Título: A Arte de Comer Alface Autora: Claudia Modell E-mail: claudia@subsolo.org Homepage: http://subsolo.org Categoria: Humor/Drama/Inexplicável Sumário: No início era o Caos. Daí Deus criou a lua, as estrelas e o mar, entre outras coisas. Depois ele criou o Homem. Percebendo que tinha esquecido os miolos, criou a Mulher. Crescei e multiplicai-vos, foi o que Ele disse. O resto vocês já sabem. 5 bilhões de seres humanos na face da terra. Precisa diminuir um pouco a quantidade de gente. Claro que Deus é divinamente sutil. Então Ele descobre um meio muito legal de fazer isso. Se bem que depois de escrever essa fic, eu ando me perguntando quantas pessoas eu conhecia ontem!!! Bom, lá vai. Leiam!! E mandem feedback. E leiam as notas finais!! E se não entenderem a história (o que seria compreensível), leiam de novo:) A Arte de Comer Alface By Claudia Modell xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Dia 01 Mulder tinha ido cedo, mais cedo do que o costume, para o escritório que dividia com sua parceira, no porão do FBI. Ele gostava de chegar cedo, encontrando poucas pessoas em seu caminho, ninguém que o retirasse de seus pensamentos. Nem mesmo Scully. Claro que ela era um distração bem vinda, mas às vezes ele gostava de ficar realmente sozinho. Como naquela manhã. Tudo o que ele queria era aproveitar os poucos momentos de solidão para fazer uma tarefa bastante simples. Não era nada relativo a monstros ou alienígenas. Nem mesmo algum serial killer a solta. Ele queria somente organizar seus arquivos no computador. Já estava cansado de pastas com nomes inúteis, como "geral" ou "ler". E o pior, dentro de cada pasta de nome estranho, haviam outras com nomes mais estranhos ainda. Quanto ao conteúdo, ele próprio não saberia dizer o que eram aqueles arquivos. Haviam arquivos duplicados, e talvez seus conteúdos fossem diferentes. Ele teria que abrir um por um para saber isso. Talvez acabasse apagando algum arquivo importante e jamais saberia disso. Já tinha conseguido organizar duas pastas quando Scully chegou. Ele disse um oi apressado e continuou na sua investida ao computador. Scully achou a situação estranha. _ O que é, Mulder? Algum caso novo? _ Não. Resolvi organizar esses diretórios. _ É uma tarefa inútil. Amanhã você já terá criado outros diretórios com nomes como Nova Pasta ou Pesquisas2. _ Como você sabe tanto sobre meus arquivos? _ Eu uso esse computador, lembra? Eu uso sua mesa, seu computador.... _ Ah, já sei, você ainda quer a tal mesa. _ Esquece, Mulder. Escute, ao invés de fazer essa tarefa inútil, porque a gente não se concentra nesses relatórios? _ Que relatórios? _ Peguei agora há pouco com Skinner. _ Eu não acredito que você foi até lá só pra pegar trabalho chato pra gente fazer! _ Fui e não fui. Ele me encontrou no hall de entrada. _ Ele devia fazer como todo mundo, arrumar uma secretária ao invés de pescar agentes no hall de entrada. _ É estranho isso, não acha, Mulder? _ O que? _ Ele não ter secretária. _ Não sei. Ele nunca teve uma. Vai ver que não gosta de secretárias. Após essa breve conversa, Mulder desistiu de sua empreitada matutina e partiu para os relatórios. Enquanto um caso novo não aparecesse, somente restava aos dois terminar relatórios de despesas e organizar pastas. xxxxxxxxxxxxxxxxxxx Dia 02 Mais um dia, mais um dólar, pensou Mulder. Bem, na verdade se ganhasse um dólar ao dia já teria procurado algum outro emprego. Mas como força de expressão servia bastante bem. Ultimamente ele vinha trabalhando para viver, mais do que viver para trabalhar. Mas, seguindo outro provérbio irritante, ele não perguntava o