cozinha. Lembrou-se de uma história sobre os samurais. Sobre como eram homens sem medo e que seguiam as ordens de seu mestre. Mas ele não tinha um mestre. Então escreveu RONIN, um samurai sem mestre. E foi embora. Em seguida iniciou uma série de incursões em casas de policiais e repetiu o mesmo ato. Descobriu que poderia ganhar dinheiro com o seu poder. Quanto não pagariam a um assassino que não mata suas vítimas mas faz com que elas se matem? Passou a anunciar seus serviços em revistas. O seu senso de justiça já não existia mais. As regras da sociedade já não o freavam. E muito menos o medo de morrer. Ele já não tinha medo de nada e nada mais lhe importava. A única coisa que importava para ele neste momento era testar as pessoas ao máximo. Sua brincadeira infantil levada ao extremo e se transformando em uma brincadeira mortal, em que todos perdiam sempre. Ninguém resistia a suas palavras. O controle era total. Até que um dia......... Mas essa é outra história e não fui eu que escrevi. Fim