que o País poderia fazer por ele, mas sim o que ele poderia fazer pelo País. Realmente o dia não havia começado nada bem para ele. E nem era segunda! O telefone tocou, retirando-o de seus pensamentos negativos sobre aquela quarta feira. _ Mulder? _ Diga Scully. _ Quer tirar esse telefone do viva voz e falar decentemente comigo? _ Estou me vestindo Scully. _ Ok, te ligo depois. _ Não! Pode falar. _ Eu me recuso a falar com você gritando e andando sem roupa pela casa. _ Quem disse que eu estou sem roupa? _ Você disse. _ Eu disse que estava me vestindo. Mas é só o terno. _ Ok, Mulder, então pode tirar o terno e toda a roupa. _ Scully, o que você tem em mente? _ Nada do que você está pensando. Skinner me ligou. Disse que nós temos que viajar para a Califórnia. Daqui a três horas. Não dá tempo de ir no FBI e voltar. Portanto aproveite para fazer o que você costuma fazer quando não está trabalhando. _ Sozinho???? _ Tchau, Mulder. Te encontro no aeroporto às 2:15. E te falo sobre o caso lá. _ Ok, desmancha prazeres. ------------------------------- Apesar de ter sido avisado sobre a viagem com tanta antecedência, Mulder conseguiu chegar no último momento. Scully estava dedilhando levemente, mas com visível irritação, o balcão de atendimento, quando finalmente o viu. _ Mulder. Onde você estava?? _ Os rapazes me chamaram. _ O que aqueles dois malucos queriam? _ Não acho o Langly tão maluco. Quanto ao Frohike, eu concordo. Eles queriam me pedir informações sobre uma investigação ultra secreta na qual o FBI trabalhou com a CIA há alguns anos. _ E você deu a informação? _ Scully, eu disse "informação ultra secreta". Eu mal consigo acesso a informações públicas. _ Podia ter inventado qualquer coisa. _ E aqueles dois não sairiam do meu pé quando descobrissem a verdade. _ Eles não vão te largar nunca mesmo. Naquele momento o altofalante do aeroporto anunciou o embarque do vôo que os levaria à Califórnia. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Dia 03 No dia seguinte, Mulder e Scully haviam procurado as pessoas responsáveis pelas investigações sobre os crimes. O xerife Buck Rogers deixara claro que não precisava da ajuda de dois "agentes metidos do FBI". Mulder imaginava porque tanta hostilidade. Um homem com aquele nome devia ser motivo de brincadeiras o tempo todo. Ou talvez não. Nem todo mundo acompanhava as aventuras de Buck Rogers no século 25, ou seria 22? Ele nunca se lembrava o século exato. De qualquer forma, a hostilidade da polícia local, e o avanço nas investigações não davam muito espaço para que Mulder e Scully trabalhassem. Assim, após seguirem para o hotel, decidiram jantar. Uma comida decente, implorou Scully. Talvez pela primeira vez em anos, Mulder escolheu um bom restaurante. O ambiente era agradável, e a comida ótima. Scully se sentia à vontade e relaxada. Lembrava-se de quando era criança e ela, seu pai e irmãos almoçavam em um restaurante caro, no final do ano. _ O que está pensando? A pergunta a trouxe de volta à realidade. _ Nada. Quando eu era criança meu pai costumava nos levar para comer em um restaurante luxuoso, na época de natal. _ Devia ser um jeito dele compensar vocês pela falta da mãe. _ Sim, provavelmente. _ Você nunca me contou, Scully. Ela morreu? _ Eu não sei. Agora que você me perguntou, eu parei pra pensar. Ela não morreu, tenho certeza. Mas um dia, simplesmente, ela não estava mais lá. Parece que nunca esteve. _ Você não tem fotos dela? _ Não, nada. E não me lembro do meu pai mencioná-la. _ Deve ter sido algo traumático pra ele. Criar os filhos sozinho. Scully não respondeu, e Mulder se arrependeu de ter entrado naquele assunto tão delicado. _ Quer sobremesa? _ Não, obrigada. Acho melhor nós irmos pro hotel. _ Ok, vamos então. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Dia 04 Mulder e Scully decidiram deixar as investigações da Califórnia nas mãos do experiente Major ou seria Tenente? Buck Rogers. Na volta para casa, pegaram um taxi. Ao chegarem na casa dela, Scully convidou Mulder a entrar. _ Acha que a gente deve ligar pro nosso chefe e avisar da nossa chegada, Mulder? _ E dizer que a gente desistiu do caso? Morris vai comer nosso fígado. _ Tem razão, vamos dizer amanhã. Quer comer alguma coisa? _ Que tal uma pizza? _ Mulder, você come só pizza? Isso faz mal! _ Ok, então você decide. _ Comida chinesa. _ Não me surpreende nem um pouco. _ Eu não peço sempre comida chinesa! _ Sempre. Quando não pede aquelas coisas esquisitas, como saladas. _ Bem, aí está uma ótima idéia! É isso que eu vou preparar, para nós dois! _ Nada disso, eu vou pedir uma pizza e acabo com ela, sozinho. _ Mulder, você vai morrer lentamente se continuar a comer desse jeito. _ E quem tem pressa? xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Dia 05 O Diretor Assistente Morris realmente ficou furioso quando soube que as investigações haviam sido canceladas. Ligou em seguida para o xerife responsável pelo caso, mas descobriu que o caso já havia sido resolvido. Assim, Mulder e Scully foram dispensados sem maiores reclamações. Ao entrarem no já tão familiar escritório no porão, o telefone começou a tocar. Mulder atendeu, mas Scully não estava realmente prestando atenção. Alguém havia decidido fazer uma limpeza no escritório, e as pastas que antes estavam no chão, agora ocupavam toda a mesa de Mulder, e a cadeira que ela costumava usar. Quando Mulder desligou, ela perguntou um tanto curiosa. _ Quem era? _ Frohike. _ O que ele queria? _ Aquele negócio que eu te falei sobre uma informação ultra secreta. _ Ele é louco se vai se meter nisso sozinho. _ Eu sei, foi o que eu disse pra ele. Mas sabe como ele é. Prefere trabalhar sempre sozinho do que confiar em quem quer que seja. _ Parece alguém que eu conheço. _ É injustiça! Eu confio em você, Scully! _ Eu não disse que era você. Existem outros paranóicos por aí. Scully sorriu e voltou à tarefa de organizar as pastas. Enquanto Mulder retornava ao computador, também organizando suas pastas, dessa vez virtuais. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Dia 06 O dia amanheceu escuro, como se uma tempestade se preparasse para cair. Não era mês de chuvas, mas ultimamente não se podia confiar nem no tempo. Mulder seguiu para o FBI, disposto a continuar sua empreitada de organização. Ao chegar notou algo estranho. Não era exatamente estranho, afinal sempre fôra assim, desde que entrara para o Bureau. Não havia ninguém por perto. Nem um segurança, nem um visitante, nem qualquer empregado do FBI, fosse agente ou não. Era somente ele, sozinho dentro do prédio. Quando o elevador chegou, Mulder afastou esses pensamentos e seguiu para seu escritório. Scully chegou logo em seguida. _ Scully, você notou algo estranho na entrada do prédio? _ Mudaram a cor da fachada? _ Não. Não havia ninguém na entrada. _ Nunca há ninguém, Mulder. _ Mas nem um segurança? Nem um agente? _ Eu não sei. Nunca houve ninguém na entrada. Quer dizer, além de nós dois, ou do nosso chefe. Tem ainda o rapaz da limpeza. _ Mas e o segurança? _ Mulder, pra que iria ter um segurança na entrada? _ Pra impedir a entrada de pessoas estranhas, oras! _ Que pessoas estranhas? _ Alguém que a gente não conheça. _ E quem você não conhece, Mulder? Ele não sabia responder. Não sabia explicar aquela sensação que tivera ao entrar no prédio vazio de manhã. Na verdade o lado de fora do prédio também era estranho. Não haviam muitas pessoas andando nas ruas. Claro, havia o vendedor de jornais, e o office boy do prédio da frente. Pensando bem, só haviam aquelas duas pessoas. Que Mulder se lembrasse, ele somente via poucas pessoas durante o dia todo. Seu chefe, Scully, o rapaz da limpeza, o office boy, o vendedor de jornais, e o segurança do banco do outro lado da rua. Ninguém nunca entrava naquele banco. Ninguém comprava os jornais. A não ser ele e Scully, e talvez seu chefe. _ Mulder! Você me ouviu? _ Não, desculpe, o que você disse? _ Que eu vou embora, tenho que resolver umas coisas em casa. _ O que? _ Arrumar meu apartamento. _ Vai receber visitas? _ Quem seria, Mulder? _ Eu não sei. Quantas pessoas você conhece? _ Que pergunta é essa? _ Sério. Quantas pessoas você conhece? Quantas pessoas você vê quando vem trabalhar? _ Umas sete ou oito. Não sei, são tantas. Para Mulder também pareciam tantas pessoas, mas estranhamente o número agora lhe parecia pequeno. Talvez estivesse somente cansado. Resolveu ir para casa também, e não pensar mais em quantas pessoas ele conhecia. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Dia 07 Mulder chegou no prédio do FBI na mesma hora de sempre. O elevador chegou rapidamente. Podia descer para o porão de escadas, mas gostava de andar de elevador. Totalmente sozinho, apertando todos os botões. Era algo infantil, mas sempre fizera isso. Adorava entrar nas lojas vazias e bagunçar tudo. Nunca havia encontrado ninguém que o repreendesse. Nem mesmo quando era criança. Ao pensar nisso, Mulder tentou lembrar se conhecia alguém quando era criança. Não, ninguém. Após descer em todos os andares, passear um pouco pelos corredores vazios, Mulder se cansou e foi para seu escritório. Era uma pena não ter ninguém com quem dividir seu trabalho. Nunca tivera ninguém que o ajudasse a organizar aqueles malditos diretórios. Todos com nomes estranhos, inúteis. Ele tinha certeza que alguém, talvez a CIA em conjunto com o FBI, em alguma operação ultra secreta, estava desorganizando seus arquivos. Era um trabalho que não acabava nunca, aquele de organizar aquelas pastas. Bem, talvez fosse bom dar uma paradinha e comer algo. Ainda bem que havia trazido seu almoço. Uma salada bem temperada. Por um segundo um pensamento atravessou sua mente. Ele se via comendo outra coisa, bem mais apetitosa. Mas o mais estranho naquele pensamento, era que ele não estava sozinho. Era impossível, logicamente. Afastando esse pensamento estranho, Mulder enterrou seus dentes na alface. Fim xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Notas: É, eu sei. Tá uma droga. A idéia era boa!! Juro!!! Eu assisti Buffy por acaso, e a Telma e a Kessia me explicaram que a irmã da Buffy surgiu do nada, na memória de todo mundo, como se sempre estivesse estado lá. Então eu pensei: E se todo mundo sumisse, um por um, inclusive da memória de quem ficasse? Acho que esse foi um caso clássico de boa idéia má executada:)) Mas aceito feedback mesmo assim. Se for bem temperado, claro:) Notas 2: O lance do viva voz é uma brincadeira com a Kessia, que atendia o telefone usando esse método horrível, quando tava de licença:) Notas 3: Buck Rogers era capitão, e o século era o 25. Vou logo dizendo antes que alguma outra pessoa louca por seriados antigos venha me dizer algo:D Notas 4: A alusão ao dia de chuva é real. Brasília anda tendo seus momentos chuvosos fora do mês correto. Se isso significa que o mundo tá acabando.... Claudia.